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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Razões e fins.

Publicado na edição de hoje, 23 de junho, do Diário de Aveiro.

Cagaréus e Ceboleiros

Razões e fins.

A expressão que dará origem, a partir de hoje, a um conjunto de textos (novos ou o retomar de antigos temas) que apenas se cingirão a um olhar sobre Aveiro, tem um contexto histórico e tradicional: a denominação das gentes de cada uma das margens do Canal Central da Ria (Vera Cruz e Glória). E a expressão que dá corpo ao título tem, nos dias de hoje, um contexto e uma realidade relevantes. Primeiro porque nasci “cagaréu” e cresci “ceboleiro” (vivendo, de novo, como “cagaréu”). Depois porque a cidade transformou-se numa única comunidade (freguesia) com toda a sua diversidade, diferenças e comunhões, por força de uma lei que tinha tudo para ser consistente, eficaz, abrangente, mas que, infelizmente, ficou muito longe das expectativas e se tornou foco de contestação e polémica. Sempre afirmei ser a favor de uma lei coerente e inclusiva no âmbito de uma reforma total do poder local (regiões, municípios, freguesias, processos eleitorais, autonomias, etc). Uma lei que tivesse em conta as especificidades das regiões e comunidades. Em relação à cidade, não vejo que tenha vindo “qualquer mal ao mundo” com a agregação das duas freguesias. Aveiro já esteve muito mais “retalhada” em pequenas “quintas”. A cidade e os aveirenses têm de olhar para a Ria não como factor de divisão, não para cada uma das suas margens, mas aproveitando este recurso natural como um símbolo ou circunstância de união, nas especificidades, nas diversidades, nas diferenças, nos bairrismos, tudo como um todo de uma comunidade única e não na simples soma das partes ou na sua fragmentação.

Face a este argumento e a este fundamento poder-se-á questionar ‘porquê só agora’. A resposta é simples. Não faltaram (à quarta e aos domingos, neste espaço) apontamentos escritos sobre a cidade; por uma questão de cidadania e de participação cívica; e pelo momento actual (o aproximar das eleições autárquicas de 2013). Principalmente, por estes dois últimos.

As várias candidaturas até hoje anunciadas às próximas eleições autárquicas têm procurado junto dos cidadãos, pelas mais variadas formas, auscultar as suas opiniões, procurar críticas e sugestões, quer para uma melhor compreensão da realidade do concelho e das freguesias, quer como contributos válidos e concretos para a elaboração de projectos eleitorais. Infelizmente (seja qual for o partido, essa é uma infeliz realidade transversal ao contexto político português) os apelos à cidadania, à democracia participativa, surgem em grande consistência nas fases pré-eleitorais e esquecidas depois. Mas é a democracia… pode não ser o modelo ideal mas é, garantidamente, o menos imperfeito.

Retirando toda e qualquer sustentação ou objectivo partidários (isso caberá a uma mera e simples opção pessoal, nos momentos e espaços próprios e se for caso disso), mantendo a essência política do direito à participação e ao exercício da cidadania, durante estes quase três meses que nos separam (cerca de 14 domingos) das eleições, que decorrerão a 29 de setembro, “Cagaréus e Ceboleiros” será um espaço de contributo, de “olhares críticos” (mas não acusadores), de sugestões, com o simples objectivo de ter a pretensão, pelo menos, de provocar alguma reflexão sobre a realidade de Aveiro e do Concelho (urbanismo, espaço público, mobilidade, desporto, cultura, regionalismo, bairrismos, …). Não será dirigido, especificamente, a ninguém ou a nenhuma candidatura, nem sei se serão reflexões que tenham qualquer impacto ou importância para as mesmas. Não será, muito menos, qualquer “acusação”, “crítica fortuita” ou elogios a qualquer das últimas gestões autárquicas (nem o dever profissional mo permitia). Mas permite-me o direito como cidadão, numa altura em que muito se falará de Aveiro, ter a liberdade de expressão e de opinião (tão consagradas constitucionalmente e tantas vezes banalizadas) de “pensar, reflectir, olhar e falar” sobre a cidade.

Como um aveirense “Cagaréu e Ceboleiro”.