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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Meio por Meio!

A vigência do mandato executivo deste governo, encontra-se a meio. Como se ousa dizer, com o copo meio cheio ou meio vazio.
E de facto esta é a melhor imagem deste governo de José Sócrates. Nem sim, nem não… antes pelo contrário.
Depois de ter conquistado a primeira maioria absoluta, não é menos verdade que estes dois anos, embora as sondagens revelem a preferência dos portugueses pelo governo, têm sido de alguma frustração no desempenho da gestão do País.
O choque tecnológico é uma miragem e uma faixa publicitária cheia de demagogia. Os 150 mil postos de trabalho prometidos são uma miragem. O PRACE, perfeitamente abstracto e atrasado, vem criar uma maior assimetria no país, clivado pelo encerramento irracional de maternidades, centros de saúde, urgências, escolas primárias. Pelo abandono do interior e descaracterização social do litoral.
O desemprego não baixa e o desenvolvimento do país não surge, mantendo-nos na cauda da Europa, cada vez mais alargada, assim como o nosso distanciamento à média comunitária.
As contestações dos vários sectores da sociedade são uma constante, diluídas por uma vitória num referendo mais de carácter ético, social e moral do que propriamente político.
A crise económica requereria medidas mais consistentes e coerentes, como o controlo da despesa pública em consonância com um realismo no investimento que parece não existir: casos OTA e TGV.
Desta realidade realça-se o triste estado da saúde, do ensino (embora aqui com dúvidas repartidas) e essencialmente da economia, muito por culpa de um ministro claramente a menos no conjunto do executivo.
Pelo meio fica a clara derrota nas eleições autárquicas (de que Aveiro é exemplo), a saída mal digerida do Ministro dos Negócios Estrangeiros - Freitas do Amaral, a defraudada expectativa das eleições presidenciais e alguma clivagem interna fruto dos resultados eleitorais.
Com o aproximar da presidência europeia, a disponibilidade para a execução de medidas necessárias ao país parece esmorecer-se.
Mas, mesmo face a esta realidade, o fenómeno mediático José Sócrates continua a render pontos.
Mais por uma inércia clara e um descalabro de ideias da oposição, do que por mérito próprio.
O CDS encontra-se numa clivagem interna e num descontrolo total. O PSD vê-se “invadido” pelas medidas deste governo e fica claramente sem opção e espaço ideológico. Ao BE e PCP resta a contestação já habitual (muitas vezes por razões históricas e de necessidade de afirmação), mas que não são eleitoralmente qualquer alternativa.
Este é o estado da oposição, que sem capacidade de alternativas e de marcar a agenda social do país, limita-se a meros “balões de oxigénio” esporádicos.
A “ajudar à missa”, eleito pelo espectro da direita temos um Presidente da República motivado por uma, até à data eficaz, “cooperação estratégica” que agrada claramente ao Governo.
Por este andar, vamos ter um claro “bis” eleitoral.

O golpe de teatro

Palhaçada!
É só o que me vem à cabeça, com esta atitude do Mr. Madeira.
Contra a lei das finanças locais, a verba presente no orçamento de estado para a Região Autónoma da Madeira e contra o próprio Presidente da República que promolgou uma lei que é uma traição à Madeira, o Dr. Alberto João Jardim decidiu demitir-se e "arrastar" neste processo a Assembleia Legislativa Madeirense.
Ora, até aqui, um verdadero milagre. Uma verdadeira libertação da região autónoma. Aquilo porque todos, continentais e ilhéus tão ansiosamente esperávamos.
Mas eis que se vira a face da moeda.
Demite-se mas recandidata-se.
É Carnaval. Está mais que visto.
Ora se o senhor se demite como forma de protesto, vai recandidatar-se como forma de quê? De reconfirmar o protesto?
Ou pura e simplesmente porque lhe apeteceu dar de novo nas vistas e tornar a política (já de si debilitada) numa autêntica palhaçada?
Não está agarrado ao poder, mas também não abdica dele. Soberbo.
É este o respeito que o povo madeirense e o país merecem?!
Pode ser que seja desta que a Madeira se torna verdadeiramente livre.
Para bem de todos.

De braços abertos.

