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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Desporto Nacional de Luto

Faleceu o Professor Moniz Pereira deixando o desporto nacional e a sociedade portuguesa mais pobre, triste e de luto.

A repleta vida desportiva do Prof. Moniz Pereira vai muito para além da clubite...

Apesar de ser apelidado de "Sr. Atletismo" e apesar de ser nesta modalidade que maior projecção teve e conheceu, o seu ecletismo (andebol, basquetebol, futebol, hóquei em patins, ténis de mesa, e, nomeadamente o voleibol) transforma-o na maior referência do desporto português.

Reconhecimento público e do público mas também institucional como comprovam a a condecoração de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique (9 de Abril de 1981), Comendador da Ordem da Instrução Pública (26 de Outubro de 1984), Ordem Olímpica (1988) e Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique (26 de Março de 1991).

Depois de uma enorme "Maratona" de 95 anos... descanse em Paz. Não o recordaremos... porque nunca o esqueceremos. OBRIGADO.

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Não há almoços grátis

4b9ba6c6-ff4d-419d-a3d9-2c24163c5002.file.jpgpublicado na edição de hoje, 31 de julho, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos
Não há almoços grátis

Entre uma significativa catadupa de atentados e crimes hediondos na Alemanha, França, Iraque, Síria, Afeganistão, Somália, Suécia, a título de exemplo, um verão escaldante (que este fim-de-semana parece quer arrefecer) e as comissões parlamentares da CGD e do Banif (cuja a perspectiva de resultado prático, mesmo que político, será, como sempre, zero), a semana ficaria marcada pelo fim do processo, progresso e retrocesso, das sanções da União Europeia a Portugal e a Espanha. Fim hipotético porque, apesar da União Europeia ter decidido não aplicar qualquer sanção (e trata-se de nenhuma aplicação de sanção e não uma sanção zero) por não cumprimento da meta do défice, a procissão ainda agora vai no adro. Podem deitar os foguetes que quiserem, fazerem a festa e celebrarem da forma que quiserem, reclamarem os louros que quiserem (e quem quiser) da vitória, mas só para os mais distraídos, para os que se deixam facilmente embeber pelos spins políticos, é que não perceberão que todo este processo tem, na realidade, uma factura que, este ano ou no próximo, teremos (os do costume) que pagar e da mesma forma: austeridade.

A decisão da União Europeia não, como é sabido, consensual, bastando recordar a posição do Eurogrupo e o “desabafo” do seu presidente Jeroen Dijsselbloem manifestando uma desilusão pela não aplicação de sanções, ou, segundo as palavras do Comissário português com a pasta da Investigação, Ciência e Inovação, o difícil papel e trabalho que Carlos Moedas teve para convencer os seus colegas comissários a não aplicarem as medidas.

O processo foi, desde o seu início, há poucos meses, uma verdadeira avalanche de realidades, opiniões, pressões, divagações e números que foram desde o simbolismo de um euro ou de uma sanção zero, até a multas de largos milhões de euros ou o corte de fundos comunitários, passando pela ameaça do fantasma de um novo resgate. Pelo meio, internamente, ficava a triste imagem deixada por Governo, coligação e oposição, no constante chorrilho de acusações de responsabilidades quando se exigia a maior serenidade, a maior convergência de posições, face a um processo com implicações a 2015 e também para 2016, e que se reconhecia, por todos, como uma clara injustiça e uma decisão infundamentada, quer política, quer financeiramente. Mas apesar do desfecho favorável a Portugal, nem por isso esta troca de galhardetes políticos deixou de existir, desta vez com Governo e coligação e Oposição a pretenderem recolher os louros do feito político. Excepção para o PCP, diga-se em abono da verdade, que foi o partido que, após o conhecimento do desfecho do processo, alertou publicamente “não haver razões para euforias”. E tem toda a razão. Já acima se referiu a falta de consenso sobre a posição tomada no seio das Instituições Europeias o que leva a considerar que Portugal terá a sua execução orçamental de 2016 e o processo de elaboração do Orçamento para 2017 sobre fogo cerrado da inspecção europeia, para além de que, apesar da “almofada” de 0,2% da meta do défice (2,3% para 2,5%), o Executivo de António Costa terá de encontrar este ano ou “empurrar” para o Orçamento do Estado para 2017 medidas extraordinárias ou adicionais, como seja a redução do investimento público, a redução da despesa no sector social do Estado, ou o aumento de impostos. Aliás, o congelamento salarial da função pública já este ano é disso um ínfimo exemplo.

