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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Vender a alma ao diabo...

Publicado na edição de hoje, 30 de maio, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos

Pressão sobre o poder local...

Apesar das recentes medidas que limitam e criam sérios e incontornáveis obstáculos a que os órgãos do poder local possam executar a sua primária missão: um eficaz e concreto serviço público aos seus munícipes e fregueses (nomeadamente a Lei 8/2012 e a sua regulamentação – a chamada “lei dos compromissos”); não obstante, as câmaras municipais (ou uma grande parte, cerca de 70) vão sofrer nova pressão sobre o exercício dos seus mandatos, sendo que, em muitos casos, isso poderá significar o total e completo abandono das suas promessas eleitorais, dos seus compromissos para com os seus munícipes, nomeadamente para com aqueles que elegeram os respectivos executivos.

Ao final do dia de segunda-feira, após várias horas de reunião, o ministro Miguel Relvas veio divulgar o acordo celebrado com a Associação Nacional de Municípios Portugueses – ANMP no sentido de ser concedida uma linha de crédito às autarquias em situação de ruptura financeira: um empréstimo de mil milhões de euros, com uma taxa média de juros na ordem dos 4,15%, para um período máximo de 20 anos. Isto poderá significar, em muitos casos, um alívio financeiro (reposição a “zero” das dívidas a curto prazo) e o concretizar de um desejo e reivindicação de vários meses por parte dos municípios. Mas será, de facto, assim? Será que o governo se limita a “ajudar” e a contribuir para a consolidação financeira do poder local? Ou estamos perante mais uma situação de “dar com uma mão e retirar com a outra”, estrangulando e limitando as acções e o papel das autarquias, como focou o presidente da autarquia aveirense no seu discurso no feriado municipal?

Basta recordar as palavras proferidas pelo presidente da ANMP, Fernando Ruas, à comunicação social no final da reunião com o governo: “Não estamos com um sorriso na cara, mas a verdade é que conseguimos o acordo”. E a verdade é que não estão os autarcas com vontade de sorrir, nem os próprios munícipes. É que não há bela sem senão.

O governo, em vez de criar mecanismos para uma fiscalização mais assertiva às finanças locais e para promover uma estruturação das contas municipais, limitou-se a impor um conjunto de contrapartidas e exigências para a atribuição do referido empréstimo que resultam no asfixiar e aniquilar do exercício de gestão e acção das autarquias junto dos seus munícipes e nos seus concelhos, no imediato.

É que as autarquias vão ter de inventar muitas formas e engenharias que permitam não só fazer face aos seus compromissos com os munícipes, mas também com as obrigações dos cumprimentos financeiros. E no caso de incumprimento destes o acordo permite ao governo a retenção imediata das transferências das verbas previstas no Orçamento de Estado.

Para além disso, e de um claro limite à liberdade e ao exercício legítimo do poder (anulação das providências cautelares que foram interpostas, por causa da retenção dos 5% do IMI), as autarquias terão, obrigatoriamente, que alienar património municipal e não poderão contratar novas parcerias público-privadas, o que representa uma óbvia limitação ao desenvolvimento municipal.

Mas não são apenas as autarquias a “sofrer” com esta medida proposta pelo governo. Há, no acordo assinado, claros aumentos encapotados de impostos para os munícipes, para além de todos os recentemente aplicados.

É que a celebração do empréstimo implica o aumento nos preços da água, saneamento e recolha de resíduos (aumento da facturação). E mais ainda… contrariando, por exemplo, o que sempre foi defendido pelo Executivo da Câmara Municipal de Aveiro (minimizar os impactos do IMI nos munícipes, promover a construção e a instalação de empresas no concelho, com a redução da taxa da Derrama), o empréstimo contratado implica, sem margem negocial, que as câmaras aumentem as taxas da derrama e do IMI para os valores máximos previsto nas lei. Para além de condicionar a acção da gestão das autarquias e revogar compromissos assumidos com os eleitores municipais (para além do governo manter a retenção de 5% deste imposto que é municipal), estas regras implicam um maior esforço de alguns cidadãos em relação às suas contribuições fiscais (já houve, muito recentemente, uma revisão e reavaliação da taxa que, segundo dados divulgados pelo Diário de Notícias/Dinheiro Vivo, resultará, até 2015, num aumento de receita na ordem dos 128%, cerca de 1,4 mil milhões de euros).

