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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Fim da Festa!

Ainda não consigo ter bem a percepção se deveremos comemorar ou não.
Ou melhor... o português comemora por tudo e por nada.
Mas o que importa aqui é saber se convém celebrar a despedida de 2008 ou nos preocuparmos com um 2009 que, apesar de desconhecido, se nos afigura deveras negro e cinzento.
Fica ao vosso critério. Por mim... não saía de 2008, apesar de tudo.
Mas, enfim... que seja.
UM BOM 2009 para todos.

Que Natal?!

Publicado na edição de sexta-feira, dia 26.12.2008, do Diário de Aveiro.

Sais Minerais
Que Natal?!

Por mais que queiramos contornar a realidade e não usar “clichés” totalmente desgastados, é certo que a chegada do Natal é marcante no calendário anual: são as prendas, mesmo em tempos de crise, e a respectiva azáfama comercial; é o simbolismo social e religioso da quadra; é a revelação (mesmo que por conveniência e descargo de consciência) do espírito solidário e comunitário; é a proliferação dos “jantares de natal” (universo escolar, laboral, do grupo de amigos, etc.) e é, igualmente, a altura “ideal” para as campanhas de solidariedade.
Mas é também chegada altura para a reflexão e análise sobre a actividade das diversas organizações não governamentais de intervenção social ou instituições de solidariedade social. É, nesta época, que se registam o maior número de acções desenvolvidas nos mais distintos e diversificados sectores e áreas da sociedade: nas crianças, nos toxicodependentes, nos idosos, nos mais pobres e nos sem-abrigo (como exemplos).
Existe um contexto transversal a todas as instituições de solidariedade social: elas dependem da “boa vontade” dos cidadãos, seja nas contribuições materiais, seja no desafio do voluntariado, para conseguirem alcançar os seus objectivos.
Infelizmente, a individualização da sociedade e do decremento dos valores sociais, cívicos e comunitários produz efeitos e tem repercussões junto das instituições sociais e da sua subsistência., apesar do seu inegável contributo social.
Apesar do seu trabalho ser contínuo ao longo do ano é, neste particular momento do calendário, que as instituições mais solicitam apoios e “exigem” solidariedade.
Se é certo que quem necessita tem as suas carências ao longo de todo o ano, também não deixa de ser um facto que, enquanto a sociedade vive o direito à celebração do Natal (família, amizade, união), há um crescente sentido de comunidade, solidariedade e respeito por aqueles a quem a vida, por inúmeras razões, os privou de celebrarem condignamente esta quadra.
E não se pense que este é um facto novo, recente, resultado de uma sociedade crescentemente tecnológica e globalizada. Como exemplo, já em 1881 a instituição secular “Albergues Nocturnos do Porto” (ainda em actividade) acolhia pessoas sem recursos a quem fornecia cama e comida, e que preparava (e prepara hoje) uma refeição especial para a noite de Natal.
A diferença é que hoje já são milhares os que adoptaram a rua como habitação, as mais diversas localidades e regiões deste país. A condição de “sem-abrigo” já não separa origens sociais, idades e habilitações profissionais. São cada vez mais os que recorrem às ajudas sociais e que a crise financeira, o desemprego e o desequilíbrio social que se vive e que se perspectiva agravados em 2009, potenciam. E esta é uma realidade, ou melhor, um drama social que não pode, nem deve ser “escondido”.
Nem que seja para nos fazer recordar o que é o Natal. Ou de outra forma, para quê o Natal?!
Ao sabor da pena… em Dia de Natal!

Para o mal...

E para o bem...
Se alguém ainda teria dúvidas sobre o efeitos mediáticos da televisão ou sobre os efeitos da construção do social pelo Comunicação Social, aqui fica o "tira teimas": Fonte Expresso On-line.
Há alguém que se lembra do que disse o Presidente Americano?!

Já tão perto

Publicado na edição do dia 18.12.2008 do Diário de Aveiro.