E todo este processo, com o alerta evidente do PCP, tem também, para além dos impactos económico-financeiros nos cidadãos e nas empresas, a sua vertente política, com um conjunto de cenários que, apesar das manifestações de confiança e serenidade políticas do Presidente da República, deixam o país suspenso até 2017, curiosamente ano eleitoral autárquico.

No seio da coligação e no interior do PS, face aos desafios da execução orçamental e do próximo OE2017, para António Costa sobreviver na governação é necessário “obrigar” BE e PCP a provarem do próprio veneno político e ideológico (como por exemplo o já citado congelamento salarial), o que não deixa de representar uma inédita e clara hipocrisia política daqueles dois partidos. Por outro lado, tudo se tornará menos penoso para PS e Governo se a oposição de Passos Coelho se mantiver nesta toada de incoerências e ausência de estratégia que só têm fortalecido o ego e o posicionamento do Governo, do PS e de António Costa (como é visível nas últimas sondagens divulgadas). Venha Agosto para reflexão, antes do regresso político e das entradas políticas em setembro.

Virado do avesso

Mundo ao Contrario.jpgpublicado na edição de hoje, 20 de julho, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos
Virado do avesso

As recentes semanas têm sido, passe a expressão, de “loucos”. E não me refiro propriamente aos inúmeros e impensáveis sucessos desportivos que têm sido conquistados nos diferentes campeonatos europeus e mundiais nas mais diversas e distintas modalidades. Não deixa de ser um momento particularmente importante mas há outras realidades para além do desporto. E realidades que merecem especial atenção porque deixam antever alguma preocupação quanto ao futuro do país, da Europa e do mundo.

  1. A forma como a Europa não tem sabido lidar com a questão do terrorismo foi por demais evidente no trágico acontecimento de Nice, na passada quinta-feira. O medo e o sobressalto permanentes (mesmo que escondido) com que a França encara o seu dia-a-dia estiveram demasiado presentes nas reacções precipitadas, imponderadas e impetuosas com que as entidades responsáveis francesas e o Presidente François Hollande avaliaram a barbárie cometida. A França, face aos inúmeros atentados que tem sofrido (aos quais se acresce os da vizinha Bélgica) e á forma como tem agido perante o problema global e latente, não soube ter o discernimento e a sensatez necessários para uma eficaz e consciente avaliação dos factos. Teria sido preferível do que retomar discursos e intenções que reforçam e redobram sentimentos de ódio e de xenofobia que, apesar do modo e do que as investigações ainda possam revelar, até à data, se revelam perfeitamente escusados.
  2. Mas já que de terrorismo se fala, importa um olhar sobre a Turquia e a forma como a Europa (lembremos todo o histórico processo de integração na UE permanentemente recusado e o mais criticável recente acordo no processo dos refugiados) ou a comunidade Internacional (lembremos que a Turquia é membro pleno da NATO com um dos maiores exércitos, e a presença de bases militares americanas em território turco, para além dos hipócritas acordos no combate ao terrorismo) se tem relacionado com esta “porta” entre o Ocidente e o Oriente em permanente “combustão”. Os acontecimentos de sexta-feira, que cada vez mais comportam contornos de manipulação e de premeditação governamental, têm um claro e perigoso resultado: o aumento da popularidade de Erdogan, a clara purga da oposição, o reforço dos poderes totalitários do presidente turco, o declínio dos pilares de um Estado democrático e de direito, a diminuição dos fundamentais direitos humanos, e o perigoso aumento do peso geopolítico e geoestratégico da Turquia naquela região, seja do ponto de vista económico e social, seja do ponto de vista militar e no combate ao terrorismo, sendo que nesta caso é mais que conhecido o jogo duplo do governo de Ancara.
  3. Olhemos ainda para a União Europeia e o seu perfeito estado de deriva política e social, a sua degradação e fragmentação. Se há cerca de um mês seria expectável que o Brexit pudesse, por diversas formas e contextos, ser reversível, após a mudança do “inquilino” do número 10 da Downing Street, em Westminster (Londres) já tudo parece inevitável. De facto, com a saída de David Cameron da liderança do Governo britânico e a entrada de Theresa May, tudo parece ficar mais clarificado. A nova primeira-ministra britânica foi uma clara apoiante do Brexit e na remodelação do executivo inglês não teve qualquer constrangimento ao colocar nas principais pastas governamentais, como os Negócios Estrangeiros e da Economia, dois fortes opositores de Cameron e principais impulsionadores, no Partido Conservador, do Brexit: o rosto mediático do Brexit, o polémico Boris Johnson e Philip Hammond, respectivamente. Mas não deixa de ser revelador da vontade do Reino Unido em abandonar a UE com a criação do ministério do Brexit, que tutelará as negociações com a União Europeia, tendo como responsável mais um apoiante do Brexit David Davis. Mas se todo este processo se torna agora mais evidente e claro mas ao mesmo tempo esperado, a nova governação britânica deixa muito a desejar e a temer. Com tão pouco tempo de governação já houve oportunidades de sobra para a polémica. Por exemplo, quando se teme tanto ao olharmos para a Turquia, não assusta menos ouvirmos a nova primeira-ministra do Reino Unido a afirmar, clara e directamente, em plena Câmara dos Comuns que não hesitaria em usar armas nucleares, sem olhar a inocentes, incluindo crianças, com o objectivo de mostrar a força bélica aos “inimigos britânicos“.

