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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Os trabalhadores são burros... não percebem.

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Após os resultados eleitorais de 1 de outubro, mesmo que lidos de forma enviesada e excessivamente eufórica, longe da realidade, Assunção Cristas prometeu publicamente não defraudar ou desiludir quem tenha votado no CDS.

O deslumbramento turva o raciocínio e a clarividência política aos centristas.

Primeiro, com a recusa de um convite não formulado para uma eventual coligação pós-eleitoral com o PS nas próximas legislativas. Como se fosse coerente recusar algo que não nos é oferecido.

Segundo, porque ficar em segundo lugar nos resultados autárquicos na capital do império, conquistar mais uma câmara em relação a 2013, mesmo com uma queda significativa do número de votos expressos, não deveria dar o direito ao CDS de achar que os trabalhadores, nomeadamente os funcionários públicos, são burros, ingénuos ou distraídos.

Da apresentação legítima e democrática, saudável até, de propostas para a elaboração do orçamento do estado para 2018, ressalta, porque badalada publicamente, a medida de isentar de IRS as horas extraordinárias.

É por estes populismos e eleitoralismos que as pessoas deixam de acreditar na política, nos partidos e nos políticos. Um partido que enquanto parte do Governo mais cortou nas horas extraordinárias, mais prejudicou o esforço suplementar do trabalho, que nada fez para minimizar o impacto da austeridade no rendimento do trabalho, vem agora, com toda a lata e topete, propor que as horas extraordinárias (que ainda nem sequer foram repostas aos níveis salariais pré-ajustamento) fiquem isentas de IRS com o pressuposto que o Estado não se deve aproveitar do esforço e empenho dos trabalhadores.

E isto tudo com a maior das normalidades e do descaramento.

Uma questão numérica eleitoral

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Corre por aí muita tinta e muito comentário, uns avulsos, outros descontextualizados, sobre os resultados das eleições autárquicas do passado dia 1 de outubro.

Não quero, não devo, nunca o fiz e muito dificilmente o farei, tecer qualquer reflexão ou análise subjectiva ou política dos mesmos. Ao fim de quase 13 anos (o Debaixo dos Arcos está de "parabéns", ou não, amanhã) independentemente de algumas considerações tidas sobre Aveiro, sobre a cidade, sobre a região, sempre deixei de parte e à parte, por razões mais que óbvias, a Câmara Municipal. Para o bem e para o mal. Assim foi, assim é e assim será.

No entanto, como os números são o que são, sem qualquer pretensão de extracção subjectiva dos mesmos, afigura-se relativamente fácil expô-los.

Nota 1
Mais do que lugares, mandatos, votos, freguesias, etc., o dado mais relevante neste processo eleitoral foi a abstenção, taxa registada em Aveiro acima do valor médio nacional (45,04%). No município de Aveiro a taxa de eleitores que ficaram em casa (ou que, pelo menos, não se dirigiram às respectivas mesas de voto) foi de 50.91%. E como já o tinha referido há dias, a responsabilidade cabe inteiramente ao cidadão eleitor. Não há desculpas (excepto, obviamente, as de reconhecida força maior)... não colhe o tempo, a imagem dos políticos e da política, etc., etc. O direito ao voto livre, consciente e democrático foi uma conquista árdua, das melhores que a liberdade nos trouxe, mas que implica, simultaneamente, um dever cívico de participação que a omissão ou exclusão, em cada acto eleitoral, enfraquecem e invalidam. Não participar, não votar, reduz naturalmente a capacidade de intervir e de criticar e transfere para os outros a nossa liberdade de escolha.

Nota 2
Não é conhecido qualquer estudo ou análise aos valores da abstenção, o que do ponto de vista sociológico e político seria interessante, resta a especulação e a intuição quanto à sua distribuição. Afigura-se provável que parte tenha tido impacto negativo no número de votos, essencialmente, na coligação Aliança com Aveiro e no Partido Socialista, sendo expectável que tenha havido quem não votou porque acreditou que os resultados estavam previamente clarificados. Seja porque alguns não acharam que fosse necessário o seu voto para que Ribau Esteves fosse eleito e outros porque entenderam que o seu voto no PS não chegaria para contrariar o favoritismo da coligação PSD-CDS. A maioria da abstenção é reflexo do condenável alheamento dos cidadãos em relação à importância política do voto.