Cada vez mais se afigura difícil encontrar quem se queira aventurar nesta “guerra” da gestão e serviço autárquico (seja municipal, seja ao nível das freguesias).

Pressões, afinal, há muitas...

Publicado na edição de hoje, 27.05.2012, do Diário de Aveiro.
Entre a Proa e a Ré
Pressões de gestão…
A semana ficou marcada, essencialmente, pelas alegadas pressões do ministro-adjunto, Miguel Relvas ao jornal Público, tendo sido reforçada pela demissão do adjunto do Ministro no caso “SIED/Secretas”, e relegando para segundo plano a presença da missão da Troika para mais uma avaliação à execução do memorando de resgate financeiro.
Mas as “pressões” não se ficam apenas pela relação sempre “conflituosa” entre o poder político e a comunicação social (mesmo que seja sempre uma relação de simbiose existencial). A verdade é que a “pressão” é o dia-a-dia da política e da governação, mesmo que não exclusiva. E o mesmo se passa na gestão autárquica.
A necessidade e gerir correctamente as necessidades de cada município aliada aos anseios de cada munícipe, dentro de um conjunto normativo e legal cada vez mais exigente, não se afigura tarefa fácil (quando muitas vezes desmotivadora).
No caso concreto de Aveiro, a situação financeira do município e a conjuntura nacional, obrigam a um exercício de gestão acrescido para fazer face às exigências e ao cumprimento de projectos e compromissos assumidos para com os aveirenses. É o caso da necessidade vital, não só para a cidade, da reabilitação urgente da Avenida. A Avenida precisa de intervenção, precisa de voltar a ganhar vida sob pena da cidade e do município serem contagiados pela sua degradação. Mas tudo isto a que custo? Não haverá outra solução para a conhecida falta de investimento público sem que se aliene espaço público e se condicione três gerações a um projecto urbanístico, tal como deliberado na última reunião da Câmara Municipal de Aveiro? É que as questões afiguram-se muitas (talvez até demasiadas).
Aveiro tem, no centro urbano, quatro estacionamentos fechados que, por natureza são parques com características diferentes do estacionamento à superfície e na via pública. Mais duração que rotatividade. No entanto, excluindo os períodos de consumo alto, como o Natal, qual a taxa de ocupação de cada um deles? O da Praça Marquês de Pombal até já encerra aos domingos… Será eficaz a construção de mais quatro? Quem ficará com o défice dos custos de exploração? O investidor privado? Para além da questão do estacionamento subterrâneo, que incluiu a concessão do parque Manuel Firmino, o projecto prevê a concessão, pelos tais 60 anos, de estacionamento à superfície, em espaço público, nas zonas envolventes aos parques subterrâneos. É uma opção entendível para minimizar efeitos concorrenciais. No entanto, esta proposta para salvar a Avenida também se afigura, numa primeira análise, ao “não salvamento” da empresa municipal de mobilidade, a MoveAveiro. Retirar das suas contas de gestão a principal fonte de receita parece ser a desistência antecipada de uma provável recuperação da empresa. Até porque o estigma (para usar uma expressão tão governativa dos dias de hoje) de que os transportes públicos só servem para dar prejuízo (muito por força da sua componente social) é algo, mesmo em tempos de crise, ultrapassável. Veja-se o exemplo recente da STCP – Sociedade de Transportes Colectivos do Porto que, em abril deste ano e pela primeira vez desde a década de 1970, atingiram o equilíbrio operacional em 100% (taxa de cobertura dos gastos operacionais pelos proveitos operacionais, incluindo a cobertura do serviço social prestado).
Por outro lado, penso que seria mais eficaz o enquadramento do projecto de recuperação da Avenida (goste-se ou não da solução encontrada) também num plano municipal (ou pelo menos urbano) de mobilidade. Aliás, face às condicionantes de trânsito, estacionamento e de transportes públicos indicadas na proposta da Universidade de Aveiro, tudo fará mais sentido integrado nesse plano alargado de mobilidade urbana.
Além disso, “vender” ou alienar espaço urbano público poderá significar condicionar, não só o usufruto legítimo de qualquer cidadão a esse espaço, como qualquer projecto futuro de urbanismo para Aveiro, naqueles espaços.
Não é só o estacionamento subterrâneo (ou nem será por isso)… mas trata-se de espaço público e este é e deverá ser sempre isso mesmo: público. E 60 anos são muitas vidas…
Uma boa semana…

Num hiper perto de si...

