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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

A tintura ativista contra a democracia

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(crédito da imagem: Nelson Garrido, in jornal Público)

A alterações climáticas e a crise energética são questões verdadeiramente preocupantes e importantes nos tempos de hoje. Já o eram a alguns anos e com a evolução do contexto a realidade tornou-se um problema premente.
De tal forma que há um conjunto de instituições, como a ONU, a União Europeia, o Papa Francisco que têm como bandeira e medidas estratégicas o combate às alterações climáticas e a descarbonização ou a neutralidade carbónica. E, neste campo, Portugal é, inclusive, um dos países que lidera este esforço coletivo.
Mas este é, também, um processo que requer tempo e o alcance de metas realistas (por exemplo, a fixação temporal no ano de 2050) e não estar sujeito a utopias anárquicas surrealistas.

Por outro lado, num ano em que se assinalam os 50 anos do "25 de Abril", atentar contra a integridade e dignidade de qualquer pessoa, atentar contra a liberdade de opinião ou de pensar diferente, é um atentado à democracia. A mesma democracia e liberdade conquistadas há 50 anos e que permitem a qualquer cidadão, nomeadamente aos ativistas, ter a sua opinião e expressá-la, dentro dos limites da urbanidade e do respeito pelo outro e pela sociedade.

Posto isto, o ataque com tinta por um ativista do movimento “Greve Climática Estudantil” ou do "Climáximo" a Luís Montenegro é, por todas as razões, condenável. Assim o foi por TODOS os líderes e responsáveis pelos partidos políticos (entenda-se, do quadro parlamentar) em campanha, sendo, até, as críticas do Livre e do Bloco de Esquerda as mais veementes.

Mas o que também é condenável é o lamentável aproveitamento político do contexto que espelha os dois pesos e duas medidas no coro das críticas.
Primeiro, a colagem infundamentada e injustificada que o movimento é suportado pelos partidos de esquerda, confundindo bandeiras ambientais com ativismo anárquico e inorgânico.
Segundo, o choro das cardadeiras partidárias que, esquecendo, propositadamente, o mesmíssimo contexto com os ministros Duarte Cordeiro (setembro de 2023) e Fernando Medina (outubro de 2023), vêm agora rasgar vestes do ataque à democracia (que o é, de facto) e do "terrorismo", quando muitos, à data, acharam que eram protestos legítimos. Populismo e falta de honestidade política é isto.
Terceiro, a vitimização política. Faltará muito, muito mesmo, a Montenegro para se equiparar a Mário Soares e tentar cavalgar o caso criando o paralelismo com o acontecimento na Marinha Grande, em janeiro de 1986. Afirmar que este contexto só o vai motivar mais e dá-lhe mais força é, no mínimo, ridículo porque o caso nada tem a ver com o processo eleitoral em curso, nem com o confronto partidário. Pedro Nuno Santos, claramente, condenou o ataque a Luís Montenegro... por mais pesquisas que faça, não consigo encontrar nenhuma condenação de Montenegro e do PSD aos ataques a Duarte Cordeiro e Fernando Medina.

Pior que tudo esteve, mais uma vez, o Presidente da República na condenação deste criticável ataque. Afirmar que "a primeira vez é novidade", "a segunda tem piada", mas "à décima quinta perde a eficácia". Ou seja, deduzimos, legitimamente, que para o Presidente da República (cada vez menos presidente de muitos portugueses) os ataques a Duarte Cordeiro e a Fernando Medina foram novidade (o 1.º) e tiveram piada (o 2.º). Marcelo Rebelo de Sousa a ser Marcelo Rebelo de Sousa, mais uma vez.

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