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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Quando a inteligência política não abunda...

 

(imagem Paulo Araújo - dinheiro vivo)

António Borges, o dito conselheiro de Passos Coelho (agora se percebe mais facilmente porque é que o Governo tem falhado e porque é que o país, em vez de recuperar, mergulha cada vez mais fundo) já tinha criado um grave problema ao Governo quando, numa entrevista a Judite de Sousa, na TVI, quando se referiu ao eventual processo de privatização e concessão da RTP.

Agora, o mesmo António Borges acaba de criar mais um embaraço “diplomático” (político) a Pedro Passos Coelho.

No 1º Forum Empresarial do Algarve, realizado hoje em Vilamoura, o conselheiro de Pedro Passos Coelho para as privatizações, António Borges (sobre quem recaem críticas sobre o seu desempenho profissional no FMI) ao defender com unhas e dentes o que mais ninguém defende (políticos, sociedade, trabalhadores, empresários, entidades representativas, economistas, nem mesmo os verdadeiros especialistas, ou até a própria Troika que não exigiu a aplicação da medida da TSU) acusou os empresários portugueses que criticaram as alterações à Taxa Social Única de “ignorantes”. Chegando mesmo ao ponto de afirmar “que os empresários (os tais ignorantes) não passariam no primeiro ano do meu curso da faculdade, isso não tenham dúvida”. Acresce ainda que a ausência de bom senso, de inteligência política e, também, económica, levaram a que António Borges considerasse que a “baixa da TSU é uma medida extraordinariamente inteligente”.

Há duas ou três coisas que me assolam o espírito ao ouvir este senhor mercenário da política e da economia, um verdadeiro espinho cravado na governação deste país (apesar de nem ter sido sujeito a sufrágio eleitoral): está pois identificado o “cancro” das políticas e da acção deste Governo (volta Relvas, estás perdoado); duvido que algum empresário, dos inteligentes que ainda temos, alguma vez desse emprego a alguém como António Borges; sempre que abre a boca António Borges cria um embaraço governativo. Ou ainda, se por ventura alguma tivesse António Borges como professor universitário no 1º ano do meu curso a primeira medida que tomaria, após a primeira aula, seria a apresentação de uma queixa no Conselho Científico e no Pedagógico por incompetência.

Sempre ouvi dizer que há silêncios que valem ouro. E no caso de António Borges é pena terem acabado com a censura.

Obviamente que as reacções dos “ignorantes” deste país não tardaram a surgir:

- António Borges não tem "perfil para o lugar público que ocupa" - Vieira Lopes (presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal)

- António Borges "nunca trabalhou na vida" - Filipe de Botton (presidente da Logoplaste)

- Patrão da Fly London "ofendido" com afirmações de António Borges - Fortunato Frederico

- "Maioria dos empresários portugueses também não contrataria António Borges" - António Saraiva (presidente da CIP)

- PS desafia Passos a dizer se também acha empresários "ignorantes"

O que pode tornar um dia diferente?

Um canal televisivo: Sic.

Programa: Alta definição – Hoje – 14.10 horas

Entrevistado/convidado: Maria João Ruela

 

(créditos da foto: blogue Sic 20 anos)

O programa “Alta Definição” de hoje, 29 de Setembro, na Sic, conduzido pelo Daniel Oliveira, teve como convidada a jornalista da Sic, Maria João Ruela. Visto, deliciosamente, do princípio ao fim.

Só me surge esta nota mental: é por estas pessoas, por estas causas, que vale a pena defender a Comunicação Social (com unhas e dentes). Uma excelente lição do ponto de vista profissional e pessoal. Uma história de vida fantástica.

Ainda bem que existe outro mundo na estação de Carnaxide, um mundo profissional muito melhor, bem melhor que o do Mário Crespo.

 

Felizmente o fim-de-semana até ficou com outro brilho…

Felizmente passou mais uma semana e o Mário Crespo continua sem ser correspondente da RTP em Washington.

A ética da austeridade

O Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida emitiu, no passado dia 21 de setembro, o parecer 64/CNECV/2012 sobre um Modelo de Deliberação para Financiamento do Custo dos Medicamentos.

Este parecer foi solicitado pelo Ministro da Saúde, do actual Governo, para fundamentação ética para o financiamento de três grupos de fármacos: retrovirais para doentes VIH+, medicamentos oncológicos e medicamentos biológicos em doentes com artrite reumatoide.

Quando começamos a ler o documento (ver aqui) tudo nos parece perfeitamente aceitável e louvável, pela forma como o Conselho retrata o princípio da equidade e da justiça na saúde e no respectivo acesso pelos cidadãos.

O que deveras se torna constrangedor, e até mesmo assustador, é a forma fria e "cirúrgica" (para usar terminologia apropriada) como o Conselho nacional de Ética para as Ciências da Vida condiciona o seu parecer de forma a transformar a Saúde, o bem da saúde, como meros métodos de cálculo, de investigação, de modelagem de gestão, e, principalmente, condiciona a vida e a saúde a cálculos financeiros e princípios de gestão empresarial.

São vidas, é a saúde dos cidadãos que está em causa... a diferença entre a saúde e a doença, entre a vida e a morte, entre a ética e a injustiça, não pode estar configurada a um mero saldo contabilístico ou financeiro.

Pela nossa saúde...

Janela Indiscreta da Antena 1 destaca Debaixo dos Arcos

O Programa de Pedro Rolo Duarte - "Janela Indiscreta", na Antena 1, na sua emissão do dia 24 de setembro (segunda-feira) destacou este blogue (Debaixo dos Arcos). "Janela Indiscreta" é um "O Olhar de Pedro Rolo Duarte pelo Universo dos Blogs. Em frente ao computador ele espreita as ideias e opiniões dos outros... De 2ª a 6ª Feira às 18:20 (às 02:20 de 6ª para Sábado), na Antena 1".

 (clicar para ouvir os 3 minutos do programa)

 

A escolha de Pedro Rolo Duarte teve como referência o texto que é (re)publicado na edição de ontem, dia 26 de setembro, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos

No Outono cai a folha… e a TSU.

