Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Palavras Ditas, mais que (in)formação

É já para a próxima semana que o sonho se torna realidade. O homem sonha, com Deus ou sem Deus, mas com muito querer, vontade e determinação, a obra acontece. Foi o que aconteceu com o conceituado jornalista Nuno Azinheira. Sonhou, teve determinação, querer, muita objectividade e o Palavras Ditas aconteceu e está pronto para iniciar a sua actividade já no próximo mês de Setembro. Um regresso às “aulas”.

Numa altura em que a comunicação, particularmente a comunicação social, vive momentos atribulados, Nuno Azinheira teve a objectividade necessária para criar um projecto de formação especializado na área. Ou melhor, juntando várias áreas: comunicação, lazer, cultura.

A este “sonho” Nuno Azinheira juntou um conjunto considerável de personalidades mais que credenciadas e com uma experiência profissional considerável e reconhecida. Nomes como, a mero título exemplificativo (mesmo que puxando a brasa à “minha sardinha”): Nuno Santos, Ricardo Costa, José Gabriel Quaresma, Rita Marrafa de Carvalho, Joana Latino, André Macedo, Joel Neto, Hernâni Carvalho, Ana Sousa Dias e Nuno Artur Silva, entre outros. Mas também Fernando Alvim, Daniel Oliveira ou Teresa Guilherme.

Um projecto que serve a todos e é dirigido a todos os que tenham como objectivo aprender, adquirir experiência, trocar saberes e experiências.

Uma evidente e clara defesa da comunicação, valorização do sector, um importante contributo para a promoção do sector e dos seus profissionais ou quem pretende entrar e vingar no meio.

A não perder e a ficar: PALAVRAS DITAS

Um Verão esquisito… até nisto.

publicado na edição de hoje, 20 de agosto, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos

Um Verão esquisito… até nisto.

Não tem sido um Verão de pasmar, de encher o olho, de bronzear, de muitas idas às praias… imaginem que até no sul do país as águas mornas/quentes de outros verões desapareceram este ano. Com mais ou menos graus, o calor deste verão tem sido esquisito, excepções à parte que apenas confirmam a regra. Aliás, excepções que não o seriam se tivéssemos tido, até à data, um Verão “normal”.

Para além das temperaturas inconstantes, da incerteza quanto ao “brilhar” (ou não) do sol, a incapacidade de planear e programar, atempadamente, as férias ou as simples idas à praia, já para não falar da confusão que roda em torno da problemática do vestuário e calçado, há ainda um outro dado que torna este Verão fora do rotineiro e normal dos últimos anos. Neste caso, ainda bem. Tem havido menos incêndios, menos casos de acidentes envolvendo bombeiros nos combates às chamas. Ao menos valha-nos isso neste Verão.

Não quero com isto dizer que, apesar de tudo, tem sido um ano calmo. Aliás, ainda recentemente, os distritos da Guarda e, particularmente, de Viseu, têm dado provas da necessidade de estado de alerta permanente por parte dos Bombeiros e Protecção Civil. Mas a verdade é que o número total de incêndios e de área ardida tem sido, significativamente, mais baixo que nos dois/três anos anteriores.

Do ponto de vista político e estrutural é sabido que existiu um acréscimo de investimento e de planeamento por parte do Governo, da Autoridade Nacional da Protecção Civil (ANPC), das Corporações de Bombeiros e das suas Instituições Associativas, mesmo que isso signifique ainda muito caminho a percorrer e muito trabalho ainda por desenvolver. Face às dificuldades vividas no sector, é certo que por muito que se faça saberá (justificadamente) sempre a pouco. Mas houve este esforço, é importante reconhece-lo, tal como o fez publicamente, por exemplo, o ainda líder do Partido Socialista, António José Seguro, quando da visita que realizou à sede da ANPC. Também é claro que uma maior fiscalização e regulamentação legislativa sobre a manutenção e protecção florestal tem contribuído para um menor número de incêndios. Mesmo assim, restará sempre a dúvida, apesar dos recursos, investimentos e fiscalização: se o Verão tivesse sido “normalmente” quente teríamos o mesmo cenário e as mesmas circunstâncias?

