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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Tocam os sinos nos interior do PS após a greve. O país já não vai em ilusões.

A premissa é mais que válida, responsável e politicamente ética.
Rui Rio tem toda a razão quando afirmou, sobre os constrangimentos causados pela greve dos motoristas de matérias de perigosas: (o Governo) «Não pode fazer mais, não vou atacar o Governo naquilo que o Governo não tem responsabilidades, senão não estaria a ser sério».

Se, de facto, existe (e deve existir sempre) uma barreira de legitimidade de intervenção do Estado na vida privada, também não deixa de ser verdade que o Estado deve agir quando a conflitualidade do privada tem impacto e implicação na vida pública.
Ambas as realidades estiveram presente na "crise dos combustíveis" - denominemos assim para simplificar (greve dos motoristas de matérias de perigosas). O conflito laboral confinava-se ao universo privado (ANTRAM vs Sindicato) mas a greve teve, por outro lado, claros impactos na normalidade e funcionamento do país (Estado).

Qualquer tentativa do Governo em querer retirar dividendos políticos do desfecho desta greve é pura demagogia política e eleitoralista (face à proximidade das eleições europeias) ou querer fazer dos portugueses uns imbecis. Dr. António Costa... NÃO SOMOS!

Entre ameaças de requisição civil, imposição de serviços mínimos e a necessidade urgente de sentar à mesa ambas as partes, para além da óbvia pressão do Presidente da República, em 48 horas o país entrou num caos perfeitamente evitável. Não só pelo escusado "pânico" dos cidadãos, mas também porque, durante 16 dias, o Governo andou a assobiar para o lado, menosprezou o pré-aviso de greve e os impactos na vida de todo o país, quando teve tempo mais que suficiente (desde 1 de abril) para mediar um acordo entre trabalhadores e empresários, sem que se virasse o país de pernas para o ar.
Não queiram atirar mais areia para os nossos olhos. Não há coincidências, nem inocentes na política. O que o Governo e António Costa pretenderam foi apresentarem-se ao país como os "salvadores da pátria". Mas já não conseguem porque a máscara caiu.

Um Governo, aliado ao BE e ao PCP, que se auto-proclamam os únicos pseudo-defensores dos direitos, liberdades e garantias laborais e sociais, contra a "opressão" do "grande capital", não trata, desta forma, os trabalhadores.
Para quem afirma e brada aos sete ventos o fim da austeridade, a diminuição da carga fiscal e a melhoria das condições de vida dos cidadãos (seja do ponto de vista social, seja laboral ou financeiro), há, infelizmente, uma realidade que põe a nu toda esta ilusão e fantasia políticas.
Num contexto bem diferente dos quatro anos da Troika, o Governo de António Costa e a coligação parlamentar à esquerda enfrentaram mais greves sectoriais do que no período de 2011 a 2015: na saúde (os médicos prevêem avançar para greve a 7 de maio), na educação (e não só com os professores), na justiça (seja na magistratura, seja em todo o seu universo, como por exemplo notários, inspectores da PJ, etc.), nos transportes, nos portos, nas forças de segurança, nos bombeiros, na autoridade tributária, nos hipermercados. Afinal, depois de tantas "vestes rasgadas" na altura..... "o país pode estar melhor (ou não) mas os portugueses não estão".
E a questão não passa apenas pelo facto do Governo do PS estar a enfrentar uma maior instabilidade social mas também pela forma como é encarada, politicamente, essa instabilidade. Os casos de insucesso das negociações sucedem-se, há tentativas claras de limitar e condicionar o legítimo e constitucional direito à greve (tome-se como exemplo o caso dos enfermeiros), e, imagine-se, já que estamos perante um governo da dita esquerda, já há quem pondere rever o exercício da greve e o seu conceito.

O país viveu, nestes quatro anos, depois do PS ter vendido a sua "alma ao diabo" (ele afinal existe), um completo estado de hipnose, de ilusão e de retrocesso (e há muito para denunciar: no défice/pacto de estabilidade, na falta de investimento público, o estado dos serviços públicos, na economia, na vida das pessoas, nas empresas, ...).

Felizmente, também na política, a verdade também é como o azeite na água: "vem sempre ao de cima". E os exemplos são demasiados e evidentes.

