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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

A caminho da sustentabilidade

Publicado na edição de ontem (27.02.09) do Diário de Aveiro.

Sais Minerais
A caminho da sustentabilidade.
Nos dias de hoje, o termo "sustentabilidade" tem um universo de aplicabilidade consideravelmente alargado (quando não, exageradamente alargado), para além da sua referência constante em projectos de considerável importância e relevo, como é o caso de Aveiro e o projecto do Parque da Sustentabilidade.
A terminologia, muito corrente na actualidade, é associada a conceitos ou ideias ambientais, a aspectos financeiros, à gestão, à política, à sociedade, à cultura, e, também, às cidades, nomeadamente à sua vertente urbanística ou à mobilidade.
No entanto, esta quase que universalidade, tem o risco associado de esvaziar o impacto do conceito e a sua importância, banalizando-o ou vulgarizando-o. Aliás, como acontece demasiadas vezes com outros conceitos e valores. Lembremos, por exemplo, conceitos como solidariedade, fraternidade, paz, direitos humanos e da criança, respeito, liberdade, guerra, exclusão e indiferença. A lista poderia ser, obviamente, mais longa.
E é este risco que convém prevenir e salvaguardar.
A sustentabilidade é um conceito determinante para qualquer desenvolvimento, estruturando-o, tornando sólido, coerente, integrado.
Daí que, como aqui foi referido há três semanas atrás, a importância do Parque da Sustentabilidade, pela dimensão do projecto e pelo que pode e deve trazer para o espaço urbano, não deverá permitir esvaziar e banalizar esse indispensável conceito: o "sustentável". Sustentabilidade assente em três vectores de referência: o ambiental, o económico e o social.
Face a este aspecto, poder-se-á considerar algum deles mais indispensável?
A eficácia do equilíbrio sustentável, resulta precisamente na harmonia proporcional dos três vectores.
Mas tal como no último Sais Minerais "digerimos" a relevância do património e dos recursos humanos para se vencer a crise económica existente, é de acrescida importância que todo e qualquer projecto de requalificação urbana tenha em consideração, igualmente, os cidadãos, porque são eles, em primeira e última instância, que valorizam e dão vida às cidades e aos "espaços públicos".
No caso concreto deste projecto inédito no urbanismo aveirense (e determinante para a cidade), parece ser factual o impacto ambiental (trata-se de dois espaços verdes evidentes com potencialidades evidentes para o lazer: desporto, descanso, mobilidade saudável, etc.), bem como a sua importância económica (capacidade de regeneração urbana, o valor da zona envolvente: universidade, hospital, justiça, cultura e comércio). Estão, assim, garantidos dois dos três vectores que alicerçam a sustentabilidade. Falta, portanto, o vector social.
Se é intuitivo que os primeiros dois não têm qualquer valor, ou impacto, se dissociados do ser humano e, assim sendo, tendo o indivíduo como fim único, não deixa de ser incontestável que a presença e o papel do cidadão deve ser dignificado e enaltecido. O projecto deverá fundamentar os seus planos e programas na relação e na valorização das necessidades, vontades, emoções, fluxos de sociabilidade dos aveirenses ou de todos os que Aveiro acolhe (mesmo que esporadicamente).
Não será um Parque verdadeiramente Sustentável se não "olhar" ou não "acolher" para as Pessoas, por muitos e valiosos projectos que se edifiquem (e serão, com toda a certeza, alguns importantes).
Além disso, para além da relevância de parcerias e protocolos com um conjunto de entidades que, pelo seu know-how e pela sua capacidade de investimento (financeiro, material ou de conhecimento), trazem uma considerável mais-valia ao projecto, como é o caso da "Plataforma para a Construção Sustentável", dentro deste princípio da promoção do valor humano que se defende como fundamental, a entidade gestora do Parque da Sustentabilidade não poderá desprezar o papel que a Junta de Freguesia pode e deve desempenhar para a eficácia e o sucesso do projecto. Ou seja… para a sustentabilidade integradora dos três vectores fundamentais: ambiente, economia, social.
Para além da admissível pretensão como organismo presente na área envolvente, pela sua missão, que mais não seja pela sua responsabilidade pública, missão e por ser a primeira entidade representativo das referidas necessidades, vontades, emoções e fluxos dos cidadãos.

