Deplorável! Condenável! Péssimo! Politicamente baixo! Funesto! Cínico! Sem sentido de ética e moral! Abominável! Repreensível! Reprovável! Censurável!
Não faltará, na língua de Camões e no dicionário português, adjectivos que qualifiquem a tomada de posição de confronto interno do ex-líder e ex-deputado da bancada parlamentar do PSD, Luís Montenegro.
São vários os contornos político-partidários que merecem uma análise e reflexão sobre a opção que levou/leva Luís Montenegro a desencadear uma clara e evidente "guerra civil interna" e uma execrável tentativa de "golpe de estado" para derrubar a liderança de Rui Rio.
O histórico
Importa relembrar, o que não será de somenos importância, que Luís Montenegro não teve a coragem política de se posicionar como candidato às eleições internas de 13 de fevereiro de 2018, virando as costas ao que parecem ser, agora, fortes convicções partidárias.
Importa relembrar igualmente que o ex-deputado do PSD na Assembleia da república abandonou as suas funções, por vontade e iniciativa própria, no dia 5 de abril de 2018.
Rui Rio está apenas a cerca de um ano à frente dos destinos e da liderança social-democrata, após o falhanço da formação do governo em 2015, de um enorme desaire autárquico em 2017 e de uma conjuntura política que, mesmo falaciosa e ilusória, é favorável à esquerda nacional.
O que leva Luís Montenegro a esta inqualificável e ignóbil tentativa de "tomada de poder"? O que o move? Porquê e para quê?
As razões podem ser múltiplas, mas são simples e óbvias, não deixando de ser, igualmente, injustificadas e dispensáveis.
1. O timing, apesar das várias opiniões que o definem como despropositado (e é, em grande medida) não tem a ver propriamente com o actual momento político do PSD, com a eventual marcação imediata de novas eleições internas. Nem Luís Montenegro esperaria ver concretizado, JÁ, o desafio e o repto lançados de directas imediatas. Isso foi pura demagogia e claro bluff político.
Luís Montenegro marcou uma clara, apesar de condenável, posição de ataque à liderança do PSD mas a concretizar após as eleições europeias e/ou legislativas. Foi uma tomada de posição que desafia Rui Rio no pós próximo actos eleitorais, como que a dizer, face a resultados menos positivos: "eu bem tinha avisado", "era isto que já se esperava"... "agora é a minha vez".
Só que importa recordar a Luís Montenegro que, em fevereiro de 2018, a promessa de Rui Rio foi um combate claro ao PS e à actual maioria parlamentar, sem prometer vitórias eleitorais que sempre se souberam, desde o fim da governação de Passos Coelho, difíceis de alcançar face à conjuntura política. Que a promessa e o que muitos dos militantes (quase 55% dos que votaram) esperam de Rui Rio é que traga de volta o PSD às bases, às comunidades, ao poder local (precisamente após o desaire completo do PSD, em 2017, com Passos Coelho na liderança do partido).
2. Este regresso à ribalta mediática de Luís Montenegro incorpora ainda um passado, mais ou menos, recente da conflitualidade surgida entre Porto e Gaia, à data, quando Rui Rio era o autarca da "cidade invicta".
3. Por outro lado, já há muito que não se ouve, ninguém lê ou sabe, de Pedro Passos Coelho. Mas a verdade é que ele ainda anda por aí, ainda percorre os bastidores e os corredores obscuros do partido, qual "fantasma político". Pelo menos no que respeita ao saudosismo, perfeitamente dispensável, da sua governação e liderança que desvirtuaram a génese social-democrata do PSD, o seu posicionamento ideológico e programático. E se o ex-líder do PSD se tem mantido afastado dos palcos políticos, já os seus seguidores, os seus sebastianistas (como, por mero exemplo, Teresa Morais, Maria de Lurdes Albuquerque, Hugo Soares, Miguel Morgado, Carlos Abreu Amorim, Marco António Costa, Miguel Relvas ou Carlos Carreiras - curiosamente contrapondo com uma extraordinária agradável surpresa por parte do Comissário Europeu, Carlos Moedas), ou, inclusive, as "alucinações comentaristas" de Marques Mendes, ainda não conseguiram, ao fim de quase um ano, fazer "o luto" das derrotas eleitorais (autárquicas 2017 e directas 2018) e da mudança pragmática que, felizmente, o PSD vive hoje e começa a afirmar na política nacional.
4. E tendo em consideração ainda esta vertente sebastianista de uma minoria de "passistas saudosistas", esta "declaração de guerra política" de Luís Montenegro tem, igualmente, uma outra razão substantiva: com o aproximar dos actos eleitorais previstos para 2019, há quem não queira aceitar, há quem esteja demasiadamente preso aos lugares (e não ao partido ou convicções), há quem saiba, de antemão, que vai perder o "tacho" e faça de Rui Rio o "bode expiatório", o carrasco das carreiras políticas "pessoais". São agendas claramente pessoais que sustentam este confronto à liderança do partido.
Por fim, os argumentos a que Luís Montenegro recorreu para sustentar esta sua posição são do mais pobre e do mais fútil, já para não falar de notoriamente contraditórios.
Se Rui Rio, ao fim de 11 meses, não conseguiu unir o PSD (como o ex-deputado afirmou) tal deve-se, em parte (e numa maior fatia) a esta oposição interna ridícula e dispensável, a este permanente recurso a tentativas de desestabilização internas e descredibilização da liderança do partido.
Mais ainda... Luís Montenegro, contrariando o que o próprio esperaria da actuação política do partido, apenas está a valorizar e potenciar a oposição, a esquerda portuguesa, o PS e o Governo de António Costa (que assiste de "cadeirão", serenamente, aplaudindo e divertindo-se com este triste espectáculo).
Mas Luís Montenegro não afrontou apenas Rui Rio ou a direcção nacional do partido. Desrespeitou, desprezou, desconsiderou, desonrou, pelo menos, os 54,15% de social-democratas, os 22.728 militantes de base, que, em fevereiro do ano passado, viram (e ainda acreditam) em Rui Rio o líder ideal para voltar a trazer a social-democracia ao PSD, reposicioná-lo ideologicamente, ser uma clara alternativa a António Costa, de limpar o partido de caciques e interesse mesquinhos e pessoais que, infelizmente, ao longo de mais de 40 anos minaram o partido e foram o espelho dos interesses extra-partidários que se movem nos corredores, nos bastidores, na penumbra, do poder ou da tentativa de poder.
Uma nota complementar.
O Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, presidente de TODOS os portugueses (mesmo os que não votaram nele), de quem se esperaria isenção, distanciamento e afastamento partidário, esteve, neste caso, muito mal, demasiadamente mal, bem pior que no telefonema à apresentadora Cristina Ferreira.
Em política o que parece... É! Totalmente a despropósito o timing da reunião com Rui Rio em pleno anúncio do desafio interno efectuado por Luís Montenegro.
Injustificável, insustentado e claramente parcial, o encontro, amanhã (segunda-feira, dia 14) com Luís Montenegro, opositor e desafiador interno do PSD.
Não há desculpa, nem forma de esconder. Marcelo Rebelo de Sousa, ex-deputado, ex-presidente social-democrata, ex-comentador político e, agora, Presidente da República imiscui-se, intrometeu-se, envolveu-se, na vida interna do PSD. Por mais que queira dizer e fazer crer o contrário.