João Ferreira, cabeça de lista às europeias pelo PCP/CDU: "Este Governo (PS) nem sequer é de esquerda" (entrevista à Agência LUSA).
Jerónimo de Sousa, no encerramento da 10.ª assembleia da Organização Regional de Setúbal do PCP: “Sim, Governo minoritário do PS e não Governo das esquerdas”.
“Guerra fria” entre PS e BE aproxima-se do ponto de ruptura... Marisa Matias, eurodeputada do BE: “A geringonça ficou muito aquém daquilo que poderia ter sido”.
Mariana Mortágua, BE, critica "falta de ambição (do PEC)" e "campeonato da mais absurda décima orçamental".

ou...

FMI corta crescimento de Portugal e sobe taxa de desemprego.
(actual) Conselho das Finanças Públicas não apoia previsões do governo. (e a 'má da fita' era a Teodora Cardoso).
Sete em cada 10 famílias vive com dificuldades financeiras e o número de famílias a “falhar” pagamento de crédito ao consumo aumentou 12%.
Facturas de despesa com educação caíram 34%, com influência no reembolso do IRS. (dar com uma mão e tirar com as duas).

e mesmo internamente...

PS deixa Pedro Marques (cabeça de lista ao Parlamento Europeu) sozinho. Campanha queixa-se de “total ausência de combate político” (jornal Público).
Raúl Martins, histórico socialista aveirense, desfilia-se do PS em completa ruptura com o rumo do partido.

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Uma greve impulsionada pelo pânico

A greve é um direito constitucional, deve ser protegido, mais do que condicionado ou limitado, correndo-se o risco de ferir as liberdades, direitos e garantias mais fundamentais. Seja no âmbito laboral ou social.

Independentemente da questão dos serviços mínimos ou da requisição civil, não cabe aqui questionar a legitimidade dos fundamentos que sustentam a greve dos motoristas de viaturas pesadas de matérias perigosas (ao caso, combustíveis).

O que importa referir, por muito que custe a cada um de nós, enquanto cidadão, e para as nossas rotinas diárias, é que uma greve terá sempre mais sucesso quanto mais impacto tiver nas comunidades e no país. Infelizmente, de forma muito pragmática, é esta a realidade: sem provocar alterações no dia-a-dia, qualquer greve não terá quaisquer resultados.

Mas no caso desta questão dos "motoristas dos combustíveis" há um outro lado da moeda.

A greve acabou por ter um impacto e uma dimensão extremamente elevados, criando o pânico generalizado e provocando um princípio do caos.

Se a maioria dos portugueses tivesse optado pela normalidade do seu quotidiano (ou até mesmo pela excepção do período da Páscoa) o impacto da greve de fornecimento de combustíveis aos postos de venda teria sido diluída no tempo e teria sido, significativamente menor. Pelo contrário, face à correria desenfreada e esquizofrénica aos postos de abastecimento o resultado é, e ainda poderá ser maior, preocupante: em pouco mais de 24 horas, o país vê-se na contingência de "secar" os postos de abastecimento (1500, hoje de manhã).

Mas esta corrida em pânico aos abastecimentos das viaturas é algo preocupantemente irreflectido por parte da maioria dos portugueses. Em situações de crise, o que importa fazer é poupar o mais possível, e não o seu contrário (gastar de tal forma que se "secou" o país em 2 dias).

E a atitude é de tal forma irreflectida que os portugueses nem sequer pararam um bocadinho para pensar em si mesmos, nas suas famílias, nos seus vizinhos e no país.
A ausência imediata de combustível nos postos de abastecimento tem impactos muito elevados nas nossas vidas: afigura-se a paragem dos transportes públicos; as dificuldades evidentes na área da saúde (hospitais), da segurança pública (PSP e GNR) e da assistência médica (INEM - Bombeiros); pode provocar uma paragem no abastecimento dos supermercados e hipermercados, impossibilitando qualquer um de nós de efectuar as habituais compras de alimentos; impossibilitará as deslocações mais distantes de milhares de trabalhadores para os seus postos de trabalho.

Tudo porque o pânico assolou um país que age mais por reacção do que actua de forma pensada.

Agora sim... temos o caos, não só pela greve, mas pela intempestividade dos portugueses.

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Dia negro para uns... para muitos.

Poucas horas, cerca de duas, bastaram para destruir um património secular.

'Nascida' no ano de 1163, a Catedral gótica de Notre-Dame de Paris foi devorada pelo fogo.

