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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

“Quo Vadis” Avenida…

Publicado na edição de hoje, 29.04.2012, do Diário de Aveiro.

Entre a Proa e a Ré

“Quo Vadis” Avenida…

No dia 24 de Abril a Câmara Municipal de Aveiro promoveu, na sede da Junta de Freguesia da Vera Cruz, a apresentação pública da opção para a regeneração da Avenida Dr. Lourenço Peixinho, a emblemática artéria urbana.

A opção recai sobre uma das soluções apresentadas por um trabalho da Universidade de Aveiro, coordenado pelo Prof. Jorge Carvalho.

Sem questionar o valor e as propostas apresentadas, tenho, no entanto, algumas reservas quanto ao resultado prático final com vista a reabilitar a zona mais nobre da cidade de Aveiro. Nomeadamente em relação a três vertentes: mobilidade, atractividade e acessibilidade.

No que respeita à mobilidade, se é claro que merece especial atenção o condicionamento da circulação automóvel, já não me parece tão claro que a retirada completa dos “carros” da Avenida seja benéfica, para além de ser questionável a existência de estacionamento subterrâneo (note-se a existência de espaços de estacionamento do lado nascente da Estação, aos quais acresce igualmente a existência de três espaços: Forum, Ana Vieira e Manuel Firmino, com taxas de ocupação muito reduzidas). Até porque esta solução poderá condicionar e prejudicar quem ainda habita na Avenida, bem como a sobrecarga das zonas envolventes e artérias afluentes. Penso que teria sido mais vantajoso manter o estacionamento à superfície, em espinha, condicionando a circulação apenas a uma faixa de rodagem (em cada sentido) e com a eliminação da placa central (apenas um separador mínimo) o que permitiria ainda o alargamento dos passeios.

Por outro lado, a colocação de duas praças em cada extremidade da Avenida só vai servir de “tampão” e de isolamento duma artéria que se perspectivava mais viva e acessível. Além disso, a criação de praças só tem sentido se as mesmas forem complementadas com alguma atractividade. Caso contrário, iremos ter em Aveiro mais uma praça sem vida como acontece, por exemplo, com a Praça Marquês de Pombal. Há ainda a acrescentar um outro dado que me parece não estar contemplado. A existência de praças pressupõe a consideração da chamada “zona de conforto” condicionada, por exemplo, com a circulação do vento. Esta “zona de conforto” para áreas pedonais comporta ventos entre 18 a 20 km/h. Segundo um estudo recentemente apresentado no último “Aveiro à Conversa” pelo Prof. Carlos Borrego a zona nascente da Avenida, junto à Estação, não é, na maior parte dos casos, uma zona de conforto para áreas pedonais.

Há ainda um outro aspecto a ter em conta na colocação destas duas praças. A eliminação da continuidade da Avenida até ao Rossio ou até à nova zona a nascente da Estação, no antigo “Bairro do Vouga”.

Mas, a par disto tudo e de qualquer projecto ou estudo, por mais válido e sustentável que seja, há uma outra importante realidade: as pessoas. E curiosamente o maior problema da Avenida reside precisamente nas pessoas, ou mais concretamente, na ausência de pessoas. Mas pessoas que dêem vida à Avenida e vivam na Avenida, porque esse foi um dos factores determinantes para a sua desertificação e degradação: o abandono dos edifícios, dos apartamentos, originando a descaracterização social e urbana do espaço.

Por isso, podem-se alargar os passeios, pode-se diminuir o espaço viário, pode-se retirar o estacionamento à superfície, podem-se criar espaços verdes, pode-se promover atractividade (cultural, comercial), pode-se, inclusivamente, recuperar todo o edificado.

Mas se não houver pessoas para habitar aquele que é um dos ex-libris e referências do espaço urbano aveirense, a Avenida Dr. Lourenço Peixinho continuará sem vida, por mais projectos e estudos que se promovam.

Uma boa semana…

Falta de comparência...

Publicado na edição de hoje, 25 de Abril, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos
Falta de comparência.

Cabe, a iniciar este texto, uma declaração de interesses: do ponto de vista pessoal, por princípio, o “meu” 25 de Abril é comemorado a 25 de Novembro.
Não que menospreze ou desvalorize a chamada “revolução dos cravos”. Entendo, de facto, que a liberdade foi (re)conquistada na madrugada de 25 de Abril de 1974. No entanto, entendo que a democracia foi instaurada a 25 de Novembro de 1975, após o chamado “verão quente”.
Não vou, no entanto, querer abordar aqui esta diferenciação de visão dos acontecimentos.
O que importa assinalar, independentemente dos pontos de vista, é que, hoje, comemora-se o trigésimo oitavo ano sobre os acontecimentos da madrugada do dia 25 de abril de 74. E a verdade é que, nesse dia, às “costas” de um destemido Capitão Salgueiro Maia a liberdade voltou a sair à rua.
De um processo militar contestatário até ao abraçar da liberdade pelos portugueses, a verdade é que a liberdade, a democracia e o 25 de abril não são propriedade de ninguém, mas sim valores de todos. No entanto, este “todos”, obviamente, tiveram rosto, determinação pessoal, vontade e coragem próprias, tiveram voz. Dos inúmeros militares comandados pelos “capitães de abril” (que muitos seriam também os de “novembro”) até a nomes tão conhecidos como Álvaro Cunhal, Mário Soares (e mais tarde, no período contra-revolucionário: Sá Carneiro, Adelino Amaro da Costa ou Freitas do Amaral), a reconquista da democracia e da liberdade fez-se também com todos os que, com cravo ou sem cravo, encheram as ruas, não só de Lisboa como do país.
Mesmo assim, neste momento ímpar da história política e social portuguesa são marcos e figuras incontornáveis aqueles que deram início ao processo de destituição da estrutura política e governativa do Estado Novo (num exercício meramente exemplificativo): Otelo Saraiva de Carvalho, Vasco Gonçalves, Vitor Alves, Sousa e Castro, Costa Neves e, obviamente, Salgueiro Maia, entre outros… a que se juntaram, no pós-25 de abril, figuras políticas como Álvaro Cunhal, Mário Soares, Manuel Alegre…
Passados estes 38 anos, muitos dos portugueses que hoje são já alicerce social, científico, económico e até político do país, são da geração pós-revolução que têm como referência uma realidade histórica (social e política) mas não vivencial ou real.
Daí que, o alheamento por parte de alguns importantes rostos do “25 de abril” das comemorações oficiais de hoje (associação 25 de Abril, Mário Soares, Manuel Alegre), independentemente da legitimidade das razões apontadas, apenas terão como consequência a desvalorização deste marco importante e significativo na história portuguesa, apenas contribuirão para a marginalização da celebração da revolução e reconquista da liberdade e do seu valor democrático e social.
Passe o exagero da comparação, mas faz lembrar um clube que, habituado a ganhar sempre, de repente deita tudo a perder com uma inqualificável falta de comparência.