Por último, que não em último. Infelizmente, pelas piores e, normalmente, trágicas razões, os bombeiros são, ou têm sido, nos últimos anos os principais protagonistas do cenário dos incêndios de Verão. Os elevados números de casos de morte e de ferimentos graves ocorridos, por exemplo, no ano passado, passaram a ser capa de jornal, abertura de noticiário ou títulos de notícias. Mas este ano, felizmente pela ausência de trágicas realidades, os bombeiros praticamente desapareceram das principais notícias sobre os, também felizmente, menos incêndios que têm ocorrido. É uma boa notícia? Se atendermos ao facto de não ter havido perdas humanas e ferimentos graves nas corporações dos bombeiros, sim… é uma excelente notícia. Mas repita-se… é uma boa notícia? Excluindo a realidade da primeira resposta… Não. E não porque os bombeiros continuam a ser os principais protagonistas da triste e vergonhosa realidade dos incêndios de Verão. Porque se é verdade que houve mais investimento, planeamento, aumento de recursos e maior fiscalização, é pena que não se refira que os Bombeiros Portugueses estão mais bem preparados, mais eficientes, continuam dedicados e destemidos na protecção dos bens e das pessoas, do próprio devastar ambiental nacional. E por isto, os bombeiros mereciam continuar a ser notícia e a serem os protagonistas de mais um Verão. Nem só de lágrimas e tragédia se faz a história e se vive o dia-a-dia.

Pessoalmente continuarei a dizer: “Muito Obrigado”. Por irem e voltarem sempre…

E assim (também) vai o mundo...

publicado na edição de hoje, 17 de agosto, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos

E assim (também) vai o mundo

Nos dias de hoje não é possível a um país viver isoladamente. A expressão “orgulhosamente sós”, até há algumas décadas tão badalada em Portugal, hoje não tem qualquer cabimento, nem viabilidade. As várias organizações e instituições internacionais (para além da óbvia ONU) proporcionam e provem um conjunto de relações internacionais nos mais diversos níveis (comercial, político, militar, cultural) que fazem como que, hoje, haja cada vez menos fronteiras. Há, por isso, uma natural tendência para geopoliticamente nos posicionarmos em função de determinados interesses: economia, ideologia, cultura.

Os Estados Unidos alcançaram uma posição geopolítica e geoestratégica determinante no mundo resultante da sua participação/intervenção nas duas Grandes Guerras (nomeadamente a segunda). Primeiro a nível militar, depois política e economicamente. Se, hipoteticamente, houvesse uma invasão a Portugal, obviamente, o primeiro país que gostaria de ver entrar pelas fronteiras lusas seriam os Estados Unidos. Há ainda algumas razões do ponto de vista da democracia e da liberdade que me permitem criar uma afinidade com aquele país. Mas não há bela sem senão. Não posso é aceitar, aliás só posso criticar, que esta inquestionável característica e aptidão para potência mundial (ou “a” potência mundial) confira aos Estados Unidos o papel (que o não tem, nem pode ter) de “dono do mundo”. Mesmo após os acontecimentos de 11 de setembro de 2001. O que se esperaria vir a ser um aceitável combate ao terrorismo internacional tornou-se num ”cheque em branco” para a governação terrestre norte-americana mais pautada por interesses económico-políticos próprios do que pelo estabelecimento da paz ou dos valores da democracia. E a verdade é que o mundo tornou-se num permanente “barril de pólvora”. Deixando de lado a questão cronológica, importa lembrar acontecimentos recentes: Afeganistão, Sudão do Sul (20 mil mortos e um milhão de refugiados), República Centro Africana, Paquistão, Somália, Síria (100 mil mortos e 2 milhões de refugiados). Actualmente, o conflito na Faixa de Gaza (cerca de mil mortos), a Ucrânia (mais de 2 mil mortos) e o novo medir forças com a Rússia, de novo o Iraque com o conflito entre os curdos sírios e os ‘jihadistas’ islâmicos (cerca de 6 mil mortos e 1 milhão de refugiados apenas em três meses), e o Líbano (170 mil mortos). A verdade é que por onde os Estados Unidos têm potencializado, promovido, influenciado e espalhado o seu hardpower político-militar (já que “softpower político” é algo que os americanos parecem desconhecer) o ‘mundo’ não tem ficado nada seguro e muito menos melhor.

As intervenções meramente arbitrárias e condicionadas pelos interesses exclusivos dos norte-americanos, ou mesmo as da ONU/NATO ‘forçadas’ pela pressão dos Estados Unidos, não têm trazido melhores condições de vida a muitos países, maior liberdade e democracia, mais paz.