Símbolo do cristianismo (catolicismo)...
Referência do património da humanidade...
Ligada à literatura (Victor Hugo escreveu, em 1831, o romance “Notre-Dame de Paris”, O Corcunda de Notre-Dame)...
Ícone do turismo parisiense, competindo com a Torre Eiffel e o Louvre...
Com forte ligação à Revolução Francesa e ao espírito republicano da "Igualdade, Liberdade e Fraternidade"...

Perdeu Paris... Perdeu a França... Perdeu a Europa... Perdeu o Mundo...

Perdemos TODOS!

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(créditos da foto: Benoit Tessier/AFP)

O dito pelo (não) dito... (5)

ou, de outra forma: "nem uma coisa, nem outra... antes pelo contrário". Desbloqueador de frases públicas (as frases de 3 semanas ou alguns dias mais...).

  • Assunção Cristas: «O CDS está mais uma vez um passo à frente com aprovação dos cabeças de lista às legislativas». (fonte: DN 07-04-2019)
    O CDS está é claramente fora do contexto (a pouco mais de 1 mês das eleições europeias) e fora do tempo (as legislativas são em outubro e ainda há pelo meio as regionais na Madeira).
  • António Costa, num comício em Braga, no passado dia 5, pediu aos portugueses um «voto de confiança ao Governo nas eleições europeias de maio». (fonte: Expresso)
    Do mal, o menos... antes em maio que nas legislativas de outubro.
  • No dia em que entrou em vigor o passe único da Área Metropolitana de Lisboa, o primeiro-ministro, António Costa, numa viagem entre Ericeia e Setúbal, afirmou que «o país não pode parar por haver três eleições». A propósito da problemática das limitações da 'propaganda eleitoral'. (fonte: jornal I 01-04-2019)
    E tem razão... só é pena que a Comissão Nacional de Eleições "ameace" autarcas e partidos políticos e permita ao Governo inaugurar, anunciar e prometer, com toda a pompa e circunstância, tudo e mais alguma coisa em pleno período eleitoral.
  • António Costa: «não há confusão entre família política e política familiar» e «não há nenhuma relação familiar nova desde a constituição do Governo», afirmação proferida a 28 de março (Fonte: Público 28-03-2019).
    No primeiro caso, obviamente que não há qualquer confusão... para o PS é tudo igual. Já no que respeita à segunda afirmação, bastaram dois ou três dias para a demissão de um secretário de Estado no âmbito da polémica "familygate".
  • O novo partido, ou putativo partido, 'Chega' caça militantes no seu site mas André Ventura diz «que é engano». (fonte: Expresso 26-03-2019).
    O que é mesmo um "engano político" é o próprio Chega e André Ventura.
  • Mário Centeno ao enaltecer o défice de 0,5% do PIB, em 2018, afirmou que «este Governo não precisou de um milagre para estabilizar as contas públicas».(fonte: ECO 26-03-2019).
    É verdade... não foi mesmo milagre. Bastou enganar os portugueses com as cativações e a perda de investimento, e uma austeridade (nomeadamente na carga fiscal) bem pior que a da Troika.
  • Assunção Cristas acusou o Governo, neste março bem encalorado, de «não ter soluções para resolver falta de água». (fonte: DN 22-03-2019)
    Fica a sugestão para a próxima legislatura... sempre que houver seca, antes de qualquer Conselho de Ministros, o Governo deve encenar uma "dança da chuva" (à boa maneira 'india').
  • Marisa Matias: «A geringonça ficou muito aquém daquilo que poderia ter sido» (entrevista ao ECO 25-03-2019).
    O melhor comentário vem mesmo da parte da líder do BE, Catarina Martins: «Neste país ainda se vive muito mal». (SIC 16-03-2019).
    Confirma-se... a geringonça apenas serviu para impedir o PSD de governar após ter ganho as eleições (em 2015) e para o BE ter andado a brincar à política na coligação parlamentar.
  • António Costa: «nenhuma das greves resulta de medidas tomadas pelo Governo» (a propósito da inúmeras greves sectoriais decretadas, mais que na anterior legislatura). (fonte: Jornal Negócios 14-03-2019).
    E tem toda a razão... não resultam porque o Governo também não tomou medidas, pelo menos as importantes e necessárias (estruturais e reformas).

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À porta das europeias... fala-se de tudo menos da Europa

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Estamos a pouco mais de um mês da data em que se realizam as eleições europeias: 26 de maio.

Isto num momento em que a Europa atravessa uma grave crise de identidade e se questiona o seu futuro: o crescimento do populismo, o surgimento dos extremismos (em ambos os opostos), o aumento do eurocepticismo e, no topo da agenda mediática, o caso do Brexit.

