Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Pressões, afinal, há muitas...

Publicado na edição de hoje, 27.05.2012, do Diário de Aveiro.
Entre a Proa e a Ré
Pressões de gestão…
A semana ficou marcada, essencialmente, pelas alegadas pressões do ministro-adjunto, Miguel Relvas ao jornal Público, tendo sido reforçada pela demissão do adjunto do Ministro no caso “SIED/Secretas”, e relegando para segundo plano a presença da missão da Troika para mais uma avaliação à execução do memorando de resgate financeiro.
Mas as “pressões” não se ficam apenas pela relação sempre “conflituosa” entre o poder político e a comunicação social (mesmo que seja sempre uma relação de simbiose existencial). A verdade é que a “pressão” é o dia-a-dia da política e da governação, mesmo que não exclusiva. E o mesmo se passa na gestão autárquica.
A necessidade e gerir correctamente as necessidades de cada município aliada aos anseios de cada munícipe, dentro de um conjunto normativo e legal cada vez mais exigente, não se afigura tarefa fácil (quando muitas vezes desmotivadora).
No caso concreto de Aveiro, a situação financeira do município e a conjuntura nacional, obrigam a um exercício de gestão acrescido para fazer face às exigências e ao cumprimento de projectos e compromissos assumidos para com os aveirenses. É o caso da necessidade vital, não só para a cidade, da reabilitação urgente da Avenida. A Avenida precisa de intervenção, precisa de voltar a ganhar vida sob pena da cidade e do município serem contagiados pela sua degradação. Mas tudo isto a que custo? Não haverá outra solução para a conhecida falta de investimento público sem que se aliene espaço público e se condicione três gerações a um projecto urbanístico, tal como deliberado na última reunião da Câmara Municipal de Aveiro? É que as questões afiguram-se muitas (talvez até demasiadas).
Aveiro tem, no centro urbano, quatro estacionamentos fechados que, por natureza são parques com características diferentes do estacionamento à superfície e na via pública. Mais duração que rotatividade. No entanto, excluindo os períodos de consumo alto, como o Natal, qual a taxa de ocupação de cada um deles? O da Praça Marquês de Pombal até já encerra aos domingos… Será eficaz a construção de mais quatro? Quem ficará com o défice dos custos de exploração? O investidor privado? Para além da questão do estacionamento subterrâneo, que incluiu a concessão do parque Manuel Firmino, o projecto prevê a concessão, pelos tais 60 anos, de estacionamento à superfície, em espaço público, nas zonas envolventes aos parques subterrâneos. É uma opção entendível para minimizar efeitos concorrenciais. No entanto, esta proposta para salvar a Avenida também se afigura, numa primeira análise, ao “não salvamento” da empresa municipal de mobilidade, a MoveAveiro. Retirar das suas contas de gestão a principal fonte de receita parece ser a desistência antecipada de uma provável recuperação da empresa. Até porque o estigma (para usar uma expressão tão governativa dos dias de hoje) de que os transportes públicos só servem para dar prejuízo (muito por força da sua componente social) é algo, mesmo em tempos de crise, ultrapassável. Veja-se o exemplo recente da STCP – Sociedade de Transportes Colectivos do Porto que, em abril deste ano e pela primeira vez desde a década de 1970, atingiram o equilíbrio operacional em 100% (taxa de cobertura dos gastos operacionais pelos proveitos operacionais, incluindo a cobertura do serviço social prestado).
Por outro lado, penso que seria mais eficaz o enquadramento do projecto de recuperação da Avenida (goste-se ou não da solução encontrada) também num plano municipal (ou pelo menos urbano) de mobilidade. Aliás, face às condicionantes de trânsito, estacionamento e de transportes públicos indicadas na proposta da Universidade de Aveiro, tudo fará mais sentido integrado nesse plano alargado de mobilidade urbana.
Além disso, “vender” ou alienar espaço urbano público poderá significar condicionar, não só o usufruto legítimo de qualquer cidadão a esse espaço, como qualquer projecto futuro de urbanismo para Aveiro, naqueles espaços.
Não é só o estacionamento subterrâneo (ou nem será por isso)… mas trata-se de espaço público e este é e deverá ser sempre isso mesmo: público. E 60 anos são muitas vidas…
Uma boa semana…