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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Bastam 4 mil milhões para sorrirmos?

Começou hoje mais um processo de avaliação do programa de ajustamento financeiro pela Troika. De uma avaliação positiva resultará a cedência de mais 4 mil milhões de euros do fundo de resgate promovido pelo FMI, UE e BCE.

Tal facto, que significaria mais dinheiro (mesmo que com mais juros) para "salvar" o país da bancarrota, bem como o sucesso de implementação do programa do memorando de entendimento, seria motivo de orgulho e de regozijo. MAS...

A verdade é que as notícias que vieram hoje a público - "Portugal vai ter de adoptar mais medidas de austeridade para cumprir metas da troika" ou «Previsões da OCDE "não podem agradar a ninguém"» ou ainda "OCDE prevê ainda mais austeridade para Portugal" (com a recessão a durar até 2013 e o desemprego a subir até os 16,2%), não deixam qualquer margem para sorrisos.

Aliás, sorrir é o mote para o artigo de amanhã (quarta-feira, 23 de maio) da edição do Diário de Aveiro: "Rir de quê?"

Palavra contra Palavra.

A relação entre a Política e a Comunicação Social nunca foi pacífica, nem me parece que algum dia vá ser.
São tidas como "normais" as pressões que são exercidas várias (demasiadas) vezes sobre os órgãos de comunicação social e/ou os jornalistas. Veja-se, a título de exemplo e cronologicamente recentes, os casos que envolveram também o jornal Público na direcção de José Manuel Fernandes, os casos TVI (Marcelo Rebelo de Sousa e Manuela Moura Guedes), o caso Mário Crespo, os casos que envolveram o jornal SOL, ou até mesmo o caso dos "gravadores" com o deputado Ricardo Rodrigues.
E é por isso que, à semelhança do que aconteceu com o caso das "secretas" (do SIED) - Silva Carvalho e Nuno Vasconcelos (Ongoing), parece-me ser mais sensato ao PS que se mantenha atento mas mais observador do que participativo (Seguro quer esclarecimentos sobre actuação de Relvas "doa a quem doer")... porque como diz o ditado "quem tem telhado de vidro, não deve atirar pedras ao do vizinho".
Razão tem o Procurador-geral da República em decidir "aguardar a evolução dos factos no caso entre Miguel Relvas e o Público", até porque já estão em curso as averiguações por parte da entidade reguladora: "ERC inicia averiguações sobre alegadas ameaças de Relvas a jornalista do Público". Embora pessoalmente duvide do resultado deste processo (na ERC, entenda-se) já que acaba por ser a palavra da jornalista contra a do ministro, isto se não for encontrada nenhum facto falso ou incongruências que levantei suspeitas (seja de que lado for).
Por outro lado, ao ler atentamente o comunicado do Conselho de Redacção do jornal Público, independentemente da legitimidade das posições lá assumidas, é, no entanto, notório que há, face às críticas apontadas, divergências no que respeita à gestão profissional e editorial daquele órgão de comunicação social. Espera-se que tal realidade não "ofusque" o sentido crítico, ético e profissional.

No entanto, não posso deixar de concordar com as posições já publicamente assumidas por diversos sectores e personalidades que, em caso de confirmação dos factos e de que houve ameaças fundadas do ministro-Adjunto à jornalista do Público, Maria José Oliveira  (mais do que meras pressões), Miguel Relvas, no mínimo, não terá mais condições para se manter nas funções governativas (para além de outras consequências jurídicas).

Isto porque, contrariando a realidade que demonstra o usual das pressões e das relações controversas (embora também se possa considerar duvidosas as relações promíscuas) entre jornalistas e políticos, a verdade é que são inaceitáveis as pressões sobre o exercício do direito de informar e sobre a liberdade de imprensa (com a agravante da posição mediática e institucional de quem as exerce).

Num Estado de direito e democrático a existência de uma informação livre, pluralista, crítica, rigorosa e transparente é fundamental para que qualquer sociedade evolua, se alicerce, se estruture e se consolida.

No entanto, é bom que sejamos honestos e coerentes com as nossas posições: caso se confirme as atitudes de Miguel Relvas, este, pelo menos, deve apresentar a sua demissão. Mas e se não se confirmar um comportamento ilegítimo e ofensivo do ministro? O que acontecerá à jornalista?
A ver vamos...