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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Aveiro Light

Publicado na edição de hoje, 25.03.2012, do Diário de Aveiro.

Entre a Proa e a Ré
Aveiro light

Não tenho, por hábito, analisar ou a questionar outros artigos de opinião (que são isso mesmo… opiniões) expressos nas várias edições do Diário de Aveiro. No entanto, num texto do final desta semana (na edição de sexta-feira, dia 23 de março – “É necessário agenda política para o desenvolvimento da Região de Aveiro”) o Dr. Armando França tem em nota de rodapé uma informação curiosa. Curiosa pelo facto que transmite e que reflecte a realidade de Aveiro. E qual é essa realidade? Infelizmente tem tanto de simples como de negativo.
O Dr. Armando França refere que “Em finais de Fevereiro, ficou concluída a nova equipa de responsáveis da CCDRC. Nenhum é da Região de Aveiro! Para que conste.” E esta questão faz-me recordar as palavras (não muito distantes) do Dr. Candal: “Aveiro não tem peso político”. À data, foi altura para recordar José Estêvão, Homem Cristo, Lourenço Peixinho, Alberto Souto, Oudinot, mas também, em tempos mais próximos, Mário Sacramento ou o papel de Vale de Guimarães nos Congressos de Oposição Democrática. Entre muitos outros ilustres e importantes aveirenses “de peso”.
Mas Aveiro tem esta faceta… de terra de liberdades e democracias, de elevado sentido de acolhimento, tem a infeliz capacidade de esquecer o seu papel, a sua importância, as suas potencialidades e capacidades, bem como as suas gentes. Veja-se a facilidade com que desvalorizamos aveirenses como Fernando Pessa e Zeca Afonso.
E se o Dr. Armando França apresenta essa triste realidade que é a ausência de aveirenses em lugares chave de decisão para a região, nem seria preciso ir tão “longe”. Basta olhar para as recentes nomeações para o Conselho de Administração do Hospital de Aveiro/Centro Hospitalar do Baixo Vouga ou para a sua direcção clínica: todos os nomeados são oriundos dos Hospitais de Águeda, Anadia, Estarreja. Excepção feita para o lugar de enfermeiro-director que, embora de Ílhavo, fez grande parte do seu percurso profissional no Hospital de Aveiro e recentemente ligado à Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro.
Este é apenas mais um exemplo a juntar ao da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Centro (CCDR-C), acima referido.
Se a tudo isto ainda quisermos juntar a desistência da instalação da fábrica de baterias da Nissan-Renault (sabe-se agora preterida em relação a Inglaterra) ou ainda a não total certeza da ligação ferroviária à europa a partir do Porto de Aveiro, apesar de todas as informações nesse sentido, da anunciada desistência do Governo no anterior projecto do TGV (felizmente), a verdade é que nada ainda está definido, planeada, calendarizado, contratualizado. Como diz o ditado: “como S. Tomé; ver para crer”. E podemos ainda referenciar, como exemplos, o caso dos três pórticos ainda “de pé” (Angeja, Estádio e Oliveirinha); a não construção da ligação rodoviária Aveiro-Águeda ou o encerramento da Linha do Vouga.
A realidade é que Aveiro, concretamente o concelho de Aveiro, pela sua referência estratégica e de centralidade (“capitalidade”) vive, já há muitos anos, à margem do que o rodeia, sem influência e sem, de facto, peso político e estratégico.
Sempre à custa do fantasma do bairrismo em relação a Coimbra. Mas a verdade é que Coimbra sabe defender o que é seu, enquanto Aveiro sabe lamentar o que nunca consegue defender para si.
Em vez dos aveirenses lutarem contra “moínhos de vento” (ou “bairrismo” sem sentido) seria preferível que Aveiro conseguisse ser uma centralidade regional realmente estratégica e relevante para a região e para o país.
Altura, eventualmente, para deixarmos de “suspirar” a norte (região do Porto), “guerrearmos” a sul (Coimbra) e olharmos, com futuro, para este corredor ainda por explorar que é a A25, Aveiro, Viseu, Guarda (e Salamanca).

Uma boa semana.