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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

A liberdade e a democracia só chateiam

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Num Estado de direito e numa sociedade liberal (não confundir com a ideologia partidária de alguns) a Liberdade e a Democracia são pilares fundamentais na afirmação e robustez de ambos. E, se dentro dos limites legais e éticos, são-no, e devem ser, sempre… não apenas quando dá jeito.

Um cartaz político (seja ou não em período de campanha eleitoral), no impacto que provoca no público (é essa a sua função), muitas das vezes diz mais de quem o “assina” do que propriamente de quem nele é visado (seja a mensagem, sejam terceiros).
No caso do partido da extrema-direita nacionalista e populista portuguesa isso é pragmático. Não só pela narrativa populista e ilusória, mas também pelo sistemático conjunto de mentiras e de falsidades que são transmitidas.
O cartaz da atual polémica, mediatizada pela reação de Luís Montenegro, é disso um claro exemplo.
Ora, basta um primeiro olhar sobre a linguagem textual inscrita para se perceber que tudo o que o Chega pretende é alavancar a imagem de um partido “limpo”, antissistema, moralmente superior. Quando a realidade interna do partido tem demonstrado o oposto e desmontado esse discurso. E mais uma vez, sem qualquer cuidado com a verdade ao associar os 50 anos da democracia à corrupção.
Mais perigosa que todo este contexto é (ou foi) a reação incompreensível de Luís Montenegro que nos revela muito da sua relação com a ética política, com a (cada vez necessária e premente) necessidade de defender e preservar a democracia e a liberdade.
1. A animosidade e a reação de Montenegro pela junção e associação que o Chega fez com José Sócrates deixa a suspeição de que o (ainda) Primeiro-ministro tem uma relação muito débil com um dos princípios básicos do nosso sistema judicial: a presunção de inocência.
2. O intempestivo recurso à justiça para o cancelamento da publicitação dos cartazes diz mais sobre o seu conceito (e os critérios) de liberdade, do que da (total falta) ética política de André Ventura.
cartaz STOP Costa e João.jpeg3. A total incoerência política de Montenegro revelam-se neste contexto comparativamente com o seu silêncio em relação aos cartazes que os professores trouxeram para a rua nas manifestações contra António Costa.
4. E sobre acusações infundadas e a relação com o princípio da presunção de inocência, falta moral a Montenegro para se sentir tão "acossado" e "ofendido", se atentarmos e nos recordarmos (e não é preciso muito esforço de memória) do que foram as suas reações em relação às infundadas suspeitas do Ministério Público em relação a António Costa ou a outros casos e casinhos da última governação socialista, por exemplo, os quatro anos que duraram as escutas telefónicas a João Galamba.
É que cartazes como este (abaixo), tão propalados há pouco mais de um ano, só têm uma figura “não política” impressa, mas têm, na sua mensagem, uma assinatura partidária mais que evidente. E têm o condão de deixar na memória e na história posições, contradições e narrativas bem claras.

cartaz AD corrupção.jpeg

No que respeita à Democracia e ao que deveria ser a ética e elevação político-partidária, Luís Montenegro volta a dar-lhes uma enorme machadada.
Ao contrário do que afirmou Mariana Mortágua, não há qualquer receio ou medo de Luís Montenegro pelo o facto de não querer o frente-a-frente com o BE, Livre e PAN na próxima campanha eleitoral legislativa.
Mais uma vez, para Montenegro a política e a democracia são meros jogos e subterfúgios. Neste caso, podemos acrescentar, ainda, uma questionável e básica (demasiado, diga-se) estratégia, quer da direção de comunicação, quer da direção da campanha eleitoral da continuada AD. A recusa de alguns debates, nada tem a ver com medos partidários ou com dar 'palco/visibilidade' ao parceiro de coligação. Com esta posição e opção, Montenegro afasta-se de um espectro eleitoral do qual muito dificilmente colherá votos e empatia, evitando o desgaste político e o confronto com um conjunto de causas e abordagens que sabe serem portadoras de riscos, constrangimentos e incómodos políticos.
Já no caso do confronto com o centro (PS) e o espectro partidário à direita do PSD (Chega e IL), a forte probabilidade de atrair eleitorado é superior aos riscos de sair fragilizado desses combates políticos, porque será aqui que flutuam os indecisos ou os descontentes. Até mesmo o debate com o PCP (que, à partida, se afigura como estranho perante a exclusão da restante esquerda) poderá, paradoxalmente, contribuir para alavancar a imagem política de Luís Montenegro e a campanha eleitoral do PSD (na perspetiva e expetativa da AD, obviamente), acentuando e reforçando a mensagem da propaganda eleitoral "laranja", dadas as acentuadas visões divergentes sobre política internacional, economia, saúde, educação, etc., e a narrativa previsível e gasta dos comunistas.
Tal como no debate da Moção de Confiança, também aqui, no caso dos debates da campanha eleitoral, se percebe o valor que Montenegro reserva para a democracia e ética política: o taticismo, os jogos e os esquemas, a falta de transparência e hombridade.

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