Respeitosamente... Obrigado, Miguel Portas.

Podemos não comungar os mesmos princípios...
Podemos não partilhar a mesma concepção do mundo e da sociedade...
Podemos não abraçar os mesmos valores ideológicos...
Até podemos dizer: é imenso (muito imenso) o que nos separa; muito mais do que aquilo que nos une. A não ser o mais importante e o mais valioso: o respeito, a consideração, o reconhecimento...

Miguel Portas não me diz nada partidária e ideologicamente... mas diz-me muito, quase tudo politicamente.
A forma como desempenhou e abraçou as suas causas. A forma como respeitou a diversidade e a pluralidade. A forma como construiu, mesmo fora da ribalta, uma sociedade portuguesa e europeia mais justa, solidária e democrática.

Honra lhe seja feita... reconheça-se o seu valor, mérito e humanismo.

A POLÍTICA portuguesa ficou muito, mas mesmo muito, mais pobre.

Perdeu-se um Homem, um Político na sua verdadeira concepção!

O país, incluindo os adversários (que não inimigos), só pode dizer:

Até sempre e OBRIGADO, Miguel Portas.


Do livro ou da leitura…

Publicado na edição de hoje, 22.04.2012, do Diário de Aveiro.

Entre a Proa e a Ré
Do livro ou da leitura…


No próximo dia 23 de abril comemora-se o Dia Mundial do Livro, simultaneamente com o Dia dos Direitos do Autor. Se bem que, neste caso, estaremos a falara não apenas dos escritores mas de todos os criadores de obras intelectuais de natureza literária, artística ou científica (sejam eles direitos morais/pessoais ou patrimoniais).
É inquestionável a relevância que a escrita tem no desenvolvimento social desde os tempos da Antiguidade, bem como o papel que pode desempenhar na valorização individual de cada ser humano. Pelo saber, pelo conhecimento, pela sinalização da história…
Daí que um livro seja, claramente, mais do que um somatório de palavras, de conceitos, de fantasia. São olhares sobre o mundo, a existência, a história, a sociedade, a investigação, a descoberta…
Mas seria muito mais interessante que, neste dia 23 de abril, se celebrasse antes o Dia da Leitura. Porque o conhecimento, o saber, a história, o olhar sobre a sociedade, a informação, ultrapassam as folhas encadernadas de um livro. Parece-me redutor que este dia seja apenas celebrado ao nível do conto, do romance, da poesia, e fiquem por lembrar todo o universo do livro (científico, investigador, histórico, de outros estilos literários como a banda desenhada, por exemplo).
Por outro lado, seria importante e não menos relevante que neste eventual “dia da leitura” (não só do livro) se promovesse, por exemplo, também o hábito e o interesse pela leitura dos jornais.
Uma sociedade evoluída constrói-se e alicerça-se, igualmente, numa autêntica liberdade de imprensa e de expressão.
Como refere Wright Mills “entre a consciência e a existência está a comunicação que influencia a consciência que os homens têm da sua existência”.
Hoje, lê-se, ouve-se e fala-se de política, de ciência, de cultura, da guerra e da fome, da economia, da educação, do trabalho, das pessoas e dos espaços, de uma forma global e consciente através da acção dos meios de comunicação de massas, nomeadamente na imprensa escrita.
Numa altura em que uma sondagem internacional, revelada na semana passada e promovida pela Edelman Trust Barometer, dá mostra de que a confiança nos órgãos de comunicação social aumentou 51% (em relação a 2011) – a mesma sondagem que revela que a confiança dos portugueses nos governos é ainda muito baixa (embora tenha subido de 9 para 29%) – só faz sentido aproveitar esta consciência colectiva do papel e da importância que os jornais têm na afirmação da realidade e no desenvolvimento das sociedades e das comunidades.
Porque um jornal também é leitura, também é saber, conhecimento e sentido crítico.

Uma boa semana e boas leituras…

Nem tudo o que parece... é!


No seguimento da notícia divulgada na edição de hoje, 19 de abril 2012, do Jornal de Notícias – página 27, secção Norte/Sul, com o título “Construtor desiste de fazer ponte polémica sobre a ria” não queria deixar de tecer algumas considerações que me parecem pertinentes, face à ilusão que a situação possa criar.

É curioso que, aquando deste meu texto (“No aproveitar nem sempre está o ganho…”) e apesar da sua leitura ter sido descontextualizada (como posteriormente esclarecei – “Esclarecimento para ‘Amigos’…”), fui imediatamente alvo de críticas e de divulgação das mesmas pela maillinglist, sob a “condenação” de parcialidade, falta de rigor e injustiça. Isto porque recaiu sob a leitura do texto, apenas e isoladamente, o facto de eu ter referido que os Amigos d’Avenida não eram democráticos, nem pluralistas.
Acontece que, mesmo após o texto legítimo de contraditório e publicado no Diário de Aveiro (“Transparência, pluralidade e democracia participativa!), surgiram dois artigos de opinião manifestando a sua concordância com a construção da ponte pedonal sob o canal central ("A Torre Eiffel e o Canal Central" de Ferreira Seabra e "As Pontes" de Lacerda Pais, Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Aveiro)… Nem uma referência aos mesmos.

Mal foi noticiado pela Rádio Terra Nova o parecer favorável à construção da ponte por parte a Agência Portuguesa do Ambiente, surgiu de imediato a resposta pronta contestando a autorização oficial para a construção da ponte (“O Movimento Cívico por Aveiro – Contra a Construção da Ponte Pedonal, contesta licença para a construção da ponte”). Aliás, é conhecido o parecer da ARH Centro que, apesar das 3500 assinaturas recolhidas, emitiu autorização/licenciamento para a construção da ponte, mas não é público o parecer que a própria ARH Centro solicitou à Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas.

