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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Semana das indignações

publicado na edição de hoje, 24 novembro, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos

Semana das indignações

A semana que acabou foi recheada de momentos de indignação nacional ou de factos que irritaram e revoltaram grande parte dos portugueses. Deixando a manifestação dos polícias para outros desenvolvimentos, há, para já, três factos que fundamentam as repulsas.

Primeiro, a falsidade e o embuste que é o tão badalado e proclamado princípio constitucional da equidade. Não existe, nunca existiu e, pelos factos, há quem defenda e teime na sua não existência. À maioria dos portugueses, onde se inclui a maioria (sim… apenas maioria) dos funcionários públicos (administração central e local), é exigido e imposto um conjunto de sacrifícios laborais e cortes no valor do trabalho (salário). Mas há sempre um mas… todos os que trabalham para/no Estado são “funcionários públicos”, mas há uns que são mais “públicos” que outros. É o caso da tentativa (mais uma desde 2011) do Governo em revogar o estatuto especial dos funcionários da Assembleia da República, mais uma vez “negada”, por unanimidade, pelos partidos com assento parlamentar. Sim… todos; mesmo aqueles que tão “piamente” criticam o Governo e defendem os trabalhadores e a igualdade social.

Conhecidos os dados preliminares dum relatório do Observatório das Famílias e das Políticas de Família, que será divulgado em dezembro próximo, Portugal é um dos países da União Europeia com menos apoios sociais às famílias. O Estado português despende 1,5% do PIB em apoio económico às famílias, quando a média europeia é de 2,3%. Além disso, entre 2009 e 2012 (ano a que se reporta o relatório) cerca de 500 mil crianças ficaram sem o direito ao abono de família (a que corresponde uma quebra de 30% dos beneficiários). Para além das famílias receberem cada vez menos apoios sociais do Estado, são também em menor número as famílias que auferem esses apoios. E enquanto o Estado vai cortando nas suas funções e responsabilidades sociais, fundamentadas na crise e na necessidade de equilibrar as contas públicas, há razões (factos) que a racionalidade e a justiça social não compreendem. Como o facto, mais uma vez, do BPN herdar uma dívida, cuja responsabilidade passou a ser assumida pelo Estado (pelos impostos dos portugueses) no valor de cerca de 17 milhões de euros. Por si só, isso seria escandaloso e revoltante, mas agravado pelo facto de ser uma dívida de um particular, ao caso do presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira. Curiosamente, um silêncio preocupante de cerca de “6 milhões de portugueses”. Se fosse o Pinto da Costa…

Por último, não poderia deixar passar em branco a indignação da semana, envolta em polémica nacional. Podemos não gostar de futebol (mas, bolas, é a selecção); podemos não gostar (por opção, por convicção ou por simples inveja) do Cristiano Ronaldo… mas bolas, é o nosso melhor jogador (e do mundo). E até podemos não gostar, como eu (por várias razões) de “colas” (Coca-cola, Snappy e outras que tais). Mas ficar indiferente à campanha que a Pepsi Cola (sueca) lançou a propósito do playoff entre Portugal e Suécia, para o Mundial de 2104, é ser-se indiferente a que gozem com Portugal e quem o representa (seja politicamente, culturalmente ou desportivamente). Também eu me insurgi, respondi nas redes sociais, também eu me indignei. Só é pena que os portugueses tão depressa fervam em pouca água (ou muita, dependendo dos pontos de vista e das convicções, mais ou menos, patrióticas) como tão depressam esqueçam a história (os factos). São os movimentos anti-Pepsi, as páginas nas redes sociais, os boicotes… ahhh os boicotes. Como os boicotes ao BPI quando Ulrich fala na televisão; os boicotes ao Pingo Doce, por causa do valor mínimo para pagar com cartão multibanco; os boicotes às lojas dos chineses; os boicotes às gasolineiras; os boicotes à DECO por causa do suposto leilão da electricidade; os boicotes… os boicotes. Imagine-se, até a TAP “pondera” trocar a Pepsi pela Coca-cola. Infelizmente, neste caso da deplorável e condenável campanha da Pepsi sueca, usando a figura/boneco do Cristiano Ronaldo, são mais os boicotes textuais do que os concretos.
E assim o mundo “pula e a avança”, continuadamente… mas da próxima vez que lhe perguntarem se “pode ser Pepsi?” pense duas vezes, se há a legitimidade, mesmo comercial, de “brincar” com a morte e com símbolos/representantes nacionais.