Sais Minerais
Já tão perto…

Aproxima-se a passos largos o final do ano de 2008. Restam apenas duas semanas.
Como é mais do que óbvio, por força da calendarização gregoriana, com o avizinhar do final de 2008, regressa mais um ‘novo’ ano.
Para além disso, a azáfama da quadra natalícia que, por mais crises anunciadas (ou vividas) ‘obriga’ a um quotidiano completamente alterado e alucinado, vai diluindo a perspectiva cinzenta, para não dizer negra, de um ano de 2009 perfeitamente caótico, recessivo e problemático a nível financeiro e social.
Mesmo que em muitas situações a crise seja motivo para posições e opções financeiras e comercias, no mínimo, duvidosas e pouco claras (a crise serve de “capa” e “desresponsabilização”), o que é certo é que ela existe, está presente, é uma realidade e veio para ficar.
Pior… o ano de 2009 vai ser, segundo apontam todos os índices, as referências e os “entendidos na matéria”, o ano mais grave.
A esta vivência natalícia que vai ‘amolecendo’ o espírito, as emoções e, até mesmo, a razão, acresce a ilusão das medidas que vão sendo adoptadas e anunciadas e que tocam muito directamente os cidadãos e, particularmente, as suas finanças domésticas: a sucessiva baixa da taxa de juro de referência (Euribor) e, por exemplo, o desagravamento do preço dos combustíveis. São, aparentemente, processos de combate à realidade económica mundial, pelo menos a Norte-Americana e a Europeia.
Mas será assim?!
Na prática, a diminuição do valor da taxa de juro, com repercussões, por exemplo, no crédito à habitação própria (e que alguns peritos em economia e finanças ousam apontar previsões para valores a rondar os 0,00%) será significativa e relevante?!
É que as descidas das taxas de juro, por si só, não resolverão a situação (mesmo que tal afirmação pareça algo do género “pobres e mal agradecidos”). Apesar da ‘moeda corrente’, para a maioria dos cidadãos, ser as queixas relacionadas com os encargos financeiros domésticos com as casas, parece que a solução desta crise não passa apenas pelo baixar das taxas de juro.
Se é verdade que as mensalidades referentes ao empréstimo à habitação poderão baixar e com algum significado, também não o é menos que o dinheiro ‘aforrado’ (poupança) valerá menos e renderá muito pouco.
Por outro lado, se a descida dos preços dos combustíveis e do valor das taxas de juro potenciam alguma sensação de melhoria financeira, nomeadamente a doméstica, é também um facto que assistimos ao agravamento da taxa de desemprego e à diminuição do poder de compra. Ou seja… os juros e as despesas mensais reduzem, mas aumenta a impossibilidade ou a dificuldade em haver dinheiro nas famílias para fazer face a esta certeza da crise e da vida.
E nada melhor para ilustrar esta realidade, já muito próxima, do que nos lembrarmos das mais recentes notícias: em 2009 a electricidade sofrerá aumentos na ordem dos 4,9% (o dobro da inflação prevista), o pão, o arroz e as portagens são alguns exemplos da subida do custo de vida. E não se espere que se fique por aqui.

Ao sabor da pena… e um Feliz Natal, para todos!

Soliariedades

Publicado na edição de quinta-feira, dia 11.12.2008, do Diário de Aveiro.

Sais Minerais
Solidariedades...

