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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Pingo Doce... pela metade (revisto e aumentado)

Publicado na edição de hoje, 6.05.2012, do Diário de Aveiro.

Entre a Proa e a Ré
Num Pingo Doce perto de si… (revisto e aumentado)
A semana ficou claramente marcada pela campanha levada a cabo pelo Pingo Doce, no dia 1 de Maio. Curiosamente, no 1º de Maio, feriado e data em que se celebra, internacionalmente, o Dia do Trabalhador.
E aqui reside a primeira questão a abordar: a legitimidade (não estou a dizer legalidade) e ética (moral) para que todas as grandes superfícies – Pingo Doce, Continente, Jumbo, Modelo, Lidl, etc., etc. - abram as portas no Dia do Trabalhor (feriado). Embora esta questão levante mais dúvidas que certezas: porque não se insurgem os arautos críticos também contra as centenas de empregados de cafés ou restaurantes, de postos de combustíveis, de quiosques de jornais, de televisões, rádio e jornais, …, que também trabalham neste dia?! Não são também trabalhadores?! Não há também a relação patrão-trabalhador, sempre conflituosa do ponto de vista ideológica (mesmo que em teoria)?! A verdade é que não havendo a imposição legal para esse impedimento, também começa a ser notório o excesso de demagogia política e a incapacidade discursiva por parte dos sindicatos e de alguns partidos políticos para a importância de determinadas vivências e realidades (caso do 1º de Maio ou até mesmo do 25 de Abril).
Esta é o primeiro facto. Excepção feita para os serviços mínimos, a realidade mostra que são cada vez mais os que, desvalorizando este Dia do Trabalhador, optam por trabalhar (nalguns acasos por evidente falta de escolha e alternativa, noutros por notória opção pessoal).
Quanto ao resto, e a partir do momento em que os factos acima descritos não são relevantes, a campanha do Pingo Doce foi uma excelente acção de marketing, de reposição de stocks, de promoção e de benefício para os consumidores e para muitas famílias. Querer desvirtuar os factos com argumentos paralelos é o próprio reconhecimento desse valor. É claro que o volume de vendas compensou o valor promocional e a despesa com IVA devido pelo valor real dos produtos. Além disso, a diminuição de clientes nos dias seguintes foi compensada com o afluxo de muitos dos consumidores da concorrência (para além de que nem todos os cliente do Pingo Doce aderiram à campanha). Aliás, não é nada difícil qualquer família (na maioria dos casos) gastar mais de 100 euros em compras mensais num hipermercado. Só quem não as faz é que ficará admirado.
A verdade é que foi uma excelente visão da realidade do país, do perfil médio do consumidor português, do próprio dia escolhido (não só por ser feriado, mas pelo tipo de feriado – e aqui é que começa a falhar o sindicalismo e a política – mas também por ser uma realidade que é nos primeiros dias de cada mês que se verifica um maior consumo). Para além disto, tecnicamente, a campanha não é mais, nem menos, do que muitos sectores comerciais fazem às sextas-feiras, com descontos em talões ou em cartões. Aliás, imediatamente copiada por outras áreas comerciais, similares ou não.
No entanto, há, infelizmente, uma outra realidade. Em vez das vozes criticas questionarem o valor da campanha, quando não criticam que se passem noites ao relento, horas intermináveis em filas, para gastar, muitas vezes o que não se tem, num bilhete de um concerto (a título de exemplo), de criticarem o impacto da medida em muitos orçamentos familiares (e de pequenos e tradicionais comércios) com a “demagógica bandeira” do capitalismo para depois exibirem os últimos ipads ou iphones 4G, era preferível que parássemos para reflectir no facto desta campanha ter demonstrado e colocado a “nú” a realidade de um país empobrecido, em evidentes dificuldades, onde qualquer "migalha" é sempre bem-vinda e arrebatadamente aproveitada. E a verdade é que esta é que devia ter sido a bandeira da crítica e de toda a análise dos acontecimentos: os cidadãos, as famílias, estão mais pobres, têm mais dificuldades, sentem algum desespero.
E além disso, a campanha demonstrou ainda outro factor preocupante: a falta de civismo, a falta de respeito, a falta de consciência de muitos portugueses. Imagine-se o que seria tudo isto num cenário de clara recessão ou racionamento de bens, ou até mesmo num cenário de catástrofe. Isto sim, preocupa.
Tudo o resto é politiquice e demagogia pseudo-ideológica... até porque ninguém foi obrigado a ir ao Pingo Doce. Uns foram porque quiseram, outros, se calhar imensos, foram porque precisaram.
Nota final como declaração de interesses: sou tão cliente do Pingo Doce, como sou do Continente, por exemplo. Este tipo de consumo faça-o, normal e habitualmente, no Jumbo mais perto de mim.

Uma boa semana…