E mais... a Europa começa aqui, dentro das nossas portas, e não é uma realidade tão afastada do nosso quotidiano. Bem pelo contrário.

Neste sentido, tendo em conta que estas eleições são, por tradição, caracterizadas por uma grande taxa de abstenção e um alheamento dos cidadãos, seria suposto que o debate político se centrasse na(s) temática(s) europeia(s). À boa maneira portuguesa, fala-se de tudo menos da Europa.

O CDS, assumindo-se como um suposto partido "pioneiro", quis marcar a diferença e preocupar-se, já, com as legislativas de outubro próximo, anunciando, publicamente e com pompa e circunstância, as suas listas e candidatos. Ao contrário do que afirma o partido de Assunção Cristas ("mais uma vez está um passo à frente"), isto não é estar, politicamente, "à frente"... é estar fora de tempo e de contexto.

Já António Costa, provavelmente sem ter grande confiança na lista que o PS apresenta às eleições europeias, prefere confundir os objectivos eleitorais e apelar a um "voto de confiança no Governo". Percebe-se, assim, a desvalorização e menorização do trabalho europeu que foi desenvolvido por ilustres eurodeputados como Ana Gomes, Francisco Assis ou Maria João Rodrigues.

E nem o PSD, que arrancou uma pré-campanha eleitoral com alguma veemência, escapa ao esquecimento europeu. Muito longe do essencial, o partido envergou pelo confronto político sustentado numa polémica estéril, assente no chamado "familygate" (as nomeações familiares). E pasme-se, até Cavaco Silva veio "ajudar à festa" (e mal, diga-se). Ao contrário do que afirmou (a falta de "memofante" é tramada) - «por curiosidade, fui verificar a composição dos três governos em que fui primeiro-ministro e não detectei lá nenhuma ligação familiar» - a lista encontrada refere, pelo menos, 11 casos (mesmo que consideradas em tempos distintos).

Mas mais do que a preocupação pelo recurso ao populismo para o confronto político, nomeadamente entre PS e PSD, é o recurso a uma discussão estéril, longe do que é essencial no plano eleitoral, político e para o país.

Mas é, também, importante que se desmistifique a questão, já que a mesma foi tornada tão obsessiva.

Contra a corrente, não acho que o assunto mereça tão relevante mediatismo, nem discussão pública (quanto muito, cabe ao seu espaço próprio: a Assembleia da República).

Em causa estão cargos públicos e políticos, de nomeação, e que são, claramente, de confiança política. E a confiança é isso mesmo... (in priberam) "fé que se deposita em alguém" ou "familiaridade". O que está em causa, porque outras situações são passíveis de fiscalização por parte de várias entidades (as que implicam concursos de ingresso em carreiras ou de chefia), são lugares como "assessores", "adjuntos", "chefes de gabinete", "secretarias e subscretarias", "secretariados", "presidências de institutos", entre outros. E estas funções devem ser preenchidas com base numa relação muito estreita entre os titulares de cargos.
Mais ainda... não me parece que esta questão da "familiaridade" seja menos ética que a nomeação de "amigos", "conhecidos" ou dos "aparelhos partidários".

E leva-nos ainda a uma outra análise complementar já que esta questão é uma "não questão"... limitando, impedindo ou "criminalizando" (como em França) esta realidade é dizer que num partido político, na vida política e partidária, no legítimo direito ao exercício da cidadania, não cabem, nem têm lugar, os laços familiares (directos ou menos directos). Isso é surreal e impensável.

Por fim, importa destacar que há duas afirmações de Rui Rio, sobre o tema, que são bem assertivas.
A primeira quando o presidente do PSD referiu que é quase impossível legislar sobre nomeações familiares. Até porque se levantam inúmeras questões, como, por exemplo, quais laços? casados? pais e filhos? primos? mas em que grau? (é perfeitamente normal existirem laços mais estreitos entre primos de 3.º grau, do que 2.º ou 1.º).
A segunda, é ainda mais correta e pertinente.
O assunto resolve-se com eleições e com mudança governativa.

Mas já agora... porque é que não há a mesma polémica com a questão (essa politicamente mais "perigosa") da incompatibilidade entre a função de deputado e advogado (por exemplo)? Ou porque é que não há o mesmo "rasgar de vestes" com o rodopio de "contratações" para determinadas empresas de ex-governantes, ex-políticos ou ex-deputados?