Desde criança que, em texto (palavras) ou desenho (imagem), associamos o Outono a determinadas cores e à queda das folhas das árvores.

Desde este fim-de-semana que o início do Outono vai ficar igualmente marcado, não só nas crianças, como para memória futura, na queda do projecto governamental da alteração à Taxa Social Única (TSU), com as implicações a que isso conduzirá.

Era certo e sabido que os Conselheiros de Estado iriam dar um "puxão de orelhas" a Pedro Passos Coelho pela forma como foi delineada a recente medida de austeridade e pela forma como foi conduzido todo o processo. Isso era o mais expectável e que acabou por acontecer ao lermos o comunicado oficial com a síntese (e apenas isso) dos trabalhos do Conselho de Estado. Mas há outras leituras a destacar, deste longo Conselho de Estado, acompanhado no exterior por milhares de manifestantes.

Primeira análise vai para o que se pode entender como uma desautorização do primeiro-ministro. Não é, em nada, habitual o Presidente da República convocar para um Conselho de Estado um membro do governo, mesmo sendo um ministro de Estado e das Finanças, quando tem a seu lado o Primeiro-ministro e chefe do governo em funções. Aliás, mais estranho se afigura a presença do ministro Vítor Gaspar no Palácio de Belém quando foi o próprio Pedro Passos Coelho quem, na memorável noite de 7 de Setembro, anunciava, em mensagem que dirigia a todos os portugueses, esse "desastre" político que foi a mexida na Taxa Social Única, com as consequências sociais e políticas que se seguiram, expressas numa enorme contestação. Não me parece que esta situação tenha sido benéfica para a já fragilizada imagem do Primeiro-ministro e do Governo.

Algo que também se estranha foi a necessidade de Pedro Passos Coelho garantir a solidez da coligação governativa. E se as recentes reuniões, comunicados e conselhos de coordenação (como se não fosse suficiente a coordenação governativa que deve pautar qualquer governo) fizeram transparecer alguma "paz", não é líquido que as feridas estejam sanadas, que tudo esteja resolvido e que não possam surgir novas brechas (com impactos negativos maiores) aquando do próximo Orçamento do Estado, principalmente quando são ventiladas medidas de austeridade ao nível fiscal (IRS, etc) ultimamente combatidas e criticadas pelo CDS.

Entre as demagogias políticas dos desejos de consenso em concertação social, dos parceiros políticos, do consenso partidário alargado, há algo que preocupa nas conclusões do Conselho de Estado de 21 de Setembro: "No quadro da situação do País, os conselheiros sublinharam a importância crucial do diálogo político e social e da procura de consensos de modo a encontrar soluções que (...) garantam a equidade e a justiça na distribuição dos sacrifícios bem como a protecção das famílias de mais baixos rendimentos e permitam perspectivar o crescimento económico sustentável" (ponto 4 do comunicado). Relacionado com o ponto seis do mesmo comunicado e que refere que "o Conselho de Estado foi informado da disponibilidade do Governo para, no quadro da concertação social, estudar alternativas à alteração da Taxa Social Única". É que de equidades (que nem constitucionalmente existem) e de alternativas, neste momento e nesta fase da vida portuguesa, estou Eu e a maioria dos portugueses fartos. Fartos de excepções, de preocupações constitucionais que na prática não funcionam, nem se aplicam, dos sacrifícios serem sempre para o mesmo lado e quase sempre sobre o valor do trabalho e do rendimento. E este Conselho de Estado deixa-me deveras angustiado e preocupado: é que, por norma, as alternativas têm deixado sempre um sabor amargo: são alternativas que levam a um crescente esforço e sacrifício dos cidadãos, enquanto o estado vai apresentando migalhas no esforço de contenção da despesa e do despesismo público. O que aliás se tem notado nas declarações dos parceiros sociais nas rondas negociais em sede de concertação.

Se há uns dias atrás, Pedro Passo Coelho tinha (e, legitimante, usou) a "almofada" do Acórdão do Tribunal Constitucional sobre a equidade e os cortes salariais, não me surpreende nada que o Primeiro-ministro não vá usar o Conselho de Estado de 21 de Setembro como nova "almofada" para que as alternativas à TSU sejam mais sacrifícios dos portugueses. Até porque sem essas alternativas não haverá "chequezinho" da Troika.

Acordai! Acordai!

Ciclo Beethoven no Teatro Aveirense - 30 de setembro

A Orquestra das Beiras vai levar ao palco do Teatro Aveirense, no próximo dia 30 de setembro, o 4º concerto do "Ciclo Beethoven - 2011/2013 - Integral das Sinfonias e dos Concertos para Piano".

O programa enquadra-se nas comemorações do Dia Mundial da Música e é, na sua totalidade, da autoria do compositor Ludwig van Beethoven: Abertura Leonora nº1, Concerto para Piano e Orquestra nº 1 em Dó Maior e Sinfonia nº 2 em Ré Maior.
A Orquestra das Beiras será dirigida pelo maestro Ernst Schelle e terá como solista a jovem pianista Ana Beatriz Ferreira.
O projecto "Ciclo Beethoven - 2011/2013" apresenta oito concertos onde serão incluidas várias obras: Aberturas, a integral das nove Sinfonias e dos cinco Concertos para Piano, a Fantasia Coral, o Triplo Concerto para violino, violoncelo, piano e orquestra, de Ludwig van Beethoven, executados por alguns dos principais pianistas portugueses.


Programa:

Ludwig van BEETHOVEN (1770-1827)
    – Abertura Leonora nº1, op. 138
    – Concerto para piano nº 1 em Dó Maior, op. 15
        I. Allegro con brio
        II. Largo
        III. Rondo. Allegro scherzando
    – Sinfonia nº 2 em Ré Maior, op. 36
        I. Adagio molto: Allegro con brio
        II. Larghetto
        III. Scherzo: Allegro
        IV. Allegro molto

Intervenientes:
Orquestra Filarmonia das Beiras
Ana Beatriz Ferreira, piano
Ernst Schelle, direção

Mobilidade é responsabilidade de todos

Publicado na edição de hoje, 23 de setembro, no Diário de Aveiro.