Numa semana em que lamentamos a morte do actor Robin Williams, dos portugueses Dóris Graça Dias (escritora e crítica literária) e Emídio Rangel (comunicação social), importa também lembrar os milhões de anónimos que morreram nos vários conflitos, muitos dos quais (se não a maioria) inocentemente.

E assim (também) vai o mundo…

Morreu o "marco" da comunicação social. R.I.P. Emídio Rangel

Não sei se será muito correcto e fundamentado dizer que há uma comunicação social antes e pós Emídio Rangel. Aliás, porque o próprio 25 de abril, entre muitas coisas, trouxe a liberdade e com ela a liberdade de expressão, de opinião, de informação.

Mas não é de todo exagerado se afirmar que Emídio Rangel foi um dos marcos importantes e uma referência na comunicação social portuguesa.

Fundador da que é hoje uma das emissoras de referência no jornalismo radiofónico - TSF; fundador do primeiro canal de televisão privado em Portugal, algo que, à data, poucos vaticinavam poder acontecer ou que tivesse sucesso, abrindo o caminho a muitas outras apostas nomeadamente ao segundo canal privado - TVI; começou a sua carreira de jornalista na RDP e assumiria ainda o cargo de director-geral da RTP.

Homem de polémicas, irreverências, dizem que de alguns excessos, mas também de grandes virtudes e uma grande paixão pela comunicação social.

Goste-se ou não, Emídio Rangel foi um marco na história da comunicação social portuguesa.

E esta é uma das notícias que nenhum órgão de comunicação social gostaria de dar: a comunicação social ficou mais pobre com o falecimento de Emídio Rangel.

R.I.P. Emídio Rangel.

O defraudar político

publicado na edição de hoje, 13 de agosto, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos

O defraudar político

É geneticamente uma realidade portuguesa, não tenhamos dúvidas. Injustamente, os portugueses facilmente incorrem na crítica fácil aos políticos, aos partidos políticos, à democracia, às instituições, ao sistema. Porque são isto, são aquilo, não servem para nada, não fazem nada, só estorvam, têm uma péssima imagem e credibilidade. E quando se está do outro lado da barricada, do lado de “fora”, muito mais fácil se assume o tom crítico. Mas não há um fundo de verdade nas críticas? Há. Sejamos honestos. Em muitas ocasiões, é a própria realidade política (os partidos, os político, etc.) que fomenta essa imagem. Basta ver o que se passa com a actual disputa pela cadeira do poder socialista que provoca um impacto inverso ao esperado: em duas recentes sondagens apresentada este fim-de-semana a coligação governamental PSD/CDS obtêm mais 2,7% da preferência do eleitorado que o PS (34,8% contra 32,1%) na sondagem apresentada pelo Expresso (Eurosondagem) e mais 5% de diferença para os socialistas, na sondagem apresentada pelo Jornal I/Pitagórica (35% PSD/CDS e 30% PS).

Mas se há algum fundamento na imagem que os portugueses têm dos políticos e do sistema partidário, também não deixa de ser verdade que está na génese da identidade nacional a capacidade de alterarmos as nossas concepções em função da nossa posição. A notícia teve honras de destaque no Jornal de Notícias da passada semana, prontamente replicado pela comunicação social. Dois títulos mereceram destaque: "Marinho e Pinto vai abandonar Parlamento Europeu” e “Sete dias bastaram para Marinho e Pinto regressar a casa” (se bem que o regresso está agendado para daqui a um ano).