... ou à distância de um simples clique.

Bem sei que a Solidariedade passa por aqui: "Unidos com a Mariana".

Mas a verdade é que as exigências solidárias são, nos dias de hoje, infelizmente, cada vez mais prementes e urgentes.

O Banco Alimentar contra a Fome vai lançar, durante este fim-de-semana mais uma campanha nacional (a primeira este ano) de recolha de alimentos nos supermercados e nas grandes superficies.
No entanto, com o objectivo de alargar o campo de "recrutamento" o Banco Alimentar promove até ao dia 3 de Junho a campanha através do seu portal "Alimente esta ideia", onde, com um simples clique, é possível dar o seu contributo comodamente e de forma segura.

Por fim mencionar que esta campanha envolve milhares de voluntários que irão estar à espera do nosso contributo em 1500 lojas em todo o país.

Os 19 Bancos Alimentares contra a Fome apoiam cerca de 1800 Instituições do país e "alimentam" mais de 275 mil cidadãos. Números que, face à realidade do dia-a-dia, vão aumentando e dificultando a capacidade de resposta.

Na última campanha, levada a cabo em novembro de 2011 (o Banco Alimentar procede a duas campanhas anuais com estas características... final de Maio e de Novembro), cerca de 3150 pessoas doaram, atarvés do portal, 90 toneladas de alimentos, enquanto à "boca" dos supermercados e hipermercados foram recolhidas perto de 3 mil toneladas de bens.

Até ao dia 3 de Junho (e nas lojas, neste fim-de-semana) ALIMENTE ESTA IDEIA e contribua para um Portugal mais solidário.

A "Ouver" os outros... (caso Relvas vs Público)

No seguimento do post "Palavra contra Palavra" não podia estar mais de acordo com a visão sobre este processo por parte da jornalista/comentadora Fernanda Câncio, no programa 25ª hora na madrugada do dia 23 de maio, na TVI24.

 (clicar para aceder ao vídeo)

Interessante é verificar as recentes posições quer do jornal Público (agora com consenso nas posições, depois de notórias divergências iniciais - conselho de redacção - jornalista - editora de política e directores), quer por parte do Ministro-adjunto. É que ambos acusam o outro com as respectivas versões, mas nenhum avançou com qualquer processo judicial por crime (grave) penal: difamação ou devassa da vida privada. Muito esquisito...

 

Alguma "avalanche" de informação sobre o caso (em actualização)

Duas versões contraditórias: Palavra contra Palavra (fonte RTP)

Versão do Jornal Público

"Directora do PÚBLICO reitera na ERC que Relvas pressionou o jornal" (público)

"Público reafirma na ERC as pressões de Miguel Relvas" (rtp)

"Miguel Relvas garante que nunca pressionou jornalistas do Público para travar notícias sobre o caso das secretas" (rtp)

"Público: Diretora do jornal reitera pressão de Miguel Relvas" (tsf)

"Relvas «disse que ia revelar dados privados»" (tvi24)

"Directora do Público reitera pressão de Miguel Relvas" (i)

Versão do Ministro Relvas / Governo

"Relvas nega ameaças a jornalista e diz na ERC que se sentiu pressionado" (público)

"Público reafirma na ERC as pressões de Miguel Relvas" (rtp)

"Relvas nega ter exercido pressões sobre jornalistas" (rtp)

"Relvas sentiu-se pressionado por urgência de perguntas do Público" (tsf)

"Miguel Relvas nega ameaças ao «Público»" (tvi24)

"Não houve da minha parte qualquer pressão" (tvi24)

"Relvas: "Fui eu que me senti pressionado"" (negócios)

Posição da ERC

"ERC deve decidir em duas semanas, mas pode fazer mais perguntas por escrito" (público)

Rir de quê?