Se é verdade que o Mundo sofre com a ausência ou degradação de valores políticos não deixa de ser menos verdade que o Mundo sofre ainda mais com a maioria dos políticos que governam o mundo.

Nem tudo o que parece é...

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Trágico. Bárbaro. Criminoso. Inqualificável. Sem perdão.

Estas são algumas das palavras que sempre acompanharam a minha reflexão sobre os acontecimentos de Nice, na passada semana, na quinta-feira, 14 de julho (comemorações nacionais francesas da Tomada da Bastilha) à noite.

Volvidos estes dias o balanço é aterrador: 84 mortos (14 ainda por identificar), 202 feridos dos quais 40 em estado grave.

O que deveria ter sido, por si só, um acto suficientemente bárbaro para merecer todo o nosso repúdio e solidariedade para com as vítimas e o povo francês, rapidamente teve um outro efeito: o da polémica em torno das motivações que levaram Mohammed Lahouaiej Bouhlel, de 39 anos, a avançar com um camião sobre uma multidão durante cerca de dois quilómetros, até ser imobilizado e abatido.

O mundo, nomeadamente a Europa e muito particularmente a França, vivem momentos de enorme tensão, de um inquestionável e natural estado de nervosismo e medo, pânico, mesmo que não se torne permanentemente visível e expresso. Mas a verdade é que esses sentimentos existem, a par de um reprovável crescimento de sentimentos de exclusão, homofóbico, xenófobos e racistas.

Mal foi conhecida a tragédia rapidamente toda a análise, a maioria das pessoas e todas as atenções se viraram para a Síria e para o islamismo radical.

As reacções dos cidadãos, dos especialistas comentadores (por exemplo, portugueses em vários comentários nas estações de televisão e nos jornais) e até do próprio Presidente francês François Hollande que publicamente anunciou o prolongamento, por mais três meses, do estado de emergência que dura desde 2015 sem deixar de anunciar a "necessidade(?)" de bombardear a Síria.

Apesar do modo e da forma, apesar de uma agência de notícias vinculada ao sis ter, no sábado passado, referido que Mohammed Bouhlel era "soldado jihadista" (o que é um anúncio verdadeiramente estranho fieto 48 horas depois dos acontecimentos), o Governo francês vem, publicamente, assumir não ter encontrado ligações do crime ocorrido na passada quinta-feira, nem do seu autor, com redes islâmicas terroristas.

Mesmo na tragédia e no horror há a necessidade de, a determinado nível, se manter a serenidade necessária para a melhor e mais eficaz percepção da verdade.

30 anos "no ar"... parabéns Terra Nova

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Há mais de trinta anos havia as rádios piratas (rádios locais) onde tanta gente, como eu, se iniciou nas lides da rádio, da locução, da técnica, do jornalismos, dos programas de autor (quase todos, aliás).

A 12 de julho de 1986 nascia mais uma, sem "baptismo", mas que seria a génese da Rádio Terra Nova.

Depois, há 28 anos, fez-se "luz" na legislação portuguesa e o governo de então (liderado por Cavaco Silva e como ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Oliveira Martins). Em plena véspera de Natal (de 24 de dezembro de 1988 a 1991) surgia a legislação e todo o processo que iria "legalizar" as chamadas rádios locais.

Infelizmente muitas silenciaram-se... Infelizmente muita da magia da rádio perdeu-se, principalmente da magia da chamada "rádio local"... infelizmente muitos abandonaram os sonhos.

Mas a Terra Nova resistiu a tudo e aos tempos... manteve-se fiel aos seus princípios, à sua génese e às suas origens. E nem os temporais a calaram.