Segundo ao antigo Bastonário da Ordem dos Advogados, eleito eurodeputado nas últimas eleições europeias pelo Movimento Partido da Terra, com uns surpreendentes (embora questionáveis) 7% dos votos (o que levou, inclusive, à eleição de um segundo eurodeputado), as razões são essencialmente três (pelo que refere nas suas declarações à imprensa): a desilusão face ao projecto europeu: "o elemento agregador da Europa não está nos ideais nem nas políticas, mas no dinheiro". Ora bem... em que planeta vivia Marinho e Pinto quando se candidatou ao Parlamento Europeu? Sendo candidato em Portugal, por um partido português, numa altura em que o país ainda estava sob o programa de ajustamento (Troika), Marinho e Pinto acreditava mesmo que a economia tinha um papel secundário nos actuais destinos do mundo?; a questão salarial: "o rendimento auferido pelos eurodeputados, que pode chegar aos 17 mil euros/mês, é vergonhoso". Tapar o sol com a peneira ou tratar os portugueses por parvos é que não. Há, em Portugal, valores salariais (excepções, mas há) muito superiores a 17 mil euros. Por outro lado, tratando-se do Parlamento Europeu onde se encontram eurodeputados de 28 países, onde nalguns deles o salário mínimo nacional é 4 ou 5 vezes maior do que o de Portugal, não se percebe a vergonha (ou até mesmo a obscenidade) do valor auferido por um eurodeputado. O problema não está na vergonha dos 17 mil euros/mês... a vergonha está no valor médio de 800 euros dos salários em Portugal. Além disso, este valor é por demais sabido e público, até para o politicamente mais "comum" e "distraído" do cidadão. Marinho e Pinto já o sabia na altura das eleições. Pior… apesar do valor vergonhosamente alto do salário de um eurodeputado, Marinho e Pinto não abdica dele, pelo menos, durante ano com a ‘desculpa’ de que “precisa de dinheiro para viver”. Também milhares e portugueses; a realidade nacional: o quase futuro ex-eurodeputado afirma que projecta uma candidatura presidencial por entender que "os problemas nacionais são mais graves do que os europeus". Que a realidade nacional é o que é, está enferma e não tem sido fácil viver cá e aguentar toda esta crise, é um facto. Mas é a realidade que Marinho e Pinto poderia constatar no dia-a-dia dos portugueses na altura da campanha eleitoral. Porque é que avançou e não se afirmou antes como futuro candidato presidencial?

Do ponto de vista pessoal, a minha análise já tinha feito na altura da avaliação dos resultados eleitorais mas que se completa com esta notícia de hoje:

1. Marinho e Pinto não tinha nenhuma afinidade político-partidária com o partido que o elegeu (Movimento Partido da Terra). Apenas o mediatismo público.

2. No Parlamento Europeu, eurogrupo/família parlamentar “O Verdes” não o aceitou.

3. Sempre disse que era um "fiasco" em termos políticos, mesmo quando muitos vaticinaram projecções legislativas e presidenciais futuras.

Deste modo, aqueles que, pelo mediatismo do candidato ou porque quiseram demonstrar o seu descontentamento face ao sistema político e aos partidos políticos, votaram em Marinho e Pinto (e não no MPT) sentem-se hoje perfeitamente "defraudados". E sentem a política e os partidos mais distante. Com exemplos destes…

O trunfo humanitário de Putin

O trunfo é “espadas”.
Putin volta a marcar pontos no conflito da Ucrânia.
Depois das sanções decretadas pela União Europeia e pelos Estados Unidos, o Kremlin responde com o embargo às importações de produtos e bens alimentares e agrícolas do ocidente. Resta saber para que lado penderá a balança das sanções.
Mas Putin joga ainda uma cartada importante no jogo geopolítico e geoestratégico do conflito ucraniano: a ajuda humanitária. E a cartada é importante porque, seja qual for o desfecho desta acção, a Rússia poderá sair sempre a ganhar.
Sob a capa da Cruz Vermelha Internacional, caso a ajuda humanitária entre na Ucrânia, entrará sempre a “bandeira” russa e o que isso possa significar: ajuda e mais armamento nas mãos dos rebeldes, mas também uma melhor imagem política (salvação humanitária) para os ucranianos pró-russos e para todas as movimentações que promovam a integração da Ucrânia na Rússia. Além disso, a entrada da ajuda humanitária servirá também para a criação de um corredor de intervenção da ONU, colocando a Rússia numa posição internacional privilegiada e mais firme.
Mantendo-se a irredutibilidade ucraniana quanto à ajuda humanitária russa, no caso da impossibilidade da acção do Kremlin, a verdade é que Putin sairá na mesma a ganhar do ponto de vista político, já que aos olhos da opinião pública local e internacional, a Ucrânia será tida como força do bloqueio à ajuda aos seus próprios concidadãos.
Mais uma vez, Putin um passo à frente do resto do mundo na questão ucraniana.

Juventude... mas qual juventude?

Hoje, 12 de agosto, celebra-se o Dia Internacional da Juventude. A data foi institucionalizada pela ONU, em 1999, curiosamente após a realização da Conferência Mundial de Ministros Responsáveis pela Juventude, que teve lugar em Lisboa, entre os dias 8 e 12 de Agosto de 1998.