Nota 3
Ribau Esteves, recandidato ao lugar de presidente da autarquia, é eleito com cerca de 93 votos mais que em 2013 (16694 / 16787). Se é um facto que não houve alteração substancial ou significativa em relação ao resultado de 2013 a verdade é que, vencendo as eleições e conquistando a maioria, os números significam que os aveirenses mantiveram a sua opção e a sua escolha, mantendo a confiança depositada há quatro anos.

Nota 4
A Coligação Aliança com Aveiro conquista mais um vereador, subindo de 5 para 6 os lugares no Executivo. Apesar da ligeira subida do número de votos expressos ela representa uma pequena transferência dos votos em 2013 no movimento Juntos por Aveiro mas suficiente, pela distribuição proporcional, para consumar a eleição do sexto vereador que, por muito pouco, não tinha sido conseguida nas últimas eleições.
Há, no entanto, um outro factor que permitiu essa realidade. A votação alcançada pelo PAN (1139 votos) que retirou ao BE a possibilidade de eleger um vereador, apesar da subida significativa do número de votos expressos no seu candidato Nelson Peralta (mais 991 votos que em 2013).

Nota 5
Contrariando o que eram as expectativas, mesmo internamente, que apontavam para uma redução de mandatos e para um eventual descalabro eleitoral do PS, os socialistas aveirenses mantiveram o número de vereadores e viram o seu registo eleitoral aumentar em cerca de 2344 votos.

Nota 6
A eleição para a Assembleia Municipal teve, na prática, o mesmo reflexo das opções dos eleitores. A coligação Aliança com Aveiro repetiu o mesmo número de lugares na Assembleia Municipal (14), conquistando a maioria. Os três lugares que pertenciam aos eleitos em 2013 pelo movimento Juntos por Aveiro foram distribuídos pelo PS que passa de 8 para 9 vogais, pelo BE que passa de 1 para 2 lugares e pelo PAN que, de forma inédita, conquista um lugar de vogal na Assembleia Municipal, tendo o PCP mantido o seu elemento eleito em 2013. Todos os partidos aumentaram o número de votos expressos (entre os 500 e os 2400 votos) comparados com as eleições de 2013, excepção feita para o PCP.

Nota 7
No que respeita às Freguesias, o resultado não traz grandes novidades quer em relação ao que era previsível, quer em relação a 2013: a coligação conquista, para já, mais uma Freguesia e o PS mantém as duas freguesias conquistadas há quatro anos. Apenas três aspectos relevantes. O primeiro, refere-se à transferência óbvia da Freguesia de S. Bernardo do movimento Juntos por Aveiro para a coligação PSD-CDS já que a recandidatura do presidente da Junta de Freguesia a isso conduziria. O segundo aspecto está relacionado com alguma queda de votos em algumas freguesias (por exemplo, em Sta. Joana e em Cacia para a coligação), pela conquista de maiorias expressivas em outras (Oliveirinha e S.Bernardo, PSD-CDS e Eixo-Eirol, PS) e para as vitórias esperadas nos restantes casos apesar de algumas dúvidas expressas por algumas opiniões quanto a Aradas, o que não se verificou com a vitória clara e a conquista da maioria por parte da coligação Aliança com Aveiro. O terceiro aspecto isola o caso da Freguesia de Esgueira. A igual distribuição de votos entre PSD-CDS e PS desempatados com a eleição de um vogal da Assembleia de Freguesia para o BE faz prever três cenários possíveis: Ângela Almeida assume o seu lugar de Presidente mas terá que alicerçar o seu Executivo com uma maioria PS/BE; PS e BE assumem a maioria que têm na Assembleia de Freguesia e permitem que o PSD forme Executivo, exercendo a sua função fiscalizadora na Assembleia; ou nada disto tem viabilidade e restará novo processo eleitoral na freguesia de Esgueira.

Outras leituras políticas cabem a quem de direito.

(créditos da foto: Jorge Soares - aveiro à noite)