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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Miudezas…

Publicado na edição de hoje, 1 de Abril, do Diário de Aveiro.

Entre a Proa e a Ré
Miudezas…

A semana pode ter ficado registada por alguns acontecimentos mais marcantes: o congresso do PSD; o orçamento rectificativo; a entrevista do primeiro-Ministro à TVI; as interrogações quanto a eventual novo resgate financeiro; os preços dos combustíveis; a luz verde para a venda do BPN; … entre outros. Mas a verdade é que muitas vezes olhamos para a floresta e não vemos a árvore. E há pequenos(?) acontecimentos que também marcam o nosso dia-a-dia e que não deixam de levantar inquietações, interrogações, críticas ou, até mesmo, alguma estupefacção. Vejamos…

Primeira nota. A propósito de peso político ou, para sermos mais rigorosos, da falta do mesmo. Precisamente na edição do Domingo passado escrevi sobre a importância e a urgência de Aveiro voltar a ter “peso político” no panorama regional e nacional (ver “Aveiro light”). Várias foram as vozes que se regozijaram com a reestruturação do projecto do TGV, incluindo eu, por diversas e distintas razões mas, também, pelo facto de poder recolocar Aveiro, de novo, no mapa económico nacional e restituir a sua centralidade. Nomeadamente, com a exploração das potencialidades do eixo Aveiro/Viseu/Guarda/Salmanca, através da ligação ferroviária, em bitola europeia, ao centro da Europa. No entanto, são já algumas as decepções e frustrações em relação a projectos e anúncios que depois não se concretizam, por esta ou por aquela razão, mas sempre com prejuízo para Aveiro (tome-se como exemplo a recente caso da fábrica das baterias eléctricas da Nissan/Renault). E como diz o ditado: "gato escaldado até de água fria tem medo" ou “como S. Tomé… ver para crer”. A verdade é que, em recentes declarações à “Transportes em revista” (28.03.2012), Pedro Passos Coelho apenas refere como prioritária a ligação ferroviária entre Sines e Espanha. O que poderá colocar Aveiro/Salamanca em exercício concorrencial com uma eventual ligação Leixões/Galiza... a menos que a região volte a ganhar o peso político de outros tempos.

Segunda nota. Por força do importante projecto do Parque da Sustentabilidade a Câmara Municipal de Aveiro necessita de encontrar alternativas para os campos de treinos do Beira Mar, já que nesse espaço irá nascer o Parque dos Amores. Segundo a imprensa local, a autarquia apontou como alternativa o campo pelado existente em S. Bernardo. Obviamente, reconhecendo não estar em posse de dados que permitam entender a sustentação de tal opção, o que me levanta algumas dúvidas é a não referência a outras duas (pelo menos) soluções que, à partida, me parecem mais evidentes e apropriadas, até porque me parecem não envolveram encargos significativos para o município (ao contrário da solução S.Bernardo): o campo, relvado, de Oliveirinha ou, ainda melhor, o de Eixo que, inclusivamente, levou obras de beneficiação aquando do Euro2004. Acresce o facto desta última hipótese ter ainda a vantagem de estar mais próxima do Estádio Municipal, por eventuais razões logísticas. Aguardam-se melhores desenvolvimentos.

Terceira nota. A primeira página da edição, do dia 29 de março, do Jornal de Negócios revela, em manchete, que o Orçamento Rectificativo para 2012 e aprovado em sede de Conselho de Ministros prevê, entre outras medidas, a proibição de serem efectuados pagamentos, em dinheiro, para transacções superiores a mil euros. A medida tem como objectivo o combate à fraude e à economia paralela, por uma maior transparência fiscal. Afigura-se algo de lógico e óbvio (pelo menos em teoria). Mas nem de propósito… ainda esta semana o jornal Público, na sua edição de quinta-feira, noticiava: “FPF paga 6,2 milhões de euros do ‘Totonegócio’ em dinheiro e de uma só vez”. A notícia descreve a proposta da Federação Portuguesa de Futebol em liquidar ao Estado parte da dívida relativa ao processo, com mais de dez anos, denominado “totonegócio”. Atente-se no sublinhado (da minha responsabilidade): “… em dinheiro e de uma só vez”. Algo que se torna inexplicável, incompreensível, que sugere mil e uma dúvidas, incertezas, mas, principalmente, suspeitas… Se não, façamos o mais simples dos raciocínios lógicos. Há clubes não profissionais completamente na penúria, com mil e umas dificuldades, com encargos/compromissos enormes por pagar, sem conseguirem cumprir com a mais elementar obrigação para com atletas e treinadores seus. E podemos ficar apenas pela segunda e terceiras divisões nacionais. Na Liga profissional de futebol o cenário é idêntico, agravado, em vários casos, pela dimensão dos encargos e das responsabilidades. Por exemplo, o Sport Clube Beira Mar aprovou esta semana, por maioria, as suas contas com um passivo na ordem dos três milhões de euros.
Alguém consegue aceitar isto? Alguém consegue perceber isto? Num país que vive as dificuldades que todos conhecemos; num país onde a economia não consegue superar a crise; num país onde a corrupção é um dos “cancros” da sociedade portuguesa; alguém entende que se pague 6,2 milhões de euros em dinheiro sem que isso levante qualquer suspeita ou, até mesmo, indignação? Como é que o sector político, nomeadamente os partidos da esquerda, que sempre se insurgiram contra a banca, os grupos económicos (grandes ou nem por isso), não levantam agora um único “brado” perante esta notícia?!
É que, acima de tudo, é questionável não só a razão/objectivo (totonegócio) como o meio para o alcançar. E, como diz o ditado, “à mulher de César não basta ser… também precisa parecer”.

Uma boa semana.

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