E a propósito do Dia Internacional da Juventude e de Portugal, após 15 anos da efeméride, importa recordar:

1. Em 10 anos Portugal perdeu 500 mil jovens (fonte: INE).

2. Metade do valor da emigração corresponde aos jovens (cerca de 60 mil já emigraram, entre 2012 e 2013).

3. Cerca de 57% dos jovens até aos 25 anos já emigraram ou tencionam emigrar (fonte: estudo Zurich, 2013)

4. Taxa de desemprego jovem, em Dezembro de 2013: 34,3% (fonte: Prodata).

5. Portugal é o terceiro país da OCDE com maior taxa de desemprego jovem. Entre os 15 e os 24 anos, no primeiro trimestre de 2014, o valor situava-se nos 35,4% (fonte: OCDE, 2104).

O lema escolhido para este ano é "A saúde mental importa". Claro que sim... a saúde mental, a saúde, a educação, a formação, o emprego, a estabilidade social...

Bom dia internacional da juventude...

 

https://juventude.gov.pt/Eventos/Cidadania/PublishingImages/RESUMO-Dia-inter.jpg

 

 

R.I.P. Robin Williams - "The Great"

Morreu Robin Williams. Não tem a mínima relevância se suicídio ou outra causa. Robin Williams foi encontrado sem vida em sua casa. Ponto.

Para sempre calou-se a voz que, em cenário de guerra, "acordava" os soldados americanos "perdidos" em terras do sudoeste asiático: "Good Morning Vietname". Ou que se perdeu a irreverência do ensino ou da paixão literária em "Oh Captain, my Captain...".

No fundo... fazia parte daquele grupo em que eram "todos uns bons rapazes".

Dos melhores filmes aos menos conseguidos, mas sempre de forma irrepreensível. Sempre exclente... sempre GRANDE.

Até sempre, Robin Williams. Carpe diem.

A brincar com os números...

publicado na edição de hoje, 10 de agosto, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos

A brincar com os números…

Os últimos dias (semanas) revelam um país capaz dos mais extraordinários feitos matemáticos. Uma capacidade inolvidável de “brincar com os números”. Sejam eles financeiros, sejam sociais.

E a semana foi profícua nestes dois aspectos.

Primeiro a questão do BES. Muito para além dos clientes da instituição bancária a verdade é que todo o caso BES caiu que nem uma bomba. A Fernanda Câncio referia no seu artigo de sexta-feira, no DN, que "não foi uma ponte que caiu, foi um banco, e não morreu ninguém". Verdade. Mas não deixa de ser uma tragédia com impactos ainda por conhecer ou revelar. Do ponto de vista financeiro e do sistema bancário foi, de facto, um terramoto ainda com o valor da escala de Richter por definir. Aplaudindo ou criticando a acção dos reguladores (não apenas o Banco de Portugal) é um facto que, apesar do tempo “perdido”, as suas intervenções acabaram por desmascarar o que surge aos olhos da opinião pública, mesmo que ainda por apurar e acusar, como a maior fraude do sistema bancário nacional. Tudo porque, meses/anos a fio, o BES foi “brincando” com a engenharia financeira, os números, mas, infelizmente, com o dinheiro de muito portugueses.

Hoje, por força da investigação que ainda agora iniciou, os Reguladores agiram (mesmo que tarde), a solução foi encontrada minimizando os impactos nas contas e dinheiros públicos (apesar do valor injectado ser oriundo do Fundo de Resolução previsto na verba da Troika), há ainda por apurar o risco futuro para o Estado (e, portanto, para os contribuintes) na operação de salvação/recapitalização do BES (Novo Banco), salvaram-se os depositantes e as suas economias/poupanças.

Mas há outra realidade muito mais negra. Durante anos a fio o BES foi o país (politica, económica e financeiramente); durante anos a fio o BES era a imagem (boa/perfeita) do sistema bancário nacional; ainda no ano passado eram inúmeras as vozes públicas, de pessoas com responsabilidades (várias), que sugeriam a compra de acções do BES numa operação de aumento de capital. Numa semana, o caso BES transformou a confiança dos portugueses no sistema bancário e em quem gere o sistema bancário na pior das “notações de rating”: abaixo de lixo.

