A quadratura do círculo das eleições na Madeira
Os resultados do recente processo eleitoral na Madeira têm leituras que mostram uma diversidade de "estados de alma" e distintas interpretações que acumulam vitórias e derrotas numa mesma análise.
Registo, numa primeira abordagem, para o aumento do número de votantes e para a consequente diminuição da taxa de abstenção que condicionou, em parte, os resultados finais.
Contra a vontade de todos os outros partidos candidatos, sem excepção, o PSD ganhou as eleições regionais na Madeira com 39,42% dos votos expresso, elegendo 21 deputados.
Apesar de ter, pela primeira vez em 43 anos, perdido a maioria, a verdade é que foi o partido vencedor e tudo indica para que continue a governar a Madeira.
Mas há ainda outro dado importante. Embora tenha perdido a maioria, obtido menos 4,93% dos votos, em relação a 2015, em termos absolutos, o PSD perdeu apenas 121 votos expressos.
Em relação ao PS, que nestas eleições conquistou mais 36.633 votos, mais 24,33% que em 2015, é clara a sua subida eleitoral, mesmo que isso não signifique uma maior representatividade do partido na Madeira, já que é claríssima a transferência de votos do BE, da CDU e do Juntos pelo Povo (JPP) nas urnas.
Para além disso, os resultados espelham um sabor agri-doce, uma manifesta "morte na areia da praia": os socialistas não venceram as eleições e não retiraram o PSD do poder (apesar do forte investimento político e de recursos).
Mais ainda... com as enormes derrotas da CDU e do BE (menos 4.483 votos e menos 1 deputado, e menos 2.361 votos, com 0 deputados, respectivamente) e uma clara transferência de eleitorado proveniente do JPP (menos 5.284 votos e menos 2 deputados), o PS não ganhou, não obteve uma maioria absoluta tão desejada e planeada, não retirou o poder ao PSD e, ainda, não conseguiu projectar para o arquipélago o quadro político do continente patente na geringonça.
Curiosamente, quem mais aclamou vitória foi o CDS, um dos partidos que mais perdeu nas eleições (menos 9.243 votos e menos 4 deputados).
O facto é que este partido da direita acaba por ter a "faca e o queijo na mão", sendo a porta da continuidade do PSD na liderança governativa do arquipélago ou a mudança da conjuntura política insular. E tal como acontece no continente, o CDS mantém-se à "boleia" do poder desde 1974.
Não sendo previsível que o CDS insular crie uma crise partidária interna, o mais provável, com maior ou menor negociação política, é que o PSD tenha o apoio dos centristas para governar a Madeira, com apoio parlamentar ou, até, com a cedência de cargos governativos.
Mas a principal leitura dos resultados das Eleições Regionais na Madeira é a notória perda eleitoral da esquerda (por exemplo, a perda de todos os deputados bloquistas) e a incapacidade de repetir o que António Costa conseguiu em 2015: o afastamento do PSD e do CDS do poder e uma aliança das esquerdas.
Um mau presságio para as legislativas de 6 de outubro? A ver vamos...