É nesta altura do ano que surgem as inúmeras e mais diversas campanhas de solidariedade, de angariação de fundos.
A época é favorável e “apropriada”. Mesmo entre o excesso do consumismo (apesar dos tempos anunciados de crise), há na generalidade dos cidadãos um estado de espírito que potencia sensibilidades e afectos.
Mas mesmo perante esta realidade, há uma importante questão que se levanta: porquê só nesta altura?!
O que é feito do sentido de solidariedade, da defesa da dignidade humana, da responsabilidade social e do sentido de comunidade?!
O exercício do direito de cidadania, a participação e o contributo para a construção da realidade social, deveriam ser uma permanente (ou pelo menos, mais regular) preocupação de cada cidadão.
Face às realidades sociais que hoje vivemos - crise financeira, falta de liquidez familiar, as dificuldades na educação e no ensino, o desemprego, os baixos rendimentos, o emprego precário, uma justiça desigual - só numa sociedade estruturada na participação, na exigência, na solidariedade e nos valores, poderemos conseguir um país mais desenvolvido, organizado e capaz de superar as dificuldades.
E é precisamente no campo dos valores (na sua defesa) que se sente um maior vazio na participação e responsabilidade cívicas dos cidadãos. Mesmo nas coisas mais simples da vida.
Numa altura em que se comemoram os 60 anos da proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos (10 de Dezembro de 1948) quer em muitos lugares deste planeta (África, América do Sul, etc.), quer nas situações e realidades do nosso quotidiano mais próximo (Portugal, Aveiro), ainda há muito a fazer para a sua promoção e aplicação concreta.
O reconhecimento da dignidade humana como garante da liberdade, da justiça e da paz; a igualdade entre todos os seres; o combate à discriminação, em todas as suas formas; a promoção da liberdade de expressão e pensamento; o acesso ao progresso social, cultural e económico e, fundamentalmente, o direito à vida e com dignidade, são valores que, há 60 anos, foram proclamados e que, nos mesmos 60 anos de existência, foram e são constantemente atropelados.
A indiferença, o egoísmo, a disputa desmedida, a ambição desmesurada, transformaram este nobre conjunto de princípios em meras disposições virtuais.
Quando tudo poderia ser mais simples nas relações entre os povos, as nações, as comunidades, os vizinhos ou na própria família, se o exposto no primeiro artigo da Declaração não passasse de mera intenção de princípios: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”.
Principalmente se a construção do “espaço público” (por exemplo, no conceito sociológico de Habermas) como motor do desenvolvimento social, tivesse a participação de todos os cidadãos na promoção da dignidade humana.

Ao sabor da pena…

Há 60 anos

Proclamação na ONU da Declaração Universal dos Direitos Humanos - 10.12.1948 (A/RES/217).
Artigo 1º
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.
60 anos de perfeita indiferença e desrespeito pela dignidade humana.

Repensar Aveiro...

Publicado na edição de sexta-feira, 5.12.08, n' O Aveiro.

Recentemente, por força da iniciativa da Câmara Municipal de Aveiro, várias personalidades e entidades (por exemplo, a Associação Comercial de Aveiro) encetaram esforços no sentido de repensarem a Avenida, criando sinergias para a sua requalificação e recuperação.
Nos dias de hoje, onde o individualismo, a ausência de valores, a descrença no papel da política (e por consequência, nos políticos) e dos partidos, tem marcado a sociedade actual, é evidentemente de louvar o empenho do sector associativo e dos cidadãos a título individual na cooperação e participação das importantes decisões da cidade.
A responsabilidade da gestão da “coisa” (res) pública (publica) cabe às autarquias, mas o direito à participação e à discussão, no fundo, o exercício da cidadania, cabe a todo e qualquer cidadão, numa co-responsabilidade social.
Por uma vez que seja, haja a oportunidade de não se estar sempre à espera do poder instituído (seja local, regional ou nacional).
Mas a questão de fundo não é, apenas, esta meritória participação pública no espaço público.
É sabido que a Avenida é um espaço de referência na cidade, não só pela forma como foi pensada e estruturada por Lourenço Peixinho, mas pelo que representa na história, no desenvolvimento e no presente de Aveiro. Se assim não fosse, não valeria a pena o esforço de se pensar nela. Mas Aveiro não é só a Avenida (mesmo que seja a “nossa” Avenida).
A Cidade tem outros espaços públicos que necessitam de serem repensados e que têm, também, o seu peso na vida aveirense.
Estes merecem igualmente a atenção, a preocupação e o esforço de todos, pelo desenvolvimento estruturado e sustentado da cidade.
Refiro-me ao Parque D. Pedro e à sua revitalização, bem como ao seu enquadramento com a Baixa de Sto. António.
Refiro-me à zona nascente da Estação (pós túnel, com o qual concordo) pela sua importância na acessibilidade e no conceito de mobilidade de um espaço urbano.
Refiro-me à zona da antiga Lota que deveria ter sido prioritária no programa Pólis.
Refiro-me à dinamização do Rossio e da zona Sul de Aveiro (rotunda do Marnoto) como processo de prolongamento (e não estrangulamento) da Avenida.
Refiro-me à marginal da Rua da Pega e à sua inactividade e desaproveitamento.
Refiro-me, por último, à zona envolvente à AveiroExpo e à zona envolvente da Urbanização da Forca (Alameda Silva Rocha), pela sua estagnação.
Aveiro pode e deve ser vista e pensada como um todo… por todos! Pelo seu desenvolvimento sustentado e articulado.

Como se esvazia um Partido.

