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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Liberdade de Imprensa

Publicado na edição de hoje, dia 6 de Maio, do Diário de Aveiro.

Cheira a Maresia!
Liberdade de Imprensa

Esta semana, mais precisamente na passada segunda-feira, foi assinalado o Dia Internacional (ou mundial) da Liberdade de Imprensa.
E não foi na Comissão de Inquérito Parlamentar do caso TVI… Não!
Foi mesmo no mundo inteiro… em Aveiro também!
A Casa Municipal da Juventude juntou alunos da Escola Profissional de Aveiro e teve a amabilidade de me convidar a juntar-me “à conversa” com os amigos José Carlos Maximino e Ivan Silva.
E a conversa, como não poderia deixar de ser, centrou-se no jornalismo, na comunicação, nas liberdades… E com apontamentos interessantes (assim como interessante foi verificar o “trabalho de casa” dos jovens presentes).
A curiosidade dos alunos foi dirigida para as temáticas das redes sociais e do seu papel nos processos de comunicação (por exemplo, nas autarquias), do jornalismo ‘tradicional’ e das plataformas digitais (os novos paradigmas dos órgãos de comunicação e dos seus profissionais), o caso TVI e as pressões sobre a comunicação social (por razões óbvias), a ‘convivência’ entre jornais pagos e jornais gratuitos, a verdade da informação e os limites informativos, a sustentabilidade e a concentração dos meios, e questões deontológicas e éticas.
Foram mais de duas horas de interessantes (e espero que importantes e proveitosas) troca de ideias, conceitos e visões sobre a comunicação social.
Do ponto de vista meramente pessoal e não querendo minimizar ou relativizar qualquer das questões colocadas, um dos temas abordados que merece especial destaque é o da isenção e imparcialidade dos órgãos de comunicação social. Até porque é tema usual na comparação entre a tradição informativa anglo-saxónica e a europeia.
A verdade é que temos, no nosso jornalismo, uma aparente imagem de isenção e imparcialidade (mas que, na prática, se fica pelo campo dos princípios) e que apenas disfarçam e escondem alinhamentos e facilitam o aparecimento de casos e a desconfiança nos cidadãos.
Não me parecem ser incompatíveis o rigor e a verdade com a parcialidade ou com a clarificação de posicionamento editorial. É preferível que o leitor/ouvinte perceba com transparência que o que lê ou ouve tem uma conexão politico-ideológica do que disfarçar as opções tomadas. Até porque dessa forma torna o cidadão mais livre e consciente nas suas opções e análises críticas.
Infelizmente, Portugal não tem esta realidade, como a que sustenta a “escola” anglo-saxónica e os seus princípios.
Ao contrário, os órgãos de comunicação social anglo-saxónicos assumem opções políticas, por exemplo, eleitorais, através de posições editoriais tornadas claras e públicas, o que permite ao cidadão uma maior liberdade de opinião e de escolha.
É o caso recente da campanha eleitoral britânica, como foi o caso das últimas eleições presidenciais norte-americanas.
Com os jornais, como exemplo, a declararem editorialmente o seu apoio ao candidato A, B ou C.
E com isto é possível haver rigor e verdade na informação, é possível separar o acto jornalístico (ético e deontológico) do posicionamento editorial.
A parcialidade, a definição e o tornar público da opção ideológica não tornam o órgão de comunicação social menos credível. E tornam a informação mais honesta.
O Washington Post ou o New York Times não deixam de ser referências jornalísticas nos Estados Unidos pelo facto de tornarem públicas as suas orientações editoriais.
Não seria um excelente contributo para a Liberdade de Imprensa mudar esta realidade?!