Entre a Proa e a Ré

Mobilidade é responsabilidade de todos

Não poderia ser maior a coincidência de se celebrar a Semana da Mobilidade e o Dia Europeu Sem Carros (22 de setembro) numa altura em que Aveiro vive momentos conturbados, ou controversos, para se ser mais concreto, especificamente relacionados com esta área da mobilidade e acessibilidade.

Sejam quais forem as razões, nomeadamente as políticas, que norteiam as críticas à autarquia sobre o trânsito, estacionamento ou os transportes públicos, independentemente da sua validade, a verdade é que a Mobilidade não pode ser apenas encarada do ponto de vista da circulação automóvel, nem a sua responsabilidade apenas circunscrita à acção da gestão municipal.

A mobilidade (e a acessibilidade) reveste-se de aspectos culturais, sociais, ambientais, de saúde pública e individual, e, obviamente, de aspectos de planeamento, gestão e investimento públicos. Mas é, e tem de ser encarada, como uma responsabilidade colectiva.

E isto repercute-se em pequenas acções do nosso quotidiano: o andar a pé; o recurso à bicicleta em curtas distâncias contrariando um comodismo e uma aversão cultural a este modo suave de mobilidade (para a maioria dos cidadãos a bicicleta, no dia-a-dia, ainda é sinal de desvalorização social e não uma alternativa saudável de deslocação, nomeadamente, em espaços urbanos); a forma desordenada e abusiva como estacionamos; a utilização excessiva do transporte individual (automóvel); a construção de edifícios e equipamentos públicos sem contemplarem a acessibilidade a cidadãos com mobilidade reduzida (temporária ou não); a degradação, deterioração e vandalismo sobre o espaço público; o reordenamento do trânsito e estacionamento; a promoção dos transportes públicos; as campanhas e acção de sensibilização e educação, entre outros aspectos.

Como se pode verificar, há responsabilidades repartidas, e algumas comuns, na área da mobilidade, entre cidadãos e entidades.

Face à complexidade das relações e ligações que a mobilidade tem com o dia-a-dia das comunidades e dos cidadãos, por mais acções e iniciativas que se tomem em redor da Semana da Mobilidade e do Dia Europeu sem Carros parecem sempre “saber a pouco”. Se é verdade que Aveiro foi, em 2000, um dos municípios a aderir ao compromisso europeu do Dia Sem Carros, também não deixa de ser um facto que, hoje, em 2012, apenas quatro municípios do distrito de Aveiro (Aveiro, Oliveira de Azeméis, Castelo de Paiva e Oliveira do Bairro), celebram esta semana e este dia com mais ou menos iniciativas, com mais ou menos compromisso com a “carta europeia”.

Depois dos dois ou três anos iniciais, cheios de fulgor, com muita pompa e circunstância, com ruas totalmente cortadas ao trânsito e restrições nas circulações, a realidade mostra-nos as inconsequências das acções e a ausência de políticas e medidas duradouras nas diversas áreas da mobilidade e acessibilidade, para além da incapacidade de alteração dos hábitos, usos e costumes dos cidadãos nesta área (aliás com inquietantes agravamentos).

Sem um plano abrangente e exequível, sem a participação de todos (cidadãos e entidades) na forma como podemos encarar a mobilidade nas comunidades, as iniciativas que se tomem vão ter sempre este sabor a desilusão. E não são precisos grandes projectos, nem empreendimentos, se houver a definição de um plano consistente de mobilidade municipal. A sua colocação em prática pode resultar no envolvimento de todos e em acções simples, pequenas, mas que conjugadas e relacionadas podem fazer a diferença e a mudança. Por exemplo, o incentivo ao uso de modos alternativos o transporte individual (transporte público, ciclável ou pedonal) e recordo aqui os projectos municipais europeus LifeCycle e ActivAcess; a partilha do transporte individual em sistemas como o carpooling entre funcionários de uma mesma empresa (ou empresas vizinhas); campanhas de sensibilização e educação com custos extremamente reduzidos ou nulos, como o projecto das Passadeiras – “Cuidado com o Peão, Arte em Circulação” (embora seja importante realçar a relevância que tem a valorização da componente comunicacional); as restrições à circulação e ao estacionamento, integradas com a promoção do uso de espaços ou parques de estacionamentos; a sensibilização para medidas que facilitem a mobilidade e a acessibilidade para cidadão com incapacidades; e acções que minimizem a degradação e o vandalismo sobre o espaço e equipamentos públicos; acções escolares que promovam diferentes hábitos de mobilidade e que possam trazer alterações comportamentais no futuro das comunidades e dos cidadãos.

O que não pode, nem deve, continuar a acontecer é a falta de consequência prática e duradoura das acções e das iniciativas. Não se pode continuar a tratar a mobilidade nas cidades e nas comunidades como algo pontual e fugaz. Não basta o recurso a “folclore” que não deixa marcas, não traz perspectivas de mudança no futuro e só gasta recursos tão necessários hoje em dia.

A Mobilidade tem de ser vivida e sentida todos os dias, e por todos.

No Outono cai a folha... e a TSU.

(créditos da foto: © Leonardo Negrão/Global Imagens, via DN online)

Desde criança que associamos em texto (palavras) ou desenho (imagem) o Outono a determinadas cores e à queda das folhas das árvores.

Desde ontem, que o início do Outono vai ficar igualmente marcado, não só nas crianças, como para memória futura, na queda do projecto governamental da alteração à TSU, com as implicações a que isso conduzirá.

Porque se para a maioria das pessoas o resultado do Conselho de Estado de 21 de Setembro de 2012 (o mais longo de todo o mandato de Cavaco Silva como Presidente da República) não traz grandes surpresas, nem grandes consequências práticas, penso que se enganaram redondamente.

O certo e sabido (e esperado por muita gente) é que os Conselheiros de Estado (praticamente todos, face ao que se conhecia das suas posições em relação às mexidas na TSU) iriam dar um "puxão de orelhas" a Pedro Passos Coelho pela forma como foi delineada a recente medida de austeridade e pela forma como foi conduzido todo o processo. Isso era o mais expectável e que acabou por acontecer ao lermos o comunicado oficial com a síntese (e apenas isso) dos trabalhos do Conselho (texto na íntegra).

