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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

e de repente... fazem-me falta.

Com a polémica José Rodrigues dos Santos vs José Sócrates (RTP) ainda recente (quer a de há 15 dias, quer, principalmente, a deste domingo passado), com os maravilhosos momentos de Marcelo Rebelo de Sousa (TVI) do género "comentário político em formato standup comedy" ("Ao longo desta crise, todos nós portugueses temos feito colonoscopias sem sedação"), com o anúncio da produção RTP2 sediada no norte... de repente dei por mim a pensar que me faz falta (provavelmente a muitos mais) voltar a ver nos horários nobres rostos como os da Cristina Esteves e da Alberta Marques Fernandes (para além de outros rostos que merecem também agarrar "merecidas" oportunidades). Haveria outros rostos?! Claro que sim... Há.

Mas à memória, por há algum tempo andar desencontrado, vieram estes dois.
Acho que me faz falta a mim e ao jornalismo. E já agora... à RTP também.

Ainda as incongruências verbais.

A propósito do artigo publicado ontem, no Diário de Aveiro (“O país das incongruências”), não se pense que as incoerências verbais apenas se confinam ao contexto político-partidário. Nem por sombras. A sociedade, nomeadamente naqueles que têm responsabilidades públicas relevantes e reconhecidas, não é isenta, nem vazia, de incongruências discursivas.
Ainda como exemplos recentes…
A presidente do Conselho de Finanças Públicas, Teodora Cardoso, no final de março, nas jornadas parlamentares do PSD, propunha que o “Governo implementasse uma taxa que incidisse nos levantamentos de dinheiro de contas onde os portugueses recebam salários e pensões”. Mesmo que polémica a medida poderia configurar numa qualquer política de austeridade que procurasse o aumento de receitas fiscais. Só que a justificação apresentada sustenta um eventual incentivo à poupança. Virou-se o “feitiço contra o feiticeiro”. Uma medida destas implicaria um aumento ao recurso do “depósito debaixo do colchão”.
É já conhecido o início das actividades do Grupo de Trabalho do PSD que terá a responsabilidade de elaborar um diagnóstico sobra a natalidade. Relacionado com a temática, o cronista do Expresso, Henrique Raposo, escreveu uma crónica no dia 4 de abril, onde colocava a questão da baixa da natalidade pelo facto dos portugueses “começarem a trabalhar a meio da manhã”.  E avança com a ideia de que deveríamos começar a trabalhar de madrugada (oito horas, por exemplo) e terminar a meio da tarde (quatro, cinco horas). Segundo o próprio isto permitiria passar mais tempo com os filhos. A questão é que, salvo os filhos muito pequenos, mesmo que as aulas terminem mais cedo que alguns horários laborais, há sempre as actividades extra-curriculares, desportivas ou as horas de estudo. Para além de toda uma igual redefinição do horário escolar. O que o Henrique raposo se esqueceu de referir (ou fez-se “esquecido”) é que a baixa natalidade tem outras fundamentações: emigração jovem, falta de emprego, salários baixos, necessidade de duplicação de empregos/actividades para aumento do rendimento familiar, entre outros. As horas não se afiguram como forte obstáculo à procriação.
Muitos portugueses questionaram a “factura da sorte” que andará à roda já este mês. Ou mais correctamente, não tanto os objectivos e princípios, mas mais pelo lado do “incentivo” encontrado: os “popós” Audi. Por exemplo, entre uma das críticas estava o questionar para que serviria este património a quem não tem capacidade de o “sustentar”. Pois bem… a inconsistência está provada: bem ou mal no incentivo, a verdade é que o pedido de facturas na actividade comercial e de serviços aumentou consideravelmente, estando a concurso 207,3 milhões de cupões, provenientes do consumo dos portugueses. No mês de janeiro (e face ao mesmo período de 2013) as Finanças registaram um aumento de cerca de 45% do pedido (número) de facturas.
Mas se a política e os políticos, se quem tem responsabilidades públicas ou se compagina com algum mediatismo, são terrenos férteis para as incoerências verbais, o comum dos cidadãos, por “inveja” ou por desfaçatez não lhes fica atrás. Ainda nas recentes manifestações dos professores, uma professora dizia aos microfones da TVI: "ganhamos mal e ainda temos que aturar os filhinhos das outras pessoas na escola". Ora… isto é que é ter “vocação profissional”.
O que nos vale é que ainda há quem, no meio de tanta insensatez, vá traduzindo (mesmo que raramente) a realidade do país e o sentimento dos portugueses. Marcelo Rebelo de Sousa, no seu comentário habitual na TVI, neste domingo, afirmava “curto e grosso”, sem qualquer acanhamento: "Ao longo desta crise, todos nós portugueses temos feito colonoscopias sem sedação"… assim, sem “vaselina” nem nada. Ao menos haja coerência com o país que vivemos.