Por outro lado, o que nos leva a podermos afirmar que a razão está do lado do empreiteiro e não do lado da câmara?!
O empreiteiro apresenta a sua versão: atraso no início da execução da obra para reclamar a desistência e respectiva indemnização. No entanto, é curioso que o mesmo defende uma rescisão por mútuo acordo. O que leva a prever que, em caso de recurso judicial, a garantia de sucesso será muito difícil. Então vejamos mais pormenorizadamente: alegar e reclamar atraso na obra porque foi solicitada a sua suspensão temporária por causa das festas de S. Gonçalinho é, no mínimo, absurdo. Porque, tendo acontecido de facto, tal situação requereu a sua concordância. Então reclama de quê? Da sua própria opção?
Todos os que lidam com contratações públicas (seja ao nível autárquico, seja que nível for) por certo são conhecedores de mil e uma histórias e situações de derrapagens dos valores das obras às custas das mais-valias e trabalhos a mais. Era assim até há pouco tempo atrás. Acontece que os hábitos não mudaram, mas a lei é que foi, felizmente, sendo ajustada, limitando percentualmente os valores dos trabalhos a mais.
É que antigamente ganhavam-se concursos por valores apresentados relativamente baixos que depois eram compensados por trabalhos a mais e mais valias nas obras. Hoje quem assume um valor concursal tem de assumir a responsabilidade do mesmo e os compromissos assumidos.
Nem tudo o que parece… é!

E fez-se luz... apesar dos tiros nos pés!

Sempre concordei e defendi, principalmente na política, que uma oposição forte, consistente e coerente seria um  excelente caminho para que um país pudesse ter uma governação forte.
E o espelho desta realidade está bem patente nos dias de hoje em Portugal.
Alguns, se não a maioria, dos erros de governação de Passos Coelho e dos seus pares ministeriais têm, em parte (ou a sua quota parte) de responsabilidade pela fraqueza política e estratégica do maior partido da oposição e dos seu líder: PS e António José Seguro.
Não quero com isto dizer que uma oposição forte possa tornar um governo menos bom num perfeitamente eficiente na governação. Mas pelo menos, com uma estratégia consistente e coerente tornaria o governo mais cuidadoso na sua gestão, mais atento ao país, menos precipitado nas suas estratégias, mais justo e equilibrado na aplicação das suas políticas.
Mas infelizmente para o país e para os portugueses temos um líder da oposição bem perdido, sem estratégia, som consistência, sem força (interna e externamente). Não critica ou questiona o que verdadeiramente devia e, por outro lado, foca-se no que não devia e no que resulta em claros "tiros nos pés".
E o caso mais recente (entre inúmeros anteriores) tem a ver com as declarações de António José Seguro em Mangualde, no final da semana passada.
Para o líder socialista tornou-se urgente e primordial que o Governo reveja, com urgência, as rendas nos sectores energético, nomeadamente electricidade e gás.
Já há cerca de um mês tinha defendido que não via o governo do PSD/CDS com forte capacidade no combate às pressões externas e dos interesses instalados - "Sem energia para combater pressões".
É óbvio que a redução dos encargos do Estado com estas rendas e com as despesas inerentes às lesivas parcerias público-privadas são sempre desejáveis quer para equilibrar as contas públicas, quer para "aliviar" os sacrifícios solicitados/impostos aos cidadãos.
Estaríamos, portanto, em perfeita sintonia com esta posição do PS (do seu líder, pelo menos) não fosse o total disparate político (mais um). É que começa a ser desgastante esta continua tentativa de marcar a agenda e de necessidade de afirmação (para além da pretensa vontade em "mostrar" trabalho), simultânea com uma gritante mostra de crise amnésica política.
É que António José Seguro esquece dois aspectos fundamentais e incontornáveis para o seu partido e para aquilo que foi a política energética nos últimos seis anos: primeiro, Seguro foi deputado e membro das estruturas nacionais do PS quando José Sócrates exerceu as funções de Primeiro-ministro; segundo, foi durante a última vigência governativa socialista que este tipo de políticas energéticas, que agora contesta, foram implementadas, bem como as contrapartidas que vigoram e os diplomas legais que as sustentam.
Isto faz algum sentido? Então ainda há cerca de um ano defendia (ou pelo menos não fez chegar "recado", nem proposta, em contrário ao seu líder da altura) o actual sistema e agora coloca-o em causa?!
Enquanto governo, Seguro sustenta o problema... agora que é oposição, para marcar uma imagem (que não tem) de defensor da pátria, vem exigir que este Governo resolva urgentemente o "problema" gerado pelo próprio PS (quando à frente dos destinos do país).
E mais grave ainda (porque isto não é só um tiro no pé, é uma verdadeira rajada de metralhadora nos dois pés) António José Seguro, contrariando tudo o que vem afirmando em relação à Troika e ao programa de resgate (que ele afirma, de viva voz e a todos os ventos, que não é da sua responsabilidade e que não o assinou), desafia Pedro Passos Coelho a começar a fazer aquilo que a Troika manda: reduzir as rendas excessivas (conforme declarou em Bragança, ontem - 17.04, nas jornadas parlamentares socialistas).
Enfim... como diria a ex-Ministra da Educação: "É uma Festa"!!!

Um país em “festa”…


Publicado na edição de hoje, 18.04.2012, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos
Um país em “festa”…