Há 27 anos, durante cerca de dois anos e meio, fiz parte desta existência. Não sei se deixei lá alguma coisa, o mais certo e provável e nem haver memória disso (desporto, informação, programa de autor). Nem importa. O que importa mesmo é que foram dois anos e meio muito cheios, muito ricos, fantásticos.

Parabéns TERRA NOVA... que venham mais trinta anos de rádio, pela rádio, pela comunicação, pela Região, com o mesmo espírito "pirata".

Obrigado... com imensas e colossais saudades.

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Nação Valente...

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publicado na edição de hoje, 12 de julho, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos
Nação Valente…

É inevitável. Não está em causa se gostamos ou não de futebol, há até quem ligue à modalidade só de dois em dois anos (para não dizer de quatro em quatro) e tenha outras referências desportivas como o basquetebol, o hóquei em patins, o atletismo, … . Mas é inevitável a referência a esse feito histórico e inédito da Selecção Portuguesa de Futebol com a conquista do título de Campeã da Europa, pela primeira vez na história do futebol nacional. A referência é tão realista, tão natural e tão óbvia, que não é sequer exclusiva dos portugueses e, muito menos, dos adeptos do futebol. As mensagens são imensas, díspares, diversas e vêm das mais improváveis personalidades: um astronauta americano Terry Virts em pleno espaço, o embaixador dos Estados Unidos em Portugal, o Mariano Rajoy, o Presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz, do piloto de fórmula 1, entre muitos outros, com especial destaque para os timorenses que foram incansáveis. Só pelo simples facto de não se gostar de futebol não faz qualquer sentido menosprezar um feito que vai muito para além do futebol. Primeiro porque o desporto é uma vertente social e cultural (para não falar da económica) relevante e importante numa sociedade e num país. Infelizmente continuamos a ser um povo com muito pouco crer nas nossas capacidades, no nosso valor e nos nossos valores, nas nossas potencialidades, nos nossos compatriotas. Somos os primeiros a ridicularizar, criticar e desvalorizar o que é nosso, o nosso país (continuamos com a triste percepção o que é estrangeiro é que é bom), os nossos “heróis” e os nossos feitos. Não há ninguém mais anti-portugal que muitos dos portugueses. Apesar de toda a pressão psicológica dirigida à Selecção Nacional feita por diversas vozes externas (francesas e não só), a verdade é que muitas (se não as maiores) críticas, não construtivas, surgiram internamente, dentro do meio futebolístico ou da sociedade, feita pelos próprios portugueses.

Segundo… este enorme, soberbo, gigantesco e inédito feito histórico no futebol nacional, depois de tantas vezes perseguido em tantos momentos (p.ex. 2004) e por tantas gerações, é e representa muito mais que futebol. É um exemplo claro do que significa esforço, empenho, sacrifício, sentido de grupo e de liderança, trabalho, perseverança, acreditar, ter esperança, muito do que é a génese e a identidade do povo português. Por isso não é de estranhar que o país se tenha mobilizado de uma forma tão envolvente, se tenha deixado cativar pelo percurso da selecção nacional, se tenha deixado contagiar pela confiança demonstrada pela equipa. Nem vale a pena tecer o que quer que seja do ponto de vista técnico. Face à histórica conquista, a forma como foi conseguida tem ainda o condão de valorizar e enaltecer o feito. A verdade é que Portugal, os tais 11 milhões, estive em cada momento vivido pela equipa, em cada milímetro dos campos onde a selecção nacional jogou. Este título é de todos nós.

Mas mais ainda. Esta conquista tem um sabor especial, muito para além das contas a ajustar ou de algum sentimento de “vingança”. A presença de Portugal neste Campeonato da Europa, o seu percurso, a conquista do primeiro título, tem um enorme sabor a orgulho, a história, a cultura, a identidade nacional: o envolvimento da maior comunidade de emigrantes portugueses com a equipa, com o simbolismo nacional da selecção, com a sua relação com o país que os viu nascer e que os viu sair pelas mais díspares razões. Quem tem familiares espalhados pelos quatro cantos do mundo (apesar deste ser redondo ou oval) reconhece a realidade que os inúmeros emigrantes foram espelhando e da qual a comunicação social, exemplarmente, foi fazendo eco. Apesar da distância, do tempo que teima em quebrar os laços, sempre que ouvimos citar nacionalidades como Brasil, Estados Unidos, Suécia, Luxemburgo, França, Suíça, Alemanha, etc., sente-se um calafrio, um arrepiar de espinha, um tremer de pernas. Há uma parte de nós nestas paragens. Para os emigrantes portugueses em terras gaulesas este título tem muito da sua alma, do seu sacrifício, das suas vivências. Exemplar foi, igualmente, a forma como a Selecção Nacional, toda a equipa, todo o staff, toda a sua estrutura, soube respeitar e lidar com esta realidade cultural e social. Contra tudo e contra muitos (a lesão a Cristiano Ronaldo não é inocente, a “falha técnica” no não colorir de verde e vermelho a Torre Eiffel após a final é vergonhosa, toda a campanha negativa que foi feita em torno da qualidade da selecção e dos seus atletas) a 10 de Julho de 2016 escreveu-se história em Portugal: um mês depois, precisamente 30 dias depois, Portugal voltou a celebrar e a festejar o Dia de Portugal e das Comunidades.