O país das incongruências

Publicado na edição de hoje, 6 de abril, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos

O país das incongruências

Há um princípio para mim fundamental na firmação da democracia e na sustentação do exercício da cidadania no espaço público: o da liberdade de opinião e expressão. Acresce, por força da formação, o da liberdade de informação. No entanto, apesar da defesa intransigente deste princípio fundamental, tem-se assistido na sociedade portuguesa, e aqui cabem vários sectores desde a política à economia, passando pela cidadania/responsabilidade social, a um significativo número de afirmações públicas que, entre contradições e incoerências, resultam num questionar permanente desta inabalável “fé” num dos inabaláveis direitos, liberdades e garantias. Se a sabedoria popular, o saber conquistado pela experiência da vida, fosse o mínimo exigível para o exercício de responsabilidades públicas (mesmo que no sector institucional ou privado) muitos teriam a obrigação de não esquecer que, me muitos casos, “o silêncio é de ouro” (e não é apenas nos negócios). A política é terreno fértil nestes desígnios. Basta para tal recordar o que são as matérias e promessas em contexto eleitoral face à realidade futura de quem vence (governa) e mesmo de quem na oposição se confronta com outros contextos. Neste campo não há nada melhor que sustenta a sabedoria popular: “o que hoje é verdade, amanhã é mentira”. Sem excepções. Só a título de exemplos, muito recentes, por questão de memória e de espaço.

À cabeça surge a expressão do líder da bancada social-democrata, Luís Montenegro, nas vésperas do XXXV Congresso do PSD (fevereiro): “as pessoas estão piores mas o país está muito melhor”. Desde o desfasamento com a realidade que é vivida pelos portugueses no dia-a-dia, até à falta de noção da realidade do próprio país, é espantoso que o principal responsável político pelos parlamentares eleitos pelos cidadãos que votaram no PSD (militantes ou não) não perceba que não existe um país sem pessoas ou que um país não se constrói com números abstractos. Mas Luís Montenegro ainda foi mais longe nas jornadas parlamentares do PSD, em Viseu (25 de março) o social-democrata afirmaou, contrapondo a acusação do PS sobre a eventual “agenda escondida”, que “não é verdade que venham aí mais cortes de salários e pensões, mais cortes de rendimentos”. Ora, um dia antes, Pedro Passos Coelho, na sessão de abertura das mesmas jornadas parlamentares, afirmava que não há alternativa a mais cortes já que “toda a gente sabe que está acordada uma meta orçamental de 2,5% do PIB para 2015”.

Mas é também a oposição fértil nas incoerências discursivas, muitas vezes justificadas mais pelo “ser do contra” do que pela coerência, face à “necessidade” eleitoral. António José Seguro, desde de 2011, que tem tido um registo político centrado na reestruturação da dívida, nas críticas às políticas de austeridade implementadas pelo Governo, nas críticas ao rumo da UE, na perspectiva de falhanço do cumprimento das metas orçamentais. Só que a ausência de medidas concretas e de alternativas capazes acabam por “atraiçoar” Seguro e, de facto, dar razão ao PSD quando, pela voz de Marco António Costa, se reconhece que “caiu a máscara ao PS”. Isto tudo porque afinal António José Seguro acabou por reconhecer que “não será possível repor os níveis salariais, pensões e prestações sociais anteriores a 2011, e recuperar as contas públicas”.

