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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

de repente... todos somos fãs do Fernando Tordo

Já por diversas vezes aqui aludi à questão da emigração e aos seus impactos na vida pessoal, familiar e no próprio país.

Foram vários os exemplos: “O que esconde 15,3% de desemprego?”; “Surreal: 25 minutos de enorme alarvidade!”; “Do ir ao acolher...”; “Há razões que a razão desconhece”, entre outros.

É indiscutível que o processo de emigração, na sua maioria, é um triste e infeliz regresso ao passado (década de 60). Salvo raras excepções que se prendem com oportunidades políticas, académicas ou de gestão empresarial, os portugueses emigram porque precisam, por mera necessidade, por não encontrarem em Portugal oportunidades de vida e de trabalho.

Sendo certo que um elevado número dos actuais emigrantes portugueses são jovens (e jovens com habilitações) a realidade emigratória não escolhe idades, mesmo que, para os mais “velhos”, as oportunidades e a facilidade de emigrar seja mais condicionada.

Aliás, o “Dinheiro Vivo” na edição de ontem (18-02-2014) traz um interessante trabalho sobre a temática, sob o título “Emigrar. Que fazer à vida familiar?”.

O jornal Público, num excelente trabalho do jornalista Paulo Moura, faz um retrato muito realista do processo da emigração dos menos jovens: “Ei-los que partem pelo direito ao último terço da vida”.

De repente, as redes sociais (e até a imprensa – p. ex. o jornal Público) voltaram à temática da emigração. Tudo a propósito das declarações, e da intenção confirmada, do Fernando Tordo de emigrar para o Brasil (aliás, para onde já foi).

A opção do Fernando Tordo é perfeitamente compreensível e não me merece qualquer reparo, se não a tristeza por ver partir mais um português inconformado com o país. E por me rever na fundamentação da sua opção, lamentando não ter a mesma oportunidade ou coragem.

Para além disso, a divulgação viral do texto do filho do Fernando Tordo, João Tordo, no seu blogue, “Carta ao pai”, veio reacender esta problemática, reflexo da austeridade e das exigências políticas da estratégia para a recuperação económica do país.

Tenho na família (entre primos, tios e cunhada) gente que emigrou há vários anos (demasiados anos, até). Infelizmente, sei o que é o “quebrar” esses laços. Mesmo assim, não consigo colocar-me na pele de quem vê o pai partir, como diz o João Tordo, algo, a determinada altura da vida, contra-natura (passe a expressão).

Mas o que mais estranho, neste contexto, é o aproveitamento político da decisão pessoal do Fernando Tordo em emigrar. A esquerda (por exemplo, Louçã e Catarina Martins) fez logo eco de revolta, as redes sociais indignaram-se com o país por não saber preservar os seus valores culturais. É indiscutível (goste-se ou não) o peso que o Fernando Tordo teve na música portuguesa. Um país que mal soube valorizá-lo, acarinhá-lo, não deixar vazios muitos dos seus espectáculos, promover o seu trabalho, de repente, estranhamente, tornou-se seu “fã incondicional”, onde já todos conhecem a sua obra, as suas músicas, os seus textos, as suas intervenções (também) políticas e sociais. Enfim…

Dói ao João Tordo, dói à família, é pena para muitos portugueses… mas, acredito, um alívio para o Fernando Tordo e para muitos dos que emigram, apesar de todos os riscos e sacrifícios.

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