Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

A simbiose e o parasitismo político-partidário

cds fundação.jpg

O CDS-PP reúne-se, em Viseu, para o seu 31.º congresso, a reunião magna, num momento muito particular para o Partido que, após o seu desaparecimento do mapa parlamentar, em 2022, reapareceu este ano com dois lugares de deputados nacionais, tentando, assim, mais uma prova de vida e de sobrevivência partidária.

A história destes 50 anos de democracia revelam que o CDS teve um papel relevante neste percurso democrático, tal como o tiveram o PSD, o PSD e o PCP, face ao que é o atual quadro representativo do hemiciclo da Assembleia da República. Isso é um facto. Foi determinante nos primeiros anos conturbados da democracia, foi importante nos primeiros passos das governações constitucionais e num importante momento da história política nacional, com a (primeira) AD de Sá Carneiro, Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa e Gonçalo Ribeiro Telles. Aliás, a título de curiosidade, é interessante recordar que, com apenas 3 anos de existência, a primeira coligação, ao caso governamental, que o partido faz é com o PS de Mário Soares, muito assente numa conhecida relação de respeito e consideração mútuas entre Freitas do Amaral e Mário Soares. Mas também teve figuras de uma relevância muito elevada na política nacional e que souberam manter o partido “à tona” quando muitos vaticinavam o seu desaparecimento, como Francisco Lucas Pires e, obviamente, Adriano Moreira.

Mas esta será, ainda, uma realidade histórica e pragmática do CDS, nos dias de hoje? Nem tão pouco mais ou menos. Ou, pelo contrário, bem longe disso.

Já no pós-eleições de 10 de março, no arranque dos trabalhos parlamentares para este mandato legislativo, afigurou-se um pouco depressiva toda a encenação política com o regresso a um “gabinete” na Assembleia da República. Entre placa, parafusos, chaves de fendas, o partido, com ilustres ex-presidentes, lá festejou a eleição de dois deputados e o regresso ao Parlamento.

Depois do processo eleitoral, dos dois deputados eleitos, a retórica usada por Nuno de Melo é de uma arrogância política, de uma sobranceria saloia e de uma completa falta de noção que chega a roçar o ridículo e o topete ou o descaramento.
Nuno Melo reitera, com todo o despudor, que o CDS teve uma enorme vitória política, foi determinante para a mudança do ciclo político nacional e volta a ser determinante na direita portuguesa.
Ora, do princípio ao fim, nada bate certo, nem pela realidade, nem pelos números. O partido, desde o período (para alguns) áureo pós congresso de Braga, com a liderança a ser assumida por Paulo Portas, perdeu identidade, foi perdendo, ao longo dos anos, representatividade, perdendo relevância, e sendo esvaziado para o surgimento de novas forças partidárias, como o IL e, principalmente o Chega que foi beber à essência do CDS, às suas dissidências (aos princípios programáticos da Nova Democracia de Manuel Monteiro e Pacheco Amorim, atual guru ideológico e programático do Chega, tal como já o tinha sido no Nova Democracia). Tudo até ao descalabro final em 2022, sem a eleição de qualquer deputado.

Mas o que se torna mais surpreendente é a falácia dos argumentos usados por Nuno de Melo. É que, hoje, pós 10 de março de 2024, não se sabe, nem se consegue avaliar o peso político do partido no panorama nacional porque não se consegue quantificar o valor do seu eleitorado, nem a sua representatividade. É que a única coisa que se pode aferir da realidade do CDS, em 2024, é que regressou à Assembleia da República sem ir a eleições, apenas porque duas das suas figuras surgiram em lugares elegíveis de listas de candidatos numa coligação, a AD.

A verdade é que se o PSD não tivesse dado a mão ao CDS, caído à beira da estrada, o CDS não regressaria à vida ativa política tão cedo. E ao PSD não faria diferença esse número de votos porque elegeria, provavelmente, o mesmo número de deputados (haveria era outros dois nomes na Assembleia da República), até porque o PSD teve, nesta AD, um dos piores resultados eleitorais da sua história, o IL manteve o seu grupo parlamentar e o Chega aumentou a sua representatividade partidária. Não seria, neste quadro, que o CDS voltaria a ter algum significado político-partidário naa democracia portuguesa.

Alguns dados
Deputados à Assembleia da República
Número mais elevado: 21 deputados em 2011. Em 2015, 18 deputados; em 2019, 5 deputados; 2022, zero deputados. 2022, Regresso à Assembleia da República, com 2 deputados em coligação com o PSD e o PPM.