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Já é por demais sabido que o País não nutre pela ASAE um "carinho" especial. Também não é novidade nenhuma que o País nunca nutriu qualquer afectividade, nem respeito, por qualquer acção que nos obrigue a respeitar as normas e as leis. Aliás, sempre foi nosso princípio elementar da nossa identidade nacional que Lei que é Lei tem que ser desrespeitada.À acção/actividade da ASAE, apelidada de fundamentalista, salazarista e "etc e tal", só resultou, como exemplos, um maior cuidado higiénico nos restaurantes, uma maior justiça e equidade nas transacções comerciais, etc.Agora... a nova polémica prende-se com a acção fiscalizadora da ASAE junto das IPSS (Instituições privadas de Solidariedade Social - vulgo Infantários, Centros Sociais, Centros Dias, ...). É sabido que estas Instituições socorrem-se inúmeras vezes da solidariedade individual e comunitária, garantindo assim a sua sobrevivência. É igualmente sabido que o Estado tem reduzido os apoios, criando dificuldades acrescidas em áreas que seriam da sua responsabilidade e que estas instituições acabam por colmatar (sendo de cariz religioso ou não).Tive a minha filhota, durante 7 anos, integrada num Infantário/ATL. Não tenho qualquer razão de queixa, bem pelo contrário. Sempre me senti seguro e confiante em relação aos cuidados que lhe foram prestados, desde auxiliares a educadoras. Mas será sempre assim?Com que direito estas Instituições, sob a capa da solidariedade e da acção social, se podem dar ao "luxo" de não cumprir com as mais elementares regras de higiene, segurança, cuidados alimentares, cumprimento de normas ficais?Só por que vivem da e fazem caridade? E os seus "utentes", não tem o direito a alimentação no prazo e em condições, à segurança nas instalações, a serviços de e com qualidade e a que o que pagam tenha o fim apropriado?Ninguém deve, nem pode estar, acima da lei (nem mesmo o fumador do primeiro-ministro).Agora... que também se percebe alguma preocupação por parte do presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social (CNIS): e ao sector público (instituições tuteladas pelo estado) também vai ser exigido mesmo?A ver vamos...
Publicado na edição de hoje (15.05.2008) do Diário de Aveiro.
Crónicas dos Arcos
A malta é bué jovem, pá.
O Presidente da República reuniu, na passada segunda-feira, com algumas organizações políticas de jovens (os chamados “jotas”) com o propósito de analisar o afastamento dos jovens em relação à vida (militância e empenho) partidária e às “cousas” políticas. Digo algumas, porque de fora ficou, por exemplo, o Bloco de Esquerda.
Independentemente das razões de sentimento de exclusão (diga-se de passagem que, em outros momentos - por exemplo, na tomada de posse do Presidente da República - o mesmo BE também se auto-excluiu ou, se quisermos, “excluiu” o próprio Presidente da República… coerências!), há, no entanto, um pormenor com o qual tenho que concordar com os “bloquistas”: para quê uma estrutura “jota” no interior dos partidos políticos, se a questão da política é, hoje, uma realidade global e abrangente, nos mais diversos sectores sociais, económicos e culturais?
O problema do emprego é estruturante; o problema do trabalho precário (embora mais incidente nos “jovens”) é generalizado; os custos com a habitação, tanto se colocam no caso dos arrendamentos, como nos elevados encargos com o crédito; o endividamento familiar tem implicações com todas as idades; a saúde, o ambiente e a segurança são realidades que tocam e respeitam a todos.
Para além disso, há, em determinadas particularidades (como por exemplo o ensino - e, mesmo este, já com algumas excepções), a existência de organismos e associações próprias: as associações de estudantes, as academias e as federações.
Até porque este conceito de ser ou não ser jovem, é uma invenção social e política recente (meados do século XX). Anteriormente, ou se era menor ou maior (sénior = senhor) de idade. No entanto, fruto da evolução(?) das sociedades, do aumento da competição social, da primazia do individual sobre o colectivo, foi criada a necessidade de “premiar a experiência da vida” (como se não andássemos sempre a aprender ou como se, pelo simples facto de se ser mais velho, isso justifique - por si só - o que quer que seja). E assim, se tornou também justificável que, pela nova ordem social da vida, os mais “jovens” tenham sempre que esperar pelos lugares que os “adultos” (menos jovens) forem deixando vagos. É por isso que na sociedade portuguesa não existe uma referência de relevo (em distintas áreas) sem se ter atingido uma “determinada” idade (vejam-se algumas argumentações - idade - na “luta” interna do PSD - entre Manuela Ferreira Leite e Pedro Passos Coelho).
E é, assim, neste sentido que a acção do Presidente da República está invertida. O problema do afastamento em relação à política, não é dos jovens. É de todos os cidadãos (ou da sua maioria) que há muito deixam de confiar nela (são os casos de corrupção, dos jogos de interesses, da credibilidade das palavras e das acções, do absentismo parlamentar, etc.). E isto não é exclusivo de uma idade específica (aliás o estudo da Universidade Católica revela os mesmos sintomas em cidadãos acima dos 60 anos). É um problema ético, deontológico e de responsabilidade social da própria classe política.