Mas há outras leituras a destacar, deste longo (oito horas de duração) Conselho de Estado, acompanhado no exterior por milhares de manifestantes.

Primeira análise vai para o que se pode entender como uma desautorização do primeiro-ministro (ponto 2 do comunicado). Não é, em nada, habitual o Presidente da República convocar para um Conselho de Estado um membro do governo, mesmo sendo um ministro de Estado e das Finanças, quando tem a seu lado o Primeiro-ministro e chefe do governo em funções. Aliás, mais estranho se afigura a presença do ministro Vítor Gaspar no Palácio de Belém quando foi o próprio Pedro Passos Coelho quem, na memorável noite de 7 de Setembro, o chefe do governo português anunciava, em mensagem qu dirigia a todos os portugueses, esse "desastre" político que foi a mexida na Taxa Social Única, com as consequências sociais e políticas que se seguiram, expressas numa enorme contestação.

Não me parece que esta situação tenha sido benéfica para a já fragilizada imagem do Primeiro-ministro e do Governo.

Aliás, algo que também se estranha foi a necessidade de Pedro Passos Coelho garantir a solidez da coligação governativa (ponto 7 do comunicado). São conhecidos os esforços para reparar o "rombo" da relação de confiança na coligação. E se as recentes reuniões, comunicados e conselhos de coordenação (como se não fosse suficiente a coordenação governativa que deve pautar qualquer governo) fizeram transparecer alguma "paz", não é líquido que as feridas estejam sanadas, que tudo esteja resolvido e que não possam surgir novas brechas (com impactos negativos maiores) aquando do próximo Orçamento do Estado.

Entre as demagogias políticas dos desejos de consenso em concertação social, dos parceiros políticos, do consenso partidário alargado, blá, blá, blá, há algo que me preocupa nas conclusões do Conselho de Estado de 21 de Setembro: "No quadro da situação do País, os conselheiros sublinharam a importância crucial do diálogo político e social e da procura de consensos de modo a encontrar soluções que (...) garantam a equidade e a justiça na distribuição dos sacrifícios bem como a protecção das famílias de mais baixos rendimentos e permitam perspectivar o crescimento económico sustentável" (ponto 4 do comunicado). Relacionado com o ponto seis do mesmo comunicado e que refere que "o Conselho de Estado foi informado da disponibilidade do Governo para, no quadro da concertação social, estudar alternativas à alteração da Taxa Social Única".

É que de equidades (que nem constitucionalmente existem) e de alternativas, neste momento e nesta fase da vida portuguesa, estou Eu e a maioria dos portugueses fartos.

Fartos de excepções, de preocupações constitucionais que na prática não funcionam, nem se aplicam, dos sacrifícios serem sempre para o mesmo lado e quase sempre sobre o valor do trabalho e do rendimento.

E este Conselho de Estado, realizado ontem (mesmo que terminado já no dia de hoje), deixa-me deveras angustiado e preocupado: é que, por norma, as alternativas têm deixado sempre um sabor amargo: são alternativas que levam a um crescente esforço e sacrifício dos cidadãos, enquanto o estado vai apresentando migalhas no esforço de contenção da despesa e do despesismo público.

Se há uns dias atrás, Pedro Passo Coelho tinha (e, legitimante, usou) a "almofada" do Acórdão do Tribunal Constitucional sobre a equidade e os cortes salariais, não me surpreende nada que o Primeiro-ministro não vá usar o Conselho de Estado de 21 de Setembro como nova "almofada" para que as alternativas à TSU sejam mais sacrifícios dos portugueses.

Até porque sem essa alternativa não haverá "chequezinho" da Troika.

Acordai! Acordai!

O Governo vai a TVI24, hoje!

A TVI é capaz de extremos no que respeita a programação. Basta ter como péssimo exemplo o degredo da Casa dos Segredos.

No entanto, talvez seja esta disparidade de qualidade de programação que torna a estação de Queluz a mais vista dos canais nacionais.

Apesar destes "senãos" há na TVI momentos (cada vez mais, importa realçar) que nos vão fazem prender a atenção e "colar-nos" ao pequeno ecrã.

É o caso da estreia, hoje, na programação da TVI24 de um dos melhores programas de informação/debate de toda a rádio nacional.

O programa da TSF - "Governo Sombra" chega à televisão.

Hoje, Sábado, pelas 23.00 horas, "Governo Sombra", TVI24... a não perder. Nunca!

(créditos da foto: © Mário Ribeiro/Notícias TV - via DN online)

Louco na Serra - Teatro Aveirense

Sábado, 22 de Setembro, 21.30 horas.

Teatro Aveirense

TEATRO do MONTEMURO apresenta:

"LOUCO NA SERRA"

"Louco na Serra" é uma adaptação de “Rei Lear” de Shakespeare.
Debaixo de uma tempestade na Serra de Montemuro três homens, a viver em lugares distintos da serra, recordam os eventos do ano anterior e a queda de Leandro e da sua família no caos.
“Louco na Serra” faz-nos caminhar sobre a frágil barreira entre a civilização e a selvajaria. Ira, traição, inveja, delírio, medo, loucura, vingança, morte, crueldade, compaixão.

 

Louco na Serra

Interpretação: Abel Duarte, Eduardo Correia e Paulo Duarte. Produção Teatro de Montemuro.

Remodelação para quê?

Hoje, depois da hecatombe vivida nestes últimos dias, é clara a evidência de que a política, os partidos e o próprio governo estão em crise. Já não é apenas e tão só o país em termos financeiros, económicos e sociais. Aliás, apesar das novas e recentes medidas de austeridade, com mais taxas ou menos impostos, a maior crise é a da democracia e a dos partidos políticos.

