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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Olho por Olho. Dente por Dente. (actual.)

As minhas previsões estavam certas. Não que isso me traga qualquer rasgo de felicidade. Bem pelo contrário. Infelizmente só acerto no que não é racional e benéfico. (por isso é que para a semana à jackpot no euromilhões).
A reacção óbvia ao enforcamento de Saddam Hussein - Aqui.
A estupidez habitual no discurso de quem pensa que é dono do mundo e das pessoas, mais a sua real aliança - "A execução do antigo ditador iraquiano é "uma etapa importante" no caminho para a democracia no Iraque, afirmou o presidente norte-americano George W. Bushqui".
E a hipocrisia europeia da condenação do acto, mas com o habitual lavar de mãos historicamente herdado de Pilatos - Aqui.

Finanças Locais... E agora?!

O Tribunal Constitucional (pressionado ou não) declarou que o Projecto de Lei do Financiamento das Autarquias está isento de qualquer inconstitucionalidade.
Pois bem… e isto é importante para quê?
Desde de quando é que a prova de constitucionalidade é por si só um indício de rigor e validade política?!
É que a questão da Lei das Finanças Locais não passa pela sua constitucionalidade. É uma questão de clareza e objectividade política.
E a ver vamos…
Mesmo com a ilusão política do CDS ter ganho o que quer que seja no contributo em dois pontos da lei em causa.

Será que se a Lei estivesse já aprovada teríamos tanta polémica em volta do Orçamento da Câmara de Aveiro? Ou será que seria viável executar um orçamento que fosse?!

Olho por Olho. Dente por Dente.

Por uma questão de princípio (valores), pela defesa da vida, por razões sociais, culturais e por razoabilidade civilizacional: pena de morte… NUNCA!
Como diz a Carta dos Direitos Fundamentais: "ninguém pode ser condenado à pena de morte, nem executado".
Ninguém. Nem mesmo por razões que a emotividade e o irracional desconhece.
Ao fim de um julgamento, que contemplou situações mais próximas do dantesco, do polémico e do anárquico, do que propriamente do conceito de justiça e do judicial, Saddam Hussein foi esta madrugada enforcado (publico on-line). Condenar o que foram os 24 anos de ditadura e as atrocidades étnicas, religiosas e políticas cometidas pelo regime de Saddam é relativamente fácil e óbvio.
Por outro lado, para quem defende a dignidade humana e o valor da vida, é racionalmente espontânea a oposição consciente à pena de morte. O princípio defendido que punir um crime com outro crime corresponde à lei do “olho por olho, dente por dente”. Nada justifica um crime com outro crime.
Aliás, até que ponto o cumprimento da sentença já algum tempo proferida, não irá desencadear uma onda de revolta na minoria sunita, transformando Saddam Hussein num verdadeiro mártir?!
Onde está a coerência da Europa (bastião da defesa da abolição total da pena de morte) que publicamente condenou, as atrocidades do regime de Saddam e que, apesar disso, se opôs igualmente (salvo as excepções conhecidas - Inglaterra, Espanha e Portugal) à intervenção norte-americana?!
Que relevância ou pressão diplomática junto da Administração Bush tem a posição Europeia na condenação da sentença, no sentido de exigir a face inegociável de um princípio como o da defesa da dignidade humana e da vida?!
Uma Europa que, num verdadeiro instinto de avestruz, traduzido pela subserviência aos Estados Unidos, diz-se revoltada, mas amorfa na defesa da sua Carta Europeia dos Direitos Fundamentais.
Hoje, não deixa de ser verdadeiramente importante reflectir-se o que foram estes últimos anos de Iraque, após a “captura” de Saddam: um incalculável (porque contraditório) número de mortes, atentados diários, insegurança e instabilidade (medo), crise social e económica instalada. A democracia tão apregoada, continua uma miragem na aridez dos desertos iraquianos. A isto tudo, acresce os conhecidos e polémicos casos de abuso das forças militares estrangeiras, nomeadamente as americanas e britânicas, que em nada se inferiorizam aos acontecimentos do então regime iraquiano.
A razão e a legitimidade assiste a quem souber fazer e pautar-se pela diferença. E não pelos mesmos meios que nunca justificam os fins.
Assim termina um 2006 que em nada augura um melhor 2007.

