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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Falta Vida ao Parque D. Pedro

Publicado na edição de hoje (28.12.06) do Diário de Aveiro.

Post-its e Retratos
Até aos Reis… ainda é Natal!


Seja do ponto de vista religioso, seja pelo lado “pagão”, o passar dos anos retirou à festa dos Reis o seu verdadeiro significado, transferindo para a véspera e para o próprio dia do Natal toda a conexão com o acto de oferecer.
No entanto, como as tradições são uma forma de preservação da identidade cultural de um povo ou região, parece-me propositado que ainda vá a tempo a minha carta ao Pai Natal.
Embora nascido na Vera Cruz, com a qual guardo toda uma afinidade sentimental, foi na freguesia da Glória que efectuei todo o meu percurso de crescimento, desde a infância até à idade adulta.
É, por isso, com preocupação do dever de cidadania, que refiro as minhas “preces” a S. Nicolau.
Neste ano de comemorações dos 30 anos do poder local e volvidos que são 12 anos após a minha passagem pela Assembleia de Freguesia, a Glória desenvolveu-se, a própria Junta de Freguesia cresceu, multiplicou os seus serviços e estruturas. Mas com o crescimento da Freguesia, também os problemas aumentaram. Quer do ponto de vista da sua quantidade, quer no que respeita à sua dimensão.
A questão social é uma das problemáticas mais acentuadas no panorama estrutural da freguesia: problemas de exclusão racial, marginalidade, desemprego, criminalidade, baixo nível de habilitações escolares, entre outros são o espelho dessa realidade. Basta referir que o número de habitantes do Bairro de Santiago representa entre 40% a 45% do número total de habitantes da freguesia (incluindo o lugar de Vilar e excluindo a urbanização “A Chave”).
A par do esforço de inúmeras associações de solidariedade, como “As Florinhas do Vouga”, e o próprio inovador e recente papel social da Junta de Freguesia, tendo como objectivo a minimização desta triste realidade social, a freguesia tem igualmente um património histórico, cultural e político ímpar. Aqui encontramos os Paços do Concelho, o Governo Civil, o Tribunal, o estabelecimento prisional, o antigo Quartel de Infantaria, a Sé, a Igreja da Misericórdia, o Convento das Carmelitas, as Capelas de Sto. António e S. Francisco, a Capela dos Santos Mártires, o Seminário Sta. Joana, o Museu, o Teatro Aveirense, as três Escolas Secundárias e a Escola João Afonso, o Conservatório de Música, o Hospital, o Centro de Saúde, a Universidade, o Instituto da Juventude, o Fórum, o Mercado Municipal, os dois pavilhões desportivos (Beira Mar e Galitos), duas das três piscinas da cidade e um dos bairros típicos de Aveiro - o Alboi. Também tem um dos mais enigmáticos processos burocráticos que descaracterizam a mais bela entrada da cidade e enegrecem a qualidade de vida dos moradores circunvizinhos: o edifício da EPA. Ciclicamente sem solução à vista, para a frustração dos vizinhos e para a funesta imagem da cidade.
Toda aquela riqueza mencionada transforma a Glória numa Freguesia desenvolvida e apetecível e torna igualmente mais aliciante e motivador o trabalho dos membros da sua Junta e da sua Assembleia de Freguesia.
Mas será este o seu maior património?!
A sua maior riqueza (porque este é dos seus munícipes) reside no Parque D. Pedro e na sua ligação à Baixa de Sto. António.
Este é o verdadeiro cartão de visita da freguesia.
Este é o verdadeiro símbolo que deveria congregar sentimentos e esforços.
O Parque já não tem vida. Cada vez tem menos vida e pessoas.
Já não se faz jogging e já não existe o circuito de manutenção. Já não se ouvem os patins no ringue. Os barcos e as gaivotas já não navegam num lago cada vez mais descuidado. As bicas e as fontes já não são potáveis. O Beira Mar já não joga ali.
As aves já são menos e os patos e os cisnes sem atenção. Resta a “jaula” da macaca, vazia e inerte.
Já não há piqueniques e raras são as crianças que ali ficam horas “a fio” a brincar. Já não se namora no parque.
O coreto raramente é usado, bem como agora são raríssimas as fotos de casamentos.
O Parque tem que voltar a ter vida. Tem que voltar a significar tudo o que caracterize sentido de comunidade, qualidade de vida e sociabilidade.
Os mais idosos têm que recuperar o seu espaço. As crianças têm que recuperar a sua liberdade de brincar.
A Junta de Freguesia não pode abandonar a sua maior riqueza. A riqueza da freguesia e dos aveirenses. Os aveirenses têm a responsabilidade de transmitir aos outros (principalmente aos mais novos) a identidade cultural e social que o Parque D. Pedro comporta.
Por isso, “querido Pai Natal”, mesmo aí na longínqua e fria Lapónia, peço-te: Que regresse a vida ao Parque D. Pedro, com urgência.
Acho que ainda vai a tempo.

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