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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

Identidade em risco?!

Publicado na edição de hoje, 29.01.10, do Diário de Aveiro.

Cheira a Maresia!
Identidade em Risco?!

Tem sido notícia e fundamento para algum debate a situação do barreiro da antiga fábrica Jerónimo Pereira Campos (agora Centro Cultural e de Congressos de Aveiro).
A par da discussão legítima em torno de questões ambientais, legais e urbanísticas, há uma vertente demasiada valiosa para ser esquecida ou secundada: a relevância cultural.
Condenada a atitude de quem, por direito privado, é detentor legal da área e permite tais actos, é de registar e louvar os “olhares” e a preocupação de cidadãos (aveirenses ou não), da autarquia e de entidades associativas, como é o caso da ADERAV.
Não me refiro apenas aos vestígios históricos ou às questões ambientais que o barreiro comporta em si mesmo.
Refiro-me à história, à cultura… no fundo, à identidade de espaços, tempos e urbanidades.
Recordo o que em tempos escrevi sobre o Parque da Cidade – a sua história e importância para muitos da minha geração, sobre a rua onde cresci, a importância do sentido de bairrismo e comunidade que se perderam (o que tornou os cidadãos mais indiferentes e isolados).
Acresce agora a ameaça do desaparecimento do que resta dos antigos barreiros que serviam as fábricas (cerâmica) com a matéria-prima fundamental: o barro. Mas não só pelo barro (com toda a sua vertente social e económica da época).
É pelas “estórias”, pelas vivências e por aquilo que muitos, como eu, viveram, brincaram e aprenderam com aquela área.
De bom grado se regista a preservação da Fábrica Campos, mas naquele espaço urbano foram-se perdendo muitas memórias de infância (como se já não bastasse o facto das crianças deixarem de brincar nas ruas): o largo do Côjo (hoje Forum Aveiro), o campo de futebol da fábrica Paula Dias (que muitos torneios inter-bairros recebeu), a bica de água da fábrica Aleluia, os barreiros por onde se andava (perigosamente, em alguns casos) de bicicleta, as “escadinhas” de Vilar (antes da construção da E.N.109) ou a “velha ponte-de-pau” (percebendo-se, logicamente, a sua reconstrução).
É que não basta o registo individual ou grupal de memórias soltas.
Como dizia, esta semana, a Vereadora do Pelouro da Cultura da autarquia, Dra. Maria da Luz Nolasco, a propósito do Sal de Aveiro, é importante que as comunidades não percam a sua identidade histórica e cultural, sob pena de não terem capacidade de vencer os desafios actuais e futuros. Uma preservação clara da nossa Identidade que, lembrando uma expressão de D. António Marcelino, numa das suas recentes crónicas, promova um futuro com projecto para Aveiro.
Cabe a todos… autarquia, cidadãos e associações, promover, alertar e, essencialmente, preservar a memória histórica da comunidade aveirense, como forma de projectar e construir o futuro.
Um apelo: salve-se o barreiro da Fonte Nova.

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