Publicado na edição de hoje, 23 de maio, do Diário de Aveiro.
Debaixo dos Arcos
Um país sem vontade de sorrir...
Portugal prepara-se para receber mais quatro mil milhões de euros, caso a avaliação da equipa da Troika, de novo presente no país, seja positiva.
E este facto não passaria mais ou menos despercebido, não fosse a pressão externa exercida pela situação grega e a pressão que existe internamente face aos mais recentes dados e à realidade do país.
A saber… as previsões da OCDE, reveladas esta semana, apontam para a eventual necessidade de uma ainda maior consolidação orçamental, face a uma possível derrapagem das previsões em 0,1% e em 0,5%, em relação às metas do défice para 2012 e 2013 (4,5% e os 3%, respectivamente), o que na prática resultará em mais medidas de austeridade. Com uma taxa de cidadãos sem trabalho apontada há alguns meses para o máximo de 15,5%, o desemprego deverá atingir, em 2013, os 16,2%, sendo que, neste momento, 14% dos jovens portugueses já não estuda ou não tem trabalho.
E serão, essencialmente, estes dois factores que directamente influenciarão a avaliação da Troika à execução do plano de resgaste financeiro.
Primeiro, porque o plano que incorpora as medidas de austeridade até agora implementadas, e que significam um esforço considerável para a maioria das famílias e das empresas, está no seu limite, não se vislumbrando mais capacidade de resposta por parte dos portugueses e da maioria do tecido empresarial. Isto significa que o Governo terá que encontrar rapidamente formas de consolidar as contas públicas e promover o crescimento (onde se inclui o emprego) através de políticas estruturais, concretamente com incentivos às empresas, com alterações nos processos de apoios sociais, de reestruturação do tecido empresarial do Estado, na revisão das rendas e parcerias público-privadas, nas despesas da Administração Central e Local (despesismo e transparência), bem como no maior rigor e cuidado nos investimentos públicos. Isto se quiser manter o seu optimismo para a saída da crise após o período de resgate financeiro que terminará em 2014.
Por outro lado, o combate ao desemprego tem de passar a ser uma “batalha” diária e não uma simples percepção do problema (na óptica do ministro da Economia, no “coiso”). O aumento do número de desempregados tem uma relação directa com a diminuição do consumo, das receitas fiscais, das contribuições dos empregados e entidades empregadoras, e, consequentemente, um aumento preocupante das contribuições sociais do Estado (subsídio de desemprego e subsídio de rendimento mínimo) o que provoca uma evidente incapacidade de consolidação orçamental e do cumprimento das metas propostas e estabelecidas nos acordos.
Por outro lado, o aumento do “coiso” do desemprego traz alterações substanciais (usando outra terminologia governamental, “colossais”) do ponto de vista social: aumento da emigração, aumento da desertificação e das assimetrias regionais, fome, insegurança, conflitualidade e contestação/inconformismo social.
E enquanto o Primeiro-Ministro entende que, face à realidade vivida em cada dia-a-dia, os portugueses devem sair de Portugal, são piegas ou não aproveitam a “vantagem” de estarem sem emprego e perderem o seu maior (ou um dos maiores) valor que é o trabalho, a verdade é que a sociedade começa a dar mostras de bastante inquietação.
Aliás como o demonstra um estudo da OCDE apresentado ontem, Portugal é dos países onde o fosso entre ricos e pobres se tem acentuado mais e dos países onde a satisfação com a vida revela os valores mais baixos.
É caso para dizer… vamos rir de quê?

Bastam 4 mil milhões para sorrirmos?

Começou hoje mais um processo de avaliação do programa de ajustamento financeiro pela Troika. De uma avaliação positiva resultará a cedência de mais 4 mil milhões de euros do fundo de resgate promovido pelo FMI, UE e BCE.

Tal facto, que significaria mais dinheiro (mesmo que com mais juros) para "salvar" o país da bancarrota, bem como o sucesso de implementação do programa do memorando de entendimento, seria motivo de orgulho e de regozijo. MAS...

A verdade é que as notícias que vieram hoje a público - "Portugal vai ter de adoptar mais medidas de austeridade para cumprir metas da troika" ou «Previsões da OCDE "não podem agradar a ninguém"» ou ainda "OCDE prevê ainda mais austeridade para Portugal" (com a recessão a durar até 2013 e o desemprego a subir até os 16,2%), não deixam qualquer margem para sorrisos.

Aliás, sorrir é o mote para o artigo de amanhã (quarta-feira, 23 de maio) da edição do Diário de Aveiro: "Rir de quê?"

Palavra contra Palavra.

