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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

A guerra dos Antónios

Publicado na edição de hoje, 4 de junho, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos
A guerra dos Antónios
Não é inédito este confronto entre António José Seguro e António Costa. Aliás, é resultado das eleições de 2011 e tem sabido fazer as delícias informativas (entenda-se o trabalho "spin") da imprensa nacional. Quando se esperava que os últimos resultados das eleições europeias trouxessem alguma instabilidade na coligação governativa, eis que a surpresa surge do lado do Largo do Rato (PS) para grande espanto de muitos e sem deixar sequer arrefecer as emoções eleitorais. É certo que apenas António José Seguro e a sua faixa de apoiantes viram, nos resultados eleitorais do dia 25 de maio, motivos para grandes festejos e sustentação política para discursos de mudança. A derrota do PSD/CDS não foi histórica (apesar da queda), nem a vitória socialista expressiva, distante e esmagadora. É verdade que António José Seguro não tem tido a capacidade e a liderança necessárias para capitalizar em votos uma alternativa capaz ao actual estado das coisas e ao actual Governo. Mesmo com a expressividade dos resultados das eleições autárquicas há também aí uma responsabilidade repartida pela má gestão interna do PSD no processo das escolhas dos candidatos originando um excessivo número de candidaturas independentes, muitas com vitórias conseguidas. E embora seja, no curto espaço de três anos, mais uma tentativa falhada de António Costa subir ao trono socialista (facto ao qual não será alheia uma eventual candidatura de Guterres à Presidência da República, condicionando o espaço político de Costa) a verdade é que António José Seguro, no mesmo espaço de tempo, não conseguiu conquistar eleitorado, apoios e, mais relevante, não conseguiu afirmar o PS (e afirmar-se a si enquanto líder) como alternativa capaz ao Governo e ao PSD. Aliás, algo que uma sondagem projectada pela Intercampus para a TVI ainda no rescaldo eleitoral europeu mostravam que o PS teria uma margem inferior a 1% de vantagem sobre o PSD, caso houvesse eleições legislativas no imediato.
António José Seguro em condições normais só será substituído em 2016, muito após os últimos actos eleitorais próximos (2015 - legislativas e presidenciais). E aqui começa o “assalto” ao poder no Largo do Rato. E mais do que a disputa pela liderança começam a surgir as manobras de bastidores que condicionam e determinam os processos do confronto interno.
Em 2013, antes das eleições autárquicas de setembro passado, numa sondagem direccionada ao Partido Socialista e divulgada pelo jornal Expresso, 50,4% dos inquiridos achava que António Costa devia, na altura, candidatar-se à liderança socialista, recolheria 49,5% dos votos caso avançasse (como esteve quase a acontecer) e seria visto como o melhor candidato para derrotar Passos Coelho (em eleições legislativas) por 49,3% dos socialistas. Valores, aliás, muito constantes, coerentes, regulares e expressivos, e muito próximos da maioria. Mas na altura, após alguns encontros internos, a decisão recaiu sobre o abandono da candidatura de Costa, tendo Seguro conquistado um expressivo resultado eleitoral nas autárquicas de setembro de 2013, alguns meses depois da crise. Só que este retomar da crise interna não é um “déjà vú”, mesmo que o resultado possa ser, na prática, o mesmo: Seguro manter a liderança do PS.
A verdade é que tudo indica para, desta vez, um confronto claro, um contar de armas e de posições (votos), ou seja, o avanço concreto e real da disputa da liderança por parte de António Costa. E, desta vez, Seguro afigura-se mais isolado, ao ponto de se sentir “ameaçado”, andar nervoso, pouco claro e lúcido em relação aos processos eleitorais internos (a dos simpatizantes poderem votar em primárias afigura-se algo surreal), mesmo com as peripécias que tem surgido em torno dos apoios a António Costa (como a contradição de discurso de José Sócrates, a reviravolta de Assis que em 2013 apoiava Costa, blogue de apoio ao ainda autarca de Lisboa que surge publicamente, depois “apaga-se” e ressurge limitado e condicionado, etc). Mas é um facto que, assim tudo o indica, António Costa irá a jogo e que António José Seguro terá muito caminho a percorrer e muito suor a verter para manter uma debilitada liderança partidária que, diga-se em abono da verdade, nunca foi carismática, consensual e forte. Mesmo que, mais que os estatutos, o tempo jogue a favor de António José Seguro já que uma situação definitiva só será alcançada, muito provavelmente, em cima do processo eleitoral de 2015.
Para já, no meio do turbilhão rosa vai sobrando espaço para o Governo, para os portugueses esquecerem o impacto imediato e futuro de mais três chumbos do Tribunal Constitucional (deste vez sem unanimidade interna e com reservas à sua decisão/acórdão) e para o PCP, este o claro vencedor das europeias de maio, ir capitalizando o seu eleitorado e a esquerda (com o afundamento do BE).
A gasolina está derramada, basta chegar o fósforo. Venha é o Verão…

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