Uma Europa sem emenda

sancoes a portugal.jpgpublicado na edição de hoje, 6 de julho, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos
Uma Europa sem emenda

Compromissos e regras previamente definidas devem e tem que ser assumidas, mas assumidas por todas as partes envolvidas. Isto deve ter valor para as relações comerciais, políticas, sociais e pessoais. Só desta forma as pessoas e as instituições se podem afirmar plenamente como “alguém de bem”.

Num momento historicamente atribulado para a União Europeia é, no mínimo, estranho que as suas instituições e os seus responsáveis teimem incompreensivelmente em criar uma imagem negativa da UE e dos políticos que a sustentam perante os cidadãos europeus.

Muito já foi dito sobre o Brexit e muito haverá ainda por dizer sobre a eventual saída (ou não) do Reino Unido do grupo dos 28 países até porque as incertezas são demasiadas, seja do ponto de vista jurídico, seja do ponto de vista político. Mas que o resultado do referendo deixou profundas marcas negativas na União Europeia é uma realidade, para além dos impactos políticos que já teve em Inglaterra e no Reino Unido.

Mas quando se esperava que a União Europeia, o seu Parlamento, o seu Conselho e a sua Comissão, aproveitasse o momento para uma necessária reflexão profunda sobre que caminhos a seguir, que Europa é que existe hoje, que alterações são necessárias produzir (do ponto de vista institucional, jurídico, estrutural), que políticos e que políticas são necessárias para revitalizar a UE, entre outros, eis que a Comissão Europeia vem a público anunciar, recuar e voltar a anunciar eventuais sanções a Espanha e Portugal.

E é importante que Portugal não entre em histeria e confronto político sem sentido. A verdade é esta. A aplicação de sanções a Portugal não pode servir como arma política entre Governo e oposição, partindo da premissa óbvia que esta posição da Comissão Europeia é totalmente descabida e despropositada.

Mesmo que a realidade tenha as duas faces da mesma moeda a Comissão Europeia não tem qualquer fundamentação válida apara a aplicação das medidas, as quais aliás são uma verdadeira incógnita.

Primeiro, se as mesmas se referem ao exercício de 2015 é uma total incoerência política e técnica já que foi a própria União Europeia que elogiou todo o esforço e o trabalho realizado para o cumprimento das metas orçamentais (uma derrapagem de 0,2% é ridícula) por parte do Governo de Passos Coelho e as políticas e medidas aplicadas têm e tiveram o cunho da União Europeia.

Segundo, se as eventuais sanções são respeitantes ao exercício de 2016 aí estamos perante um completo desastre e uma enorme desproporção. O exercício orçamental ainda via a meio sem que haja, com clarividência, patologias orçamentais de risco. E se por ventura as metas não forem cumpridas e esteja em causa o próximo Orçamento de Estado, aí sim, no início do próximo ano, quando a avaliação for feita, fará sentido a aplicação de medidas sancionatórias. E neste caso, importa recordar as palavras, que tanta celeuma originaram, do ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble. No caso de incumprimento Portugal corre sérios riscos de necessitar de novo resgate financeiro, para além de um elevado risco político para António Costa, para o Governo e a coligação de esquerda que o suporta. Mas tudo isto só fará sentido para o próximo ano.

Até lá, será importante que Governo e oposição assumam uma posição de contestação junto da Comissão Europeia em vez de andarem a jogar ao “ping-pong” das responsabilidades políticas que nem existem.

Até lá era importante que a União Europeia, em vez de criar mais anticorpos, mais animosidade, em vez de piorar a sua imagem junto dos cidadãos, reflectisse seriamente sobre o seu futuro, sobre os seus três pilares base, sobre os princípios que fundamentaram a sua constituição.

Triunvirato do "exit"

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Nem sempre é fácil, podemos até dizer que é algo quase impossível, mas às vezes os impossíveis acontecem.