O Senhor Ministro da Economia deste governo, em vésperas de comemorar dois anos de gestão nacional, continua a mostrar dotes de um verdadeiro orador e a fornecer uma quantidade inquestionável de preciosidades de retórica política.
Depois da polémica mão-de-obra lusa a baixo preço oferecida à China, eis que o Sr. Ministro decide retalhar o País e colocar em concorrência com a China a vizinha Espanha. «Recebemos as empresas espanholas de braços abertos», disse o ministro, acrescentando que «Espanha vê com bons olhos o mercado português».
O Senhor Ministro, como anda sempre depressa de mais ao volante, também fala mais depressa do que o seu pensamento.
Actualize-se antes de deitar mais umas bacoradas cá para cima da gente. Somos pobres, trabalhadores, mas não somos parvos.
Nunca mais conseguimos recuperar Olivença e a nossa própria restauração da independência foi reconquistada a custo de uma aliança com as terras de sua magestade que ainda hoje nos traz algumas dores de cabeça (viu-se na cimeira das lajes no processo Iraque).
Por outro lado e muito por força da visão estritamente economicista do seu colega da pasta da saúde, agora até Valença (essa do nosso Minho) quer passar para o outro lado.
Mais ainda, médicos, enfermeiros e, até cá no burgo, treinadores do outro lado da fronteira já temos aos montes. Ou como dizem os mais novos às resmas e paletes.
Empresas espanholas só não as vê por cá quem não quer. E o movimento comercial (e temo que o afectivo também) junto à fronteira já tem décadas de existência.
Turisticamente, somos anual e literalmente invadidos pela Galiza, Castela e Andaluzia.
Já agora, relembra-se ao Senhor Ministro da Velocidade de Ponta que quase 40% dos nossos concidadãos (onde eu me incluo) via de bom agrado Portugal voltar às suas origens Castelãs.
Portanto, vir agora apelar aos "Nuestros Hermanos" que estamos preparados para os receber de braços abertos, não só demonstra uma falta de sensatez, como revla que o Sr. Ministro não anda neste mundo.
Por favor, ou se arranja uma acessoria de imagem qualificada ou é melhor procurar outra ocupação.

A medalhinha...

Sei que já lá vão cerca de 13 dias. Mas apesar disso, a incredibilidade leva-nos muitas vezes ao passado. Para além dos muitos afazeres, claro.
Souto Moura foi, no passado dia 5, condecorado pelo Presidente da República. O antigo Procurador-Geral da República recebeu em Belém a Grã-Cruz da Ordem de Cristo por serviços prestados ao país, em órgãos de soberania e na administração pública.
No exercício das suas funções como responsável pela Procuradoria Geral da República, foi no mínimo polémico, para não dizer paupérrimo.
O Dr. Souto Moura não foi capaz de controlar e resistir à máquina maquiavélica da Justiça. De uma justiça de pressões e interesses. Duma justiça desigual entre os iguais.
Exemplos de ilustração deste mandato que termina, foi, logo no início, o que alguns consideraram o crime do século: A Universiddae Moderna.
A queda da ponte Hintze Ribeiro, em Entre-os-Rios, para além da tragédia de muitas famílias e de uma região, provocou a avalanche de contradições processuais, de anualções judiciais, de arquivamento e de reabertura do julgamento. Conseguiu a proeza de tornar a imagem da justiça conivente com a inrresponsabilidade e culpabilidade.
Mais quente, polémico, dramático viria a revelar-se o processo Casa Pia. Espelho do verdadeiro significado de pressão: política, social e mediática. Até hoje muito se falou, pouco se avançou. Seguiu-se a "caricata" fuga para terras de Santa Cruz (Brasil), da senhora de Felgueiras - Fátima Felgueiras.
O arrastado "Apito Dourado", poderá, através da própria teia judical, não ser mais que uma novela aos quadradinhos sobre a realidade do nosso futebol luso.

A terminar a polémica com o "Envelope 9" que teimosamente ainda não foi fechado, selado e enviado para o PR.
Pelo meio ficam as intoleráveis e inconsequentes fugas de informação, bem como as controvérsias com as escutas telefónicas.
No fim, com direito a medalha.

O Renascer Salgado

Publicado na edição do dia 15.02.07 do Diário de Aveiro.

Post-its e Retratos
Renascer.