A relação entre a Política e a Comunicação Social nunca foi pacífica, nem me parece que algum dia vá ser.
São tidas como "normais" as pressões que são exercidas várias (demasiadas) vezes sobre os órgãos de comunicação social e/ou os jornalistas. Veja-se, a título de exemplo e cronologicamente recentes, os casos que envolveram também o jornal Público na direcção de José Manuel Fernandes, os casos TVI (Marcelo Rebelo de Sousa e Manuela Moura Guedes), o caso Mário Crespo, os casos que envolveram o jornal SOL, ou até mesmo o caso dos "gravadores" com o deputado Ricardo Rodrigues.
E é por isso que, à semelhança do que aconteceu com o caso das "secretas" (do SIED) - Silva Carvalho e Nuno Vasconcelos (Ongoing), parece-me ser mais sensato ao PS que se mantenha atento mas mais observador do que participativo (Seguro quer esclarecimentos sobre actuação de Relvas "doa a quem doer")... porque como diz o ditado "quem tem telhado de vidro, não deve atirar pedras ao do vizinho".
Razão tem o Procurador-geral da República em decidir "aguardar a evolução dos factos no caso entre Miguel Relvas e o Público", até porque já estão em curso as averiguações por parte da entidade reguladora: "ERC inicia averiguações sobre alegadas ameaças de Relvas a jornalista do Público". Embora pessoalmente duvide do resultado deste processo (na ERC, entenda-se) já que acaba por ser a palavra da jornalista contra a do ministro, isto se não for encontrada nenhum facto falso ou incongruências que levantei suspeitas (seja de que lado for).
Por outro lado, ao ler atentamente o comunicado do Conselho de Redacção do jornal Público, independentemente da legitimidade das posições lá assumidas, é, no entanto, notório que há, face às críticas apontadas, divergências no que respeita à gestão profissional e editorial daquele órgão de comunicação social. Espera-se que tal realidade não "ofusque" o sentido crítico, ético e profissional.

No entanto, não posso deixar de concordar com as posições já publicamente assumidas por diversos sectores e personalidades que, em caso de confirmação dos factos e de que houve ameaças fundadas do ministro-Adjunto à jornalista do Público, Maria José Oliveira  (mais do que meras pressões), Miguel Relvas, no mínimo, não terá mais condições para se manter nas funções governativas (para além de outras consequências jurídicas).

Isto porque, contrariando a realidade que demonstra o usual das pressões e das relações controversas (embora também se possa considerar duvidosas as relações promíscuas) entre jornalistas e políticos, a verdade é que são inaceitáveis as pressões sobre o exercício do direito de informar e sobre a liberdade de imprensa (com a agravante da posição mediática e institucional de quem as exerce).

Num Estado de direito e democrático a existência de uma informação livre, pluralista, crítica, rigorosa e transparente é fundamental para que qualquer sociedade evolua, se alicerce, se estruture e se consolida.

No entanto, é bom que sejamos honestos e coerentes com as nossas posições: caso se confirme as atitudes de Miguel Relvas, este, pelo menos, deve apresentar a sua demissão. Mas e se não se confirmar um comportamento ilegítimo e ofensivo do ministro? O que acontecerá à jornalista?
A ver vamos...

Já lá vão 46...

Marcavam 6:15 (da madrugada) do dia 20 de Maio de 1966 (uma sexta-feira, por sinal) - Casa de Saúde de Aveiro (agora tranformada em Cooperativa de Ensino).

É só isto... para que conste (mesmo que não seja em acta) nascia mais um "cagaréu"!

 

 

A ler os outros... e a revolta contra a EDP.

A propósito do post anterior ("Mas quem pagará?!") e sobre as dúvidas em relação às medidas apontadas hoje pelo governo (redução dos encargos com as rendas energéticas), a verdade é que a maioria das vezes existe um país político e um país real. E este último cada vez se torna mais pressionante, mais presente, mais dramático.

Este é só um dos milhares de exemplos...

A revolta da Marta Cruz ("Mini, tremoços & Saltos-altos" - coisas da gaja) em relação à EDP: "EDP, ditadores e usurpadores do bem estar!"

Mas quem pagará?!

O Ministro da Economia, Álvaro Pereira, anunciou, no final de mais um Coselho de Ministro, que o Estado prevê reduzir o valor das randas excessivas no sector eléctrico. Anualmente serão poupados cerca de 190 milhões de euros e, previsivelmente, até 2020, um total de 1,8 milhões de euros. Algo que fica muito aquém dos calculados 3 mil milhões de euros das rendas energéticas.

É óbvio que esta só pode ser uma excelente medida do governo de Passos Coelho, assim como seria de esperar a resolução (ou revogação) de muitas, ou quase todas, as Parcerias Público-privadas, ou ainda a diminuição do universo empresarial do Estado.