Ao sabor da pena…

Outra Crise: valor humano.

Publicado na edição do dia 12.02.2009 (quinta-feira) do Diário de Aveiro.

Sais Minerais
Outra Crise: valor humano.

É inevitável, por mais saturante que possa parecer, não se falar em crise (ou, se quisermos, na crise).
Mesmo que a maioria dos cidadãos não consiga perceber as fundamentações técnicas da sua origem e desenvolvimento, o certo é que ela é perceptível no nosso dia-a-dia: o poder de compra, o aumento de alguns bens e serviços, o “custo do dinheiro” cada vez mais elevado, a baixa competitividade da economia, o desemprego, a falência de muitas empresas (mesmo que duvidosa ou “encapotada”), o endividamento familiar, a estagnação do mercado, etc.
Não se estando por dentro dos “meandros” financeiros, esta realidade é facilmente perceptível no final de cada mês (em muitos casos nem chega a tanto) pela maioria das famílias.
A percepção que se tem, destes tempos mais conturbados, é que as medidas que se têm implementado e implantado, não têm tido a necessária profundidade e estruturação futura. São mais remendos e medidas a curto prazo do que uma importante reflexão, análise e redefinição estratégica dos mercados, investimentos e produtividade.
Neste sentido, há um aspecto que tem sido descurado de forma inquietante: o património humano das empresas e organizações (mesmo as sem fins lucrativos).
O valor humano deveria ser um dos maiores investimentos, mesmo, ou principalmente, em tempos de crise. Mais atenção às pessoas, maior e melhor formação e qualificação profissionais e não descurar as medidas e políticas de responsabilidade social, deveriam ser aspectos de primordial importância, nestas fases.
É que qualquer crise económica, por mais pequena que seja a sua dimensão, acaba por se traduzir, seja por arrastamento ou como resultado final, numa crise social, muitas vezes com custos e efeitos incalculáveis ou irreparáveis: insatisfação social, crise de valores, crise familiar, falta de solidariedade e cooperativismo. Neste quadro, o papel da responsabilidade social assume, importância acrescida e fundamental.
O “mercado” sempre assumiu como máxima que o lucro e os negócios são factores inseparáveis, quando, no final de qualquer balanço financeiro, deviria constar, em primeiro lugar, o peso social da empresa e organização, a contabilização das vidas salvas e melhoradas, em vez dos milhões gerados.
Era importante que a missão e objectivos de cada tecido empresarial e organizacional tivesse como principais factores estruturais a motivação, a confiança, a coerência, a formação e valorização profissionais, a envolvência humana em toda a sua dimensão (social, cultural, religiosa, política e emocional) no projecto comum. Isto é, a valorização do factor humano, como o maior património de cada empresa ou organização, pela sua eficácia e eficiência.
É fácil adquirir, em qualquer sector do mercado, uma máquina que substitua o trabalho humano. Mas já será mais difícil, para não dizer impossível, motivá-la, explorar a sua capacidade emocional, a sua competência de inovação.
Por outro lado, o custo com os recursos humanos é, normalmente (e mais em tempos de crise) avaliado em função da sua expressão económica e financeira.
Raramente valorizado pela sua capacidade de envolvimento no desenvolvimento, projecção (enriquecimento) e sustentabilidade de uma empresa ou organização.
A maior recompensa pelo trabalho e esforço de um indivíduo não é apenas o que é pago por ele, mas aquilo em que se transforma esse trabalho, envolvimento e dedicação.
Ao sabor da pena…

É a vida! Temos pena...

Notícia do dia: Scolari despedido do Chelsea. Para uns surpresa; para outros satisfação; e para os restantes, principalmente (mas não só), os nascidos "verde e amarelo", indignação.
Para mim é a surpresa de ter falhado o meu prognóstico: pensava que não chegava ao Natal. Não chegou ao Carnaval.
Mas também, com os dias que correm, quem quer saber de "futebóis".
O mundo gira muito para lá de um rectângulo verde, uma bola e vinte e duas pessoas a correr atrás dela.

Ser ou não ser!