Neste caso muito particular, convenhamos, há que concordar com o sempre polémico e imprevisível Jean-Claude Juncker quando o Presidente da Comissão Europeia se refere a Nigel Farage e a Boris Johnson, acrescentando eu David Cameron.

Em relação aos acontecimentos do pos-Brexit e concretamente depois dos anúncios das respectivas demissões Junker teve duas afirmações importantes: os “Heróis de ontem são hoje tristes heróis” e que “os patriotas não se demitem quando as coisas se tornam difíceis”.

A verdade é tripartida por responsabilidades semelhantes e pelas infelizes posições políticas assumidas por parte de David Cameron, Boris Johnson e Nigel Farage.

O ex-Primeiro Ministro deu um verdadeiro tiro no pé ao lançar o referendo como arma política para a sua própria sobrevivência e a do seu governo, sem que as consequências fossem previstas e avaliadas. O resultado não podia ser mais desastroso. A demissão foi a saída mais óbvia e inquestionável.

Quanto a Boris Johnson, o ex "mayor" de Londres e vice-presidente do Partido Conservador (o que suporta o Governo Inglês e vice de David Cameron) deu uma verdadeira punhalada política nas costas do seu Primeiro-ministro de do Presidente dos Conservadores ao fazer publicamente de forma muito activa campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia. Conhecidos os resultados e face a todos os problemas e impactos daí inerentes Boris fecha a porta, apresenta a sua demissão, quando o natural e o ético seria assumir as suas posições e compromissos e candidatar-se ao ligar de David Cameron.

No caso do inconstante e imprevisível político e líder do partido eurocéptico UKIP, Nigel Farage volta a repetir o "circo" dos anúncios de demissão e abandono, recuos e regressos, que já lhe são por demais conhecidos. Desta vez, não é novidade e não foge à regra a irresponsabilidade política de Farage.
Trouxe os fósforos, a gasolina e o rastilho... pegou fogo e a seguir abandona de mansinho, sem sequer se preocupar com as consequências dos seus actos e, muito menos, em chamar os bombeiros. O circo pegou fogo, a festa está feita, quem vier atrás que feche a porta.

São estes os políticos que actualmente são a imagem de muitos outros que circulam e pululam por essa Europa fora, sem esquecer os corredores de Bruxelas.

Junker, desta vez, tem razão: já não há heróis na política e muito menos políticos heróis.

Sobre o Euro mas à margem da "bola".

Duas notas muito breves sobre este último fim-de-semana do Euro2016 e que fechou os apuramentos para as meias-finais da competição, onde vão estar Portugal, País de Gales, Alemanha e França.

1. O recente programa desportivo da TVI24, iniciado no princípio de junho deste ano, "Futebol Mais" (aos domingos) tem, a par com o "Mais Futebol" igualmente no mesmo canal (às sextas-feiras), a capacidade de prender os telespectadores mesmo aqueles que, como eu, só muito esporadicamente ficam "presos" a programas desportivos, face ao triste panorama que se assiste noutros espaços. Honra seja feita, no caso concreto, à jornalista Andreia Sofia Matos e aos comentadores residentes Pedro Sousa, José Manuel Freitas e Rui Pedro Braz, pela sobriedade, ética, profissionalismo e rigor com que debatem futebol. Semelhante mesmo só a "rivalidade interna" com o "MaisFutebol", moderado pela jornalista Cláudia Lopes, com a presença de Nuno Madureira, Pedro Ribeiro, Pedro Barbosa e Tomaz Morais. Exemplares.

Na edição de ontem, ao jeito do que tem sido uma marca muito própria e profissional, Rui Braz fez uma alocução às diversas manifestações de apoio que a selecção portuguesa de futebol tem sentido por terras gaulesas por parte dos milhares de emigrantes lusos e seus descendentes. E fê-lo de forma brilhante, emotiva (quase que emocionalmente, pouco faltou) e extremamente realista.

Quem tem familiares espalhados pelos quatro cantos do mundo (apesar deste ser redondo ou oval) reconhece nas palavras tecidas e repetidas pelo Rui Pedro Braz muita da realidade que se sente. Apesar da distância, do tempo que teima em quebrar os laços, sempre que ouvimos citar nacionalidades como Brasil, Estados Unidos, Suécia, Luxemburgo, França, Suíça, Alemanha, etc., sente-se um calafrio, um arrepiar de espinha, um tremer de pernas. Há uma parte de nós nestas paragens.

E nada melhor que sublinhar as palavras que o Rui Pedro Braz teceu em relação aos emigrantes e ao seu apoio à Selecção Nacional, a sua relação com Portugal (não só pelo futebol que aqui serve apenas de exemplo vivo) do que este testemunho arrepiante e emotivo.