Há ainda um terreno fértil nas incongruências políticas nacionais, curiosamente por parte de quem, pelas responsabilidades supremas, deveria ter o cuidado na coerência discursiva: a actual Presidência da República. Cavaco Silva, a quem, ao fim de quase 20 anos, o país ainda pede explicações pelo que, enquanto Primeiro-ministro, fez ao sector das pescas e da agricultura, veio aconselhar, recentemente (7 de março), “os jovens a experimentarem a agricultura”, defendendo que este é um “sector fundamental para uma mais rápida recuperação da economia nacional”. Ora, não só o sector praticamente desapareceu, como alguém se esqueceu de informar o Presidente da República que segundo informações públicas desta sexta-feira, Portugal tem que devolver a Bruxelas 12,56 milhões de euros de ajudas indevidamente usadas no setor da Agricultura.

Para terminar, apenas mais duas notas. A primeira, na pessoa de Paulo Portas, esse manancial de “irrevogabilidades”. Para justificar mais cortes sociais, neste caso, no Rendimento Social de Inserção (RSI), o vice Primeiro-ministro afirmou que os cortes “só excluíram do RSI quem tinha mais de 100 mil euros no banco”. Ou Portas perdeu o sentido de humor com piadas sem qualquer graça ou é incompreensível, face ao que já foram as restrições implementadas ao acesso a este apoio social, como é que alguém com mais de 100 mil euros numa conta bancária poderia ser beneficiário do RSI. A segunda nota, cabe ao PCP e à sua posição, tanto de extremista como de incoerente, em relação à NATO e, ao caso, às comemorações do 65º aniversário daquela organização. Das palavras de ordem recupera-se o “somos pela Paz”. Só que para o PCP há “paz” e há “paz”, sem conseguir explicar como é que, coerentemente, justificam as recentes acções da Rússia e da Coreia do Norte.

Voltamos ao princípio… na política nem sempre importa falar, divulgar, comentar: “há silêncios que são de ouro”.

da serie... os inconseguimentos (#1)

Sempre fui (e espero sê-lo sempre) um fervoroso adepto da liberdade de expressão, opinião e, obviamente, informação, respeitando, claramente, os confrontos entre direitos fundamentais, liberdade e garantias (com os direitos humanos à "cabeça").

No entanto, entendo que a ofensa à dignidade humana, a ofensa à inteligência colectiva (e, modéstia à parte, à minha pessoalmente), deveria ser motivo mais que suficiente, legítimo e jurídico, para que determinadas pessoas fossem obrigadas a estarem caladas. Principalmente à frente de um microfone ou de um gravador.

Seja para o bem-estar de cada um de nós, seja pelo bem da sociedade ou da nação.

Ao caso, diria mais... pelo bem e pela digna imagem das instituições, como por exemplo, do meritório serviço social e solidário desempenhado pelo Banco Alimentar contra a Fome (a que acresce o trabalho, esforço e dedicação de centenas e centenas de voluntários).
Mas eis que há sempre alguém que "não nos faz falta". Nenhuma. Abolutamente nenhuma: Isabel Jonet.

Já não é a primeira vez, aliás, é rara a vez contrária, que o Mundo e o País seria muito mais feliz se Isabel Jonet se mantivesse na simples (e digna) tarefa de coordenar o honroso trabalho da Instituição. Mas... CALADA.

Depois de afirmar que os portugueses viveram "acima das nossas possibilidades" e foram uns despesistas e uns imorais, socialmente condenáveis, por "comerem uns bifes" em vez de uma simples bifana de fêvera de porco (mas quantas vezes deliciosa) no pão, eis que surge nova delícia antropológica/sociológica: o desprezo pelo despesismo informativo dos desempregados.

Esses que deveriam ter como única preocupação as filas intermináveis dos Centros de Emprego, dos Centros de Saúde (à procura de apoio psicológico/psiquiátrico, mas do SNS porque do privado é "comer bifes"), das Cantinas Sociais, das IPSS's, são uns inaptos, uns preguiçosos, uns acomodados, uns sornas, uns desleixados, uns ociosos, ... Tudo porque passam a vida nas redes sociais a ver pornografia, a arranjar encontros, na cusquice... Imagine-se até que pagam factura mensal (acesso à net) destes desvarios. Nem mexem uma palha para encontrar emprego.