No entanto, por mais que o ministro e o su secretário de Estado tenham afirmado que tal política resulta numa redução de cerca de 5% na factura para o consumidor, a dúvida persiste.

Se o impacto (como já afirmou António Mexia) destas medidas agora anunciadas pelo governo resultam numa redução de receitas de cerca de 2,5% na EDP, numa empresa que se conhece faminta pelo lucro, pelo monopólio, por uma posição de força no mercado e na economia nacional, quem é que irá "pagar essa factura" da descida dos lucros? O Estado? não creio... sobra sempre para os bolsos do costume.

 

Oportunidades perdidas...

Publicado na edição de hoje, 16 de maio, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos
Oportunidades perdidas...
Pelos recentes desenvolvimentos políticos, nomeadamente os que ocorreram no final da passada semana, hoje percebe-se melhor a fundamentação do Secretário de Estado da Juventude e do Primeiro-ministro quando aconselharam os jovens licenciados, os professores e demais cidadãos portugueses a emigrarem.
Face ao “estigma” que é o desemprego ou a falta de emprego, nomeadamente o primeiro emprego (dos 15,5% de desempregados cerca de 20% são jovens recém licenciados), e ao respectivo impacto que tal realidade transporta para a sociedade e para a gestão do país cada vez mais difícil e complexa, a alternativa mais promissora para contornar essa “gratificante” falta de emprego ou a sua perda é a tal procura de mudança e de oportunidade que os países europeus, asiáticos, sul-americanos e africanos oferecem. Ou seja… Emigrem (sejam felizes lá fora).
E a verdade é que essas oportunidades, essa perspectiva de mudança e de encontrar a “felicidade”, de facto, existem. E mais ainda, na maioria dos casos, elas vêm até nós, minimizando os impactos negativos das fraudes e desagradáveis surpresas (que ainda existem, infelizmente) ou o desespero da procura. O que antigamente significava um “tiro no escuro” ou a dependência de laços familiares para encontrar, ‘lá fora’, uma alternativa de sustento e de sobrevivência, hoje é o próprio mercado da procura que se desloca, em diversos e distintos eventos, até à oferta para o seu eventual recrutamento.
A realidade demonstra que Portugal é, embora de forma sectorial (vários ramos das engenharias, informática e robótica, área da saúde, deixando de fora, infelizmente, as áreas sociais), um excelente e apetecível mercado de recrutamento, valorizando, desta forma, a formação e o saber desenvolvidos no nosso país. E aqui começam as duas questões essenciais na abordagem desta realidade: primeiro a incapacidade que o país tem (sempre teve) de gerar oportunidades, de aproveitar este conhecimento e saber para produzir e criar riqueza, desperdiçando anos de recursos e, literalmente, “abandonando” as suas gentes (e o que isso representa em termos de perda de identidade, de cultura, de história). É difícil compreender como é que um outro país decide vir recrutar a Portugal, por exemplo, 300 engenheiros mecânicos ou 500 informáticos. Como é que se podem perder estes recursos, estes meios humanos e este saber e, ao mesmo tempo, querer gerar riqueza, produtividade e aumentar a economia nacional?
Para além disso, e em segundo lugar, o governo, ao aconselhar e “promover” a emigração esquece o mais essencial: é que a emigração dos anos 90 e deste século, não é a mesmo da década de 60 e 70. Hoje, quem emigra, na maioria dos casos, não deixa uma família para trás. Hoje, quem emigra não tem a preocupação de “devolver” ao país parte do seu salário, nem de reinvestir nas suas origens. O que resulta numa quebra significativa de riqueza, de receitas fiscais e de sustentabilidade social. Além disso, e do facto de se perder a maior riqueza de qualquer estado que é o valor do trabalho, face às oportunidades, às novas estruturas sociais, às ofertas que são feitas aos cidadãos portugueses que emigram, à globalização e às facilidades de comunicação, hoje quem emigra muito dificilmente regressa… em muitos casos já nem para rever a “terra” e o que resta da família que cá ficou.
Se para um cidadão português emigrar pode significar, de facto, uma oportunidade de ouro, para o país é o sinal da incapacidade de sustentabilidade, de sobrevivência e de futuro. Ou seja… traduz-se em oportunidades perdidas. Assim como num país cada vez mais para “velhos”.