Nos dias de hoje, face ao crescente e hegemónico poder da economia, a riqueza de uma região mede-se pela sua capacidade produtiva, financeira e pela sua capacidade de investimento. A isso, praticamente, se resume a capacidade de desenvolvimento de uma região.
Infelizmente…
Porque existem outros factores que, embora não sejam capazes de produzir directamente riqueza, são importantes para a sustentabilidade de uma região, para o “combate” à sua descaracterização.
A identidade histórica e cultural, as raízes etnográficas e o património regional (ou nacional) são a essência de um sentido comunitário e são igualmente um factor importante de riqueza.
Tal como referi no artigo anterior sobre a importância da Ria de Aveiro para o desenvolvimento e afirmação da região, existe outra realidade que faz parte dos anais da nossa cultura, história e economia de Aveiro: o Sal. Este é uma identidade há muito perdida e esquecida.
E foi com alguma satisfação que vi o esforço das entidades responsáveis por Aveiro, no sentido de revitalizar este nosso património que sustentou historicamente a formação da nossa região.
O sal foi, durante séculos, um produto e uma realidade social e cultural de enorme importância para o desenvolvimento económico e turístico de Aveiro. Quer na sua produção, quer na influência que exerceu em áreas paralelas como a salga do bacalhau e as indústrias químicas.
No século XVI, com a expansão do comércio marítimo, ao mesmo tempo que Lisboa se convertia num dos mais importantes portos mundiais, Aveiro tornava-se, por força dos carregamentos de sal para os navios, um dos mais importantes portos nacionais e uma região de referência.
Mesmo que dois séculos depois, por questões ambientais, a actividade da salinicultura e comercial de Aveiro tivesse ficado em risco, o esforço de todos os aveirenses pela necessidade da abertura da barra devolveu a expansão da região, da quala explosão demográfica da altura é um exemplo claro dessa realidade.
No entanto, volvidas as últimas duas décadas, Aveiro assistiu, passivamente, a um abandono da actividade e preservação das salinas. Factores económicos, ambientais, sociais, políticos contribuíram para o estado actual da perda desta nossa importante identidade regional e patrimonial.
A paisagem natural desapareceu, os “montes” brancos rarearam, as salinas ficaram abandonadas, desprotegidas e degradadas, o peso económico do sal na região deixou de ter relevância e de ter sustentabilidade.
Aveiro transformava-se, mas perdia uma realidade histórica e cultural importante.
As mais recentes gerações, olham para o sal sem terem com ele qualquer sentimento de identidade regional.
Aveiro, terra de pescadores, moliços, salineiras e marnotos, já só recorda e vive esta sua identidade em livros fechados, no bolor das bibliotecas, na memória perdidas dos “muito velhos”, nalgumas figuras das barricas de ovos moles ou nas ilustrações dos seus raros moliceiros.
Ou vive na esperança e no esforço daqueles que ainda guardam na sua identidade esta vontade extrema de ser aveirense.
É pois urgente a revitalização e dinamização desta actividade, da paisagem, cultura e história aveirense, da certificação do Sal e em renovar este rico património aveirense.
Registe-se o esforço da Rota da Luz, da Câmara Municipal, da recente Cooperativa dos Produtores de Sal, dos ainda existentes marnotos e daqueles que têm vontade em “abraçar” esta importante realidade de Aveiro.
É importante que o esforço seja de todos nós.
Que o sal salgue de novo esta região.

Chinesises


No curso de comunicação aprende-se, como um dos princípios básicos, o poder das palavras e os seus efeitos. Sejam elas produzidos por um meio de comunicação de massas, sejam elas produzidas por alguém que tem responsabilidades públicas.
Mas parece que o ministro Manuel Pinho tem alguma dificuldade em perceber esta realidade comunicacional.
Primeiro fala e depois é que pensa.
Aconselha-se urgentemente um assessor de imagem e imprensa.
Ou então mudar de profissão.

Campanha para quê?

Uma semana separa a data do referendo.
Esta semana que passou deu-se início à abertura oficial da campanha.
Esta realidade legislativa, é-me particularmente preocupante e irracional. Faz-me recordar as últimas eleições presidenciais.
Depois de tantas vozes e tantas movimentações de rua, há já alguns meses, vem-se dar início a ao período de campanha?!
Para quê?!
Para se repetir tudo o que já foi dito?
Para massacrar de tal forma as consciências individuais por forma a aumentar a abstenção?
Para tornar mais agressiva, desrespeitadora e incoerente as argumentações de um lado e do outro?
Este é um momento cívico, ético e moral. É uma questão de consciência individual. Não é um referendo político, nem religioso.

