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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

O porquê da pressa socialista

Publicado na edição de hoje, 13 de fevereiro, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos

O porquê da pressa socialista

O Conselho Nacional do PS, realizado em Coimbra no passado domingo, acabou por revelar-se clarificador quanto à tão badalada quanto polémica unidade partidária. António José Seguro afastou a concorrência de António Costa, pelo menos por enquanto. Porque não é lícito que todos os apoiantes de Costa, e o próprio, tenham saído deste Conselho Nacional verdadeiramente confiantes e resignados. Questionar, como fez publicamente, a pressa da realização do Congresso (que afinal ficou já marcado para Abril e não para depois das autárquicas) e colocar em causa a liderança interna de António José Seguro e a sua capacidade para, também, liderar o país (em alternativa ao descalabro da governação de Passos Coelho) é, apesar das conclusões do Conselho Nacional, cada vez mais consistente e realista (para não dizer urgente, mas isso caberá ao próprio PS). É que a incoerência do discurso político, o recurso constante a uma demagogia e retórica vazias, que sustentam a evidente falta de estratégica para ser alternativa capaz e eficaz, é mais marcante na liderança de António José Seguro do que propriamente uma liderança alicerçada numa oposição a este governo de forma segura e cativante junto dos portugueses.

Até porque os factos continuam a pulular: primeiro é a demagogia balofa de António José Seguro em relação à Europa. Como se Portugal tivesse, seja quem for o primeiro-ministro, alguma vez peso e influência política na EU. Portugal é um país “parasita” dos fundos comunitários e dos apoios dos países contributivos para os orçamentos da Europa. Portugal não contribui... usufrui. Deste modo, fazer gincana política com uma capacidade de intervenção e de negociação que não existe é querer “tapar o sol com a peneira” face à falta de estratégica e alternativas para governar Portugal. O orçamento da União Europeia é, naturalmente, mais reduzido naturalmente, face à conjuntura e à crise financeira geral que assola a Europa e a maioria dos seus países, mesmo os mais ‘fortes’. E haveria, por parte de alguns países, como a Inglaterra, o desejo de uma maior redução orçamental. Neste sentido, é inquestionável que este orçamento tem cortes para Portugal, mesmo assim, mais suaves do que a média europeia que reduziu, em muito, as contrapartidas para vários países. Daí, reconheça-se, a ‘vitória’ para o Governo.

Mas António José Seguro não deixa de se movimentar em função da agenda do governo, sem capacidade para marcar uma própria como maior partido da oposição. E nada parece estar a mudar. Depois de meses a fio a renegar o passado dos mandatos de José Sócrates (apesar de ter sido deputado parlamentar) aparece agora como defensor do trabalho do seu antecessor na liderança do Partido. Até quando, é a incógnita. Muito provavelmente até ao "day after" do Congresso agendado para Abril.

Depois é hilariante como, à falta de imaginação e capacidade para marcar a diferença, Seguro precisou de ir buscar o lema da campanha de Passos Coelho, em 2010, “Portugal primeiro”, para sustentação do documento de unidade socialista. Alterado à última da hora para um criativo e sonante “documento de Coimbra”.

Mas há ainda mais um tiro no pé...

Têm sido marcantes, severas, veementes, as críticas de António José Seguro ao projecto do Governo de "refundar o Estado" e aos cortes de 4 mil milhões de euros na despesa do Estado, negociados (ou a negociar na próxima avaliação) com a Troika. Ao ponto do PS se recusar a fazer parte da Comissão Parlamentar Eventual sobre a Reforma do Estado. Mas, a fazer 'fé' no que é noticiado no jornal SOL, na sua edição online de domingo passado (e ainda por desmentir ou por comentar, o que se afigura incompreensível), isto é, claramente, o descalabro da coerência política e da sua ética: “a revelação foi feita em directo, já a noite ia longa no Prós e Contras da RTP: «Tem havido reuniões regulares de alguns membros do Governo com alguns membros do PS em circunstâncias específicas. São reuniões em que temas como este [o corte de quatro mil milhões na despesa] seguramente serão abordados», disse Hélder Rosalino, para espanto dos presentes” Acrescentaria eu, apara espanto do próprio país.

Não vale, ou não devia valer, tudo em política... muito menos antagonismos discursivos e comportamentais. E António José Seguro começa a revelar-se.

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