2. Os exemplos da singularidade e da surpresa.

Nunca ninguém, eventualmente nem os próprios, imaginaria, à partida, um percurso tão longo e tão marcante da estreante Islândia neste Campeonato da Europa.
Não interessa minimamente para o caso se o seu jogo é isto, é aquilo, é muito físico, é pontapé para a frente ou para o ar. Não colhe este tipo de argumentação face oa que foram ou têm sido muitos dos jogos deste Euro2016 protagonizados por muitas das potências do futebol europeu (ou assim chamadas).

A verdade é que a Islândia, país que só em 1918 conquistou, oficialmente, a sua independência face à Dinamarca, com uma população na ordem dos 320 mil habitantes, com um clima rigorosamente frio e cheio de erupções, onde o Andebol figura como desporto-rei, consegue através do futebol uma impressionante presença neste Euro2016 por vários motivos: pela surpresa ao atingirem os quartos-finais, a sua empatia com os seus adeptos, a forma como o futebol revolucionou o desporto nacional, ao ponto de já há alguns anos a selecção nacional de futebol ter alargado a sua participação aos escalões femininos, o governo islandês ter realizado um colossal investimento em campos de futebol cobertos (face ao rigoroso clima) proporcionando a sua prática ao longo de todo o ano, a demonstração de que com empenho, trabalho e rigor os sucesso surgem (lembremos que foi a Islândia que eliminou a selecção inglesa), e, principalmente, colocou no mapa europeu este país que, até à pouco tempo, era visto como o país do colapso bancário.

A soberba participação dos islandeses neste Euro2016 teve o condão de colocar toda a gente a olhar para o país e teve o condão de espelhar o que é a identidade e a imagem Islandesas.

Até nisto, depois de uns exagerados 5-2 frente à França. Por estes islandeses já valeu o Euro2016.

Uma Década

LOGO ARCOS.jpgpublicado na edição de hoje, 3 de julho, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos
Uma Década

Partilha de uma data que, vulgarmente, se apelida de “redonda”: 10 anos.

O processo desencadeou-se decorria o ano de 2005 numa altura em que Aveiro vivia uma clara pujança interventiva e política, fruto das eleições autárquicas que, inesperadamente, e repito inesperadamente, sem qualquer constrangimento ou depreciação, deram a vitória à coligação PSD-CDS e ditaram a derrota do PS. Foi o retomar, depois de uma longa travessia do deserto, da participação cívica, política e, pouco depois, partidária. Surgia, como tantos outros (infelizmente já abandonados), mais um projecto pessoal que tinha como suporte a tão badalada blogoesfera, nascendo, assim, o “Debaixo dos Arcos”. A escolha do nome não era inocente. Para quem nasceu, cresceu e vive, até hoje, como cagaréu e aveirense, os “Arcos” eram uma referência urbana, social e cultural de Aveiro. Local típico, cheio de tipicidades, era ponto de encontro preferencial e muito único para a conversa, a crítica, as opiniões, o “escárnio e mal-dizer”, para a informação e o saber (ainda me recordo dos espaços onde os vários jornais deixavam as suas páginas do dia ou onde se sabiam as notícias do Beira Mar, do Galitos, etc.) Foi, no fundo, transpor a realidade vivida e sentida para a vertente virtual.

Menos de um ano depois surgia, por razões que ficam na esfera pessoal, o convite para escrever no Diário de Aveiro. O que seria um contributo meramente pontual rapidamente se transformou numa regularidade semanal que, em poucos anos, era alargada (com mais ou menos precisão temporal, fruto da inspiração, da realidade ou da disponibilidade editorial do jornal) a uma participação bissemanal, sob o nome de “Debaixo dos Arcos”, embora com alternâncias como “Caderno de Notas”, “Cagaréus e Ceboleiros”, “Cambar a Estibordo”, “Maresia”, “Pensar Aveiro”, “Poste Its”, “Preia Mar”, “Proa e Ré” e “Sais Minerais” (para regressar, de novo, ao título original).

Desde junho de 2006 até hoje (a que se adiciona passagens pelo extinto O Aveiro, Centro TV e Record, bem como a participação colectiva no “Olhar Direito”) foram partilhados neste espaço 611 textos/artigos, dos quais 163 relacionados com Aveiro ou o Poder Local.

