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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

O Não à direita. O Talvez à esquerda... E longe de Évora.

XX congresso PS - Mario Cruz_Lusa.jpg
(créditos da foto: Mário Cruz / Lusa)

Terminou o XX Congresso do Partido Socialista, agendado para este fim-de-semana.
Sabia-se já da incontestável liderança de António Costa que, há uma semana, tinha sido eleito secretário-geral com mais de 90% dos votos. Nesse aspecto nada de novo. Mas os acontecimentos político-judiciais dos últimos dias fariam prever uma acrescida perspectiva sobre este congresso.

Face ao que são os novos tempos político-partidários e as suas regulamentações internas, os congressos (concretamente do PS, PSD e CDS) perderam o fulgor e a “alma” de outros tempos. Destes, resta apurar no discurso de encerramento os chamados “recados da narrativa”. Em relação a este congresso socialista houve, de facto, vários ‘recados’ a extrair das palavras finais de António Costa.

O primeiro para uma comunicação social que, naturalmente, estaria à espera de referências ao caso que envolve José Sócrates. Importa não esquecer que há uma semana, no preciso momento em que “rebentava” o processo que envolve o ex primeiro-ministro, António Costa referia, no discurso da sua eleição à liderança do partido, que o PS “assume toda a sua história, os bons e os maus momentos”, acrescentado, numa clara referência à detenção do ex-líder socialista, que o “PS não adopta as más práticas estalinistas de eliminar este ou aquele da fotografia”, independentemente do desfecho deste processo judicial. Só que neste XX Congresso o nome de José Sócrates ficou de fora e foi tabu, para além de qualquer referência a um passado bem recente da governação socialista. A própria escolha dos membros da direcção nacional são disso prova, com uma renovação interna significativamente inesperada, com muitas “caras” novas, salvo uma ou outra excepção espelhada, por exemplo, naquele que é tido como um dos futuros políticos socialistas: João Galamba.

O segundo recado foi para o actual Governo. Críticas duras quanto à forma como nestes três anos Passos Coelho e a coligação conduziram os destinos do país. Os “casos da vida” apontados por António Costa empolgaram o congresso, marcaram uma posição política, apelaram ao coração dos portugueses, dos militantes e dos simpatizantes socialistas, mesmo que para além das críticas tenha faltado a razão de um programa, as linhas programáticas, de governação socialista, caso este vença as eleições. Restou o pedido de uma maioria e o suspense do país até à próxima primavera para que seja possível perceber-se o que propõe, concretamente, António Costa para os destinos do país.

O terceiro recado é direccionado para dentro do próprio partido e, simultaneamente, para a direita política portuguesa. Primeira nota para a exclusão da Direcção Nacional de qualquer militante afecto à ala de António José Seguro que, desta forma, é “apagado” da estrutura nacional socialista. Segunda nota para o afastamento peremptório de qualquer entendimento futuro (pré ou pós eleitoral) à direita do PS. Para aqueles que perspectivavam o regresso de Rui Rio ao PSD sustentado num apetecível entendimento com Costa, ou para os socialistas, como Francisco Assis, que afirmaram publicamente o desejo de um novo bloco central, tiveram, nas palavras bem claras do líder do PS, um redondo Não e um evidente afastamento político (Francisco Assis nem chegou a discursar no congresso).

O quarto recado tem uma relação directa com o anterior, embora pelo reverso da moeda. Apesar de ter “piscado o olho” à esquerda (desde a presença do Livre no congresso, às referências ao Bloco de Esquerda e ao PCP), o facto António Costa ter manifestado, por vários momentos, o desejo político de conquistar a maioria nas eleições de 2015 e ter, simultaneamente, dirigido críticas quanto às posturas políticas do BE e do PCP, leva a crer que é vontade do líder do PS que o partido assuma um papel político individual, afirmando-se como “a” referência da esquerda em Portugal numa eventual governação do país. Aliás, esta foi a imagem espelhada nos próprios comentários das ‘figuras’ do BE e do PCP que criticaram a referência que António Costa lhes atribuiu como “partidos do protesto” e o facto de não ter apresentado linhas programáticas quanto ao que o PS propõe para Portugal, nomeadamente quanto à questão da dívida portuguesa.