Já conhecíamos a, já esquecida, expressão do “porreiro, pá”!
A semana passada ficou marcada, nas correspondentes sessões da comissão parlamentar de educação, por um novo paradigma sobre a gestão de dinheiros públicos e por uma nova expressão: “uma festa”.
Foi esta a expressão resumida da ex-ministra da Educação quando ouvida no parlamento, em sede de comissão da educação, a propósito da Parque Escolar. Para sermos mais precisos, Maria de Lurdes Rodrigues afirmou que “o programa da Parque Escolar foi uma festa para o país. Uma festa, disse a ex-ministra, para as escolas, para os alunos, para a arquitectura, para a engenharia, para o emprego e para a economia.”
Mas o que a ex-titular da pasta da educação não referiu é que esta festa teve (ou tem) um custo que comporta o efeito contrário ao desejado: hipotecar o futuro da educação nos próximos 20 anos, pelo menos.
Ninguém de bom-senso e boa-fé questionará a importância da requalificação do parque escolar nacional. Ninguém, independente de terem ou não filhos em idade escolar, colocará em causa que a qualidade de ensino e aprendizagem também dependem das condições físicas onde a experiência e o saber são transmitidos.
O que está em causa nesta “festa” amarga para o país e para a educação/ensino das crianças e dos jovens é o facilitismo com que tão facilmente se cai no despesismo, na megalomania, na falta de sentido prático e na ausência de consistência entre a realidade e a necessidade equilibrada e sustentada. Porque não é só o investimento desmesurado que está aqui em causa (aliás, algo que é comum a todos os processos de parcerias público-privadas onde o Estado é sempre o “perdedor” e a “presa”). São também os consequentes e elevados custos de manutenção que tornam o sistema insustentável.
Mas há ainda outra realidade que importa reflectir. A total ausência de responsabilidades, para além das políticas (e, normalmente, manifestadas apenas nas urnas) em todo este processo.
É que a “festa” que a ex-ministra da Educação tão calorosamente denominou refere-se a dois relatórios claramente negativos (Tribunal de Contas e Inspecção-geral das Finanças) onde são apontados alguns alguns actos de gestão da empresa responsável pela modernização das escolas como actos “incompreensíveis" e "injustificáveis". Tais actos levaram a uma derrapagem orçamental superior a 200% quando apenas estão requalificadas 205 das 332 escolas previstas (para além de serem apontados incumprimentos legais no valor de 500 milhões de euros). E isto é uma “festa” ou como adianta ainda a ex-governante um claro exemplo de “boa prática de gestão”. Mesmo que o relatório do Tribunal de Contas tenha detectado um aumento superior ao triplo de um orçamento inicial de 940 milhões de euros, terminando em 3.168 milhões. Aliás, é de facto o espelho do cuidado que há na gestão dos bens públicos em Portugal: segundo a Parque Escolar a derrapagem orçamental deveu-se, em primeira instância, ao facto de projecto ter sido estruturado apenas em estimativas. O que só traduz a velha máxima da boa gestão pública: “faça-se e logo se verá como se paga” (ou não).
Infelizmente, a responsabilidade, mais uma vez, acabará por morrer solteira. E quem vier atrás que feche a porta.
Siga a Festa!!!

Então e agora? Nada?!

A publicação deste meu texto ("No aproveitar nem sempre está o ganho") suscitou algumas reacções criticas mesmo que desviadas do contexto da crónica ("Sobre os Amigos d'Avenida") e posteriormente por mim elucidadas ("Esclarecimento para "Amigos").

Numa das diversas trocas de concepções, visões e análises das questões levantadas e criticadas, estava a não aceitação da observação que fiz em relação ao que poderia ser a consequência do "aproveitamento político" que  é apetecível face à visibilidade das acções do movimento: "a falta de pluralismo e democraticidade" que contraria o que esteve na génese dos Amigos d'Avenida.

No entanto, apesar dos esclarecimentos (por exemplo: "Democracia Participativa em Aveiro") o que é um facto é que surgiram dois textos recentes (e após os acontecimentos acima descritos) - "A Torre Eiffel e o Canal Central" de Ferreira Seabra e "As Pontes" de Lacerda Pais (Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Aveiro)... e nem surgiu um link, uma observação ou um comentário mesmo que a contrariar o exposto!!!

Pluralidade é haver espaço a várias concepções, visões, opiniões. O contrário é a parcialidade!

FARAV 2012: um alerta...

Publicado na edição de hoje, 11.04.2012, do Diário de Aveiro

Debaixo dos Arcos
Farav2012: um alerta…

A Associação “A Barrica” aproveitou, e bem, o período da Páscoa e o respectivo fluxo de turistas espanhóis que visitam Aveiro (apesar de em menor quantidade este ano) para promover a Feira de Artesanato da Primavera.
Até aqui tudo normal, não fora três pormenores que merecem destaque.
O primeiro tem a ver com a escassez de espaço disponível apara a realização do evento, devido à necessidade de implantação do estaleiro de suporte à construção da futura ponte pedonal sobre o canal central.
O segundo está relacionado com a insistência na realização de eventos (este e outros de várias vertentes) apenas no espaço do Rossio, deixando “despido” e cada vez mais desertificado contínuo Praça Melo Freitas, Rua Direita e Praça Marquês de Pombal.
O terceiro com o facto de não se conseguir, em Aveiro, interligar actividades e interesses em objectivos comuns. Ou seja, as acções continuam a existir de forma isolada, sectorizada, perdendo escala e dimensão.
E estes três aspectos, que do meu modesto ponto de vista, marcaram de forma menos positiva a Feira da Primavera, podem condicionar a realização da próxima FARAV que deveria ser o maior cartaz de artesanato de Aveiro e da região.
Tal como aqui expressei no ano passado (edição de 27 de Julho de 2011), entendo que a FARAV deveria voltar ao Parque de Exposições de Aveiro. Apesar da centralidade do Rossio não acho que seja por se realizar a FARAV naquele espaço que a vá aproximar dos aveirenses, nem que aquele seja o mais adequado para o certame (seja pelas infra-estruturas reduzidas, seja pelas acessibilidades, pelo trânsito, pelas escassez de estacionamento – no fundo, a centralidade situa-se no meio de muito caos urbano). Acresce, nesta data, a instalação do estaleiro para a obra da ponte pedonal.
E não colhe o argumento da distância ou da localização do Parque de Exposições. A Feira de Março sobe o seu número de visitas ano após ano, a Automobilia tem sempre “lotação” esgotada, e o Festival do Bacalhau, no Jardim Oudinot – Ílhavo, para onde se deslocam milhares de aveirenses. Daí que a questão da distância ou localização seja secundária (se não teríamos de fazer regressar a Feira de Março ao seu local de origem: o Rossio).
A questão da FARAV, como eventualmente a Feira do Livro, passa por dimensioná-la, estruturá-la, quem sabe repensar a sua duração, mas principalmente torná-la mais atractiva, promovendo, a par do artesanato, outros momentos e motivos de interesse para os cidadãos. Não me parece descabido que exista uma Feira do Artesanato, da Gastronomia e do Livro simultaneamente e no mesmo espaço físico. Ou ainda acrescentando o Festival de Folclore. Seria interessante, por exemplo, que a Feira de Artesanato pudesse ter uma complementaridade cultural e de lazer (para além da gastronómica) com qualidade e que cativasse a população e os turistas que acorrem a Aveiro, nesta altura do ano.
Por último, tal como um congresso se deve realizar no espaço próprio – o Centro de Congressos; o teatro e a dança devem ocupar a sua “casa” natural e por excelência – o Teatro Aveirense; o futebol deve encher as bancadas do Estádio Municipal de Aveiro; as exposições devem abrir portas no Museu da Cidade ou nas Galerias Municipais; do mesmo modo, as feiras por excelência devem merecer o seu destaque e a sua valorização no seu espaço próprio – o Parque de Exposições de Aveiro, sem querer menosprezar a realização de eventos no espaço público.
Se assim não for, ao menos que haja a sensibilidade e coragem política para alargar a FARAV entre o Rossio, Praça Melo Freitas, Rua Direita e Praça Marquês de Pombal. Há que valorizar uma feira que merece destaque e lugar privilegiado em Aveiro: a FARAV.