Eu acho até que a estes desempregados deveria ser proíbido o acesso à televisão, aos jornais, à informação ou a qualquer tipo de lazer (excluindo, claro, as viagens populares patrocionadas pelos serviços sociais autárqucios ou pelas juntas de freguesia).
É que esta coisa das redes sociais, da internet é mesmo UMA COISA DO DEMO (apesar do Papa Francisco vir dizer que o inferno, afinal, não existe).
Infelizmente uma coisa existe para frustração alheia: a liberdade de opinião na boca de Isabel Jonet. É o que temos...

Um país a perder...

Publicado na edição de hoje, 2 de abril, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos
Um país a perder…
Enquanto alguns indicadores positivos, diga-se em abono da verdade, como o cumprimento do défice de 2013 abaixo dos 5%, o saldo externo e as exportações, por exemplo, vão dando a ilusão de um país melhor, de uma reviravolta na crise, teimosamente os outros números, os da realidade, vão-nos mostrando e lembrando o país real, o país do dia-a-dia: os cortes sociais; a desvalorização do valor do trabalho, o desemprego, a saúde, o défice entre empresas criadas, as que encerraram e o número de postos de trabalho, entre outros.
Entre esses números estão aqueles que reflectem, triste e infelizmente, um país perdedor, que não se sabe gerir a si próprio, que andará, durante as próximas décadas (demasiadas), sempre de mão estendida. E Portugal é produtivo nesta realidade.
Segundo as projecções do Instituto Nacional de Estatística, Portugal perderá, nos próximos 50 anos, 4,1 milhões de portugueses, fixando a população residente em cerca de 6,3 milhões. Face às medidas de austeridade e dos cortes já efectuados e previstos, as Finanças perdem, por ano, o “rasto” a cerca de 10 mil milhões de euros em fugas de impostos (quase um quarto do total da receita fiscal prevista, cerca de 23%). Portugal, em 2103, já tinha visto “perder”, para o novo Quadro Comunitário (Quadro Financeiro Plurianual 2014-2020) cerca de 3 mil milhões de euros de fundos de investimento, sendo que cerca de 500 milhões são referentes à agricultura e apenas serão atribuídos cerca de 300 milhões para o combate ao desemprego jovem (fundos adicionais). Curiosamente, apesar dos repetidos apelos do Presidente da República (mesmo que inconsequentes pelo registo histórico dos seus mandatos como Primeiro-ministro), a agricultura perdeu, no último trimestre de 2013, 53 mil trabalhadores. Mas não ficam por aqui os exemplos. Em março três referências mostram a dificuldade que o Estado tem em gerir o que é público, em ser coerente com o que exige aos portugueses e com o uso que faz dos dinheiros públicos (financiamentos, impostos, taxas).
O Relatório Anual das Contrapartidas 2013, publicado em março último pelo ministério da Economia, revelou que Portugal perdeu, em cinco dos oito programas de contrapartidas associadas à aquisição de material e equipamento de defesa, milhões em contrapartidas face a contratos com execução nula ou parcial (reduzida). Neste grupo insere-se o polémico caso dos submarinos onde se registaram perdas na ordem dos 35 milhões de euros em contrapartidas.
Portugal recebeu em 2010 fundos comunitários para o desenvolvimento do sector das pescas nacionais. Problemas de interpretação das regras de uso dos fundos obrigaram a que o país devolva à União Europeu (facto já confirmado) parte do valor atribuído. Neste caso a perda para o desenvolvimento das pescas significou a devolução de cerca de 3,5 milhões de euros.
O mês de março terminaria com outra má notícia. Ou, ao caso, até serão duas.
Os portugueses perderam a confiança no consumo, pela primeira vez ao fim de cinco meses de recuperação. Segundo os dados do INE, o indicador de confiança dos consumidores caiu, em Março, para -31,3% (registando uma quebra de cerca de 3% em relação ao mês de fevereiro). Além disso, os valores referentes ao indicador de clima económico registou uma queda 0,3%, no último trimestre.
Nem o país, nem as pessoas, estão melhor, ao contrário do que o Governo quer fazer crer. Deixem de brincar aos governos e não nos tomem por parvos.

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