Publicado na edição nº 880, de ontem (06.02.09) do semanário "O Aveiro".

Ser ou não Ser...

É indiscutivelmente a temática mais mediática da actualidade política e judicial deste rectângulo à beira-mar plantado: o caso “Freeport”.
E é-o por diversas e distintas razões: pela surpresa, pelo impacto político e pela insuspeição suspeita. Para não falar do hábito bem português, do melhor desporto nacional: a má-língua, a intriga, a maledicência e o “fait divers”. No meio de tão imprevisível crise financeira, há sempre algo que nos “alimenta” a alma!
Mas comecemos pelo princípio (início): “qualquer cidadão é inocente até prova em contrário” ou “todos os cidadãos são iguais perante a lei e a justiça”.
Por outro lado, a lei da imprensa (por consequência, a comunicação social), logo no seu primeiro artigo, determina: a garantia da liberdade de imprensa, nos termos da Constituição e da lei; que a liberdade de imprensa abrange o direito de informar, de se informar e de ser informado, sem impedimentos nem discriminações; e que o exercício destes direitos não pode ser impedido ou limitado por qualquer tipo ou forma de censura. Assim sendo…
Não faz sentido (e nem será desta forma que se ganham as “guerras” ou as “forças ocultas”) pretender-se limitar o papel de construção da realidade social, de censor e crítico que cabe, por princípio ético e deontológico, ao Jornalista e à Comunicação Social. É seu dever informar e ser informado (investigar, noticiar, prevenir e criar estímulos na sociedade).
Além disso, a Justiça é que tem tido dificuldades acrescidas em lidar com os segredos dos processos de investigação e judiciais. Por outro lado, a Comunicação Social apenas se tem cingido aos factos e à sua apresentação, que na sua maioria resultam de investigação efectuada. E já não é caso único o facto de ser a Comunicação Social, através do seu papel, a provocar a atenção dos cidadãos, da política e da justiça para situações relevantes da sociedade. Lembre-se o caso “Casa Pia”.
Porquê fazer da Comunicação Social o habitual “papão”, quando não se entende que, pelo princípio da separação de poderes e pelo princípio de igualdade de todos os cidadãos perante a lei e a justiça, venha o Procurador Geral, bem como a Procuradora-Adjunta responsável pelo caso, prestar declarações públicas, revelando suspeitas, procedimentos de investigação e elementos que deveriam apenas interessar à justiça! E será, o caso Freeport, apenas uma questão judicial? Ou também um assunto político?!
A justiça portuguesa nunca foi célere em casos que se tornam, por diversas razões, mediáticos. A mesma justiça, reconheçamos, não é igual para todos; lembrando, em inúmeras situações, a máxima de George Orwell (Triunfo dos Porcos): todos são iguais, mas há uns mais iguais que outros. Mas face a todas as circunstâncias e presumindo constitucionalmente a inocência do Primeiro-Ministro, importa que se concluam as investigações e se apure a verdade, sem constrangimentos ou pressões externas (como por exemplo a vitimação em que se têm transformado as várias declarações públicas do primeiro-ministro). Aliás, pressões que a Comunicação Social sofre diariamente. Não é igual (ou parecido) o tratamento noticioso do caso no canal público (RTP) ou até mesmo na SIC, e o da TVI, Sol e Expresso.
Mas importa que a Justiça cumpra o seu papel e que a política dignifique a democracia. Sem pré-julgamentos em “praça pública”.

Viva a Liberdade de Expressão

A temática da liberdade de expressão é, pessoalmente, algo que prezo e defendo, mesmo enquadrada em limites circunstanciais (como o dever de lealdade por "contratualidade" laboral, por exemplo). Assim, entendo que qualquer cidadão tem o direito e a liberdade de exprimir as suas ideias, convicções e sonhos. É legítimo...
No entanto, tal pode implicar que as reacções a essa expressividade e opiniões, sejam de indiferença, incredibilidade, distanciamento ou oposição, ou ainda de alguma jocosidade.
É que se podemos aceitar que, pelo direito às liberdades individuais, se possa, legitimamente, dizer ISTO, também não deixa de ser verdade que por ISTO e por outras, mesmo mantendo as convicções, princípios e opções politico-partidárias, tenha entregue o "cartão" (nº 010500232) e pedido a desfiliação.

