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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

“Quo Vadis” Avenida…

Publicado na edição de hoje, 29.04.2012, do Diário de Aveiro.

Entre a Proa e a Ré

“Quo Vadis” Avenida…

No dia 24 de Abril a Câmara Municipal de Aveiro promoveu, na sede da Junta de Freguesia da Vera Cruz, a apresentação pública da opção para a regeneração da Avenida Dr. Lourenço Peixinho, a emblemática artéria urbana.

A opção recai sobre uma das soluções apresentadas por um trabalho da Universidade de Aveiro, coordenado pelo Prof. Jorge Carvalho.

Sem questionar o valor e as propostas apresentadas, tenho, no entanto, algumas reservas quanto ao resultado prático final com vista a reabilitar a zona mais nobre da cidade de Aveiro. Nomeadamente em relação a três vertentes: mobilidade, atractividade e acessibilidade.

No que respeita à mobilidade, se é claro que merece especial atenção o condicionamento da circulação automóvel, já não me parece tão claro que a retirada completa dos “carros” da Avenida seja benéfica, para além de ser questionável a existência de estacionamento subterrâneo (note-se a existência de espaços de estacionamento do lado nascente da Estação, aos quais acresce igualmente a existência de três espaços: Forum, Ana Vieira e Manuel Firmino, com taxas de ocupação muito reduzidas). Até porque esta solução poderá condicionar e prejudicar quem ainda habita na Avenida, bem como a sobrecarga das zonas envolventes e artérias afluentes. Penso que teria sido mais vantajoso manter o estacionamento à superfície, em espinha, condicionando a circulação apenas a uma faixa de rodagem (em cada sentido) e com a eliminação da placa central (apenas um separador mínimo) o que permitiria ainda o alargamento dos passeios.

Por outro lado, a colocação de duas praças em cada extremidade da Avenida só vai servir de “tampão” e de isolamento duma artéria que se perspectivava mais viva e acessível. Além disso, a criação de praças só tem sentido se as mesmas forem complementadas com alguma atractividade. Caso contrário, iremos ter em Aveiro mais uma praça sem vida como acontece, por exemplo, com a Praça Marquês de Pombal. Há ainda a acrescentar um outro dado que me parece não estar contemplado. A existência de praças pressupõe a consideração da chamada “zona de conforto” condicionada, por exemplo, com a circulação do vento. Esta “zona de conforto” para áreas pedonais comporta ventos entre 18 a 20 km/h. Segundo um estudo recentemente apresentado no último “Aveiro à Conversa” pelo Prof. Carlos Borrego a zona nascente da Avenida, junto à Estação, não é, na maior parte dos casos, uma zona de conforto para áreas pedonais.

Há ainda um outro aspecto a ter em conta na colocação destas duas praças. A eliminação da continuidade da Avenida até ao Rossio ou até à nova zona a nascente da Estação, no antigo “Bairro do Vouga”.

Mas, a par disto tudo e de qualquer projecto ou estudo, por mais válido e sustentável que seja, há uma outra importante realidade: as pessoas. E curiosamente o maior problema da Avenida reside precisamente nas pessoas, ou mais concretamente, na ausência de pessoas. Mas pessoas que dêem vida à Avenida e vivam na Avenida, porque esse foi um dos factores determinantes para a sua desertificação e degradação: o abandono dos edifícios, dos apartamentos, originando a descaracterização social e urbana do espaço.

Por isso, podem-se alargar os passeios, pode-se diminuir o espaço viário, pode-se retirar o estacionamento à superfície, podem-se criar espaços verdes, pode-se promover atractividade (cultural, comercial), pode-se, inclusivamente, recuperar todo o edificado.

Mas se não houver pessoas para habitar aquele que é um dos ex-libris e referências do espaço urbano aveirense, a Avenida Dr. Lourenço Peixinho continuará sem vida, por mais projectos e estudos que se promovam.

Uma boa semana…