Debaixo dos Arcos

A propósito do condenável e abominável recente ataque aos imigrantes que habitavam (e dormiam) na zona da praça Campo 24 de Agosto, na Freguesia do Bonfim, no Porto, é inquestionável o que tantas vezes aqui já referi e que muitos preferem não querer ver ou querer assumir. Mas não há como não o dizer, mais uma vez: há racismo em Portugal. Há racismo endémico, enraizado na sociedade e nas estruturas/instituições e na política, seja por razões ideológicas, seja por convicção, seja por cultura e história, concretamente os efeitos do colonialismo. Não vale a pena fazermos, consciente ou inconscientemente, de avestruz face a uma realidade que não é nem pontual, nem leviana ou casual.
Há portugueses racistas. Há racismo na sociedade. Há demasiadas e constantes discursos, narrativas e ações que compaginam com crimes de ódio. Colocar o ónus nos imigrantes, muitos deles refugiados, na essência do termo e do que ele comporta (sobrevivência, fuga à morte, à perseguição, à fome, ...), esquecendo-nos da nossa história e condição de migrantes, desculpando a nossa incapacidade para acolher, incluir, abraçar, criar condições de dignidade humana, é, simplesmente, varrer a questão para debaixo do tapete ou, se quisermos, sacudir a água do capote (e a nossa responsabilidade enquanto Estado e pessoas).

A este propósito, apesar do referido, como eu gostaria de ter conseguido escrever como a Inês Cardoso o fez, enquanto diretora do Jornal de Notícias, no dia 5 de maio. Mesmo que eu tentasse, ficaria longe, garantidamente.

(felizmente de acesso aberto... e bem): Sim, o racismo existe mesmo.