Indo eu, indo eu… p’ró Parlamento Europeu!
(créditos das fotos: Paulo Spranger e Reinaldo Rodigues / Global Imagens. Fonte: DN)
A direita, nomeadamente as hostes do PSD (e, nomeadamente os hustlers ou os bots das redes sociais) de forma hipócrita e desonestas, tem tentado disfarçar o incómodo interno que gerou a escolha do PSD do seu cabeça de lista às eleições Europeias. Mas disfarçam mal.
A DESONESTIDADE POLÍTICA
As críticas e a demagogia balofa recaíram sobre as opções do PS para os três primeiros lugares da lista socialista ao Parlamento Europeu (Marta Temido, Francisco Assis e Ana Catarina Mendes), concretamente na acusação de desrespeito pelo eleitorado, depois de terem sido eleitos deputados eleitos à Assembleia da República.
1. Sendo, na teoria, claro que a Assembleia da República é formada por deputados eleitos em listas plurinominais por círculos distritais, é por demais óbvio e evidente que as escolhas dos cidadãos eleitores recaem sobre a força partidária e, no limite, sobre a personificação do lugar de Primeiro-ministro (o que se afigura como outro paradoxo porque a eleição é para a composição do Órgão Deliberativo e Legislativo, a Assembleia da República, e não para a função Executiva).
2. Colhendo, embora não corresponda à realidade, o argumento do desrespeito pelo voto e pelas escolhas dos eleitores, o mesmo será válido para os Presidentes de Câmara que interromperam, praticamente, a meio o seu último mandato ou, até, o segundo mandato, sustentados num compromisso de confiança com os eleitores locais que elegeram, por exemplo, Emídio Sousa (Santa Maria da Feira), Silvério Regalado (Vagos), Salvador Malheiro (Ovar), Castro de Almeida (Valpaços), António Alberto Machado (Vila Pouca de Aguiar), Carlos Silva Santiago (Sernancelhe), Rui Miguel Pereira (Vouzela), Hernâni Dias (Bragança), Nuno Jorge Gonçalves (Torre de Moncorvo) ou Rogério David da Silva (Fronteira), por exemplos. E sobre isto, reina o hipócrito e desonesto silêncio das “virgens ofendidas” do PSD. E não colhe a retórica do argumento temporal. O que sustenta a narrativa e a crítica dos sociais-democratas é a questão da confiança ou da quebra de confiança eleitoral. Maior quebra de confiança em relação a compromissos políticos diretos e de proximidade nos casos apresentados não há. Facto.
3. Mas a desonestidade política é de tal forma gritante que o PSD (que a 10 de março nem foi a votos – desconhece-se, neste momento, o peso e a representatividade eleitoral do partido - já que quem se apresentou ao processo eleitoral foi uma aliança tripartida) esquece, propositadamente, que o XXIV Governo Constitucional, o tal desta recauchutada AD, tem na sua constituição 16 ministros e secretários de Estado, cerca de 20% dos 80 eleitos, que desrespeitaram a vontade expressa do eleitorado que os elegeu como deputados da Nação e não como ministros ou secretários e Estado.
No caso das eleições europeias, os candidatos escolhidos pelo PS apresentam-se, novamente, a votos, colocando-se nas mãos do eleitorado e não na designação ou nomeação que resulta de um “estado e alma” e de interesses estratégicos partidários de um Primeiro-ministro ou de um Ministro nomeado.
Não venha o PSD falar de ética, confiança ou honestidade política. Não têm qualquer moral ou legitimidade para tal.
O INCÓMODO
A escolha de Sebastião Bugalho para cabeça de lista da AD às eleições europeias gerou uma onda, mesmo que longe de um tubo ou canhão do mar da Nazaré, de reação, curiosamente, na sua maioria negativa. E até mesmo no seio do PSD não deixou de gerar um enorme incómodo.