Semana Reformista

Publicado na edição de hoje, 8.04.2012, do Diário de Aveiro.
Entre a Proa e a Ré
Semana Reformista…


Lapso é um erro...e errar é humano. Mas mentir é enganar e ludibriar.
E isto não é um lapso de interpretação, uma falha de cálculo, um erro normal: "Subsídios de férias e de natal só serão repostos a partir de 2015 e de forma gradual", afirmou o Primeiro-ministro, esta semana, em entrevista à Rádio Renascença e que despoletou um conjunto de reacções dos vários partidos políticos, dos sindicatos, e no “confronto” entre o ministro das Finanças e as bancadas da Assembleia da República no debate sobre o Orçamento Rectificativo.
Por mais que o Ministro das Finanças venha agora a público equacionar que se tenha enganado e tenha sido um lapso as declarações que proferiu no final de 2011, a verdade é que desde a primeira hora o que foi afirmado publicamente, reafirmado, anunciado e publicitado foi que os cortes nos subsídios de férias e de natal dos funcionários públicos teriam um carácter provisório e vigorariam em 2012 e 2013: tome-se como exemplo a entrevista do ministro Vítor Gaspar à RTP a 17 de outubro de 2001; o anúncio de Pedro Passos Coelho noticiado no Jornal de Negócios em 13 de outubro de 2011, sob o título “ Funcionários públicos e pensionistas perdem subsídio de férias e de Natal até ao fim de 2013”; também na mesma data (13 de outubro de 2011) a Agência Financeira noticiava que o Primeiro-ministro declarou que o “Governo elimina subsídio de férias e Natal à função pública” em 2012 e 2013; ou ainda o exemplo das declarações de Passos Coelho, na sua deslocação ao Brasil, quando questionado pelos jornalistas sobre a eventual possibilidade de diluição dos subsídios de natal e férias nos salários afirmou "peço que não confunda com aquilo que nós propusemos para os próximos dois anos" - 2012 e 2013 (RTP, 28 de outubro de 2011).
Estas afirmações do Primeiro-ministro e do ministro das Finanças seriam ainda reforçadas pelas declarações da secretária de Estado do Tesouro, Maria Luís Albuquerque (15 de novembro de 2011 ou pelo ministro-Adjunto, Miguel Relvas onde reafirmam que cortes dos subsídios vigorariam por dois anos e que em 2014 tudo seria feito para serem repostos.
Ou seja, desde Outubro de 2011 que altos responsáveis do Governo da Nação nunca colocaram a questão da reposição dos subsídios (natal e férias) em 2015. Nem mesmo, colocando-se a hipótese do lapso de contagem de tempo de período de vigência da ajuda externa, tais afirmações e notícias foram corrigidas ou desmentidas em cerca de ano e meio… até hoje (semana passada).
O que mudou então para Pedro Passos Coelho vir agora dizer que os subsídios de férias e de natal serão repostos a partir de 2015 e de forma gradual?! Algo simples mas que tem “ferido” a imagem de credibilidade do governo, já por diversas vezes (provavelmente, demasiadas vezes).
Até posso dar o benefício da dúvida na questão da mentira deliberada, do enganar descaradamente o povo (argumento tão “querido” e recorrente por parte dos partidos de esquerda). Mas o que não se pode aceitar é que o Governo queira agora enganar as pessoas com argumentações incoerentes e sem consistência nenhuma. Mais… lamenta-se que, depois do Primeiro-ministro ter lançado a “confusão” e ter proferido as afirmações, tenha de ser o ministro das Finanças a “carregar” o ónus do confronto político e a assumir as responsabilidades de algo que o ultrapassa. Infelizmente, algo “déjà vu” muito recentemente…
A verdade é que toda esta questão surge precisamente após as declarações de um alto responsável europeu que integra a equipa de avaliação da execução do memorando de ajuda externa, Peter Weiss, e que afirmou, publicamente, a necessidade de Portugal terminar definitivamente com o pagamento do 13º e 14º mês na Função Pública. Afirmação que, mais do que uma simples sugestão, se afigurou com um claro “recado”.
Se tal não tivesse acontecido ainda hoje se manteriam as previsões e afirmações iniciais. Tudo o que se disser fora deste contexto e realidade é pura demagogia.
Assim como é demagogia o facto de se "esconder" ou, pelo menos, não se tornar clara a posição e intenção do governo em perspectivar a anulação do 13º e 14º. Seja de forma definitiva, seja diluída nos 12 meses de vencimentos (o que significará, em muitos casos, num encapotado aumento salarial, mas com resultados práticos contrários: mudança de escalão, maior incidência do IRS, menor carga salarial anua).
Mais uma vez o Governo demonstrou uma evidente incapacidade para assumir riscos, garantias dadas, estratégias delineadas... Por outro lado, um infeliz apetência para mudar de políticas e convicções em função das pressões, sejam elas externas como o caso da Troika na questão das contas públicas, sejam elas internas: caso do aumento do IVA, por exemplo, na cultura (aumento nos espectáculos musicais ou desportivos, teatros, museus, edição musical, mas manteve-se no sector livreiro, curiosamente o sector de “origem” do secretário de Estado da Cultura); o caso das isenções (ou adaptações como prefere o governo) dos cortes salariais no sector empresarial e público do Estado; o caso dos municípios na reforma administrativa mantendo apenas o elo mais fraco – as freguesias; a ausência de acção reformista no sector empresarial do Estado, institutos públicos e parcerias público-privadas; a pressão do sector energético, das comunicações ou dos combustíveis (que já se encontram em patamares históricos), entre outros.
É importante que o Governo assuma a estratégia, as políticas necessárias, de forma justa e equitativa... mas que não tente enganar quem mais sacrifícios fez até hoje. Isso é desonestidade política. E disso ficámos já muito fartos.
Uma boa semana.