Falta Vida ao Parque D. Pedro

Publicado na edição de hoje (28.12.06) do Diário de Aveiro.

Post-its e Retratos
Até aos Reis… ainda é Natal!


Seja do ponto de vista religioso, seja pelo lado “pagão”, o passar dos anos retirou à festa dos Reis o seu verdadeiro significado, transferindo para a véspera e para o próprio dia do Natal toda a conexão com o acto de oferecer.
No entanto, como as tradições são uma forma de preservação da identidade cultural de um povo ou região, parece-me propositado que ainda vá a tempo a minha carta ao Pai Natal.
Embora nascido na Vera Cruz, com a qual guardo toda uma afinidade sentimental, foi na freguesia da Glória que efectuei todo o meu percurso de crescimento, desde a infância até à idade adulta.
É, por isso, com preocupação do dever de cidadania, que refiro as minhas “preces” a S. Nicolau.
Neste ano de comemorações dos 30 anos do poder local e volvidos que são 12 anos após a minha passagem pela Assembleia de Freguesia, a Glória desenvolveu-se, a própria Junta de Freguesia cresceu, multiplicou os seus serviços e estruturas. Mas com o crescimento da Freguesia, também os problemas aumentaram. Quer do ponto de vista da sua quantidade, quer no que respeita à sua dimensão.
A questão social é uma das problemáticas mais acentuadas no panorama estrutural da freguesia: problemas de exclusão racial, marginalidade, desemprego, criminalidade, baixo nível de habilitações escolares, entre outros são o espelho dessa realidade. Basta referir que o número de habitantes do Bairro de Santiago representa entre 40% a 45% do número total de habitantes da freguesia (incluindo o lugar de Vilar e excluindo a urbanização “A Chave”).
A par do esforço de inúmeras associações de solidariedade, como “As Florinhas do Vouga”, e o próprio inovador e recente papel social da Junta de Freguesia, tendo como objectivo a minimização desta triste realidade social, a freguesia tem igualmente um património histórico, cultural e político ímpar. Aqui encontramos os Paços do Concelho, o Governo Civil, o Tribunal, o estabelecimento prisional, o antigo Quartel de Infantaria, a Sé, a Igreja da Misericórdia, o Convento das Carmelitas, as Capelas de Sto. António e S. Francisco, a Capela dos Santos Mártires, o Seminário Sta. Joana, o Museu, o Teatro Aveirense, as três Escolas Secundárias e a Escola João Afonso, o Conservatório de Música, o Hospital, o Centro de Saúde, a Universidade, o Instituto da Juventude, o Fórum, o Mercado Municipal, os dois pavilhões desportivos (Beira Mar e Galitos), duas das três piscinas da cidade e um dos bairros típicos de Aveiro - o Alboi. Também tem um dos mais enigmáticos processos burocráticos que descaracterizam a mais bela entrada da cidade e enegrecem a qualidade de vida dos moradores circunvizinhos: o edifício da EPA. Ciclicamente sem solução à vista, para a frustração dos vizinhos e para a funesta imagem da cidade.
Toda aquela riqueza mencionada transforma a Glória numa Freguesia desenvolvida e apetecível e torna igualmente mais aliciante e motivador o trabalho dos membros da sua Junta e da sua Assembleia de Freguesia.
Mas será este o seu maior património?!
A sua maior riqueza (porque este é dos seus munícipes) reside no Parque D. Pedro e na sua ligação à Baixa de Sto. António.
Este é o verdadeiro cartão de visita da freguesia.
Este é o verdadeiro símbolo que deveria congregar sentimentos e esforços.
O Parque já não tem vida. Cada vez tem menos vida e pessoas.
Já não se faz jogging e já não existe o circuito de manutenção. Já não se ouvem os patins no ringue. Os barcos e as gaivotas já não navegam num lago cada vez mais descuidado. As bicas e as fontes já não são potáveis. O Beira Mar já não joga ali.
As aves já são menos e os patos e os cisnes sem atenção. Resta a “jaula” da macaca, vazia e inerte.
Já não há piqueniques e raras são as crianças que ali ficam horas “a fio” a brincar. Já não se namora no parque.
O coreto raramente é usado, bem como agora são raríssimas as fotos de casamentos.
O Parque tem que voltar a ter vida. Tem que voltar a significar tudo o que caracterize sentido de comunidade, qualidade de vida e sociabilidade.
Os mais idosos têm que recuperar o seu espaço. As crianças têm que recuperar a sua liberdade de brincar.
A Junta de Freguesia não pode abandonar a sua maior riqueza. A riqueza da freguesia e dos aveirenses. Os aveirenses têm a responsabilidade de transmitir aos outros (principalmente aos mais novos) a identidade cultural e social que o Parque D. Pedro comporta.
Por isso, “querido Pai Natal”, mesmo aí na longínqua e fria Lapónia, peço-te: Que regresse a vida ao Parque D. Pedro, com urgência.
Acho que ainda vai a tempo.

