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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Da urbanidade à dimensão regional.

publicado na edição de hoje, 26 março, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos
Da urbanidade à dimensão regional.
É indiscutível que, neste período pós-eleitoral (apesar dos cerca de seis meses que decorreram desde as eleições autárquicas de setembro de 2013), têm sido significativos os projectos e os planos para o desenvolvimento de Aveiro, quer a nível local, quer a nível regional. Independentemente do que foi feito ou ficou por fazer, são mais que naturais e legítimas as perspectivas que se criam quando há mudanças na gestão municipal.
A nível local, excluindo, por razões óbvias, questões da gestão interna municipal, regressam à agenda pública aveirense temas que preocupam os aveirenses e naturalmente a autarquia: são os exemplos da reabilitação urbana, como a Rua Direita, a Avenida, a zona nascente da Estação, os edifícios devolutos na zona da Beira Mar e na envolvente ao Alboi; são os exemplos ao nível da mobilidade, como o estacionamento, o trânsito, os transportes públicos, os projectos/campanhas de mobilidade saudável (pedonal e ciclável); são os exemplos da promoção do turismo, como a anulação da taxa turística nos passeios de moliceiro na Ria (embora se espere substituída por outro tipo de receitas, já que o que está em causa é a utilização, para fins privados, de um bem e espaço público, tal como se paga o imposto de circulação automóvel, por exemplo) ou ainda a potencialidade que abarca a zona lagunar da antiga Lota e das marinhas envolventes às duas margens do antigo Porto Comercial (zona Tir/Tif); são os exemplos relacionados com a vertente cultural e a promoção do património histórico da azulejaria e cerâmica aveirenses, por exemplo, com o aproveitamento do edifício da antiga Estação, de promoção da identidade gastronómica aveirense, e da promoção da sua identidade relacionada com a Ria e o Sal; são os exemplos na vertente ambiental potenciando espaços com capacidade de implementação de um novo Parque da Cidade como é toda a zona a sul entre Centro de Congressos/Av. 25 de Abril e a EN109; são os exemplos na saúde como a falta das Unidades de Saúde Familiar de Esgueira, Cacia e S. Bernardo. Para além disso, é ainda o exemplo da necessidade de se atrair investimento que desenvolva económica e socialmente Aveiro, como a reabilitação das três zonas industriais (Cacia, Taboeira e Mamodeiro). Há, portanto, espectativas, sonhos e projectos aveirenses mais que suficientes para que, com a vontade de todos, Aveiro tenha qualidade de vida sustentável e atractiva.
Mas a realidade dos contextos locais/municipais dos dias de hoje já há algum tempo que perderam as suas fronteiras e limites. A dimensão regional tem um peso extremamente significativo no desenvolvimento ou estagnação dos municípios que a constituem. E nesta área há questões verdadeiramente importantes e prementes. Mesmo que a realidade não seja, de todo, optimista. Basta recordar a interessante peça publicada no Diário de Aveiro do passado domingo (23 de março), da jornalista Maria José Santana, em que retrata a perda de serviços públicos na região de Aveiro desde 2000: escolas, centros de saúde, tribunais, direcções regionais, repartições de finanças, o que referencia Aveiro como a quarta região que mais organismos públicos perdeu na última década.
Mas Aveiro tem todas as potencialidades para, através da sua região, regressar à merecida referência no mapa regional a nível nacional. Para tal, com todo o significativo esforço que se exigirá aos aveirenses, às entidades privadas, às públicas (como a Universidade, a CIRA, as autarquias, o Porto de Aveiro), Aveiro tem de manter vivas as suas bandeiras do desenvolvimento e do bairrismo político: um Centro Hospital do Baixo Vouga de referência; a gestão regional da Ria e do Baixo Vouga ao nível ambiental, económico e turístico; a ligação rodoviária Aveiro-Águeda; o fim da cobrança das portagens na cintura externa nos quatro pórticos (estádio, Angeja, acesso à A1/A29, Oliveirinha/S.Bernardo; a ligação ferroviária Aveiro-Salamanca que permitirá, entre outros, a afirmação nacional do Porto de Aveiro e o desenvolvimento económico e industrial; ou ainda a intermunicipalização, já há vários anos discutida, dos transportes públicos, não apenas rodoviários (vulgarmente, autocarros) como no caso da reabilitação da Linha do Vouga.
Como se pode ver Aveiro precisa de muito trabalho que não cabe, obviamente, apenas na esfera política, nem demarcado por limites temporais dos mandatos autárquicos. Mas que se afigura urgente, parece claro, a menos que os aveirenses se sintam bem dependentes de outros actores políticos e de outras regiões. Para sermos pequeninos basta estarmos quietinhos.