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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Mais rápido, mais alto, mais forte...

Publicado na edição de hoje, 15 de agosto, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos

Mais rápido, mais alto, mais forte…

Este é o lema dos Jogos Olímpicos da era moderna (Grécia 1896), foi introduzido como símbolo na competição do verão de 1924, em Paris. O lema foi proposto pelo “pai” do renascimento das olimpíadas, Pierre de Coubertain, embora, nos Jogos Olímpicos de 1908, precisamente os primeiros, entre os três, realizados em Londres (1908, 1948 – pós guerra e agora 2012), tenha surgido a expressão mais informalmente conhecida do desporto, nomeadamente o amador, e proferida também por Coubertain: “O mais importante não é vencer, mas participar”.

E é neste ponto que importa analisar o que foi, para o país e para os portugueses, essencialmente, a participação da comitiva portuguesa nestes XXX Jogos Olímpicos, realizados em Londres entre 27 de julho e 12 de agosto.

Vamos primeiro a alguns factos/dados. A comitiva portuguesa marcou presença em Londres com 76 atletas (77 mas com a conhecida controversa desistência na vela), 45 homens e 31 mulheres (a maior participação feminina de sempre), repartidos por 13 modalidades olímpicas (atletismo, badminton, canoagem, ciclismo, ginástica, hipismo, judo, natação, remo, ténis de mesa, tiro, triatlo e vela). A preparação para estes jogos teve um investimento na ordem dos 15 milhões de euros (numa média de cerca de 197 mil euros por atleta, ao longo dos quatro anos de preparação olímpica), 42 vezes menos que o investimento da Grã-Bretanha (anfitriã dos jogos) que gastou cerca de 640 milhões de euros (numa média de 1,10 milhões de euros por cada dos seus 542 atletas olímpicos). Destaque para o facto de modalidades com a projecção e investimento consideráveis, como o futebol ou o andebol, por exemplo, não terem conseguido marcar presença nos jogos olímpicos.

No que diz respeito ao medalheiro, excluindo Pequim 2008 (2 medalhas: 1 ouro, Nelson Évora no triplo-salto - 1 prata, Vanessa Fernandes, ambos ausentes em Londres 2012, já para não falar de Francis Obikwelu, Rui Silva ou Naide Gomes) e Atenas 2004 (3 medalhas: 2 prata – 1 bronze), a verdade é que, estatisticamente a participação portuguesa foi positiva e dentro dos parâmetros habituais: 1 medalha (prata em canoagem), e 10 diplomas (dois quintos lugares, dois sextos, dois sétimos e três oitavos) num total de 28 pontos, resultado final idêntico ao de Pequim 2008. Este resultado colocou Portugal no 69º lugar dos JO Londres 2012. De destacar ainda que há quatro anos, em Pequim, Portugal tinha na sua comitiva, nada mais, nada menos, que 12 campeões mundiais ou europeus. A comitiva de Londres tinha um (João Pindo, judo) lesionado.

Mas a questão do desporto nacional passa por outros factores. Tal como disse, e bem, o Presidente do Comité Olímpico Nacional, Vicente Moura “o sistema desportivo nacional está obsoleto”. E está… Portugal continua a olhar para a cultura desportiva como um parente pobre da sociedade, sem conseguir obter qualquer rentabilidade e mais-valias do empenho de estruturas federativas, comités, clubes e, obviamente, atletas. Recorde-se a diferença de investimento entre a Grã-Bretanha e Portugal: dos 640 milhões de euros (542 atletas) para os 15 milhões de euros (77 atletas). Mas há outras realidades. A estrutura social e identidade cultural portuguesas continuam, em muitos dos sectores da vida nacional, sob o lema do improviso e do “desenrasque”. Dai que continuemos deslumbrados com o basquetebol americano ou com a surpresa (só para os portugueses) da réplica dada pela selecção espanhola na final de basquetebol frente aos Estados Unidos da América.

É que a vivência, a estruturação, o investimento, os quadros competitivos no desporto nacional, por exemplo, nos Estados Unidos é totalmente diferenciado do nosso “obsoletismo” “obsoletismo”. Veja-se o caso do basquetebol. Na América não há clubes de formação, apenas de competição profissional. A formação faz parte do processo educativo de todos os jovens e é realizado ao nível do desporto escolar (liceus e universidades). E as perguntas serão, obviamente, muitas: há desporto escolar em Portugal? Há condições para encarar o desporto nas escolas e nas universidades de forma “competitiva” (fora do âmbito curricular)? É possível o meio escolar abrir as suas “portas” a não licenciados em educação física no desporto escolar? É possível transformar os clubes em estruturas apenas de competição profissional? Que investimento há em centros de alto rendimento e que articulação há entre eles? Qual a sua capacidade de “albergar” o maior número possível de atletas? Quantas horas de treino são permitidas aos jovens, na formação e nas mais diversas modalidades, sem colidir com a sua formação escolar?

Seriam muitas mais as questões que se poderiam levantar na reformulação do desporto em Portugal.

Para já há uma resposta: mesmo nas adversidades, mesmo com algumas prestações abaixo das expectativas (caso de Telma Monteiro), a comitiva e os atletas portugueses presente em Londres 2012 estão de parabéns, merecem o nosso respeito e reconhecimento. Até daqui a quatro anos, no Brasil.

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