Pessoalmente, acho um erro o julgamento que a oposição (por exemplo, no PS), por si só, possa fazer à escolha político-partidária de Luís Montenegro. É um problema (e é-o) do PSD e da AD. É uma opção política, obviamente, arriscada (no mínimo) e que espelha duas realidades. Por um lado, é que a primeira escolha perspetivava o convite (particamente fechado) ao autarca Rui Moreira, tendo gerado uma reação interna bastante negativa, nomeadamente no seio do Poder Local “laranja”. Situação que não seria, de todo, fácil de contornar e gerir, logo agora que a governação dá os seus primeiros passos (mesmo que frágeis e trôpegos). Por outro lado, é notória a estratégia de marketing político na escolha de um jovem, com algum (mesmo que questionável) mediatismo televisivo. Em qualquer dos contextos a opção anunciada e concretizada não é, nem de longe, nem de perto, suficientemente sólida e consistente para criar empatia eleitoral.
Além disso, o único pensamento europeu que se conhece a Sebastião Bugalho é extremamente depreciativo em relação à instituição Parlamento Europeu (“nunca vi tanta alcatifa azul e tão gasta”), para além da sua muito recente avaliação quanto à figura política capaz de ganhar as eleições: Paulo Portas. Ou a questão de credibilidade quando, ainda há 6 ou 7 dias afirmava, na SIC, que tinha escolhido não ir para a política, ou ainda, acusava Miguel Prata Roque de mentir e enganar os espetadores da SIC (surreal). E já para não falar na forma como Sebastião Bugalho adjetivou a prestação política de Luís Montenegro durante a campanha eleitoral.
Mas o mais curioso é os que, agora, face à opção política, vêm argumentar a juventude (28 anos) do primeiro candidato a Eurodeputado, são os mesmo que saltaram para a praça pública, rasgaram as vestes, aquando da nomeação de Marina Gonçalves para ministra da Habitação, com 36 anos e depois de ter sido Secretária de Estado. Assim vai a coerência política deste PSD.
Independentemente do referido, pior do que a escolha, só mesmo a justificação de Luís Montenegro. Mas lá está… é um problema do PSD.
O que passa a ser um problema dos portugueses é, de facto, a forma displicente, humilhante e desprezível com que o PSD e Luís Montenegro encaram estas eleições europeias. Sabido, pela história, que estes processos eleitorais têm muito pouco impacto ou quase nenhum na conjuntura partidária nacional e não derrubam governações, é, no entanto, lamentável e condenável que se menospreze o conhecimento e a experiência (tenham elas a idade que tiverem… não é isso que se questiona), seja política, seja profissional para representar o país numa instituição que tem, hoje, um peso considerável nas dinâmicas sociais e de governação, um impacto significativo na vida dos cidadãos, de cada um dos 27 Estados-Membros. E não só… estas eleições europeias de 6 a 9 de junho revestem-se ainda de um papel e importância históricos, seja para a solidez do projeto europeu (a Responsabilidade Social, a Defesa e segurança, a Migração, o extremismo radical iminente) ou para a própria Europa (a guerra da Ucrânia, o processo de alargamento, etc.).
Mas a escolha de Sebastião Bugalho traz, igualmente, um outro problema e grave. Mina, claramente, a confiança (já de si extremamente débil e crítica) entre o jornalismo e os cidadãos, entre a ética e deontologia profissionais e a hipocrisia de uma falsa isenção e rigor no comentário jornalístico e político-social. Mina a confiança, a transparência e, principalmente, a integridade do compromisso da comunicação social no cabal escrutínio político, dos partidos, do Estado e da sociedade.
E isto não é um problema do PSD… se o fosse, até aplaudiríamos. É um problema para o país e para os portugueses. É uma desprezível tentativa de nos enganar a todos.
O líder da bancada parlamentar do PSD, Hugo Soares, afirmava (sem se rir) a propósito: “a AD quis surpreender com a nomeação de Sebastião Bugalho”.
Pela primeira vez (que eu me lembre) Hugo Soares tem razão: surpreendeu… só não foi pelas melhores razões.