Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Tempestade Socialista

Tinha escrito aqui (“Danos colaterais da ‘ida aos mercados’”) que a operação, esta semana, da colocação de dívida pública no mercado secundário a 5 anos, para além do sucesso financeiro, trouxe ‘danos políticos’ na oposição, nomeadamente no Partido Socialista. Danos colaterais que se foram agudizando ao longo destes dias, ao ponto de António José Seguro, fortemente pressionado, convocar, para hoje, uma reunião do Conselho Nacional.

Há várias notas a registar nesta turbulência política interna nas hostes socialistas.

1. Já desde o Orçamento do Estado de 2012 (quando indicou ao Partido o sentido de voto: abstenção, e quando não apresentou o OE2012 a fiscalização do Tribunal Constitucional, obrigando alguns dos deputados a juntarem-se ao BE e PCP - tudo ao contrário do que fez, nas mesmas circunstâncias, em relação ao OE2013) que a liderança de António José Seguro sofria altos e baixos criando algum descontentamento interno. E toda a estratégia comunicacional do maior partido da oposição cairia por terra ao não conseguir antecipar o previsível sucesso do regresso aos mercados e os elogios das instituições internacionais à aplicação do programa de recuperação financeira do país. Por outro lado, a falta de alternativas especificadas e concretas às políticas do governo, o distanciamento repentino em relação ao passado governativo recente e a falta de estratégia (recurso à crítica apenas com base na agenda semanal das acções do governo) levaram a um evidente extremar da situação.

2. E esta realidade é clara na forma como António José Seguro se preocupou com a minimização dos impactos internos da reunião de hoje ao deixar de “fora” os deputados parlamentares sem assento no Conselho Nacional, ao contrário do que aconteceu nas outras reuniões. Desta forma, houve uma notória preocupação em fragilizar a posição de António Costa.

3. Ainda em relação ao líder socialista, a incapacidade de adiar esta reunião e um eventual congresso antes das eleições autárquicas significa deitar tudo a perder no que poderia representar a solidificação da liderança.

4. Mas tenho também algumas reservas quanto ao facto de António Costa sair “por cima” neste processo. Apesar de ser evidente que o actual presidente da autarquia lisboeta se tornou o principal opositor de António José Seguro, a reunião de hoje e o próximo congresso pode acabar por transformar António Costa no “Santana Lopes” do PS: o eterno candidato a candidato. E sempre derrotado.

5. Por outro lado, toda esta incerteza e controvérsia em torno da liderança do PS também se deve muito à falta de decisão de António Costa que, perante a insistência, os factos e o apelo interno, deveria ter, imediatamente, clarificado a sua posição (fosse ela qual fosse).

6. Além disso, a eventualidade avançada, publicamente e mesmo que hipotética, de António Costa ser candidato à presidência da Câmara de Lisboa e à liderança do Partido Socialista, irá, decididamente, deixar marcas no número de votos nas eleições autárquicas. Muitos lisboetas terão imensas dúvidas se apostam num candidato a presidente da autarquia que possa não cumprir o mandato ou que diminua a sua disponibilidade pela dualidade de funções.

7. Por último, a verdade é que o PS entrou numa espiral de crise política interna com notadas divergências entre duas facções: António José Seguro e António Costa (com marcada “memória socrática”).

 

Em conclusão... das duas, três:

- ou tudo isto não passa de um "não caso";

- ou agudiza-se a crise interna no PS;

- ou António José Seguro vence a batalha oposicionista e parte fortalecido para as autárquicas e para o próximo congresso.