A Liberdade... na despedida
publicado na edição de hoje, 19 de novembro, do Diário de Aveiro
Debaixo dos Arcos
A Liberdade... na despedida
Tudo tem um fim... seja na vida, na profissão, nas relações familiares e sociais; tudo tem um fim. Nada é eterno… apenas o fim da vida, a morte, é para sempre e, inevitavelmente, um fim.
Ao fim de mais de 13 anos, publicadas cerca de 693 reflexões sobre os mais diferenciados temas, termina o meu compromisso de colaboração regular (é certo nem sempre cumprida da minha parte) com o Diário de Aveiro. O acordo, claramente de cavalheiros, nunca teve nestes anos todos um único constrangimento, fosse pela imposição de vontade e de opinião, fosse por restrição à liberdade de expressão. Surgiu de uma mera e simples conversa, terminou com a mesma clara e singela conversa. Sem condições, sem condicionalismos, de forma aberta.
Foi esta a única liberdade acordada: a da opinião e a do direito à publicação. Felizmente, nunca atropeladas.
Sempre fui, e sou, um claro e intransigente defensor da Liberdade de Expressão e de Opinião. Em tudo. Mesmo ao ponto de perceber aqueles que, no extremo, defendem o direito a ofender ou o direito à ofensa, até porque o direito à honra e ao bom nome são conceitos tantas vezes mais usados como escudo do que contextos e concepções reais e concretas.
Acredito, por isso, que estes (liberdade de expressão e opinião) são dois dos fundamentais pilares da democracia e da estruturação das sociedades e que estas (democracia e sociedade) têm, felizmente, mecanismos próprios, nos quais ainda acredito, para balançar e pesar a colisão dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Apenas se sobrepõem à liberdade de expressão e opinião (por ordem crescente de relevância) a liberdade de imprensa (o direito a informar e a ser informado), a privacidade e a intimidade de cada um, os princípios fundamentais da dignidade humana e, acima de tudo, o inalienável direito à vida.
Foram estes os princípios que nortearam a minha colaboração com o Diário de Aveiro (desde o Pensar Aveiro, passando pelos Sais Minerais e tantos outros até ao Debaixo dos Arcos) e definiram a tipologia das reflexões: isenção, sentido crítico próprio, desalinhamento político e, quando necessário, também partidário, porque não acredito, nem alinho, em seguidismos, “carneirismos” ou caciquismos. Apenas o cumprimento legítimo do direito à cidadania e à participação cívica que teve desta forma, embora não exclusiva, a sua expressão principal.
A diversidade das reflexões (política, comunicação social, sociedade, Aveiro e região, direitos e dignidade humana, relações pessoais, cultura, entre outros) foram o espelho da própria diversidade da vida e do dinamismo das comunidades.
Com a defesa e a valorização das liberdades porquê a despedida (entenda-se de forma regular e apenas por opção minha) do Diário de Aveiro? Pelas mesmas razões com que, ao longo destes 13 anos, restringi por vontade própria a reflexão sobre assuntos que, apesar da minha liberdade, colidissem com os compromissos profissionais e laborais, alguns condicionados por razões legais.
Assumindo, já a partir do próximo ano, um novo e aliciante compromisso profissional, são as mesmas razões que me levam a auto-impor algum recato e menos exposição: o dever de lealdade, de zelo e de sigilo, bem como o respeito pela instituição/entidade. Desta vez, de forma acrescida.
Resta apenas três notas finais: voltarei a este espaço sempre que for aceite e sempre que tal se proporcionar de forma livre e transparente; aos que tiveram, ao longo dos tempos, a amabilidade e a pachorra (concordando ou não) de lerem o que aqui foi reflectido estará sempre aberto o blogue; e, por fim, ao Diário de Aveiro (escrevo assim porque eles sabem todos quem são e eu acabaria sempre por me esquecer de alguém), nomeadamente na pessoa do seu director, Ivan Silva, o meu Obrigado, votos de continuação de um excelente trabalho, com a certeza de que nos veremos (muito mais) por aí.
Pela Liberdade…