Amar a Ria

Publicado na edição de hoje (01.02.07) do Diário de Aveiro.

Post-its e Retratos
A Ria entre o Mar e Serra...

O que torna este património histórico e ambiental, esta identidade cultural e etnográfica e as realidades sociais locais tão especiais?! Porque esta é, excepcionalmente, uma região de exuberantes contrastes.
Entre o Mar e a Serra, a Ria oferece quilómetros e quilómetros de água a perder de vista, entre Vagos e Ovar, passando por Ílhavo, Aveiro, Estarreja e Murtosa. De braço dado com o Mar e até aos primeiros contornos da serra, a Ria de Aveiro oferece-nos uma tela de imensos tons de azul, onde se misturam os “montes” de sal, as velas, o colorido e o pitoresco dos painéis dos moliceiros, as pastagens e os campos agrícolas.
A par deste realidade paisagística, a fazer lembrar qualquer uma das obras primas de Van Gogh ou Velázquez, a Ria de Aveiro devolve-nos uma riqueza ambiental que produz um ecossistema de uma heterogeneidade própria, rico em fauna e flora marinha, numa floresta de pinheiros mansos resinosos, em contornos de imensos bancos de areias e em zonas lagunares arborizados que constituem perfeitos habitats para uma diversidade de aves, das quais se destacam várias raças de patos, as garças e as gaivotas.
E esta Ria dá-nos o espaço e o tempo para vivermos muitos momentos de experiências únicas e invulgares.
A sua íntima ligação com o mar criou uma realidade histórica, cultural e social muito própria de gentes ribeirinhas que encontraram na pesca, no sal e no moliço, no comércio, na azulejaria e na cerâmica, numa gastronomia especial e num sistema agrário e rural sustentados nos imensos areais, nas pastagens, no gado e na produção leiteira, a sua verdadeira identidade regional.
Proporcionando momentos únicos de desporto e lazer aquáticos, a Ria de Aveiro contempla toda uma história e cultura reflectidos numa identidade e património que se podem encontrar nas Casa Típicas da Costa Nova do Prado, no velejar dos Moliceiros desde as costas gafanhoas até às vareiras, na riqueza patrimonial da Arte Nova e da cerâmica em Aveiro, do Museu Marítimo em Ílhavo, da arte piscatória e do moliço em Estarreja e Ovar. A par do Sal, toda uma diversidade agrária, desde Vagos até Ovar contorna um espaço lagunar único.
Mas como o “coração” não vive só da vista, também uma cultura gastronómica por excelência reflecte esta paisagem ribeirinha: os peixes (as caldeiradas de enguias e os mariscos, por exemplo), a doçaria (da qual se destaca o Ovo Mole e o Pão de Ló de Ovar) e fruto das moagens da farinha nos moinhos de água os famosos pães de Ilhavo, de Canelas e de Pardilhó.
Mas esta riqueza natural está protegida? Está valorizada?
Para além da vertente turística, a Ria de Aveiro tem aspectos mais abrangentes, como os aspectos ambientais, a qualidade de vida, a identidade cultural e histórica das localidades ribeirinhas, o próprio desenvolvimento económico e social.
Face a estas realidades e à realidade natural da sua existência porque é a Ria de Aveiro tão desvalorizada e tão esquecida?
Porque não serve para congregar esforços e vontades comuns que tornem a nossa região uma referência turística, cultural, económica e social deste país, cada vez mais carenciado de valores comunitários e desenvolvimentos estruturados e sustentados?
Os projectos existentes, por mais vontades e esforços reconhecidos que envolvam, são acções pontuais, desagregadas de um contexto real que é a extensão da Ria e as suas realidades.
Politicamente, com tantas “guerras” burocráticas e institucionais, a Ria aguarda um “veredito” de adopção que a torne um património real, dignificado, explorado e central para o crescimento e renascimento da região de Aveiro.
Haja vontades. Haja a coragem de assumir esta riqueza.
Esta Ria de Aveiro é rica em arte, cultura, história, paisagem e potencialidades económicas.
Se quem a envolve não cuidar dela, não a sobrevalorizar, não hão-de ser aqueles que estão longe desta vivência que terão o dever de a estimar e desenvolver.
Cabe às entidades regionais e locais, às gentes ribeirinhas amar a Ria.
Antes que a Ria “seque” de tanto esperar.