A Madeira já não é um “Jardim”
publicado na edição de hoje, 1 de abril, do Diário de Aveiro.
Debaixo dos Arcos
A Madeira já não é um “Jardim”
No passado domingo realizaram-se as eleições regionais na Madeira. Dos resultados importa destacar: a renovação da maioria do PSD (embora no limite); o fim da era de Alberto João Jardim e a nova era Miguel Albuquerque; o segundo lugar conquistado pelo CDS-PP; a descida do PS com a estranha coligação com o PTP (José Manuel Coelho), MTP e PAN; a entrada directa para o parlamento regional do movimento “Juntos pelo Povo”, como quarta força política mais votada (com menos de 1% de diferença para o PS); a subida do PCP e do BE, os primeiros com mais um deputado e os bloquistas com o regresso ao parlamento madeirense (ambos com dois lugares assegurados). Acresce ainda o facto de mais de 50% dos eleitores do arquipélago terem optado por se manterem afastados das urnas eleitorais, valor que nunca tinha sido registado desde as primeiras eleições em 1976.
Apesar da descida do PSD, em valores absolutos e em número de deputados, a manutenção da maioria parlamentar é uma evidente vitória eleitoral, face ao desgaste partidário da governação. Porque estas eleições regionais na Madeira, após o fecho político do ciclo de Alberto João Jardim, revestem-se, por isso mesmo, de uma realidade distinta de todas as anteriores. A sucessão na liderança do PSD Madeira não foi, como é conhecida, de todo pacífica, e há uma maior proximidade e afinidade entre Miguel Albuquerque e o PSD de Passos Coelho. O reflexo da governação do país teria, neste caso, um impacto eleitoral maior. Aliás, basta recordar as fortes críticas de António Costa no único momento de envolvimento directo na campanha e no processo eleitoral: “a inversão das actuais políticas”; “falhanço e incapacidade de responder à mudança, por parte do Governo”; “o PS tem que travar este falhanço, este fracasso, do Governo, e ser alternativa”. Aceitando a legitimidade da separação de autonomias entre o PS nacional e o da Madeira, a verdade é que António Costa não pode “assobiar” para o lado e dizer que não há extrapolação nacional dos resultados regionais. Isto não pode ser o mesmo que esquecer o que aconteceu ao PASOK, na Grécia, e ficar no limbo em relação ao Syriza; ou “abafar” a derrota socialista nas regionais francesas depois de depositadas toda a fé e esperança em Hollande.
Face ao novo ciclo político que se avizinhava na Madeira, após o fim do domínio de Alberto João Jardim, esta era uma excelente oportunidade para os socialistas se afirmarem como alternativa e apresentarem um projecto nacional diferenciado das políticas do actual Governo.
Não fazendo qualquer sentido estar, nesta altura e nesta fase, a tecer qualquer tipo de comparações e relembrar António José Seguro (como o têm feito inúmeras vozes socialistas, publicamente), a verdade é que a primeira realidade eleitoral da liderança de António Costa foi madastra.
Face à fragilidade com que o PSD se apresentou às eleições, após a disputa interna para a liderança e a saída de cena (pública) de Jardim, o PS não conseguiu contribuir para a não renovação da maioria social-democrata no parlamento madeirense (com os centristas em segundo lugar).
O Partido Socialista, tal como não tem conseguido projectar a sua oposição ao Governo nas mais diferenciadas sondagens, não foi capaz de se apresentar na Madeira como alternativa, tendo ficado pelo registo de terceira força política, não muito longe do recém-criado movimento “Juntos pelo Povo”.
Tal como no continente, o Partido Socialista, na Madeira, não foi capaz de aglutinar, em torno do seu projecto, a esquerda ideológica (PCP e BE).
Estas eleições não foram umas eleições com as características das anteriormente realizadas nos últimos 40 anos da democracia, na Madeira. Estas tinham tudo para serem o “cartão de visita eleitoral” para o Partido Socialista. Da mesma forma que as eleições europeias nunca tiveram projecção eleitoral nacional mas serviram como trunfo para o combate interno, face a Seguro, para a liderança do partido.
Por mais que António Costa queira desvalorizar o impacto eleitoral madeirense, os portugueses dificilmente o esquecerão. Nem os portugueses, nem o PSD que recebeu, no passado domingo, um enorme balão de oxigénio para a recta final.