A democracia agradece à PSP e à GNR
(fonte da foto: portal SAPO)
Vamos deixar de parte, para outras discussões, o facto da legitimidade da defesa de direitos não precisar de comparações de realidades profissionais distintas e diferenciadas.
Vamos deixar de parte, para outras discussões, o facto de a interrupção involuntária de um ciclo governativo levou à queda de um conjunto de projetos e estratégias governativas que implicariam negociações com setores profissionais.
Vamos deixar de parte, para outras circunstâncias, o facto de, em plena campanha eleitoral, PSP e GNR terem cercado o Capitólio, durante o frente-a-frente entre Pedro Nuno santos e Luís Montenegro, exigindo mais de 600 euros de subsídio de risco.
Vamos deixar de parte, para outras discussões, que essa ação ocorreu dias depois da Plataforma Sindical da PSP e da GNR (que reúne várias associações socioprofissionais) ter reunido com Pedro Nuno Santos e o seu porta-voz, Bruno Pereira ter afirmado, à data, que tinha sido uma reunião histórica.
Vamos deixar de parte, para outras discussões, que na referida reunião, Pedro Nuno santos comprometeu-se, claramente, comprometeu-se a "fazer contas ao subsídio de risco”.
Vamos deixar de parte, para outras discussões, que o acordo que abrange cerca de 45 mil agentes das Forças de Segurança (PSP e GNR) foi assinado por 5 das 13 Associações e Sindicatos. O que se torna irrelevante porque as 5 podem representar a maioria dos agentes da das Forças de Segurança e que o acordo se destina a todos os profissionais.
Vamos deixar de parte, para outras discussões, que a Ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, teve um lapso populista quando afirmou que este tinha sido o maior aumento das Polícias na história da democracia, quando esse maior aumento foi o que António Costa celebrou com a Polícia Judiciária e que, curiosamente esteve no foco das reivindicações da PSP e da GNR.
Vamos deixar de parte, para outras discussões, que o acordo celebrado, como o referiram os representantes da PSP e da GNR, é um meio-acordo, porque, hipocritamente, adia (mais uma vez) matérias ainda manifestamente relevantes, como a valorização profissional, das tabelas remuneratórias e das carreiras, para 2025 (após discussão do Orçamento do Estado), numa clara estratégia política de pressão parlamentar para a aprovação do OE 2025 (ou a queda do governo, que parece, cada vez mais, entusiasmar o Primeiro-ministro, Luís Montenegro).
Vamos ao que interessa, para a presente discussão.
O facto é que Governo e PSP e GNR assinaram um acordo desejado, possível, negociado e negociável. Não há outra forma de reconhecer.
Acima de tudo, PSP e GNR demonstraram, felizmente, um enorme sentido de Estado, e demonstraram poderem estar acima da vontade radicalizada e ditatorial, da pressão da instrumentalização ideológica da extrema-direita e dos princípios inaceitáveis que profere e enuncia. Foram capazes de dar uma lição de elevação política e institucional a quem, na semana passada, lhes tinha faltado ao respeito, os tinha tentado partidarizar e, com demagogias e discursos teatrais e populistas, os tinha tentado marionetizar, manobrar e monopolizar.
Mas, ainda mais acima de tudo, enquanto pilares fundamentais do Estado de Direito, hoje, PSP e GNR souberam valorizar o seu papel preponderante na defesa dos valores da Democracia.
Tal como em França, no domingo passado, o mais importante, em primeiro lugar, é a salvaguarda da Democracia, do Estado de Direito, das liberdades e a garantia dos direitos fundamentais, sem instrumentalização, ao serviço de todos, sem radicalismos, extremismos ou fundamentalismos ditatoriais e antidemocráticos. O resto do caminho, depois deste importante passo, far-se-á caminhando. Haja vontade das partes.
A sociedade e a democracia aplaudem e agradecem (independentemente da azia e frustração políticas de poucos).