E o primeiro sinal foi dado no passado sábado, com uma expressividade já há muitos anos não vivida e sentida nas ruas e nas cidades deste país. Poderá não estar em causa a democracia, mas o seu valor, a sua representatividade, a sua relação com os partidos políticos, essa, por manifesta culpa destes (partidos e políticos), está claramente fragilizada e colocada em causa.

Mas há outros factos, nomeadamente, oriundos da própria esfera político-partidária.

Já ninguém tem qualquer dúvida: o governo vive uma paz podre, há uma fragilidade notória na coligação, um azedar nas relações entre o líder do governo e o seu ministro de Estado (e líder do outro partido coligado), é evidente que PSD e CDS entraram, em 2011, no mesmo barco, mas, parafraseando Pedro Santos Guerreiro no seu editorial de hoje no Jornal de Negócios, e bem “à moda das gentes ribeirinhas aveirenses”, um tomou o lugar à proa e o outro à ré.

E, neste momento, o pior que pode acontecer ao país, mais do que a queda do governo (por razões democráticas, institucionais, legislativas ou, até mesmo, constitucionais), é a coligação provocar a sua própria queda. Abanar, já abanaram… só falta mesmo tombar.

Mas se parece ser um facto, penso que desejável até pela predisposição do líder do PS em formar governo apenas pela via eleitoral (ao contrário da posição de Mário Soares, o que até não é inédito se nos recordarmos da forma como Santana Lopes subiu ao poder) que o governo se vá manter em funções (ou então substituído por força de imperativos constitucionais, tal como fez Jorge Sampaio com Santana Lopes, para recordar o mesmo exemplo), uma remodelação governativa não me parece ter qualquer impacto na forma como este governo (longe da social-democracia) encara os problemas do país, encontra soluções e as aplica.

Não se vislumbrando a substituição do primeiro-ministro, do ministro das Finanças, nem a substituição daquele que é o alicerce político deste governo – o ministro Miguel Relvas, por mais que custe a muitos de nós portugueses, seja pelas razões que forem que serão sempre muitas, não vejo que qualquer outra alteração ministerial tenha qualquer influência no desempenho do governo. Mesmo que sejam ministros ou secretários de Estado do CDS-PP.

De facto, o governo passa pela sua definição/convicção política (Passos Coelho e Miguel Relvas) e pela gestão financeira (mais que a económica) do país (Vitor Gaspar). Todo o resto é “folclore” e só compõem o “ramalhete”.

A remodelação governamental só faz sentido se forem mudadas as políticas, os conceitos, as ideologias (com evidente regresso ao PPD), a visão da sociedade e da economia. Para isso mais vale renovar o quadro de assessorias, consultadorias e afins.

Já que remodelar significa modificar ou transformar, entre outros sinónimos, isto só faria sentido com outro governo (eleitoral ou de iniciativa parlamentar/presidencial).

Se assim não for… preocupemo-nos com as coisas importantes e graves neste país: “como sair deste buraco bem fundo”.

Da Proa até à Ré

Em 2011, após a derrota eleitoral do então governo de José Sócrates, PSD e CDS entraram no mesmo barco governamental, fruto de horas de acordos e compromissos que resultaram na actual coligação governamental pós-eleitoral.

E este “pós-eleitoral” não é de todo descabido, nem despropositado.

Primeiro, porque é importante referir que os programas eleitorais com os quais os partidos se apresentaram a sufrágio eleitoral não são iguais. Basta relembrar, por exemplo, o processo falhado da revisão da lei eleitoral autárquica.

Segundo, porque o compromisso assinado não está de todo cimentado. As clivagens e as diferenças parecem ser mais que o aceitável e o comportável para a convivência partidária no seio da governação. O rastilho ou o transbordar do copo aconteceu com a medida anunciada para a revisão da Taxa Social Única.

Pouco interessa o ping-pong entre quem informou, quem comunicou, quem não concordou, quem contrariou ou quem aceitou.

O que resultou de toda esta embrulhada no governo e na coligação foi a imagem de que a solidez, a confiança e a credibilidade governativa são de uma fragilidade assustadoramente inquietante. E se Pedro Passos Coelho não foi propriamente feliz ao referir-se, na entrevista à RTP do dia 13 de setembro, ao seu parceiro de coligação e ministro de Estado, a verdade é que Paulo Portas acabou por deitar mais lenha para a fogueira e provocar um autêntico incêndio governamental.

Se muitas vozes diziam, à data da entrevista, que o primeiro-Ministro tinha “entalado” o ministro dos Negócios Estrangeiros, o que verdadeiramente aconteceu foi que as declarações de Paulo Portas criaram um autêntico rombo no barco da coligação governativa. E o governo, ou os dois principais rostos da coligação, meteram água.

Paulo Portas só tinha dois caminhos: ou resolvia dentro do governo o diferendo em relação às medidas da 5ª avaliação da Troika ou, em vez de vir para a praça pública dizer que “nim” (sou contra, mas com sentido de Estado… o que na prática não é coisa nenhuma, porque sentido de Estado tiveram os portugueses que sentiram fortes motivos de indignação e vieram para a rua), tinha, no seio do governo, bloqueado a medida ou batido com a porta (e aí sim, era um verdadeiro sentido de Estado).

Porque ainda não consegui perceber, nem encontrar nenhuma explicação plausível, para o medo de eleições em pleno resgate. Já não aconteceram na Grécia?! Sócrates não foi a eleições em pleno programa de recuperação da crise (com os PECs)? A Itália não foi a eleições antecipadas? Porque é que se tem de interromper a democracia até 2014? Não faltava mesmo mais nada…

Já não há pachorra...

O anúncio publicitário da Zon, a linha que separa tudo, quando surgiu teve alguma indiferença ou até mesmo alguma crítica.

Mas a verdade é que a publicidade ficou no "ouvido" e no léxico nacional.

Mas, como tudo neste país, nunca se consegue ficar pelo racional, pelo suficiente. É sempre no abuso, no exagero, na exaustão.

E já não há pachorra para "tanta linha que separa".

Há uma linha que separa isto, aquilo, aqueloutro e mais não sei o quê.

Até na política já usam o raio da "linha da Zon", tal como referiu António José Seguro na passada quinta-feira, 13 de Setembro, qaundo se dirigiu ao país: "Há uma linha que separa a austeridade da imoralidade e essa linha foi ultrapassada".