O Instituto Nacional de Estatística divulgou, na passada terça-feira, os valores da taxa de desemprego para o segundo trimestre de 2014. O valor divulgado indica que o desemprego se situou abaixo dos 14% (13,9%), muito menos que os 17,7% há pouco mais de um ano. Para o Governo é fácil “brincar” com estes números sociais. O ministro Mota Soares, congratulando-se com a descida da taxa de desemprego, aplaudiu ainda a subida (em relação ao primeiro trimestre) em 0,3% da população activa (novos postos de trabalho). O que o ministro não referiu, quer em relação à taxa de desemprego, quer em relação aos eventuais novos postos de trabalho, é que, no primeiro caso, faltou falar sobre a questão demográfica, a sazonalidade, o aumento do número de reformas ou ainda o facto dos 728.900 desempregados ser ainda muito superior ao valor de há três anos (2011 – 675.000); no segundo caso, Mota Soares teve o lapso, consciente ou inconsciente, de se esquecer de mencionar que o número de postos de trabalho criados diminuiu em relação a 2013 (menos 0,3%), em igual período, sendo que, por exemplo, há cerca de 55 mil pessoas que deixaram de trabalhar por conta própria (lá se foi o empreendedorismo).

Infelizmente, é fácil manipular os números adulterando as realidades. Mas pior… as pessoas ainda continuam a ser, e serão, números e estatísticas.

A decepção europeia e a ilusão de um político

http://images.cdn.impresa.pt/sicnot/2014-05-25-h264_thumb4_sec_44.png19

Do dicionário... defraudar: (...), lesar, fraudar, iludir, enganar.

Concentremo-nos nestes últimos dois sinónimos de defraudar.

A notícia é "fresca" (logo a abrir a manhã): "Marinho e Pinto vai abandonar Parlamento Europeu". Após a chegada ao Parlamento Europeu, sete dias bastaram para Marinho e Pinto regressar a casa.

Segundo ao antigo Bastonário da Ordem dos Advogados, eleito eurodeputado nas últimas eleições europeias pelo Movimento Partido da Terra, com uns surpreendentes (embora questionáveis) 7% dos votos (o que levou, inclusive, à eleição de um segundo eurodeputado), as razões são essencialmente três (pelo que refere nas suas declarações à imprensa):

- a desilusão face ao projecto europeu: "o elemento agregador da Europa não está nos ideais nem nas políticas, mas no dinheiro"; "saio menos europeísta do que quando entrei". Ora bem... em que planeta vivia Marinho e Pinto quando se candidatou ao Parlamento Europeu? Sendo candidato em Portugal, por um partido português, numa altura em que o país ainda estava sob o programa de ajustamento (Troika), Marinha e Pinto acreditava mesmo que a economia tinha um papel secundário nos actuais destinos do mundo?

- a questão salarial: "o rendimento auferido pelos eurodeputados, que pode chegar aos 17 mil euros/mês, é vergonhoso". Tapar o sol com a peneira ou tratar os portugueses por parvos é que não. Há, em Portugal, valores salariais (excepções, mas há) muito superiores a 17 mil euros. Por outro lado, tratando-se do Parlamento Europeu onde se encontram eurodeputados de 28 países, onde nalguns deles o salário mínimo nacional é 4 ou 5 vezes maior do que o de Portugal, não se percebe a vergonha (ou até mesmo a obscenidade) do valor auferido por um eurodeputado. O problema não está na vergonha dos 17 mil euros/mês... a vergonha está no valor médio de 800 euros dos salários em Portugal. Além disso, este valor é por demais sabido e público, até para o politicamente mais "comum" e "distraído"do cidadão. Marinho e Pinto já o sabia na altura das eleições, em maio passado.

- a realidade nacional: o quase futuro ex-eurodeputado Marinho e Pinto afirma que projecta uma candidatura presidencial (em 2015, note-se) por entender que "os problemas nacionais são mais graves do que os europeus". Que a realidade nacional é o que é, está enferma e não tem sido fácil viver cá e aguentar toda esta crise, é um facto. Mas que a realidade que vivíamos até ao final do Programa de Ajustamento, mesmo que tenuemente, era pior também não restam dúvidas era a mesmíssima realidade que Marinho e Pinto poderia constatar no dia-a-dia dos portugueses na altura das eleições. Porque é que avançou e não se afirmou antes como futuro candidato presidencial, quando tantos nomes já foram tornados públicos?

