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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

(re)Viver Abril…

Publicado na edição de quinta-feira, dia 29 de Abril, do Diário de Aveiro.

Cheira a Maresia!
(re)Viver Abril…

Por muitas considerações políticas que se façam, ao fim de 36 anos, comemorar o 25 de Abril, está a transformar-se num mero acto histórico, como, por exemplo, as comemorações do 5 de Novembro e do 1 de Dezembro.
Não se trata de minimizar um processo que é o marco mais importante da história política, social e democrática de Portugal.
Trata-se sim de ter a noção que esse mesmo marco é, para muitos dos portugueses (a geração nascida há 35/38 anos), uma referência apenas histórica que o tempo se encarregou de circunscrever à história contemporânea portuguesa.
Não são pois os exíguos saudosismos e “chavões” demagógicos que vão enriquecer ou manter viva a revolução.
Revolução que ninguém tem o direito de a limitar à esquerda, ao centro ou à direita, já que, quando a mesma foi levada à prática, foi de todos e para todos.
No entanto, ao fim de 36 anos, este é um “25 de Abril” diferente.
Diferente numa sociedade menos politizada, com menos confronto ideológico, por exemplo, com um PS mais central e mais liberal, num mundo mais global, embora com uma realidade nacional muito distante da equidade, da justiça, do desenvolvimento equilibrado do país, da educação e da eficácia económica.
Reduzir as comemorações da Revolução de 25 de Abril de 1974 (que culminou em Novembro de 75) a meros significantes simbólicos: quem tem ou não tem cravo na lapela; quem ouve ou não ouve Zeca Afonso (como se alguém dito de direita tivesse de o fazer às escondidas); não aplaudir um discurso de quem, após eleito, é o Presidente de Portugal, só porque é de direita (mesmo que o discurso seja incisivo, coerente e realista e, curiosamente, com referências entendidas com “bandeiras” de esquerda)… é, no mínimo, acabar por desvirtuar ou desacreditar todo um processo que transformou Portugal num estado de direito e numa democracia plena.
O 25 de Abril de 1974 não tem marca registada. Não é posse de ninguém…
É de todos os que abraçaram uma causa, uma vontade colectiva, um desejo comum de mudança…
E deveria ser esta a realidade do processo da revolução – liberdade, direitos e deveres, cidadania, democracia, mas também responsabilidade, compromisso – que deveria ser transmitida, vivida e comemorada, sob pena de se transformar, ano após ano, numa mera data de referência histórica.
Com ou sem cravo ao peito.

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