Se ainda restavam dúvidas a alguém, eis como as mesmas são esclarecidas.
O PS, apesar de tudo e contra tudo, só por uma hecatombe ainda não deslumbrada, é que perderá as eleições.
Numa oportunidade política única, inteligentemente agendada e previsivelmente capitalizada pelo CDS e, consequentemente, pela Direita, eis que o PSD demonstra claramente o seu estado de "espírito", a sua (in)capacidade de ser alternativa e revela o que tem sido o seu sentido prático como oposição: esteve por um fio a suspensão da avaliação de professores (o que com muito esforço e lutas os sindicatos não tinham conseguido), resultando numa eficaz e verdadeira moção de censura ao governo Sócrates. Isto com o "apoio" de seis irreverentes deputados do PS.
Mas tudo acabou por ir "água abaixo", por causa do PSD: 30 deputados ausentes da Assembleia.
Para além da inegável falta de sentido de responsabilidade, uma autêntica falta de sentido político.
Assim, até eu era reeleito.

Um olhar...

Publicado na edição de quinta-feira, 27.11.08, do Diário de Aveiro.

Sais Minerais
Um olhar...

(...)
Qualquer crime que envolva crianças, seja qual for a sua dimensão ou tipologia, reveste-se de uma emotividade adicionada e de análises críticas mais acentuadas.
Normalmente, vem-nos à imaginação a monstruosidade dos factos e a tentativa de percepção dos nossos actos na eventualidade dos crimes ocorrerem com aqueles que nos são próximos. E o nosso consciente não consegue encontrar raciocínios lógicos que nos devolvam respostas para justificar os actos, principalmente pela fragilidade e realidade indefesa das vítimas.
As Crianças (e os idosos) merecem, por parte da sociedade e nas mais diversas áreas, um olhar diferente…
Daí que este processo tenha uma revolta acrescida.
Excluindo o envolvimento mediático dos “arguidos” (não cabe aqui qualquer julgamento público, pelo que eventuais condenações apenas pertencem à responsabilidade da decisão judicial), o que parecia ser a aplicação exemplar dos princípios fundamentais da justiça, face à dimensão social e política dos factos, transformou-se num descrédito, na indiferença e na decepção (para muitos acumulada com um sentimento de revolta). Demasiado tempo, demasiados factos paralelos, a hábil capacidade dos advogados para o contorno da lei e o atraso sucessivo do processo (recusas, recursos, excesso de testemunhos, incompatibilidades com os magistrados, etc).
Além disso, se nalguns casos o mediatismo da informação pode parecer incoerente e abusivo, convém não esquecer que fora os media, através do papel do jornalismo de investigação, que despoletaram toda a situação.
Durante décadas os gritos de angústia e revolta de muitas crianças foram sucessivamente silenciados, à custa de uma imagem irreal e incongruente da Instituição (ou de partes e de algumas realidades da mesma), do tráfico de influências e do peso das redes criminosas (ao caso, da pedofilia).
Às crianças e às vítimas “olhou-se” pouco (excepto o período de provedoria de Catalina Pestana, após 2002 e o trabalho da equipa de psicólogos de Pedro Strech). Onde estão? Como estão?
E as perguntas sucedem-se.
Se não fosse o papel do jornalista, que através de um exemplar jornalismo de investigação, trouxe para a esfera pública o que a esfera privada e secreta escondeu ao longo de muitos e muitos anos, qual seria a realidade de hoje na Casa Pia? Uma realidade das nove hora às dezoito horas e outra, bem distinta, à noite?! Alguma vez o pesadelo de muitas crianças e jovens terminaria?
Apesar de todo o mediatismo envolto no processo, há, segundo notícias e entrevistas recentes, alguma continuidade nos casos de abusos sexuais e pedofilia. Não há forma de pôr fim a este “inferno”?
Será que as crianças (ou algumas) da Casa Pia nasceram para sofrer assim tanto?!
E onde está a responsabilidade moral, social e política de quem, ao longo de muitos anos, “encobriu” tão sórdida realidade?
A justiça até pode colocar um fim a um processo arrastado ao longo de seis anos. O que muitos colocam em dúvida, é se a justiça estará preparada e capacitada para fazer justiça. Pelas crianças da Casa Pia.

Ao sabor da pena…