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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Aveiro. Que identidade cultural?!

Publicado na edição n.º 4 (Dezembro de 2006) da Revista Cultural da Câmara Municipal de Aveiro - Pontes & Virgulas.
 
Aveiro. Que identidade cultural ?!

Um dos princípios da prevenção baseia-se na educação do indivíduo, por forma a ser mais fácil a assimilação de mecanismos de antecipação dos riscos.
Este processo educacional, tem muito mais impacto se for consumado nas crianças e adolescentes, para que, quando adultos, sejam conscientes dos princípios preventivos ensinados. Estão enquadradas neste conceito as campanhas de prevenção rodoviária, de educação ambiental - como a reciclagem, a percepção dos sectores de segurança - polícia, bombeiros, protecção civil, etc.
Por outro lado, a identidade e a herança culturais de uma determinada região, p. ex. o Concelho de Aveiro, é o resultado de uma evolução no tempo da sua cultura e património, bem como a maior ou menor determinação para a receptividade às influências externas, a alterações e ao aumento da diversidade.
Esta realidade tri-dimensional (cultura, património e identidade), evolucionista nos tempos, traz mudanças para as quais a memória colectiva não está, na sua maioria, preparada. Não por incapacidade de assimilar as novas vivências (antes pelo contrário), mas sim pelo facto de não memorizar as antigas. O moliceiro e os ovos-moles, vão, com o passar dos tempos, coexistindo com as BUGA e as novas tecnologias.
A memória histórico-patrimonial e a memória cultural vão perdendo os seus contornos existenciais: à grande maioria dos aveirenses (naturais ou assimilados) já nada dizem as referências de identidade cultural como o sal e a sua importância histórico-económica, a ria, o Museu Santa Joana e a sua história, o rico património religioso aveirense, a Arte Nova, o sector cerâmico, já para não referir a diminuta relevância (limitando-se ao comercial e turístico) dos moliceiros e dos ovos-moles.
Da história civilizacional da Cidade e do seu Concelho, já nem a memória escrita nos diversos documentos e publicações produzidos cativa, desafia e desperta os aveirenses. Perde-se no tempo e no bairrismo dos mais velhos (e pouco mais que estes) os nomes que fizeram a história de Aveiro: desde a Condessa Mumadona e Santa Joana até Vale de Guimarães, passando por Aires Barbosa, Alberto Souto, Artur Ravara, Homem Cristo, Jaime Magalhães Lima, Evangelista Lima Vidal, José Estêvão, Lourenço Peixinho, Mário Sacramento, entre muitos outros, referindo-me aos que, eventualmente, seriam os mais conhecidos.
A cultura e a civilização aveirense, excluindo uma minoria que tende cada vez a ser mais minoritária (os mais idosos, os técnicos e agentes culturais e os historiadores), já não se “vive”.
Nas escolas, promove-se a prevenção rodoviária e o ambiente. Não se ensina a cultura e a identidade aveirense. Esta não sai dos gabinetes e dos museus.
Dizia Jaime Magalhães Lima que “Aveiro tem essa virtude: a afeição pelas cousas e pelas pessoas transforma-se entre a sua gente em religião”.
Magalhães Lima perdeu-se no tempo. E Aveiro perdeu essa virtude e, hoje, essa religião conhece outros deuses. E, porque a cultura não gera riqueza económica, descuidando-se a sua capacidade de produzir riqueza social e desenvolvimento, Aveiro perde no tempo a sua identidade.

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