Do ponto de vista pessoal, a minha análise já tinha feito na altura da avaliação dos resultados eleitorais mas que se completa com esta notícia de hoje:

1. Marinho e Pinto não tinha nenhuma afinidade político-partidária com o partido que o elegeu (Movimento Partido da Terra). Apenas o mediatismo público.
2. No Parlamento Europeu, nenhum eurogrupo/família parlamentar o aceitou. Ficou politicamente órfão.
3. Sempre disse que era um "fiasco" em termos políticos, mesmo quando muitos vaticinaram projecções legislativas e presidenciais futuras. Aqui está a prova, mesmo que o próprio tenha referido publicamente a sua intenção de concorrer a Belém.
4. No entanto, nunca fez qualquer sentido político estar a extrapolar resultados (nº de votos e percentagens) eleitorais entre Europeias ou Legislativas e, muito menos, Presidenciais. Já para não falar nas autárquicas. Aliás, basta recordarmos o que aconteceu com o PS nas referidas europeias e os impactos internos que teve.

Deste modo, aqueles que, pelo mediatismo do candidato ou porque quiseram demonstrar o seu descontentamento face ao sistema político e aos partidos políticos, votaram em Marinho e Pinto (e não no MPT) sentem-se hoje perfeitamente "defraudados".

E afinal o problema não está apenas na imagem dos políticos e nas estruturas partidárias... a falta de ética e princípios políticos está-nos no sangue. É geneticamente portuguesa.

Virado do avesso

publicado na edição de hoje, 3 Agosto, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos

Virado do avesso

A agenda mediática tem um duplo impacto. O primeiro tem a faculdade de focar a opinião pública num assunto/tema relevante no momento. O segundo tem o revés de desviar a atenção sobre outras realidades. Recordando o ditado: foca a árvore e esquece a floresta.

O recente caso do BES tem essa vertente mediática. Sendo certo que o assunto é de relevante importância nacional, pelos seus impactos na instituição, no sistema bancário, na economia nacional e, esperemos que não, nas contas públicas (caso se assista a mais uma intervenção estatal na banca). O que é verdade, no meio de um turbilhão de novidades diárias, é que o caso BES tem criado uma anestesia geral, ou generalizada, ao ponto de muitas outras realidades passarem definitivamente ao lado, ou para segundo plano, da opinião pública: Carlos Moedas indicado para Comissário Europeu; a recente decisão do Tribunal Constitucional sobre a nova taxa sobre as reformas; os valores da taxa de desemprego; o verão que teima em não aparecer; a “pipa de massa” que virá da Europa; as primárias socialistas. Mas há mais… um mundo virado do avesso, em constante conflitualidade, numa “cruzada” desmedida contra a dignidade humana e o valor fundamental da vida. Muitos refugiam-se na desculpa dos danos colaterais, mas o facto é que muitos perderam a vida ou ficaram com ela desfeita.

Enquanto a Rússia, Estados Unidos e União Europeia vão esgotando e esgotando-se na via diplomática (embora com muito pouca diplomacia), o conflito na Ucrânia, em pouco mais de quatro meses, tirou a vida a mais de 1100 pessoas e feriu quase 3500.

Na Faixa de Gaza regressa o fantasma da “guerra dos seis dias”, de 1967. Uma região em permanente conflito, com mais ou menos incidência mas em constante ebulição, sustenta uma contenda religiosa, política, geoestratégica, aparentemente sem fim à vista. E os actuais dias não são melhores. Não consigo tomar partido por uma das partes dada a complexidade da realidade e da história entre sionistas/judeus e palestinianos, mas há verdade que não posso esconder: os recentes ataques israelitas às escolas onde a ONU assegurava a segurança a milhares de palestinianos, entre as quais inúmeras crianças, não são danos colaterais. É algo que não é justificável, não é aceitável. Um acto mórbido, inqualificável e merece ser condenável e criticado.

Ainda na região, passados três anos após a revolta de 2011, regressaram a Tripoli, capital libanesa, novos confrontos entre milícias rivais que já provocaram, em duas semanas, mais de duas centenas de mortes.

Obviamente que estes são os casos mais relevantes, sem esquecermos o que se passa em África, no Afeganistão ou no Iraque. Mas se a morte é, por si só, o espelho mais gritante do principal ataque à dignidade humana - à vida - a violação dos mais elementares direitos humanos não se fica só pela morte.