"O horror do povo a comprar"... a ler Inês Pedrosa

Depois da campanha bombástica do 1º de Maio, das reacções e comentários, como por exemplo em "Pingo Doce... pela metade", depois do anuncio dos descontos de 50% para os funcionários da empresa, eis que chega mais uma campanha (embora ache esta "fraquinha" e mais do usual).

E com mais este anúncio que reforça o posicionamento no mercado desta cadeia de distribuição, é altura para ler, com toda a atenção, este excelente artigo da Inês Pedrosa...

Algo que muitos gostaríamos de ter sabido dizer (embora tenha andado lá perto...) apenas em 2400 caracteres.

 O horror do povo a comprar

Depois da nomeação, chega a consagração

 

 

Eduardo Lourenço foi distinguido, aos 81 anos, com o Prémio Fernando Pessoa 2011.

O júri presidido por Pinto Balsemão, e composto por Fernando Faria de Oliveira, António Barreto, Clara Ferreira Alves, João Lobo Antunes, José Luís Porfírio, Mário Soares, entre outros, nomearam o filósofo português pelo seu testemunho intelectual, cultural, ético e cívico em defesa e promoção da identidade portuguesa: a sua cultura, a sua história, a sua presença no mundo, e o acreditar permanente na capacidade deste povo em superar barreiras e dificuldades.

Habituei-me (e aprendi a gostar) de Eduardo Lourenço aquando da minha formação, principalmente através de um "cadeirão" que dava pelo nome de "Língua e Identidade Cultural". Por exemplo, com obras como "Nós e a Europa ou as duas razões" (Imprensa Nacional, 1988) ou "A Europa Desencantada" (Gradiva, 1994), já para não falar no mítico e eterno "Labirinto da Saudade" (D.Quixote, 1992).

Daí que estrenhe que, após deixar de fazer parte integrante do juri do prémio instituido pelo jornal Expresso (em1993), tenham sido necessários quase mais vinte anos para destacar, de forma inequívoca e legitima, todo o saber e experiência de Eduardo Lourenço.

Finalmente... o dia chegou.

Eduardo Lourenço, recebeu hoje, das mãos do Presidente da república, o tão merecido galardão.

Portugal precisa de vozes como a de Eduardo Lourenço. E de obras como as suas...

Eu agradeço.

Uma Causa... nobre, digna, solidária.

Muitas são as causas que, pelas mais diversificadas razões e áreas, proliferam no nosso dia-a-dia. Umas, felizmente poucas, duvidosas e falsas, muitas, infelizmente demasiadas, legitimas, dignas e nobres. A dimensão das causas que conhecemos, seja porque motivo for, levam.nos à necessida de tomarmos opções, sermos selectivos e criteriosos.

A minha selecção e opção estão feitas...

A Mariana tem 11 anos. É uma criança com sonhos e com um sorriso que derrete os nossos corações. A Mariana é portadora do síndrome de dravet ou epilepsia mioclónica grave do lactente, o que tem vindo a dificultar a sua mobilidade. A casa onde vive (com os pais e irmão) não tem elevador e subir até ao 3º andar tem vindo a revelar-se uma tarefa árdua. São cinquenta e seis degraus e sete lanços de escada que se revelam um verdadeiro obstáculo, sobretudo quando há necessidade de transportar a menina para casa, rapidamente, em caso de crise.

Porque queremos que a Mariana continue a sorrir, gostaríamos de ajudar os seus pais, Carla e Miguel, na aquisição de uma cadeira elevatória eléctrica, que será instalada no prédio, para permitir que a Mariana suba e desça até ao 3º andar com conforto e segurança.
O valor a pagar pela cadeira elevatória e sua instalação no prédio não se encontra ao alcance dos pais da Mariana. Por isso, criámos este movimento, Unidos com a Mariana, de forma a tornar acessível a aquisição da cadeira- Assim, no dia 26 de Maio, na Voz do Operário em Lisboa sobem ao palco os Espelho Mau, Susana Félix, Laurent Filipe, Massimo Cavalli, Miguel Máximo, António Raposo, Carlos Ruivo, Life Sound Choir; e também Pedro Giestas, Paulo Vasco, Miguel Correia,  Paula Neves e Fernanda Freitas.
O objectivo é um só: permitir que a Mariana sorria e que o caminho até casa seja rápido e confortável, para si e para os seus pais.
Esta é a minha causa. Porque a Mariana merece, (a Caral e o Miguel mercem pela incansável dedicação à filha, sempre com um sorriso e uma esperança no futuro que é contangiante)... Unidos com a Mariana. Por respeito, consideração, amizade e solidariedade.

