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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Novo alerta urbano.

Publicado na edição de hoje, 9 de janeiro, do Diário de Aveiro.

Debaixo dos Arcos

Novo alerta urbano.

A edição do passado sábado do Diário de Aveiro trazia uma peça, assinada pelo jornalista João Peixinho, com o título “Vaga de encerramento de comércio e restauração em Aveiro” (versão reduzida online), sobre o crescente encerramento de inúmeros estabelecimentos do comércio tradicional, acrescentando eu ainda um considerável número de empresas de serviços. Logo no início do seu texto, o jornalista tem (no segundo parágrafo) uma interessante expressão que transmite a realidade do que se passa em Aveiro: o “número de portas de lojas encerradas durante o horário normal de expediente, quando deveriam estar abertas”, e que começa a ser uma imagem vulgar na cidade.

A realidade económica que o país vive, as medidas e políticas que são implementadas (não interessa, ao caso, se são as correctas ou não) com impacto directo nos cidadãos, nas famílias, nas empresas, nas pequenas empresas (comércio e serviços), infelizmente, já nos habituaram a cenários, realidades e notícias diárias que retratam esta preocupante situação. Mas apesar da grande fatia desta realidade ser de natureza económico-financeira, a verdade, tal como refere José Carlos Mota no blogue “Os amigos d’Avenida”, é que esta problemática tem também raízes sociais e, em vários casos, urbanísticas. É o caso concreto da Rua Direita e da Praça Marquês de Pombal, em Aveiro, com o abandono de espaços e prédios que se tornam degradados e que descaracterizam a zona e a cidade.

Já perdi, sinceramente, a conta aos artigos e comentários que fiz publicamente ou nas sessões da Assembleia de Freguesia da Glória sobre a Rua Direita e o seu futuro. No entanto, face à referência no Diário de Aveiro de sábado, não queria deixar de relembrar um dos últimos textos que escrevi sobre aquela zona da cidade, precisamente sobre o título “O futuro da Rua Direita”. Na altura referia que “contrariar a preocupante realidade do número de estabelecimentos comerciais a encerrar, de espaços a ficarem vazios, das dificuldades em se manter o negócio, de uma inquietante ausência de movimento naquela zona, não se resolve com o regresso automóvel àquelas ruas (posição defendida pelo Presidente da Junta, numa sessão da Assembleia Municipal). Passa sim por ser necessário melhorar a imagem e reabilitar os espaços urbanos (por exemplo, o alargamento do passeio da Rua Belém do Pará/Gustavo Ferreira Pinto Basto dando continuidade ao do Teatro Aveirense, retirando o estacionamento de superfície – há um parque completamente vazio, melhor iluminação, recuperação habitacional, etc.) e criar mais atractividade (mais actividades e iniciativas culturais, com mais visibilidade e publicidade, por exemplo, e mais serviços).” E este aspecto da atractividade nos espaços urbanos é fundamental para a sua sobrevivência e sustentabilidade.

Pode ser discutível, tal como a lógica filosófica de quem surgiu primeiro se o ovo ou a galinha, se são as pessoas que promovem o surgimento do comércio ou se é o comércio que atrai as pessoas. Pessoalmente, entendo que a Rua Direita (e a Praça Marquês de Pombal) só voltará a ganhar vida, só poderá manter a sua dinâmica comercial de outrora, quando se promover o regresso das pessoas à Rua Direita. E o desafio não passa (pelo menos tão afincadamente) pelo “combate” entre o comércio tradicional e as grandes superfícies. Até porque basta algum olhar atento para perceber que a crise e a vaga de encerramentos também já chegou a esses espaços.

Enquanto as pessoas não regressarem à Rua Direita muito mais portas vão fechar, como refere o João Peixinho, em “horário normal de expediente”.

Não será preciso um esforçado exercício de memória para recordar que aquele espaço urbano (desde a Praça Marquês de Pombal e zona envolvente até à Ponte Praça, via Rua Direita) já teve uma corporação de Bombeiros, a Direcção de Finanças, a Esquadra da PSP, as Finanças, o Turismo, todos (ou quase) os serviços autárquicos, a Assembleia Municipal, cinema, um parque infantil na zona envolvente (no Museu). Perdeu tudo isto, acrescido, recentemente, do Governo Civil.

Mais uma vez está lançado o alerta.