Lapso é um erro...

... e errar é humano.
Mentir é enganar e ludibriar.
E isto não é um lapso de interpretação, uma falha de cálculo, um erro normal: "Subsídios de férias e de natal só serão repostos a partir de 2015 e de forma gradual" (afirmou o primeiro-Ministro em entrevista à Rádio Renascença).
Por mais que o Ministro das Finanças venha agora a público equacionar que se tenha enganado, a verdade é que desde a primeira hora o que foi afirmado publicamente, reafirmado, anunciado e publicitado foi que os cortes nos subsídios de férias e de natal dos funcionários públicos teriam um carácter provisório e vigorariam em 2012 e 2013.
- Primeiro-ministro não afasta hipótese de diluir os subsídios de férias e Natal nos salários (Pedro Passos Coelho, no Brasil, a 28 de outubro de 2011, onde refere "Peço que não confunda com aquilo que nós propusemos para os próximos dois anos" - 2012 e 2013)
E até o ministro-Adjunto, Miguel Relvas, tinha afirmado, em 2011, que os cortes vigorariam por dois anos e que em 2014 tudo seria feito para serem repostos.

Ou seja, desde Outubro de 2011 que altos responsáveis do Governo da Nação nunca colocaram a questão da reposição dos subsídios (natal e férias) em 2015. Mesmo que se considere, porque nada foi dito em contrário, que a reposição após 2013 pudesse ser gradual. Nem é isso que está em causa.

O que mudou então para Pedro Passos Coelho vir agora dizer que os subsídios de férias e de natal serão repostos a partir (já que de forma gradual) de 2015?!
Até dou o benefício da dúvida na questão da mentira deliberada, do enganar descaradamente o povo.
Mas o que não posso aceitar é que queiram enganar as pessoas com argumentações incoerentes e sem consistência nenhuma.
A verdade é que toda esta questão surge precisamente após as declarações de um alto responsável europeu, Peter Weiss, que afirmou, publicamente, a necessidade de Portugal terminar definitivamente com o pagamento do 13º e 14º mês na Função Pública. Se tal não tivesse acontecido ainda hoje se manteria as previsões iniciais. Tudo o que se disser a seguir é pura demagogia.
Assim como é demagogia o facto de se "esconder", ou pelo menos não se tornar clara, a posição do governo em perspectivar a anulação do 13º e 14º. Seja de forma definitiva, seja diluída nos 12 meses de vencimentos (o que significará, em muitos casos, num encapotado aumento salarial, mas com resultados práticos contrários: mudança de escalão, maior incidência do IRS).

Mais uma vez o Governo mostra uma evidente incapacidade para assumir riscos, garantias dadas... Por outro lado um infeliz apetência para mudar de estratégia e convicção em função das pressões, sejam elas internas (caso dos municípios na reforma administrativa, energia, etc), caso da Troika na questão das contas públicas.

Assumam a estratégia, as políticas necessárias, de fora justa e equitativa... mas não tentem enganar que mais sacrifícios fez até hoje. Isso é desonestidade política. E disso ficámos já muito fartos.

Esclarecimento para "Amigos"

Este meu texto - "No aproveitar nem sempre está o ganho" (publicado na edição de quarta-feira, dia 4 de Abril, do Diário de Aveiro) motivou, para já, duas críticas (legítimas) do José Carlos Mota e do Paulo Lousinha, nomeadamente no que respeita à parte dos Amigos d'Avenida (pena que tenha sido tudo retirado do contexto geral do artigo).

Vamos então por partes, esclarecer as dúvidas já que as reacções, conforme já tive oportunidade de explicar aos dois, se fundamentam em erradas interpretações (ou, reconheço, na possibilidade de me ter explicado de forma pouco clara).

Para não me alongar e perder em considerandos que não interessam, vou usar as expressões/adjectivações expressas pelo José Carlos Mota na divulgação do meu texto:

1. Injustas - O que pretendi dizer no texto, e na parte que diz respeito ao movimento, não foi criticar a legitimidade do exercício de cidadania. Aliás direito que cabe a cada um dos cidadãos, seja de forma isolada, seja em associação e que sempre preservei e defendi publicamente (e já por diversas vezes usado plo José Carlos Mota e o Movimento). Mas o que está aqui em causa, não é esse exercício legítimo. É a forma como, ultimamente, ele tem sido realizado. O facto de sermos contra um determinado "objecto" (material ou não), tal deve significar que sejamos críticos, que se apresentem os pontos de vista, factos, alternativas. E que se aceite que à democracia e às instituições  caiba o poder decisório. Porque o contrário será colocar a democracia e o poder na rua, perigosamente.
Tudo o que signifique movimentações/acções que promovam a imposição da nossa vontade é ultrapassar o direito de cidadania que nos assiste. Principalmente quando não estão em causa actividades ilegais, não transparentes, ou que ferem a legitimidade de orgãos democráticos e que legitimamente (mais uma vez) exercem a sua actividade e gestão.
2. Parciais - O José Carlos Mota e algumas pessoas do movimento sabem muito bem que nunca, em situação alguma (aliás já com dissabores politico-partidários), deixaria de lado a minha convicção, a minha consciência, o meu sentido crítico e de cidadania, para servir de "pombo de correio". Sempre agi, sempre pensei por mim, sempre escrevi pela minha "pena". Como bem se pode confirmar. Além disso, qualquer opinião, tida de forma pessoal e isolada, é sempre, sempre e sempre, parcial porque reflecte uma opinião concreta e personalizada.
Infelizmente, a minha condição de assalariado (e o dever e o código administrativo) impedem-me, muitas vezes de ir mais longe, seja nas críticas, seja mesmo nos "aplausos".
Aliás, o exercício é simples... gostava de ver quantos teriam a "possibilidade" (sem as consequências óbvias) de vir publicamente ser a favor ou contra actos de gestão das entidades para as quais trabalham. Ninguém vê pessoal e publicamente críticas internas à Universidade de Aveiro, ao Hospital de Aveiro, etc, etc, de quem exerce as suas funções.
Portanto, tal como já o afirmei publicamente em vários espaços, não será publicamente que expressarei directamente opiniões a favor ou contra (para o bem ou para o mal) actos de gestão da autarquia, seja qual for o executivo (o actual ou anteriores).
3. Sem fundamentação -  A fundamentação é muito clara. E só compreendo a dúvida por erro de interpretação (ou por ter sido colocada a questão tão publicamente - Diário de Aveiro).
E aqui é que reside o objecto e a fundamentação do que escrevi. Tão apenas isso.
Há, cada vez mais evidente, um aproveitamento político do movimento. E não sou o primeiro a afirmá-lo. Aliás, em fóruns do próprio movimento a questão foi levantada em relação à colocação de textos e opiniões que ultrapassam os objectivos dos Amigos d'Avenida. E o facto de o movimento entender que cada um é livre do exercício da sua opinião é uma forma muito simplicista de "sacudir a água do capote". Principalmente se as posições nos favorecem os objectivos.
Façam uma pesquisa no histórico e vejam as reacções ao texto do Dr. Alberto Souto, por exemplo.Como facilmente se pode provar, esta minha opinião não é única, nem original.
E também me parece ser fácil de verificar pela recente acção do movimento que a maior parte das posições e opiniões expressas (não me refiro, nem o fiz no texto, aos promotores do movimento) são, quase que exclusivamente, contra a câmara. Não se tem visto uma proposta para tantos e grandes problemas que Aveiro vive. E sim... são muitos, eventualmente demasiados.
Apenas o dizer mal da autarquia.