Continuam sem solução os significativos casos de violação de mulheres na Índia. O flagelo da mutilação genital feminina, socialmente defendida em muitas culturas, nomeadamente em África, com nove casos registados/conhecidos em Portugal e que levou à aprovação na Assembleia da República de legislação a criminalizar esta realidade, ressurgiu recentemente numa denúncia da ONU que revelava que o grupo jihadista denominado “Estado Islâmico” ordenou num recente fatwa (decreto islâmico) que todas as mulheres e crianças, da cidade de Mossul - Iraque, entre os 11 e os 46 anos, se submetam à mutilação genital feminina.

Organizações Não Governamentais (ONGs), a UNICEF e a ONU voltam a chamar a atenção para o flagelo da fome e da sobrevivência na Somália e no Sudão do Sul, pela instabilidade social e pela enorme seca, recordando as cerca de 250 mil vítimas da fome há três anos. Neste momento, cerca de 350 mil pessoas estão no limiar da sobrevivência diária.

Cinicamente, Portugal teve recentemente uma dualidade de critérios e convicções nesta matéria. Vergonhosamente aceitou a adesão da Gunié Equatorial à CPLP, por valores meramente economicistas (petróleo), já que a língua portuguesa nem sequer é falada no país, esquecendo as atrocidades cometidas no país, as constantes violações dos direitos humanos e a aplicação da pena de morte. Mas a par disso, passando despercebida à maioria dos portugueses Portugal assinou a Convenção de Instambul que entrou em vigor na sexta-feira, 1 de agosto, e que pretende promover uma justiça mais eficaz na erradicação da violência contra as mulheres. Não só no plano físico mas também, e importante, no plano psicológico.

Fossem tudo boas notícias e o mundo estaria menos do avesso.

Vai chegar uma “pipa de massa”

https://1.bp.blogspot.com/-kRDSwseF1gk/U9lQM7i8irI/AAAAAAACGiU/SzMOVNZITgk/s1600/Jos%C3%A9+Dur%C3%A3o+Barroso.png

Em pleno final de mandato europeu, Durão Barroso anunciou a vinda de uma “pipa de massa” de fundos comunitários no âmbito do próximo Quadro de Apoios Comunitários 2020 - Fundos Estruturais. São cerca de 26 mil milhões de euros de ajudas da União Europeia. De facto é um valor significativo para um país a necessitar de investimento como do pão para a boca.

Mas há dois aspectos na declaração do ainda Presidente da Comissão Europeia que merecem destaque.

O primeiro prende-se com uma importante advertência de Durão Barroso: “26 mil milhões de euros é uma pipa de massa, este dinheiro deve ser bem aplicado (…)”, reforçando a necessidade de uma aplicação coerente dos fundos que Portugal terá há disposição nos próximos sete anos. E importa recordar que um país com assimetrias regionais graves, problemas na economia e no desenvolvimento, funções sociais elementares desestruturadas, como a saúde, a educação/ensino, a justiça, os apoios sociais, o emprego, os transportes, …, desde a adesão de Portugal à então CEE (1986) e até ao ano de 2011, entraram nos cofres do Estado cerca de 80,9 mil milhões de euros (cerca de 9 milhões de euros/dia). Prioridades questionáveis, falta de consistência política na aplicação dos fundos, projectos desajustados da realidade nacional, resultaram num desbaratar de dinheiro e de perda de oportunidades de crescimento e de desenvolvimento ao longo de legislaturas atrás de legislaturas (para todos os gostos) e que levaram, por três vezes, o país a graves crises económico-financeiras e a intervenções externas.

Mas Durão Barroso afirmou ainda, na apresentação oficial em S. Bento, na passada quarta-feira, do acordo que define a estratégia de aplicação dos fundos estruturais e de investimento da União Europeia, que “É uma ‘pipa de massa’ suficiente para calar quem diz mal da Europa”.

Ora não é… e não é porque os portugueses já estão fartos de perder a sua soberania, os comandos dos destinos do seu país, a troco de pipas, tonéis, vasilhames ou barricas, cheias de euros que apenas com medidas de austeridade, sacrifício e empobrecimento geral podemos pagar. Mais… as críticas à Europa, no âmbito do programa de ajustamento que terminou há poucos meses, foram mais que justas pelo impacto que a falta de solidariedade e a estratégia europeias provocaram no país, na economia nacional, nos portugueses e nas famílias, subjugando os princípios da constituição europeia aos interesses dos países mais ricos em detrimento do empobrecimento e das dificuldades dos mais pobres. E neste aspecto muitos dos portugueses continuarão a dizer mal “desta” Europa.