Aveiro. Que identidade cultural?!

Publicado na edição n.º 4 (Dezembro de 2006) da Revista Cultural da Câmara Municipal de Aveiro - Pontes & Virgulas.
 
Aveiro. Que identidade cultural ?!

Um dos princípios da prevenção baseia-se na educação do indivíduo, por forma a ser mais fácil a assimilação de mecanismos de antecipação dos riscos.
Este processo educacional, tem muito mais impacto se for consumado nas crianças e adolescentes, para que, quando adultos, sejam conscientes dos princípios preventivos ensinados. Estão enquadradas neste conceito as campanhas de prevenção rodoviária, de educação ambiental - como a reciclagem, a percepção dos sectores de segurança - polícia, bombeiros, protecção civil, etc.
Por outro lado, a identidade e a herança culturais de uma determinada região, p. ex. o Concelho de Aveiro, é o resultado de uma evolução no tempo da sua cultura e património, bem como a maior ou menor determinação para a receptividade às influências externas, a alterações e ao aumento da diversidade.
Esta realidade tri-dimensional (cultura, património e identidade), evolucionista nos tempos, traz mudanças para as quais a memória colectiva não está, na sua maioria, preparada. Não por incapacidade de assimilar as novas vivências (antes pelo contrário), mas sim pelo facto de não memorizar as antigas. O moliceiro e os ovos-moles, vão, com o passar dos tempos, coexistindo com as BUGA e as novas tecnologias.
A memória histórico-patrimonial e a memória cultural vão perdendo os seus contornos existenciais: à grande maioria dos aveirenses (naturais ou assimilados) já nada dizem as referências de identidade cultural como o sal e a sua importância histórico-económica, a ria, o Museu Santa Joana e a sua história, o rico património religioso aveirense, a Arte Nova, o sector cerâmico, já para não referir a diminuta relevância (limitando-se ao comercial e turístico) dos moliceiros e dos ovos-moles.
Da história civilizacional da Cidade e do seu Concelho, já nem a memória escrita nos diversos documentos e publicações produzidos cativa, desafia e desperta os aveirenses. Perde-se no tempo e no bairrismo dos mais velhos (e pouco mais que estes) os nomes que fizeram a história de Aveiro: desde a Condessa Mumadona e Santa Joana até Vale de Guimarães, passando por Aires Barbosa, Alberto Souto, Artur Ravara, Homem Cristo, Jaime Magalhães Lima, Evangelista Lima Vidal, José Estêvão, Lourenço Peixinho, Mário Sacramento, entre muitos outros, referindo-me aos que, eventualmente, seriam os mais conhecidos.
A cultura e a civilização aveirense, excluindo uma minoria que tende cada vez a ser mais minoritária (os mais idosos, os técnicos e agentes culturais e os historiadores), já não se “vive”.
Nas escolas, promove-se a prevenção rodoviária e o ambiente. Não se ensina a cultura e a identidade aveirense. Esta não sai dos gabinetes e dos museus.
Dizia Jaime Magalhães Lima que “Aveiro tem essa virtude: a afeição pelas cousas e pelas pessoas transforma-se entre a sua gente em religião”.
Magalhães Lima perdeu-se no tempo. E Aveiro perdeu essa virtude e, hoje, essa religião conhece outros deuses. E, porque a cultura não gera riqueza económica, descuidando-se a sua capacidade de produzir riqueza social e desenvolvimento, Aveiro perde no tempo a sua identidade.

