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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Soliariedades

Publicado na edição de quinta-feira, dia 11.12.2008, do Diário de Aveiro.

Sais Minerais
Solidariedades...

É nesta altura do ano que surgem as inúmeras e mais diversas campanhas de solidariedade, de angariação de fundos.
A época é favorável e “apropriada”. Mesmo entre o excesso do consumismo (apesar dos tempos anunciados de crise), há na generalidade dos cidadãos um estado de espírito que potencia sensibilidades e afectos.
Mas mesmo perante esta realidade, há uma importante questão que se levanta: porquê só nesta altura?!
O que é feito do sentido de solidariedade, da defesa da dignidade humana, da responsabilidade social e do sentido de comunidade?!
O exercício do direito de cidadania, a participação e o contributo para a construção da realidade social, deveriam ser uma permanente (ou pelo menos, mais regular) preocupação de cada cidadão.
Face às realidades sociais que hoje vivemos - crise financeira, falta de liquidez familiar, as dificuldades na educação e no ensino, o desemprego, os baixos rendimentos, o emprego precário, uma justiça desigual - só numa sociedade estruturada na participação, na exigência, na solidariedade e nos valores, poderemos conseguir um país mais desenvolvido, organizado e capaz de superar as dificuldades.
E é precisamente no campo dos valores (na sua defesa) que se sente um maior vazio na participação e responsabilidade cívicas dos cidadãos. Mesmo nas coisas mais simples da vida.
Numa altura em que se comemoram os 60 anos da proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos (10 de Dezembro de 1948) quer em muitos lugares deste planeta (África, América do Sul, etc.), quer nas situações e realidades do nosso quotidiano mais próximo (Portugal, Aveiro), ainda há muito a fazer para a sua promoção e aplicação concreta.
O reconhecimento da dignidade humana como garante da liberdade, da justiça e da paz; a igualdade entre todos os seres; o combate à discriminação, em todas as suas formas; a promoção da liberdade de expressão e pensamento; o acesso ao progresso social, cultural e económico e, fundamentalmente, o direito à vida e com dignidade, são valores que, há 60 anos, foram proclamados e que, nos mesmos 60 anos de existência, foram e são constantemente atropelados.
A indiferença, o egoísmo, a disputa desmedida, a ambição desmesurada, transformaram este nobre conjunto de princípios em meras disposições virtuais.
Quando tudo poderia ser mais simples nas relações entre os povos, as nações, as comunidades, os vizinhos ou na própria família, se o exposto no primeiro artigo da Declaração não passasse de mera intenção de princípios: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”.
Principalmente se a construção do “espaço público” (por exemplo, no conceito sociológico de Habermas) como motor do desenvolvimento social, tivesse a participação de todos os cidadãos na promoção da dignidade humana.

Ao sabor da pena…