Até porque, ao contrário da imagem que se tem tentado transmitir, os tais ditos “jovens” têm sabido criar mecanismos de intervenção e posicionamento social: são as empresas inovadoras; são as expressões culturais e, nomeadamente, o considerável aumento da sua participação em acções de solidariedade e de voluntariado. E isto é participação cívica e social. O que já não vai acontecendo em camadas etárias que deveriam ter mais responsabilidades.
E mesmo a falta de conhecimentos sobre algumas realidades histórico-políticas, como o 25 de Abril, não deve ser imputado aos jovens. Quem dos “adultos” tem referências ao Maio de 68, à Instauração da República ou a outros marcos da história portuguesa, senão por aquilo que se viu obrigado a aprender no ensino? Quem, vivendo em plena república, tem a noção do que era vive num regime monárquico?
E alguém já questionou se têm existido mecanismos e estratégias para que a história não se vá apagando, pelo tempo, da memória colectiva dos portugueses (sejam eles novos ou velhos)?
Como é possível mentalizar e sensibilizar os jovens para uma realidade que não viveram, se o poder político nem a nossa língua (uma das mais relevantes identidades de um povo) sabe preservar e promover?
E já agora, para terminar e sustentando que os jovens não estão assim tão longe da realidade social e política (têm é a liberdade e o direito de escolheram outras opções), é possível, a partir de segunda-feira e até ao dia 11 de Junho, assistir a uma exposição de exemplares censurados na imprensa, antes do 25 de Abril, todos os dias da semana, no ISCIA.
Porque afinal há quem tenha curiosidade e vontade de aprender e conhecer.Assim progride a nação. Assim cresce uma sociedade preocupada.
Publicado na Edição do dia 08.05.2008 do Diário de Aveiro.
Crónicas dos Arcos
Memórias Apagadas.
O Presidente da República expressou, no seu discurso nas comemorações dos 34 anos do 25 de Abril, o preocupante distanciamento dos jovens com a política e com a “Revolução”.
Eu diria mais… de quase todos os cidadãos para com a política e a história. Mesmo muitos que viveram mais directamente o período da Revolução ou Pós-Revolução.
Mas mais preocupante é o próprio distanciamento dos cidadãos, sejam eles jovens ou menos jovens, pra com as próprias “coisas da vida”, do mundo que os rodeia, da própria sociedade.
Não é apenas preocupante que os jovens não tenham referências ao 25 de Abril de 74 (porque ninguém os ensinou ou sensibilizou; porque a vivência existencial é já distante e o tempo apaga as memórias). O que também é preocupante é que a história e as memórias colectivas que constituem a nossa identidade social não sejam preservadas, mantidas vivas e tendam, por isso, a desaparecer.
Tal como o 25 de Abril, a Instauração da República, a Restauração da Independência, os Descobrimentos, os movimentos culturais (principalmente os literários) dos anos 30, 40 e 50, a Língua Portuguesa, etc. E a importância dos movimentos sociais como o 1º de Maio ou o Maio de 68 (volvidos 40 anos).
Hoje, os jovens e tantos outros cidadãos “movem-se” numa sociedade mais livre e tolerante, onde a liberdade de expressão permite falar, confrontar, discutir temas como a política, a cultura, a sexualidade, o saber, os direitos humanos, …, a guerra e a fome. Hoje, sem a preocupação e o medo da repressão e da censura, do exílio.
Hoje, sem a necessidade e inquietação de saber porquê.
Porque houve quem há 40 anos, em França, ou há 34 anos, em Portugal, marcou a história, moldou e mudou a sociedade que hoje temos.
E hoje, temos quase tudo.
Para quê os jovens terem de pensar porque é que é assim?! É assim e pronto. “É a vida”!
Porquê ter que saber o que foi o Maio de 68 ou o Abril de 74 se a tomada da consciência social e todas as conquistas desses tempos, hoje têm o reflexo na preocupação com a renda da casa ou o crédito bancário, o aumento dos combustíveis e do bens essenciais (como a alimentação), com o emprego no final do curso, com a dificuldade em constituir família, ter filhos e criá-los condignamente?!
Para quê reviver o que já passou se o que vivemos é a desertificação do interior do país, as assimetrias constantes, a falta de desenvolvimento equilibrado e sustentado, o aumento da emigração, a perda de sentido de comunidade e o amento do individualismo e do isolamento pessoal?!
A história muito dificilmente se repete e muito menos pela falta de consciência social e política que se vive nos dias de hoje.
Muito dificilmente haverá outro Maio 68 ou outro Abril 74.
Muito dificilmente haverá novos marcos que fazem história ou novos acontecimentos que transformem a sociedade… enquanto o mundo se fechar individualizado em cada cidadão.
Assim progride a nação. Assim cresce uma sociedade preocupada.