Para concluir, apenas uma breve referência à questão do pluralismo e da democracia (os quais sempre entendi que foram os princípios subjacentes ao movimento): veja-se o exemplo do que aconteceu, por exemplo no facebook, em relação às posições expressas por dois ou três munícipes que se expressaram a favor da ponte pedonal sobre o canal. Imagine-se (e aqui faltam-me, decididamente, adjectivos) o que seria que um aveirense (um que fosse) se expressasse no fórum do movimento a favor, por exemplo, da construção da ponte pedonal.
Por outro lado, a reacção ao meu texto, que expressa, mais que uma crítica, uma preocupação em relação ao futuro e ao impacto das posições do movimento (e é isto que importa sublinhar), só demonstra que não é fácil tecer críticas, isentas e inocentes, no interior ou em relação ao movimento.
Pela cidadania... e por Aveiro.

No aproveitar nem sempre está o ganho…

Publicado na edição de hoje, 4.04.2012, do Diário de Aveiro

Debaixo dos Arcos
No aproveitar nem sempre está o ganho…

Nem sempre o (re)aproveitamento de algo material ou de uma situação concreta produz os efeitos desejados.
E recentemente a política portuguesa tem estado recheada de situações que espelham esta realidade.
O primeiro exemplo vem da recente manifestação das freguesias em Lisboa, no passado sábado, contra a reforma da administração local. Para além do exagero do número de participantes anunciados e do facto de grande parte dos intervenientes terem uma relação de compromisso e subsidiaridade muito forte com as respectivas juntas de freguesia (associações culturais e recreativas), a verdade é que se perdeu o impacto e se gorou uma oportunidade muito interessante para que as Juntas de Freguesia e os seus órgãos pudessem esclarecer as populações, e, simultaneamente, poderem pressionar o governo para, dentro de uma reforma inevitável e necessária (apesar desta ser, de facto, meia reforma), minimizar o seu impacto, criar mais condições de trabalho e responsabilidade para as freguesias (mais e melhores competências, mais recursos financeiros directos, maior independência em relação às autarquias), uma maior dignificação do poder local mais próximo dos cidadãos. Mas o que resultou foi numa mera manifestação (acto cada vez mais banalizado) sectorial e no aproveitamento político de alguns partidos de esquerda para a demagogia partidária.
A nível local, Aveiro teve a oportunidade para ter um “espaço público” de cidadania, de intervenção, de participação na vida comunitária aveirense. Era, se a memória não me atraiçoa, o espírito que conduziu à criação do grupo cívico “Amigos d’Avenida”. Mas depressa o que poderia ter resultado numa plataforma para dar voz à cidadania, pela legitimidade que cada cidadão, individualmente ou em grupo, tem de se manifestar e intervir na sociedade, num espaço que se pensava plural (pela possibilidade de expressão diferenciada, e não pela quantidade e anarquismo de “vozes”), democrático (pelo respeito pelas regras e pela legitimidade), acabou por ser um conjunto de ideias direccionadas penas num único sentido, apenas crítico (salvo algumas excepções expressas por um dos seus responsáveis) em relação à Câmara. Os “Amigos d’Avenida” deixaram de ser plurais, deixaram de ser democráticos ao ponto de apenas se preocuparem com a “imposição da sua vontade”, independentemente da legitimidade de expressarem e alertarem para as suas opiniões e convicções, e terminaram por serem, como muitos espaços idênticos, “apetecíveis” ao aproveitamento político, mesmo até partidário, para expressarem conflitualidades pessoais.
O terceiro exemplo refere-se à recente polémica surgida em torno das declarações de Marcelo rebelo de Sousa em relação às alterações estatutárias do Partido Socialista. Facto que motivou uma ida a TVI do líder socialista, António José Seguro, para, segundo o próprio, defender a “honra” pessoal e do partido. Em primeiro lugar é estranho que alguém que é líder do maior partido da oposição (ainda recentemente, governo do país) tenha dificuldade de gerir, pessoalmente, críticas externas no que é um exercício legítimo de qualquer cidadão: expressar uma opinião. Segundo, só demonstra uma clara falta de capacidade de liderança quem, não conseguindo resolver problemas (admitidos) internos, venha para a “praça pública” preocupar-se com aquilo que o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa diz ou deixa de dizer. Como se o mundo e o país girassem em torno dos comentadores (sejam lá de que partido ou facção) e dos seus comentários. Por último, o que António José Seguro fez foi, simplesmente, transferir o “combate” que vai ter de travar internamente para a polémica gerada com Marcelo Rebelo de Sousa, já que a oposição interna é bem mais evidente. Aliás, os comentários proferidos na TVI, no passado domingo, não são mais que um mero resumo de posições assumidas por figuras do aparelho do próprio Partido Socialista.
E a falta de posição, convicção, estratégia, liderança, de António José Seguro à frente do PS demonstra-se preocupante quando seria necessário haver uma oposição forte, construtiva, preocupada com o rumo do país, nesta altura de crise. São demasiadas as incoerências e as demagogias, a falta de propostas alternativas concretas e realistas, o não assumir a responsabilidade pela gestão anterior do país (Seguro preocupa-se agora com a saúde quando foi no tempo de José Sócrates que se começaram a fechar Centros de Saúde, valências hospitalares, hospitais empresas e parcerias desastrosas em termos de gestão; preocupa-se com a escola pública, tendo como exemplo o despesismo da Parque Escolar, o encerramento de inúmeras escolas primárias no tempo da governação socialista), pelo compromisso assinado com a Troika e que está a ser implementado dentro do estabelecido e com regular auditoria e análise pela UE, FMI e Banco Central Europeu. Se assim não fosse, os relatórios nunca tinham sido positivos e as respectivas verbas teriam sido condicionadas. Ou seja, o que António José Seguro veio fazer à TVI foi um claro e inequívoco “tiro no pé”. Em política não há direito a amuos…

Miudezas…

Publicado na edição de hoje, 1 de Abril, do Diário de Aveiro.