Aveiro Sutentável...

Publicado na edição de hoje (5.02.09) do Diário de Aveiro.

Sais Minerais
Aveiro Sustentável.


Apesar de ser, por natura própria do ser humano (principalmente o português), mais fácil criticar do que elogiar, é importante poder fazê-lo no ano em que Aveiro comemora duas datas históricas marcantes.
A verdade é que Aveiro tem tido, neste início dos seus 250 anos de elevação a cidade, uma capacidade relevante de gerar estímulos críticos, de provocar sentimentos, de criar preocupações cívicas, de potenciar diferentes olhares e perspectivas sobre o mesmo espaço: a Cidade.
Desde o aveirense mais comum até às Entidades públicas (como a Câmara Municipal e a Associação Comercial de Aveiro ou a Universidade), passando pelos movimentos de cidadãos mais ou menos espontâneos.
Aveiro tem concebido uma oportunidade única e importante de crescer (ou renascer) como base em dois projectos relevantes: o Parque da Sustentabilidade e a Revitalização da Avenida.
Oportunidades para um trabalho de reabilitação urbana (económica, social, cultural, paisagística), de preocupação ambiental e consolidação e desenvolvimento social.
Oportunidade para revitalizar pontos estratégicos do tecido urbano, desenvolvendo e potenciando a sustentabilidade da Cidade e por consequência do Concelho, renovando o papel de centralidade que Aveiro merece ter na Região.
No caso concreto do Parque da Sustentabilidade, a par da importância estratégica da zona envolvente e englobada (tal como no caso da Avenida), acresce a possibilidade do projecto intervir de forma integrada, permitindo o aperfeiçoamento um novo espaço e criar uma nova imagem para aquela área urbana (entre o Rossio – Alboi e Parque da Cidade). Tal realidade permitirá que sejam encontradas soluções inovadoras que tornem aquela zona (e envolventes) mais atractiva do ponto de vista habitacional, de lazer, do comércio/serviços, trabalho e estudo.
Do ponto de vista da Avenida Dr. Lourenço Peixinho, a aprovação da delimitação da área crítica de recuperação e reconversão, no final do mês passado, permitirá que as sinergias criadas em torno de um projecto eficaz de reabilitação urbana para a “Avenida” sejam valorizadas e congregadas, através da valorização da capacidade empreendedora e inovadora dos aveirenses e das suas organizações.
No entanto, é importante que as movimentações criadas em torno deste objectivo de revitalizar a zona mais emblemática da cidade, não surjam de forma isolada e partida.
Se é importante para a Associação Comercial de Aveiro revitalizar o seu comércio naquela área, também não deixa de ser importante e compatível que questões de âmbito urbanístico, ambiental, de mobilidade, cultural e social, tenham o seu espaço, sejam contempladas, porque importantes para um projecto que se pretende global.
Posto isto, é inquestionável que se olhe para a Cidade como um todo, evitando assimetrias e desequilíbrios.
É determinante para o sucesso do resultado destas oportunidades que os aveirenses não subestimem o seu papel como cidadãos, participem de forma activa e construtiva; no fundo, não abdiquem do exercício do seu direito (e dever) de cidadania.
São importantes todos os contributos que possam servir que as melhores soluções possam ser aplicadas por quem de direito e com responsabilidade governativa.
Mas é igualmente importante que as “massas críticas” que se têm gerado e criado em torno de Aveiro, possam ser alargadas de forma a abrangerem todo o “espaço público” urbano, transformando a cidade num espaço único integrador de todos os aveirenses.
Entende-se, por diversas e múltiplas razões (estruturais, afectivas, económicas, políticas e sociais), poderem ser dados “passos” próprios e diferenciados, mas não devem os mesmos “caminhar” em sentidos distintos ou até mesmo opostos.
De outra forma, a Cidade voltará a ser assimétrica, perderá referências comuns e descuidará a sua integração social e cultural.
É importante que os projectos sejam equilibrados e integradores, devolvendo a Aveiro todas as potencialidades de uma cidade moderna, inovadora, cultural e democrática.
Ao sabor da pena…