Voltou o Natal!

Publicado na edição de hoje (21.12.06) do Diário de Aveiro

Post-its e Retratos
É claro... voltou o Natal!


Ciclicamente, nesta altura do ano regressamos aos clichés e aos lugares comuns. Regressamos igualmente ao stress financeiro, social e familiar que este tempo consome e que muitos “prozac’s” e “xanac’s” (substituídos ou não pelos genéricos) se encarregarão de sarar.
É Natal…
O que deveria ser uma verdadeira festa, é, para alguns, indiferença, para muitos, um verdadeiro pesadelo e para uma imensidão, uma utopia ou miragem por não o poderem ter.
E o Natal podia ser tão pouco: uma visita, um telefonema, uma carta, um e-mail.
Podia ser algo doado do que sobra e não faz falta, para quem tem tão pouco ou, às vezes, nada.
Podia ser a redescoberta do tempo para os outros: na família, nos amigos, no emprego ou, simplesmente, na rua. No desejo de fazer os outros felizes.
Mas também podia ser o que se oferece. Mesmo que caro e rotulado de consumista. Porque o sentido de dar, da amizade, da fraternidade ou da solidariedade não tem preço, quando a verdadeira vontade de partilhar e fazer o outro feliz é grande.
E na maioria dos casos, não está em causa o valor monetário do que se dá, mas a oportunidade, o significado e a utilidade do que se oferece.
Por mais que se diga que “o Natal é sempre quando o Homem quiser”, a realidade demonstra-nos que Dezembro é Mágico. Torna as pessoas mais abertas, mais emotivas, mas sensíveis. Basta olhar para as mais diversas e inúmeras campanhas de solidariedade que são publicamente anunciadas nesta altura do ano. Sem “rivalidade” nos outros meses. O que, infelizmente, nos leva a concluir que somos cada vez mais fechados, indiferentes, comodistas e isolados nos restantes onze meses do calendário.
A sociedade ao longo dos tempos transformou-se, independentemente se para melhor ou pior. Também o Natal se transformou num misto de convicções religiosas ou pura e simplesmente num laicismo solidário e fraternal.
Mas há uma realidade comum às assimétricas realidades natalícias. E essa mantém-se inalterada ao longo da história: o Natal, entre mil e uma razões e objectivos, é e há-de ser sempre das Crianças.
De todas as crianças.
As vítimas inocentes da guerra no Iraque, na Palestina e em Israel, no Afeganistão, nos Balcãs, no Sudão e em quase todo o continente africano.
As crianças abandonadas em plena rua.
As crianças vítimas de maus tratos físicos, psicológicos e sexuais.
As que trocam, ou se vêem obrigadas a trocar, a escola pela exploração laboral.
As crianças vítimas da criminalidade, da ausência do sentido de família e da exclusão social, por motivos raciais, políticos e religiosos.
As crianças vítimas da inconsciência e irresponsabilidade rodoviária.
As crianças que sofrem o ostracismo por serem portadoras de vários tipos de deficiência.
E as crianças sãs. As saudáveis.
Aquelas que gozam de plena liberdade, carinho e todas as condições (pelo menos as fundamentais) para serem felizes.
O Natal é delas todas.
Porque só por elas “o mundo pula e avança, como bola colorida, entre as mãos duma criança”.
Bom Natal.

