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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Viabilizar ou não viabilizar… eis a questão!

Publicado na edição de hoje, 7.10.2010, do Diário de Aveiro.

Cheira a Maresia!
Viabilizar ou não viabilizar… eis a questão!


Esta é, claramente, a questão “shakespeariana” da actual agenda política.
O que deveria ser um processo de âmbito económico e social, transformou o Orçamento de Estado para 2011 na questão de sobrevivência da política nacional: a sua estabilidade ou uma crise existencial.
Entre a chantagem política da demissão do governo, os votos contra ou as abstenções que podem viabilizar o Orçamento de Estado (mesmo não votando a favor), muita pressão está a ser colocada a nível partidário e muitos “jogos de bastidores” se começam a desenrolar.
Havendo quatro partidos da oposição com assento parlamentar, é sobre o PSD que recai a maior fatia da responsabilidade da aprovação ou não do orçamento para o próximo ano. Mesmo que Pedro Passos Coelho afirme (correctamente e com toda a legitimidade) que a responsabilidade política deve ser distribuída por toda a oposição: CDS, BE e PCP.
Mas a verdade é que não vai ser assim… o PSD como maior partido da oposição e face ao discurso (eventualmente fora do tempo) do seu líder desde Agosto passado, terá de assumir, mais uma vez, o ónus da decisão política.
E a questão passa a ser mais existencial para o PSD do que para o PS e o governo de José Sócrates.
Quais serão as consequências políticas para Passos Coelho, seja qual for a decisão do seu partido?!
Se viabilizar o Orçamento, por uma questão de sentido de Estado ou derivado da negociação partidária (o que se afigura difícil de atingir) que possa surgir, a responsabilidade será sempre atribuída ao PSD por pactuar com medidas que agravam a vida dos cidadãos, das empresas e da estabilidade social. Mesmo que o sentido do voto seja a abstenção, que no caso, é uma opção politicamente dúbia e de difícil sustentação e compreensão. Como se diz na gíria popular: nem é carne, nem é peixe! Aliás, demonstra alguma fragilidade de posicionamento e de assumir responsabilidades políticas: seja por sentido de Estado, seja por afirmação partidária e ideológica… ou se é a favor ou se é contra!
Assim sendo, resta a outra opção política: a não viabilização do Orçamento do Estado para 2011.
Pessoalmente entendo que esta deve ser a opção a tomar por Pedro Passos Coelho e pelo PSD. Eventualmente contra muitas vozes que temem o fantasma da crise política. Mais crise do que a que já temos com as medidas e as políticas do actual governo?!
Esgotadas as possíveis negociações entre PSD e Governo/PS, dada a inflexibilidade de José Sócrates para aceitar outras medidas e política alternativas, resta ao PSD assumir o seu estatuto de alternativa governativa e manter uma coerência política sustentada no discurso adoptado desde a reentré na festa do Pontal.
E a realidade é simples: face a um mau orçamento que agrave a condição social e económica dos portugueses, é preferível não ter nenhum; face à possível demissão do governo e à realização de eleições antecipadas, é preferível que os cidadãos possam ter a oportunidade de optarem por outro rumo para o País. Com toda a certeza saberão exprimir, de forma democrática, as suas vontades.
Poder-se-á questionar: e o impacto das opções políticas do PSD na aprovação ou não do Orçamento face às eleições presidenciais que se avizinham?!
Simples… falaremos para a semana!