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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

ainda a propósito... da (última) Irlanda.

A propósito do expressivo resultado do referendo realizado no passado fim-de-semana, na Irlanda, sobre a alteração à constituição irlandesa que permita (ou legitime) o casamento entre pessoas do mesmo sexo, ainda há, infelizmente, com demasiado peso na cúpula e estrutura eclesiástica, quem, na Igreja Católica, teime em desvirtuar um dos princípios e fundamentos do cristianismo: um Cristo inclusivo, de todos e para todos, sem excepção… porque o “acreditar” é uma questão de opção pessoal e de vida, não é uma imposição ou normativo. Aliás, há quem seja capaz de citar cânones ou as escrituras, de cor e salteado, de trás para a frente, mas esqueça facilmente de coisas tão simples e fundamentais como dos primeiros conceitos que aprendemos (em casa e na catequese): “amar (respeitar) o próximo como a ti mesmo”.

Independentemente das posições “sim” ou “não”, pró e contra, a verdade é que o resultado surpreendeu. Surpreendeu pela expressão mais de 62% de “YES”. Surpreendeu pela imagem que a Irlanda sempre transportou de um dos países massivamente católico extremamente conservador. Surpreendeu porque não havia noção e percepção de que os inúmeros casos polémicos que envolviam a Igreja (pedofilia, abandono de recém-nascidos às portas das instituições religiosas, etc.) também (repita-se, também) poderão ter influenciado o resultado e poderão indiciar uma queda do conservadorismo católico irlandês. Nota complementar… não deixa de ser curiosa, ainda no ano passado, a posição do Arcebispo de Dublin ao afirmar publicamente que os católicos irlandeses deveriam assumir, em consciência, a sua opção de voto, sem constrangimentos.

Infelizmente, ainda há demasiadas barreiras e muros significativamente altos para transpor nesta Igreja que teima em não querer viver os dias de hoje.

Não foi preciso esperar muito para que os iluminados da Cúria viessem a terreno “excomungar” os resultados do referendo.

Foi desta forma que o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, se referiu ao referendo realizado na semana passada, na Irlanda: “Não se pode falar apenas numa derrota dos princípios cristãos. É uma derrota para a Humanidade” (fonte: TSF). Felizmente, quem ganhou foi a humanidade, foram as legítimas opções de vida de cada um, foram os fundamentais princípios cristãos, aqueles princípios que estão muito para além da “igreja dos homens”; os que estão na essência da “igreja de Cristo”. Aliás, posição oposta e de um enorme sentido de responsabilidade teve, mais uma vez, o Arcebispo de Dublin ao afirmar: “a Igreja deve ter em conta esta realidade, mas para mim deve reforçar a nossa missão de evangelizar. A família tem de continuar a estar no centro de tudo, devemos defendê-la e promovê-la” (fonte: TSF).

Isto sim… deveria servir de exemplo e de reflexão para a Igreja, como o deveria ser muitos outros (maus) exemplos de actos, convicções e posições públicas: apesar do esforço e do combate iniciado pelo Papa Francisco, a forma inaceitável e condenável como a Igreja trata os (comprovados) casos de pedofilia e abusos sexuais; apesar do esforço e dos vários discursos do Papa Francisco sobre o papel das mulheres, há uns “iluminados” que continuam na era das cavernas, das trevas ou do medievalismo bacoco, como a afirmação pública. Desta feita, o bispo de Alcalá de Henares (província de Madrid, Espanha), Juan Antonio Reig Pla, que afirmava, em janeiro último: “é necessário retirar o direito ao voto às mulheres porque ultimamente pensam por si mesmas”. Ou ainda, “a igualdade entre homem e mulher não é uma luta de direitos mas sim de ideologia que tem levado a um processo de destruição da pessoa”, sem esquecer as críticas ao facto das mulheres reivindicarem igualdade de oportunidades na sociedade e no trabalho/profissão. O ditado dizia “de Espanha nem bom vento, nem bom casamento”. Eu acho o ditado errado. Não me preocupam os ventos, nem os casamentos (sejam eles quais forem). O que me preocupa é que “de Espanha… nem bons conselhos”, até porque fundamentalismos destes, do outro lado da fronteira, sabe-se bem qual a origem.

O Papa Francisco tem pautado o seu pontificado por uma Igreja mais próxima das pessoas, mais aberta, menos materialista, menos problemática e complexa. Aliás, exemplo disso foram, inclusive, as criticas a ele dirigidas pela sua flexibilidade de princípios aquando do último sínodo da família. O Papa Francisco tem, aqui, nesta área e neste universo, dois bons exemplos para confirmar junto dos católicos (e não só) o que tem sido a imagem da “sua “ (visão pessoal) Igreja.

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