Será que ainda não perceberam que há uma linha que separa a paciência da irritação?!

Esta era a causa...

Tudo começou aqui: "Uma Causa... nobre, digna, solidária". Os amigos, a família, os "anónimos" cidadãos solidários juntaram-se e "Uniram-se à Mariana". Tudo foi crescendo, tomando forma, corpo, responsabilidade, força, dimensão e, acima de tudo,... esperança.

Muitas são as causas que, pelas mais diversificadas razões e áreas, proliferam no nosso dia-a-dia. Umas, felizmente poucas, duvidosas e falsas, muitas, infelizmente demasiadas, legitimas, dignas e nobres. A dimensão das causas que conhecemos, seja porque motivo for, levam-nos à necessidade de tomarmos opções, sermos selectivos e criteriosos.

A minha selecção e opção foi feita... e durante alguns meses esta foi a minha causa (mesmo que ao longe, modestamente, mas de forma sentida e com muita esperança).

No dia 19 de julho chegava o dia. Um enorme dia! O objectivo, o esforço, a dedicação, a esperança tinham sido alcançados. Por todos, com todos e, claramente, com o inquestionável apoio da empresa ThyssenKrupp Elevadores, numa irrepreensível responsabilidade empresarial social.

A Mariana iria ter uma cadeira. Afinal, a vida também sabe sorrir.

No dia 12 de Setembro... a apoteose da esperança e da solidariedade.

Primeiro um tubo...

Depois a cadeira. A tão desejada cadeira...

E por fim... o melhor do mundo. De TODÓMUNDO.

O sorriso de felicidade de uma criança. E que criança...

O mundo ficou melhor.

Não há crise no governo?

A questão é, naturalmente, pertinente face às declarações do Primeiro-ministro na passada quinta-feira ("Comunicação governativa péssima") e à posição do CDS resultante da reunião da comissão politca nacional de ontem.

Há ou não crise na coligação governativa?

Aparentemente, apesar ou mesmo com as divergências, não há rutpura da coligação.

Mas a verdade é que é evidente que "estalou o verniz" entre Paulo Portas e Pedro Passos Coelho, entre o PSD e o CDS.

A coligação governtiva não caiu, mas está claramente "ferida de morte". Basta ter como referência as imediatas reacções do PSD ("PSD considera 'inacreditável' intervenção de Paulo Portas"  -  "PSD vai analisar declarações de Paulo Portas") em relação à declaração deste manhã de Paulo Portas (clicar na imagem para aceder ao vídeo).

Resta saber até quando durará esta fragilidade...

Pessoalmente, as eleições autárquicas serão novo marco de eferição do estado de saúde do governo, não enquanto responsável pelos destinos do pais, mas na consolidação da coligação.

 

O "Um" e o "Outro"...

Publicado na edição de hoje, 16 de setembro, do Diário de Aveiro.

Entre a Proa e a Ré

O “Um” e o “Outro”…

1. Quatro minutos de vazio…

Foi com alguma expectativa que aguardei a comunicação de António José Seguro (na passada quinta-feira, dia 13 de setembro) após toda a polémica e crítica em torno das recentes medidas e políticas do governo. António José Seguro usou cerca de quatro minutos do prime-time, em pleno horário informativo, para, afinal… não dizer nada. Ou pelo menos, não dizer nada de novo, nem de relevante.

Primeiro, anunciou o sentido de voto do partido em relação a um Orçamento do Estado que nem sequer tem um documento inicial ou nem conhece. António José Seguro corre o risco de ter de dar o dito pelo não dito já no próximo mês.

Segundo, a única medida alternativa anunciada (face a um rol de medidas que vão ser implementadas pelo Governo) foi a criação de uma taxa (imposto extraordinário) sobre as PPPs. Sem quantificar, nem explicar. A única conclusão é que o líder socialista “renega” e reconhece o erro das parcerias público-privadas da anterior governação do PS.

Terceiro, o líder do maior partido da oposição afirmou que há outro caminho para a saída da crise, embora exigente e que alia o rigor orçamental com o crescimento económico e social. Mas qual é o caminho? Por onde quer o PS levar o país?! É necessário e importante saber isso.

Quarto, por último. António José Seguro centrou o seu discurso, essencialmente e de forma dramática e entoada, criticando as medidas aplicadas em relação à Taxa Social Única. Só que sem qualquer novidade. O que disse já tinha dito quase todo o país, incluindo figuras de proa do próprio PSD, lembrando, por exemplo, a entrevista de Manuela Ferreira Leite, ontem, na TVI24. E não é a “ameaça” da moção de censura (sem qualquer efeito prático e que há bem pouco tempo era desvalorizada por José Seguro) que traz uma alternativa ou novidade.

A novidade, se é que assim se pode definir, tem a ver com o anúncio de Seguro em querer levar o assunto da Taxa Social Única até às instâncias mais altas da magistratura: Presidente da República e Tribunal Constitucional. Aqui, Seguro falhou redondamente. As alterações na TSU foram resultado (correcto ou errado) da interpretação e da oportunidade que o Governo fez e viu na decisão do Tribunal Constitucional sobre os cortes dos subsídios na Função Pública. E nessa altura, à revelia do próprio partido e da sua direcção, foi um grupo isolado de deputados socialistas (cerca de 10) com deputados do BE que solicitaram o parecer ao Tribunal Constitucional. Vir agora ameaçar com inconstitucionalidades é, literalmente, um recurso de desespero político à falta de outro tipo de argumentações.

Em 45 minutos de entrevista à TVI24, um dia antes, Manuel Ferreira Leite conseguiu fazer mais oposição ao governo, de forma crítica, eficaz, coerente, até com alguma ironia, do que António José Seguro desde as eleições de 2011.

Com uma oposição assim é fácil governar assim. Uma má, a outra péssima.

2. Comunicação governativa péssima

A entrevista que Pedro Passos Coelho concedeu igualmente na quinta-feira, 13 de setembro, à RTP foi um verdadeiro mau momento político e comunicacional.