A Justiceira.

Na ordem do dia estão dois factos adjacentes: uma espécie de livro e a nomeação da Dra. Maria José Morgado para supervisionar o processo “Apito Dourado”.
Quanto ao primeiro, nenhum comentário.
Já o segundo, merece-me alguma atenção.
Em Portugal, aparentemente, apenas existem duas pessoas honestas: a Dra. Maria José Morgado e a Dra. …
Ninguém, no seu perfeito juízo, poderá defender a impunidade de qualquer acto ilícito ou ilegal, seja a que nível for, incluindo-se, obviamente, a corrupção. Ninguém acredita que o universo futebolístico é um sector sem mácula, sem descrédito e que tudo se passa na mais perfeita normalidade.
Mas daí a fazer desta questão uma obsessão doentia e patológica, é algo supra-natura.
A Dra. Maria José Morgado tornou-se uma verdadeira Justiceira à portuguesa, qual Dom Quixote feminino na sua luta contra os moinhos de vento.
No entanto, esqueceu-se que tamanho mediatismo e responsabilidade vão transformá-la num diário e constante alvo da curiosidade e crítica pública. E quanto mais alto se sobe, maior é a queda.
Pena é que tanto entusiasmo e dedicação à causa da corrupção, não tenha sido, por exemplo, dedicado ao processo Casa Pia ou à Queda da Ponte Entre Rios.
Talvez muito já se tivesse processado e menos falhas na justiça se tinham verificado. É que há tanta coisa mais importante para resolver na Justiça deste País!

P.S. É lamentável que em Portugal a separação de poderes seja apenas uma realidade fictícia.
Que o Governo indique ao Presidente da República um nome para o cargo de Procurador-Geral da República, já me parece incoerente. Que o governo, pela voz do seu Ministro da Administração Interna, venha publicamente demonstrar a sua posição face às nomeações do Senhor Procurador, é lamentável e dispensável.

Respeitosamente.

Já por algumas ocasiões este espaço demonstrou publicamente o seu pesar pelo falecimento de várias pessoas.

Por todas as razões óbvias e por uma questão de respeito e pesar, este blog manifesta o seu luto até Domingo, pelo falecimento da mãe do Dr. Élio Maia - Presidente da Câmara de Aveiro.

A Vida faz-nos pensar... às vezes

Publicado na edição de hoje (14.12.06) do Diário de Aveiro

Post-its e Retratos
Parar. Olhar e Pensar!