Embora o convite inicial tivesse como premissa a escrita sobre Aveiro, por razões óbvias que se prendem com a ética e deontologia profissionais existem condicionalismos que não permitem essa regularidade temática. Por outro lado, a visão pessoal e particular de que tudo na vida é política (ao contrário do que defende que é economia) alargou o espectro de participação e de temas a abordar que foram desde a política, aos partidos e às questões sociais, passando pela cidade, pelo urbanismo e mobilidade, pela religião, pelo desenvolvimento local, pela cultura, entre outros.

Há, no entanto, um traço comum a todas as crónicas que foram publicadas neste espaço e neste jornal. Independentemente do tema e da sua abordagem elas assentam num pressuposto inquestionável e inegociável: o princípio fundamental da liberdade de expressão e de opinião, a ausência de amarras ou quaisquer constrangimentos e pressões partidárias ou ideológicas. Elas foram e serão sempre (enquanto durar e houver vontade e interesse entre as partes) o espelho de um pensamento próprio, de uma opinião meramente pessoal, mesmo que política incorrecta ou contra a corrente.

Foram, são e serão sempre o espelho e a imagem real do que foi, em tempos (já que se mudam os tempos mudam-se as vontades) esse espaço de liberdades bem no centro de Aveiro que são os “Arcos”.

Quando o todo é mais que a soma das partes

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Já há muito tempo que não falava de futebol, mais pelo desencanto da realidade e da forma como é vivido em Portugal do que propriamente por ter deixado ou não de gostar de futebol.

Por (de)formação técnica (treinador de basquetebol) tenho como princípio que uma modalidade desportiva sendo colectiva vale essencialmente pelo seu todo, pelo seu grupo, pelo seu colectivismo, independentemente dos valores individuais diferenciados porque, tal como na vida, ninguém é igual a alguém.

Não basta por isso somar as individualidades e as particularidades para se chegar a uma equipa. Há muitas mais circunstâncias, muitas mais realidades, muitas condicionantes que, no seu todo, constroem e alicerçam uma equipa.

Compreendendo que os adeptos tenham, por inúmeros factores, a tendência para, dentro de um colectivo, destacar um ou outro elemento (por paixão, por afinidade, por clubismo, só porque sim...) já não posso dizer o mesmo quando me deparo com algumas notícias, com profissionais da comunicação, com comentadores com responsabilidades acrescidas, que destacam de um contexto colectivo o jogador A, B ou C.

Renato Sanches foi importante? Claro que sim... marcou o golo importantíssimo do empate e foi considerado pela UEFA (vale o que vale), de novo e com mérito, o homem do jogo (o que no basquetebol chamamos MVP).

Ricardo Quaresma foi importante? Claro que sim... marcou o penalti que garantiu a vitória e a passagem às meias-finais do Euro2016.

Mas voltemos à questão do chamado "Homem do Jogo" (escolha da UEFA).

Terá sido Quaresma decisivo na qualificação de Portugal? Muitas dúvidas... apesar de gostar muito do Quaresma.

Todos os jogadores de Portugal que antecederam Quaresma marcaram os seus penaltis.

Todos os jogadores polacos que antecederam Quaresma marcaram os seus penaltis, menos um. E porquê? Falhou? Não... Rui Patrício esteve soberbo ao defender o quinto penalti polaco.

Renato Sanches fez um importante golo para as aspirações portuguesas, é verdade. Mas também Pepe e Fonte estiveram irrepreensíveis no controlo do ataque da Polónia, durante todos os 120 minutos do jogo.

Mais ainda... quem é, por inúmeras razões, figura mediática tem sempre sobre si todos os olhares e os holofotes. Com tudo isto, tem também sobre si todas as críticas, toda a maledicência, toda a inveja, todo o despeito. Mas a verdade é que o papel, o empenho, o sacrifício, de Cristiano Ronaldo neste Europeu tem sido notável e merece todo o respeito de uma equipa, de um grupo de trabalho, dos adeptos.

E poderíamos desfiar aqui uma lista com inúmeros nomes como Adrien, Cedric, João Mário, etc,. etc.

Podemos não gostar de Fernando santos, dos seus princípios e filosofia de jogo...
Podemos não gostar da forma como a selecção nacional tem jogado, tem empatado, tem subido degrau a degrau este Euro2016...

Mas há uma realidade que merece inquestionável respeito... o mérito da eficácia, do espírito de grupo, do verdadeiro sentido de equipa.

E a verdade é que estamos quase, quase, lá. Quando muitos nem sonhavam ou acreditavam.

Allez, Portugal, Allez.

(nota final)
Já há algum tempo que a Torre Eiffel não se revestia de cores nacionais por razões nobres e felizes.
Ontem foi o dia... e arrepiei-me. MERCI PARIS.

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