Primeiro, porque o país esperou mais de cinco dias (desde a comunicação ao país na passada sexta-feira) para ouvir explicações que deveriam ter sido dadas na altura. Isto apesar de continuar a achar que a comunicação de sexta-feira foi totalmente despropositada face ao decurso da avaliação da Troika (deveria ter sido feita apenas na terça-feira).

Segundo, esta entrevista era, do ponto de vista político, perfeitamente escusada já que, excluindo questões relacionadas com a coligação e a sua sobrevivência, ou a relação institucional com o PS, nada mais haveria a acrescentar dada a distância temporal para a apresentação do Orçamento para 2013 e as próximas reuniões de preparação com partidos e parceiros sociais. Aliás, do ponto de vista político é um erro crasso porque condicionante da acção futura do governo e dos parceiros sociais.

Terceiro, a entrevista foi demasiada “sem sabor”, sem novidades, sem qualquer motivo verdadeiramente interessante. A não ser o facto de se ficar a saber (ou pelo menos com a sensação) que não haverá recuo governativo e que Passos Coelho (com ou sem razão, o futuro imediato o dirá) ter-se adiantado a qualquer posição pública do CDS e de Paulo Portas.

Quarto, três notas finais: Pedro Passos Coelho esteve muito inseguro, sem firmeza e serenidade, e muito mal preparado; o jornalista Vitor Gonçalves e o jornalista e editor de economia da RTP, Paulo Ferreira, estiveram muito bem profissionalmente. Bem preparados, temas bem estudados, questões bem formuladas, serenos e assertivos, seguros na condução da entrevista. Muito bom, exemplar até, exercício de jornalismo; com esta entrevista Pedro Passos Coelho prestou uma excelente publicidade e incentivo às manifestações agendadas para este sábado, em vários pontos do país. Melhor publicidade não poderia ter havido.

A austeridade partidária

No seio de toda a discussão sobre o caminho que o Governo delineou para a saída da crise e recentemente divulgado já aqui expressei a minha opinião sobre a vertente político-financeira e político-social.
Falta referir um aspecto não menos importante, não tanto para a vida dos cidadãos mas para a vida política nacional: a vertente político-partidária.
E a questão é simples: que consequências político-partidárias resultam desta quinta avaliação da Troika e das medidas anunciadas?
Em relação aos partidos mais à esquerda, BE e PCP, são mais que conhecidas as suas posições em relação a todo o processo.
Desta forma, restam PSD, CDS e PS.
Em relação ao partido maioritário parece mais que óbvio que, independentemente da posição do grupo parlamentar em relação ao próximo Orçamento, o Governo e Pedro Passos Coelho estão a ficar isolados. E garantida que está, a priori, a aprovação do Orçamento do Estado para 2013 não é líquido que muitos dos deputados do PSD não tenham de engolir um “colossal” sapo. O que sugere que a partir deste momento haja uma tensão acrescida dentro do próprio partido.
Quanto ao CDS, partido da coligação, já se tinha sentido alguma discrepância de objectivos e convicções em relação à reforma eleitoral autárquica. Longe de se imaginar que as coisas tomassem estas proporções. E não há forma de esconder a realidade. Por mais “água que se deite na fervura”, por “mais sol que se queira tapar com a peneira”, por mais ilusões e demagogias que se usem, a verdade é que estalou o verniz na coligação. Ao ponto de ser totalmente legítima equacionar-se o fim da coligação governativa. Este silêncio, por mais que fundamentado no timing legítimo e definido pelo líder centrista, é revelador do mal-estar gerado na coligação e da indecisão do CDS. Posição que é, seguramente, a mais difícil de tomar em relação a qualquer outro partido. Se quebra o pacto ais, forçosamente, do Governo e perde o poder, se mantém o acordo com o PSD rasga tudo o que é convicção, programa eleitoral (e até ideológico) e perde qualquer credibilidade. De referir que, em relação à primeira opção, é expectável que o CDS poderia ver crescer o seu eleitorado.
Por último, em relação ao PS a consequência política das suas decisões são a imagem do que tem sido a sua posição e o seu papel enquanto maior partido da oposição. Demagogo em excesso, sempre dúbio, sempre indeciso, sem se apresentar como alternativa coerente e consistente.
De uma vez por todas, António José Seguro tem de assumir uma posição concreta e consequente: ou assume o compromisso que o PS subscreveu à data da assinatura do memorando ou então, de uma vez por todas, marca definitivamente uma posição de rotura e assume a sua oposição ao memorando, às suas implicações e às medidas consequentes. Mas de forma clara. Até porque o PSD tem dado ao PS todas as oportunidades e fundamentações para tal posição: o caminho usado, a ideologia, a própria posição/discurso crítico em relação à própria Troika. Mas tem um senão: não basta dizer que basta, é necessário e credível a apresentação de alternativas concretas, plausíveis e realistas. Se não, mais vale continuar a andar pelo “nim”.
Em conclusão, outra realidade que tem sido equacionada é a eventualidade de eleições antecipadas. O argumento que tem sido usado para negar essa eventualidade é o perigo das eleições em pleno resgate financeiro externo. E então? Qual é o problema? Não foi assim que aconteceu na Grécia? Não foi assim que aconteceu em Itália (apesar de não haver resgate houve a pressão externa das entidades)? Qual seria o perigo de mudar a gestão do país, com outro tipo de caminho, já que o memorando estará sempre presente? É a democracia… tão somente!

Comunicação governativa péssima

A entrevista que Pedro Passos Coelho concedeu hoje, 13 de setembro, à RTP foi um verdadeiro mau momento político e comunicacional.

Primeiro, porque o país esperou mais de cinco dias (desde a comunicação ao país na passada sexta-feira) para ouvir explicações que deveriam ter sido dadas na altura. Isto apesar de continuar a achar que a comunicação de sexta-feira foi totalmente despropositada face ao decurso da avaliação da Troika (deveria ter sido feita apenas na terça-feira).