Nesta altura do ano, a vida passa-nos sempre muito a correr.
Ligue-se ou não ao Natal, ninguém, por mais esforço que faça, fica indiferente e não é envolvido nas “malhas” comerciais.
Passamos os dias numa azáfama tal, acrescida ao costumeiro stress diário laboral ou estudantil, que não conseguimos parar para olhar e muito menos para pensar. Ou se o fazemos, é com um esforço de tal forma exigente que nos cansam as ideias.
Os 30 anos do poder local (desde 1976 - primeiras eleições autárquicas) pós processo da revolução de 1974, tenho dúvidas que tenham tido qualquer impacto nos munícipes, excluindo, obviamente, aqueles que, por razões profissionais ou por responsabilidade de gestão autárquica, estiveram envolvidos nas comemorações.
A Cidade continua a precisar que os aveirenses (todos) parem, pensem e a olhem.
A Associação “Os Amigos do Parque”, a Junta e a Câmara precisam de todos para revitalizar um espaço que é importante para Aveiro, bem como a sua relação com a Baixa de Sto. António.
A zona envolvente à Estação e à Urbanização da Forca, uma das principais entradas na cidade, está completamente despida e descaracterizada.
A zona da antiga Lota continua a fazer falta à qualidade de vida e bem-estar dos aveirenses.
Há zonas públicas que continuam descaracterizadas, como por exemplo a zona envolvente ao Centro de Congressos e a do Parque de Feiras.
Há a necessidade de repensar a mobilidade das pessoas e a sua acessibilidade à cidade. Reestruturar o trânsito e o estacionamento. Fomentar o transporte público e o alternativo. Melhorar a qualidade da cidade. Estreitar o relacionamento entre as freguesias do concelho e a cidade.
Fica por sentir a ligação dos sectores de referência e a comunidade: a Igreja, o Ensino, o Desporto, a Saúde, a Justiça.
Esvai-se a nossa identidade com a Ria, o Sal e o Mar.
E a vida passa a correr.
Ficam-nos as saudades da memória turva pelos paradigmas do necessário desenvolvimento. A zona das fábricas da cerâmica, a zona de lazer da “Paula Dias”, os barrancos de barro, as salinas, os parques e jardins.
Fica-nos a memória de uma cidade para passear, brincar, jogar, discutir.
Aveiro continua a perder. A perder serviços públicos, espaços, posicionamento regional, peso político, económico e social.
E a vida passa a correr.
Mesmo para além do que nos rodeia.
Para aqueles que nos são próximos, mesmo que a vida nos tenha separado por caminhos distintos, mesmo que o convívio diário se tenha dissipado, resta aquilo que de melhor há no ser humano: a memória e a sua capacidade de trazer ao consciente o que nos é querido.
E a incerteza da vida fundamenta-se na única certeza que temos, que é a de algum dia a morte nos separar.
Mas esta certeza, por mais consciente que seja, nunca nos prepara para a tristeza e para a dor. Principalmente para aqueles que nos são próximos, que fazem parte da nossa memória ou que a solidariedade e o respeito nos levam a perfilhar.
Da mesma forma que a cidade vai mudando mais do que aquilo que muitas vezes queremos, também a vida vai passando por nós sem lhe darmos atenção.
E se a vida corre depressa… como correu para o Paulo, para o Luís e para muitos outros para quem muito tempo ainda havia para viver.
Mesmo com o dia-a-dia de corrupio, a vida faz-nos parar, olhar e pensar.

Serviço Público Gratuíto

ISCIA – Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração
Departamento de Psicologia e Educação

A 14 de Dezembro 2006 (quarta-feira) o Doutor Mário Cordeiro virá a Aveiro, integrado na 5ª edição da Pós-Graduação da Psicologia da Infância e da Adolescência do ISCIA, de que será também docente, para apresentar o seu último livro e realizar uma conferência intitulada NASCER – o antes e o depois.
O lançamento do livro "O Grande Livro do Bebé" será feito a partir das 20:30Hm, no Hall do Anfiteatro do Parque de Feiras e Exposições de Aveiro. A conferência terá início pelas 21:00Hm, havendo, no seu final, nova sessão de autógrafos.
Esta Conferência destina-se a todas as mães e pais, em especial aos casais à espera de primeiro filho e às mães grávidas, assim como a todos quantos trabalham profissionalmente com grávidas, nascituros e recém-nascidos. A entrada é livre.
O Dr. Mário Cordeiro e o ISCIA de Aveiro terão muito prazer com a vossa presença no próximo dia 14, quinta-feira!

A velhice...

Publicado na edição de hoje (7.12.06) do Diário de Aveiro.

Post-its e Retratos
Ancestralidade.


