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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Quem vai à guerra…

Publicado na edição de hoje, 26 de dezembro, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos

Quem vai à guerra…

O Primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, num discurso proferido na passada sexta-feira, na visita à Associação dos Deficientes das Forças Armadas, afirmou que “Portugal vive uma guerra intensa” e exortou cada português a ser “um soldado para vencer esta guerra e para construir um Portugal mais justo e mais próspero”.

Não podiam ser mais bem escolhidas as palavras de Passos Coelho, independentemente da circunstância e da ocasião.

É que, de facto, desde o final de 2011 até hoje o país tem vivido uma guerra provocada pela gestão e pelas medidas impostas por este Governo. Esta guerra não é imposta pela crise ou pela austeridade. A guerra é a forma como o Governo “combate” os cidadãos, as famílias e as empresas. A forma como destrói o Estado, o tecido social e o crescimento económico. Essa é que é a verdadeira guerra. E do outro lado não estão apenas os compromissos assumidos no memorando de entendimento da ajuda externa, estão os portugueses que formam filas às portas dos centros de emprego, os empresários que fecham as suas empresas, as famílias que não conseguem cumprir com os seus encargos financeiros por força da diminuição do valor salarial e da carga fiscal, o número crescente de pessoas que recorrem à solidariedade social das instituições do Estado e particulares, as cerca de 10 mil crianças (assinaladas) com fome nas escolas, a instabilidade social e o agravar das diferenças.

O que este Governo precisa de assumir é que está a perder esta “guerra”, que as suas “armas” estão a falhar. Aliás, tal como Passos Coelho referiu no debate quinzenal na Assembleia da República, na passada semana, “o ano de 2012 foi o pior desde 1974” e as expectativas quanto a 2013 são defraudadas pelo facto de “se avizinhar um ano extremamente difícil”. Expressões sublinhadas pelo relatório da sexta avaliação da Comissão Europeia que prevê grandes dificuldades no cumprimento da meta orçamental dos 5% para este ano e que terá implicações na derrapagem do orçamento para 2013. Uma realidade que provocará novas medidas de austeridade, previsivelmente, através de mais cortes salariais, nomeadamente na Função Pública.

Isto significa que, de facto, a “guerra” vai agora começar. E este Governo não se afigura preparado para o combate, porque os cidadãos já não têm a mesma capacidade de sacrifício, já se cansaram de contribuir sem ver resultados positivos (antes pelo contrário). Não será sem “luta” que os portugueses aceitarão mais impostos, menos apoios sociais, menos salário, mais sacrifícios. Principalmente quando as responsabilidades não são equitativas e não se vê o Governo a estruturar e a rentabilizar a administração central, regional e local, o sector empresarial do Estado.

Não será sem “guerra” que os cidadãos aceitam continuar a fazer sacrifícios sem a mesma responsabilidade e o mesmo sacrifício por parte do Estado. Até porque as palavras podem-se reverter contra o próprio orador. E tal como 2012 foi o pior ano desde 1974 e 2013 será um ano extremamente difícil e com previsão de derrapagem orçamental, também os cidadãos/soldados, nesta “guerra” de sobrevivência social, não deixarão de lembrar que este poderá ser o pior governo do país e do PSD desde 1974 e que 2013 será um ano muito difícil para a governação e Passos Coelho, com previsão de derrapagem política e a perda do poder.