Segundo, esta entrevista era perfeitamente escusada já que, excluindo questões relacionadas com a coligação e a sua sobrevivência, ou a relação institucional com o PS, nada mais haveria a acrescentar dada a distância temporal para a apresentação do Orçamento para 2013 e as próximas reuniões de preparação com partidos e parceiros sociais. Aliás, do ponto de vista político é um erro crasso porque condicionante da acção futura do governo e dos parceiros sociais.

Terceiro, a entrevista foi demasiada “sem sabor”, sem novidades, sem qualquer tipo de motivo verdadeiramente interessante. A não ser o facto de se ficar a saber (ou pelo menos com a sensação) que não haverá recuo governativo e que Passos Coelho (com ou sem razão, o futuro imediato o dirá) ter-se adiantado a qualquer posição pública do CDS e de Paulo Portas.

Quarto, três notas finais:

- Pedro Passos Coelho muito inseguro e mal preparado.

- O jornalista Vitor Gonçalves e o jornalista e editor de economia da RTP, Paulo Ferreira, estiveram muito bem profissionalmente. Bem preparados, temas bem estudados, questões bem formuladas, serenos e assertivos, seguros na condução da entrevista. Muito bom, exemplar, exercício de jornalismo.

- Com esta entrevista Pedro Passos Coelho prestou uma excelente publicidade e incentivo às manifestações agendadas para amanhã em vários pontos do país.

Quatro minutos de vazio…

Foi com alguma expectativa que aguardei a comunicação de António José Seguro após toda a polémica e crítica em torno das recentes medidas e políticas do governo. António José Seguro usou cerca de quatro minutos do prime-time, em pleno horário informativo, para, afinal… não dizer nada. Ou pelo menos, não dizer nada de novo, nem de relevante.

Quatro minutos… quatro pontos.

Primeiro, anunciar o sentido de voto em relação a um Orçamento do Estado que nem sequer tem um documento inicial. António José Seguro corre o risco de ter de dar o dito pelo não dito.

Segundo, a única medida alternativa anunciada (face a um rol de medidas que vão ser implementadas pelo Governo) foi a criação de uma taxa (imposto extraordinário) sobre as PPPs. Sem quantificar, nem explicar. A única conclusão é que o líder socialista “renega” e reconhece o erro das parcerias público-privadas da anterior governação do PS.

Terceiro, o líder do maior partido da oposição afirmou que há outro caminho para a saída da crise, embora exigente e que alia o rigor orçamental com o crescimento económico e social. Mas qual é o caminho? Por onde quer o PS levar o país?! É necessário e importante saber isso.

Quarto, por último. António José Seguro centrou o seu discurso, essencialmente e de forma dramática e entoada, criticando as medidas aplicadas em relação à Taxa Social Única. Só que sem qualquer novidade. O que disse já tinha dito quase todo o país, incluindo figuras de proa do próprio PSD, lembrando, por exemplo, a entrevista de Manuela Ferreira Leite, ontem, na TVI24. E não é a “ameaça” da moção de censura (sem qualquer efeito prático e que há bem pouco tempo era desvalorizada por José Seguro) que traz uma alternativa ou novidade.

A novidade, se é que assim se pode definir, tem a ver com o anúncio de Seguro em querer levar o assunto da Taxa Social Única até às instâncias mais altas da magistratura: Presidente da República e Tribunal Constitucional.

Aqui, Seguro falhou redondamente. As alterações na TSU foram resultado (correcto ou errado) da interpretação e da oportunidade que o Governo fez e viu na decisão do Tribunal Constitucional sobre os cortes dos subsídios na Função Pública. E nessa altura, à revelia do próprio partido e da sua direcção, foi um grupo isolado de deputados socialistas (cerca de 10) com deputados do BE que solicitaram o parecer ao Tribunal Constitucional. Vir agora ameaçar com inconstitucionalidades é, literalmente, um recurso de desespero político à falta de outro tipo de argumentações.


Tal como disse aqui (“PPD/PSD ressuscitou por 25 minutos.”) «em 45 minutos de entrevista, Manuel Ferreira Leite conseguiu fazer mais oposição ao governo, de forma crítica, eficaz, coerente, até com alguma ironia, do que António José Seguro desde as eleições de 2011».

Com uma oposição assim é fácil governar assim. Uma má, a outra péssima.

PPD/PSD ressuscitou por 25 minutos.

Ontem, mesmo que por uns meros 25 minutos, o país viu regressar à nação a social-democracia de outros tempos, o verdadeiro PPD/PSD, através de Manuela Ferreira Leite (via TVI24).

Para alguns foi apenas um acto de ressabiamento, de vingança política interna (e apesar desta se servir fria, ontem foi servida completamente gelada).

Para muitos, próximos da coligação que suporta este governo (filiados, apoiantes, simpatizantes, decepcionados com a governação anterior, meros votantes, etc.) foi mais uma voz que trouxe algum “conforto” à decepção, desilusão e fúria que sentem em relação à prestação do executivo de Passos Coelho. E quando digo “algum conforto”, o ‘algum’ tem, obviamente, uma dimensão considerável.

Para outros, ainda, nomeadamente a oposição socialista, foi o gáudio total. Em 45 minutos de entrevista, Manuel Ferreira Leite conseguiu fazer mais oposição ao governo, de forma crítica, eficaz, coerente, até com alguma ironia, do que António José Seguro desde as eleições de 2011.

As manchetes, títulos, temas de conversa (mesmo que de café), podem ser “aproveitadoras” do momento de ontem à noite (por exemplo, “Manuela Ferreira Leite arrasa novas medidas do governo” ou “Ferreira Leite arrasa Vítor Gaspar” ou “Ferreira Leite: país está a caminho de ficar destroçado” …) mas a verdade é que o sentido crítico, a forma coerente com que sempre defendeu a sua posição e opinião, e a abordagem às questões (até mesmo em relação ao Presidente da República, já que outra posição não seria de esperar de Manuela Ferreira Leite) foram uma verdadeira avaliação ao governo que envergonharia o melhor de qualquer relatório produzido pela Troika.

Entrevista de Manuela Ferreira Leite no programa "Política Mesmo" da TVI24, na íntegra.

 

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