Chegada a esta época do ano, há sempre (infelizmente, na maioria dos casos, apenas em momentos pontuais) questões sociais que nos assolam os sentimentos. Que nos inquietam de forma mais evidente.
São dados estatísticos públicos que Portugal se está a tornar num dos países mais envelhecidos da Europa, prevendo-se que, em 2050, cerca de 30% da população (quase um terço) tenha mais que 65 anos (actual idade da reforma). Esta é uma situação que provoca algumas alterações na sociedade e na própria forma de encarar a vida.
Segundo outros dados divulgados pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, no ano de 2005 a APAV recebeu 347 casos de idosos vítimas de violência física e psíquica. Obviamente que este número peca por defeito, pelo facto de muitos dos idosos não revelarem ou denunciarem as situações em que estão envolvidos, por receio, desconhecimento e, até mesmo, por vergonha.
Esta é uma realidade que necessita verdadeiramente de uma reforma. Reforma de comportamentos, responsabilidades e acções socio-políticas.
Até há alguns anos a esta parte, a violência familiar resumia-se, quase que exclusivamente, às mulheres e às crianças. Hoje, fruto das alterações sociais, económicas e culturais que envolvem o conceito de família na actualidade, transformaram os papéis familiares. A ancestralidade, a figura da avó e do avô tornou-se excedentária e pontualmente requerida.
Como disse uma vez numa entrevista o actor Ruy de Carvalho, “na vida só se tem uma certeza, que é a morte”.
Um idoso, ao fim de uma vida cheia de tudo, já dispensa muita coisa. Mas não dispensará nunca a afectividade, o carinho e o respeito, em jeito de recompensa pelo trabalho, dedicação e sacrifícios que realizou ao longo dos anos.
Na sociedade de hoje, por inúmeros factores, os lares, centros de dia e o apoio domiciliário, são uma necessidade.
Independentemente do carácter social das instituições e do incansável e incalculável auxílio dos profissionais e voluntários, nada substitui a família. O reconhecimento, afecto, carinho e respeito por aqueles que venceram todas as dificuldades e superaram os sonhos de criar uma família, nunca deveria prescrever.
No entanto, o casos de abandono, burlas, maus tratos, miséria e esquecimento são cada vez mais uma realidade triste de uma sociedade que não sabe valorizar a experiência da vida.
Uma sociedade e família que já não conseguem reconhecer e praticar uma concreta solidariedade e afectividade para com os idosos.
Ao contrário das culturas e realidades sociais orientais (pelo menos da sua maioria), os idosos hoje, em Portugal, tornaram-se um excedente. Quer do ponto de vista social, económico e familiar.
Não produzem, não são reconhecidos como alvos comerciais preferenciais, perderam o seu lugar de referência na família. São portanto, um peso, um fardo, uma inutilidade.
Deixaram de ser uma parte importante e valiosa do saber adquirido e da experiência da vida.
O que temos hoje é, logicamente, fruto do trabalho, da dedicação e da emotividade dos que nos precederam. Nada apareceu por acaso ou vindo de lado nenhum.
Vive-se, em relação aos idosos, a mentira constante de armazenar para depois da morte, aquilo que deveria ter sido prezado em vida. A falsidade da dor e das lágrimas na hora da morte, quando em vida o tempo apagou o respeito, o afecto e o carinho.
A sociedade será sempre e inevitavelmente pobre se não criar uma consciência individual e colectiva para minimizar uma dívida impagável para com aqueles que detêm a maior riqueza que é a experiência da vida.

Infelizmente é cíclico!

Vinte e seis anos depois...
Mais do que a comemoração da memória de Camarate, a angústia de uma injusta prescrição.
Porque justiça não foi feita.

É inacreditável este inquietante complexo que a justiça portuguesa tem. Os crimes de Morte nunca deveriam prescrever. Sejam eles qual forem. E a culpa não pode morrer solteira.
 

O restaurador

1 de Dezembro de 1640. Mais para o mal do que para o bem, Portugal libertava-se da sua ligação a Espanha, retomando a sua condição de nação/reino independente.
D. João IV ascendia ao lugar de Rei de Portugal.
Seria por ele que Nossa Senhora da Conceição era proclamada padroeira de Portugal.
Seria no seu reinado que surgiria a mais velha aliança do mundo: Portugal - Inglaterra.