Entre a Proa e a Ré
Miudezas…

A semana pode ter ficado registada por alguns acontecimentos mais marcantes: o congresso do PSD; o orçamento rectificativo; a entrevista do primeiro-Ministro à TVI; as interrogações quanto a eventual novo resgate financeiro; os preços dos combustíveis; a luz verde para a venda do BPN; … entre outros. Mas a verdade é que muitas vezes olhamos para a floresta e não vemos a árvore. E há pequenos(?) acontecimentos que também marcam o nosso dia-a-dia e que não deixam de levantar inquietações, interrogações, críticas ou, até mesmo, alguma estupefacção. Vejamos…

Primeira nota. A propósito de peso político ou, para sermos mais rigorosos, da falta do mesmo. Precisamente na edição do Domingo passado escrevi sobre a importância e a urgência de Aveiro voltar a ter “peso político” no panorama regional e nacional (ver “Aveiro light”). Várias foram as vozes que se regozijaram com a reestruturação do projecto do TGV, incluindo eu, por diversas e distintas razões mas, também, pelo facto de poder recolocar Aveiro, de novo, no mapa económico nacional e restituir a sua centralidade. Nomeadamente, com a exploração das potencialidades do eixo Aveiro/Viseu/Guarda/Salmanca, através da ligação ferroviária, em bitola europeia, ao centro da Europa. No entanto, são já algumas as decepções e frustrações em relação a projectos e anúncios que depois não se concretizam, por esta ou por aquela razão, mas sempre com prejuízo para Aveiro (tome-se como exemplo a recente caso da fábrica das baterias eléctricas da Nissan/Renault). E como diz o ditado: "gato escaldado até de água fria tem medo" ou “como S. Tomé… ver para crer”. A verdade é que, em recentes declarações à “Transportes em revista” (28.03.2012), Pedro Passos Coelho apenas refere como prioritária a ligação ferroviária entre Sines e Espanha. O que poderá colocar Aveiro/Salamanca em exercício concorrencial com uma eventual ligação Leixões/Galiza... a menos que a região volte a ganhar o peso político de outros tempos.

Segunda nota. Por força do importante projecto do Parque da Sustentabilidade a Câmara Municipal de Aveiro necessita de encontrar alternativas para os campos de treinos do Beira Mar, já que nesse espaço irá nascer o Parque dos Amores. Segundo a imprensa local, a autarquia apontou como alternativa o campo pelado existente em S. Bernardo. Obviamente, reconhecendo não estar em posse de dados que permitam entender a sustentação de tal opção, o que me levanta algumas dúvidas é a não referência a outras duas (pelo menos) soluções que, à partida, me parecem mais evidentes e apropriadas, até porque me parecem não envolveram encargos significativos para o município (ao contrário da solução S.Bernardo): o campo, relvado, de Oliveirinha ou, ainda melhor, o de Eixo que, inclusivamente, levou obras de beneficiação aquando do Euro2004. Acresce o facto desta última hipótese ter ainda a vantagem de estar mais próxima do Estádio Municipal, por eventuais razões logísticas. Aguardam-se melhores desenvolvimentos.

Terceira nota. A primeira página da edição, do dia 29 de março, do Jornal de Negócios revela, em manchete, que o Orçamento Rectificativo para 2012 e aprovado em sede de Conselho de Ministros prevê, entre outras medidas, a proibição de serem efectuados pagamentos, em dinheiro, para transacções superiores a mil euros. A medida tem como objectivo o combate à fraude e à economia paralela, por uma maior transparência fiscal. Afigura-se algo de lógico e óbvio (pelo menos em teoria). Mas nem de propósito… ainda esta semana o jornal Público, na sua edição de quinta-feira, noticiava: “FPF paga 6,2 milhões de euros do ‘Totonegócio’ em dinheiro e de uma só vez”. A notícia descreve a proposta da Federação Portuguesa de Futebol em liquidar ao Estado parte da dívida relativa ao processo, com mais de dez anos, denominado “totonegócio”. Atente-se no sublinhado (da minha responsabilidade): “… em dinheiro e de uma só vez”. Algo que se torna inexplicável, incompreensível, que sugere mil e uma dúvidas, incertezas, mas, principalmente, suspeitas… Se não, façamos o mais simples dos raciocínios lógicos. Há clubes não profissionais completamente na penúria, com mil e umas dificuldades, com encargos/compromissos enormes por pagar, sem conseguirem cumprir com a mais elementar obrigação para com atletas e treinadores seus. E podemos ficar apenas pela segunda e terceiras divisões nacionais. Na Liga profissional de futebol o cenário é idêntico, agravado, em vários casos, pela dimensão dos encargos e das responsabilidades. Por exemplo, o Sport Clube Beira Mar aprovou esta semana, por maioria, as suas contas com um passivo na ordem dos três milhões de euros.
Alguém consegue aceitar isto? Alguém consegue perceber isto? Num país que vive as dificuldades que todos conhecemos; num país onde a economia não consegue superar a crise; num país onde a corrupção é um dos “cancros” da sociedade portuguesa; alguém entende que se pague 6,2 milhões de euros em dinheiro sem que isso levante qualquer suspeita ou, até mesmo, indignação? Como é que o sector político, nomeadamente os partidos da esquerda, que sempre se insurgiram contra a banca, os grupos económicos (grandes ou nem por isso), não levantam agora um único “brado” perante esta notícia?!
É que, acima de tudo, é questionável não só a razão/objectivo (totonegócio) como o meio para o alcançar. E, como diz o ditado, “à mulher de César não basta ser… também precisa parecer”.

Uma boa semana.