 

É a vida… Habituem-se! (ou não)

Publicado na edição de hoje, 13 de maio, do Diário de Aveiro.

Entre a Proa e a Ré

É a vida… Habituem-se! (ou não)

O que se imaginava vir a ser uma semana dedicada à “trapalhada política” grega e aos reflexos pós-eleitorais gauleses, eis que o primeiro-ministro Passos Coelho resolve direccionar para si os holofotes, pelas piores e lastimáveis razões sociais e políticas.

Na tomada de posse do Conselho para o Empreendedorismo e a Inovação, no Centro Cultural de Belém, num discurso pensado, reflectido, escrito (e não no calor do contraditório político, na discussão pública, no improviso) Pedro Passos Coelho afirmou, sem qualquer tipo de pudor, que “estar desempregado não pode ser, para muita gente, como é ainda hoje em Portugal, um sinal negativo. Despedir-se ou ser despedido não tem de ser um estigma, tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida, tem de representar uma livre escolha também, uma mobilidade da própria sociedade”. Assim… a seco, reflectidamente! No mesmo dia em que são conhecidos também as projecções da União Europeia para, cumulativamente, um desvio de 2,2% em relação ao peso da dívida pública no PIB para 2011 e 2012 (endividamento - 113,9% e 117,1%, respectivamente). Quando os dados da primavera da Comissão Europeia apontam para uma revisão em baixa dos salários dos portugueses: 4,4% em 2011, 5% em 2012 e 1,1% em 2013, o que perfaz um balanço total de perda de massa salarial em 12,3%. E mais grave ainda, os dados da Comissão Europeia apontam para um aumento, ainda este ano, do desemprego para os 15,5% (contra os 14,5% previstos pelo governo) e uma quebra na economia em cerca de 3,3%.

Perante estes dados e face às inqualificáveis palavras proferidas pelo primeiro-ministro relativas ao desemprego e aos desempregados que, essencialmente, resultam numa evidente falta de respeito para com todos os que não têm, ou não conseguem, encontrar emprego ou novas oportunidades laborais (embora haja alguns que nada fazem enquanto se encostam à sombra do subsídio), a Pedro Passos Coelho só faltou dizer: "O desemprego (trabalho) liberta"(“Arbeit macht frei”) sem palavras!

E quando se esperava que o Governo, o PSD e Passos Coelho pudessem capitalizar a má prestação do líder da oposição, António José Seguro, numa entrevista à TVI, eis que deitou tudo a perder com a maior imbecilidade política em relação ao desemprego. Assim não há pachorra.

Se o Sr. primeiro-ministro soubesse o que é estar desempregado, talvez pensasse duas vezes, ou três, ou quatro, ou..., antes de proferir a maior falta de respeito e consideração para com milhares de portugueses.

Eleito (e voluntariamente elegível) para ser alternativa aos destinos do país face à gestão ruinosa do governo de Sócrates (veja-se as recentes suspeitas relacionadas com as parcerias e protocolos no sector rodoviário), para assumir o compromisso como todos os que o elegeram (empregados e desempregados, incluídos) para “salvar” o país da crise (económica, financeira e social) a que foi votado, a preocupação do primeiro-ministro devia ser a de criar mecanismos que promovessem o empreendedorismo, a de não hipotecar as espectativas inovadoras e criativas de muitos dos jovens e cidadãos que procuram a iniciativa privada e projectos pessoais, ou a de aliviar o peso dos encargos do financiamento da banca que estrangula mais as oportunidades do que permitem novos desafios e riscos da sociedade. Isto sim, seria um discurso realista, motivador, empreendedor e significaria, de facto, transformar a fatalidade do desemprego em apetecíveis mudanças pessoais e transformações sociais.

Mas o que foi transmitido pelo primeiro-ministro foi um total desfasamento com a realidade, uma evidente falta de respeito e sensibilidade social e solidária para com milhares de cidadãos e famílias que, hoje, fazem das “tripas coração” para garantir a sua sobrevivência diária. Só existe uma adjectivação para a posição de Passos Coelho: cinismo político.

Ao pé disto, a mensagem "emigrem!" são peanuts... e cada vez mais compreendo o Pingo Doce.

Uma boa semana…

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