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Debaixo dos Arcos

Espaço de encontro, tertúlia espontânea, diz-que-disse, fofoquice, críticas e louvores... zona nobre de Aveiro, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontravam e conversavam sobre tudo e nada.

A venda TAP(onada)

Tenho por baliza que a estruturação, eficácia, impacto de uma medida ou política governativa pode ser medida pela dimensão da reação que provoca na oposição político-partidária vigente. Ao que se pode acrescentar, ainda, a sistemática visão política que Marcelo Rebelo de Sousa vinca a cada diploma legislativo do PS parlamentar ou do PS Governo. É certo que é uma das suas responsabilidades (uma das, sublinhe-se) a fiscalização da atuação do Governo, mas transformada no exagero de quem, apesar de constitucionalista (área que o deveria preocupar mais), nunca deixou "morrer" a sua veia de comentador, atirando palpites sobre tudo e mais qualquer coisa.

Foi assim, por exemplo, no Plano Nacional para a Habitação e no programa "Mais Habitação" em relação aos quais o Governo soube equilibrar o que seria o desastre social da neoliberalização à direita e o surrealismos, a anarquia e a utopia estatizante da esquerda radical. Neste equilíbrio ao centro, na moderação das opções políticas, houve a destreza para pensar, em primeiro lugar e acima de tudo, nos portugueses, nas famílias, nos mais necessitados e fragilizados.

Volta a ser assim no processo TAP. Em tudo... a começar pelo veto presidencial. Ou, digamos, por causa do veto presidencial. Mais um. De esclarecimento em esclarecimento político, até à promulgação final, só para alimentar o seu "estado de alma" e a obsessão de marcação de agenda mediática. É curioso que no últimos 2 anos, por exemplo, não tenhamos visto o Presidente da República a monitorizar o seu objetivo tão badalado (e diga-se, aqui, em abono da verdade, um objetivo nobre) do combate aos sem-abrigo em Lisboa (pelo menos). Curiosamente após uma mudança de Executivo Municipal ou, qui ça, por milagre da visita papal, os sem-abrigo desapareceram. Mas adiante... De regresso à TAP e ao veto.

Do extremo da direita ao extremo da esquerda, soaram alvíssaras à opção do Presidente da República. E não deixa de ser curioso que dessas alvíssaras a comunicação social não demorou a dar e a fazer eco imediato e instantâneo das posições da oposição, para só mais tarde perceber que as palmas e aclamações tinham, manifestamente, sentidos diametralmente opostos e contraditórios. Tudo isto, sem ninguém perceber que os portugueses, pelo menos face à conjuntura atual, querem muito pouco saber se a TAP é "bandeira nacioal estratégica" ou não. E muito menos ainda se é privatizada ou pública, desde que recuperem a injeção do "seu" dinheiro na companhia, ao contrário o que aconteceu com o setor bancário e financeiro.
À esquerda, regressa o peso estatizante da intervenção pública em tudo o que é a vida nacional, desde as famílias, até à economia e aos negócios. Tudo é "bandeira estratégica nacional": combustíveis, comunicações, correios e até o "turismo aéreo".
À direita, surge a anarquia liberal, do domínio da sociedade por quem detém mais poder económico, criando um fosso social entre ricos e mais pobres, estratificando e reforçando essa mesma sociedade assente na diferenciação de classes (entre "pipis", "betinhos" e "queques" e os outros, a quem será devida a "caridadezinha existencial para remissão dos pecados neoliberais"... para isso o Estado já serve). A começar pelo Iniciativa Liberal que, mais do que preocupado com os dinheiros públicos (a quem nunca se ouviu uma palavra sobre o "processo fantasma" de 2015), está a inquietação e o desassossego em perceber se estão salvaguardadas as garantias privadas.

Mas ainda mais surreal é a posição do PSD, curiosamente prepetada pelo "(in)suspeito" Miguel Pinto Cruz, o mesmo que conduziu o processo/dossier TAP em 2015, enquanto Secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações.
Para o PSD a responsabilidade pelo veto presidencial é do Governo e de António Costa, por, ao fim de 8 anos, a única coisa que apresentou foi uma cópia do processo de 2015. «Instado a comentar o processo de privatização da TAP anunciado quinta-feira pelo Governo, Luís Montenegro escusou-se a aprofundar o tema, declarando apenas: "É, sobretudo, falta de vergonha, porque o que se está a passar é fazer em 2023 o que estava feito em 2015".» (in, TSF).

Para agora, com base na argumentação de Marcelo Rebelo de Sousa para o veto do diploma, Pinto Luz vir desconstruir (pelo que Luís Montenegro afirmou) a própria arquitetura do processo inventada pelo governo PSD no final da era "troikaniana". Ou seja, o que Marcelo Rebelo de Sousa fez, com este veto, tomando como essência a paternidade "laranja" do dossier, foi, precisamente, rasgar ou colocar em dúvida tudo o que o PSD se propunha concretizar para a TAP, em 2015.

Falta de vergonha político-partidária é isto... o que já vem sendo comum neste PSD.

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(créditos da foto: Rafael Marchante/Reuters, in Jornal de Negócios)