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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Na volta do correio

eu_DA_debaixo-dos-arcos.jpgpublicado na edição de hoje, 20 de setembro, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos
Na volta do correio

Estamos a duas semanas do “dia D” eleitoral e durante todo este período de pré-campanha e campanha ouvimos falar muito pouco de política concreta e real. Em contrapartida os cidadãos foram demasiadamente ocupados com distracções e diversões, com demasiado ruído paralelo. Foi a lista de putativos candidatos a candidatos presidenciais, foram os conhecidos e assumidos presidenciáveis, foram os polémicos cartazes e os bancos de imagens, é o caso Sócrates e as afirmações polémicas de Paulo Rangel, a venda adiada do Novo Banco, etc. De campanha propriamente dita sobra pouco, excepção para BE, Livre e CDU que mantêm-se fiéis às suas retóricas e às suas estratégias de acção.

Quanto às campanhas da coligação PSD-CDS e do PS estão muito mais focadas no confronto e conflito político (casos, polémicas, responsabilidades quanto ao resgate do país, responsabilidades governativas passadas – com se em 2011 já não tivesse havido eleições e os portugueses não tivessem feito as suas escolhas e os seus julgamentos). São disso infeliz exemplo os últimos dias, semanas. No debate simultâneo nos três canais da televisão portuguesa (RTP, SIC e TVI), entre Passos Coelho e António Costa, que o ainda Primeiro-ministro perdeu por responsabilidade própria, o caso José Sócrates foi o ponto alto do confronto político, sem que o líder do PSD se tivesse apercebido que o recurso a essa estratégia só traria dividendos ao PS. De fora, demasiado de fora, ficaram as políticas, as medidas, as propostas, o futuro. Não admira por isso que muito mais portugueses tenham escolhida as telenovelas para ocuparem o seu serão. Uma semana volvidos e o cenário repetia-se, agora para as rádios (TSF, Antena 1 e Renascença), num debate melhor conduzido do ponto de vista jornalístico (apesar da vantagem de se realizar após o televisivo, mesmo que, por si só, não fosse garantia de melhor qualidade). Melhor conduzido e com melhores resultados políticos: mais apresentação e discussão de políticas e medidas, como, por exemplo, o emprego e a segurança social, onde António Costa esteve, particularmente, inseguro (ao ponto de serem precisas algumas horas para que melhores explicações viessem a público nas redes sociais). Desta feita, Passos, menos nervoso e mais consistente, esteve melhor que no primeiro debate e do que António Costa. Mesmo que para tal tivesse de recuperar de um início de debate com uma estratégia errada: trazer a público e à discussão o caso dos terrenos do aeroporto de Lisboa e as dívidas da autarquia lisboeta, como se isso, ao caso e face às legislativas, tivesse qualquer impacto na decisão do eleitorado. Depressa e bem percebeu que esse seria um caminho que levaria ao desfecho do primeiro debate. De fora ficou, também bem, José Sócrates.

Mas o ex Primeiro-ministro não ficou de fora no espaço que mediou o primeiro e o segundo debate entre os principais candidatos à liderança do próximo governo.

Estranhamente, nem PS, nem PSD-CDS, aprendem com os erros uns dos outros. Se é certo que continuo a achar que politizar e trazer Sócrates para a campanha é um erro que sairá caro, principalmente, ao PSD, também não é menos verdade que esta obsessão do PS pela responsabilidade da entrada da Troika em Portugal é algo surreal e é um descartar de responsabilidades infantil e inconsequente porque os portugueses têm boa memória. A carta confidencial que Passos Coelho remeteu a José Sócrates, em 2011, e que o jornal Público divulgou (volvidos quatro anos, o que é surpreendente) foi um tiro no pé socialista e voltou o feitiço contra o feiticeiro, deixando a opinião pública com mais certezas em relação aos acontecimentos de 2011.

Infelizmente, não há, nem pelo positivismo do PSD-CDS, nem pelas críticas do PS, uma avaliação clara a estes quatro anos (como se tivéssemos saltado directamente de 2011 para 2015), a discussão sobre o que interessa diariamente e tem impacto na vidas dos portugueses: a reforma e o papel do Estado (ainda esperamos pelo documento de Portas); as reformas e pensões e a sustentabilidade da Segurança Social; a carga fiscal; a saúde; a educação e a justiça.

Ao menos… seguem-se as arruadas e a “carne assada”.